para Maria Cristina Gobbi
Eu tenho uma professora (ela não é minha não, viu!) me dando toques incríveis. Adoro quando isso ocorre. Eles são sempre ótimos quando me instigam. Lá no meio de uma aula me fez parar tudo e anotar o que havia dito num dos cantos do caderno. “Impossível o querer fazer tudo e não ter nenhum ônus”, foi sua frase. Isso servia não só para o que estudávamos, mas para tudo o mais. Reproduzi a mesma em letras garrafais, deixando tudo bem exposto em cima de minha mesa de trabalho. Como assim? Eu sei ser um desses querendo fazer tudo ao mesmo tempo. Daí impossível não ocorrer o desperdício de um monte de coisas. Preciso repensar o procedimento, pois só de ônus acumulado devo estar batendo recordes. Não sei nem bem como, mas essa é uma das que preciso urgentemente incorporar aos meus procedimentos diários.
Além do que repassa sobre a matéria peguei gosto em anotar suas citações, todas entre aspas no meu bagunçado caderno. “O maior desafio na leitura de um autor de referência é não só a apropriação do que ele escreveu, mas também o não dito”. Essa é ótima. Poucos hoje se atrevem a isso, o ir além do que o autor está defendendo. Só de tentar isso, afirmo, uma tentação. Ela vive provocando a turma a ousar em tudo. E quando olho à minha volta, por todos os lugares por onde circulo, constato exatamente isso. Ainda se lê muita coisa, mas o ir além é atividade para poucos. Acredito sempre ter tentado algo por esse caminho, mas agora o farei com mais e mais intensidade.
Aí noutro dia disse algo também interessante, anotei. “Estão faltando pessoas em busca de novas teorias”. Fala-se tanto num tal de esgotamento teórico e daí a pergunta: Como sair disso? A resposta só pode ser uma: pesquisa, leitura e estudo. Existindo mesmo um esgotamento teórico e com os teóricos em atividade já tendo atingido certa idade e longo tempo de pesquisa, não faltaria o surgimento de novas percepções? Não existiria nada de novo por vir? Sempre existe e com isso ela quer que todos trilhem nessa busca. Ousar e sair do trivial. Mais que isso. Ela demonstra que um estudo pode não se encerrar em si mesmo. Lança mais uma instigante pergunta: “O que os antigos tanto estudaram pode ser hoje aplicado assim sem nenhum tipo de questionamento?”. Isso acaba dando um nó na cabeça de muitos, afinal, cadê a atualização disso tudo?
Suas aulas são ótimas. Adoro isso de buscar sempre novas fisionomias, possibilidades. Admiro muito teorias ditas prontas e acabadas, mas sempre não fui lá muito adepto da repetição delas sem um melhor entendimento, sua transposição para as atuais estruturas e condições sociais. Ela comenta algo de um diálogo com uma aluna, que após ler um dos seus textos lhe diz: “Eu não sei se concordo completamente com tudo isso escrito aqui”. Achou aquilo tudo demais, tanto que a conversação depois fluiu maravilhosamente. “Basta de ser só platéia”, concluiu. E numa espécie de fecho para tudo o que queria transmitir, provoca mais uma vez ao dizer em alto e bom som: “Chegando perto de um autor, por que não se apresentar, dizer querer falar com ele e desavergonhadamente propor uma conversa?”. Desde que, claro exista algo a ser dito e debatido. O máximo que pode ocorrer é a negativa ou a aceitação. E daí, qual o problema? A proposta é exatamente essa, a de sair do lugar de aluno, ousar, querer ajudar na construção, um passo para a transformação em pesquisador. A cada aula uma nova proposta, teoria de oportunidades, despertar de varonis possibilidades. Estou adorando.
De verdade a Maria Cristina Gobbi vale a pena, também como amiga. A cabeça dela é uma festa para quem ousa ter curiosidade científica e alegria pela vida. Gosto muito!!
ResponderExcluirDalva Aleixo Dias