domingo, 2 de novembro de 2014
CENA BAURUENSE (125)
ESSE MARAVILHOSO SOM QUE EMANA DAS CALÇADAS E SARJETAS Eu gosto demais desse negócio de música na rua. Quando e onde acontece, gosto de parar e bater palmas. Efusivas, sempre. Toda vez que vou ao centro e vejo aqueles grupos de bolivianos tocando, paro e fico a ouvi-los por alguns instantes. É a mais pura expressão de algo mambembe, lindamente mantido, até por necessidade e sendo estendido para renovados lugares a cada nova semana. Impossível não ser tocado por eles e pela sensibilidade do que está por detrás e do trabalho oferecido. Lembro deles com o maior carinho e também, aqui em Bauru, impossível não falar disso sem ótimas lembranças de um saxofonista que tocada andando pelas ruas de Bauru, o João Nicodemos Araújo, que hoje está lá pelo Crato, mas tempos atrás, não só tocava caminhando, como parava em algumas esquinas e dali saiam recitais incríveis. Eu já tive o prazer de desfrutar de alguns desses momentos e hoje fico maravilhado sonhando com aquilo tudo, pois nada disso sai mais de minha mente. Está incrustado nela.
Nesse final de semana em dois momentos vejo cantantes na rua (e para minha tristeza, não pude ver nenhum deles). Escrevo de ambos. Primeiro o bom violeiro (um andaluz entre nós), CHRIS VENTURA, no melhor estilo cigano, ainda pouco conhecido em Bauru, esteve circulando pelo Calçadão da Batista na manhã de sábado, parando em alguns pontos estratégicos e distraindo quem está ali só para consumir. Quer algo mais encantador que isso? O cara ir lá para comprar e ter a possibilidade de ter sua atenção desviada para a arte. Inimaginável. Deve ter conseguido atingir seu intento, que é o de fazer chegar a quem ainda não conhece, o toque refinando de algo ao estilo do espanhol Paco de Lucia. A chancela do evento é da ATB – Associação de Teatro de Bauru e só pelo fato de viabilizar o cachê do artista, possibilitando sua apresentação, algo merecedor de aplausos. Isso, dessas entidades bauruenses propiciarem algo assim nas ruas de Bauru não é de hoje e precisa mesmo ser sempre mais incentivada. Quanto ao Chris, ainda ouviremos falar muito dele e do seu trabalho. Um estudioso, alguém quase pronto para alçar vôo solo e mais que próprio, só dele. Assim como Nicodemos, o mundão daqui a pouco o chama para algo por aí. Daí a urgência da coisa e assim sendo, convido todos para apreciarem seu talento enquanto está entre nós.
No mesmo sábado e do outro lado da cidade, algo parecido e não com uma só pessoa, mas com várias ao mesmo tempo, a extensão da Festa do Saci, que sábado possibilitou o Baile do Saci e ontem, uma infinidade de atividades artísticas e culturais sendo levada para a praça Mestre Bimba, ali ao lado dos fundos do Camélias (e nas portas da Casa da Capoeira). Algo de uma importância mais que singular, pois foge dos locais previamente determinados para apresentações e faz a coisa acontecer numa praça de bairro. Tudo começou com um ensaio público de Maracatu, outro de Maculele, da Escola Viver, a Puxada de Rede do Corujão, Roda de Capoeira, Samba de Roda e para encerrar o dia, o maravilhamento cênico e musical do Pavio de Candiero. Sabe o que é isso tudo assim junto e misturado? Uma lindeza com precedentes. Um grupo de malucos da cidade decidindo colocar a Cultura na rua, debaixo das árvores e com o apoio da Cultura Municipal para o som no local. Esse tipo de acontecimento precisa contagiar a tudo e todos. Num primeiro momento, sem nos esquecermos nunca que o músico precisa ganhar pelo seu trabalho. Vivemos num mundo onde ninguém vive de brisa, muito menos quem nos brinda com a excelência da boa música.
Nenhuma dessas atividades é pioneira (sempre tivemos gente com essa disposição - ainda bem), mas em todas algo precisando acontecer mais e mais. Ver a ATB colocando o Chris lá no Calçadão e um monte de entidades fazendo o mesmo numa praça é algo encantador. Essa árvore precisa continuar dando frutos e mais frutos. Tudo feito de uma forma muito simples, modesta, sem grandes devaneios, mas fazendo aquilo que Milton Nascimento cantava com afinco e faço questão de repetir o refrão até hoje: “Todo artista tem que estar onde o povo está”. Inesquecível o que a rapaziada do Quintal do Brás faz na festa de aniversário de Bauru lá no Vitória Régia. Toda vez que volto com a Ana para Buenos Aires, algo impressionante é como os grupos musicais ocupam as ruas do centro e ali se apresentam, vendendo seus CDs e passando o chapéu na maior. Se o espaço não existe e não lhe é oferecido, muito difícil de ser conseguido, a rua sempre lá estará na nossa frente e possibilitando traquejos e manejos encantadores. Tem domingo que saio para a feira e fico caçando se não existe nenhum grupo boliviano tocando, vendendo suas flautas de bambu e seus CDs (deve ter uns três desses). Quero mais e mais música nas ruas, pelas ruas, com as ruas e através das ruas.
MEUS CAROS E CARAS
ResponderExcluirveja se isso aqui não é mesmo um encanto:
https://www.facebook.com/media/set/?set=a.363649840461000.1073741866.271430986349553&type=1&pnref=story
Henrique - direto do mafuá
Correndo por esse enorme Brasil, encontramos uma variedade gigantesca de músicos, tocando nas praças e ruas com uma qualidade invejável. Conclue-se que aborrecerram com empresários, donos de casa de show, etc. Como a música é universal e sem dono, ainda bem, eles desenvolvem sua arte a vontade, as vezes ganhando até mais dinheiro e reconhecimento!!!!! Viva a música.
ResponderExcluirWilson Henrique Chueri Teixeira
Henrique, grato pela lembrança... creio que em Dezembro estarei aí em Bauru... Vamos ver o que arranjamos!! Abração!!
ResponderExcluirJoão Nicodemos Araújo