quarta-feira, 23 de setembro de 2015

RETRATOS DE BAURU (177)


AOS 87 ANOS JOSÉ MARIA DISTRIBUI “COMPRO OURO” POR SETE HORAS DIÁRIAS
Vejo esse senhor toda vez que vou ao centro bauruense. Sempre ali no mesmo lugar e distribuindo o mesmo folheto. Ele repete com todos o mesmo procedimento, estende a mão e oferece o papel. Eu, mesmo já sabendo do que se trata nunca recusei de pegar e fingir guarda-lo. Não me atreveria a jogar na lixeira e sob os olhos de um senhor tão idoso. A cena se repete e sempre me perguntei: “Quem será ele?”. Fui conhece-lo e do que ouvi, aprendi a admirá-lo mais e mais. Vejam se não tenho razão.

JOSÉ MARIA DE JESUS, 87 anos (01/01/1928), mora lá no Alto Paraíso, depois do Hospital Manoel de Abreu e de segunda a sábado, sai de sua casa às 8h e volta depois das 16h30. Permanece o dia quase todo, faça sol ou chuva ali defronte um bar no cruzamento das ruas Primeiro de Agosto com Gustavo Maciel, bem no centro da cidade. Em pé, só saindo dali para almoçar, ir ao banheiro ou beber água, distribui cartões com os dizeres “Compro Ouro”, ganhando por dia R$ 20 reais. São dez anos ali na lida, nove para o mesmo comprador de ouro. Seu José foi taxista por 28 anos, tendo começado a trabalhar na Zona do Meretrício e seu último ponto foi o do terminal rodoviário. Quando aposentou recebia um salário mais três quartos e hoje, me diz, recebe somente um salário mínimo, daí a necessidade de complementar sua renda. Almoça por ali mesmo, quase sempre no Tempero Manero, por R$ 5 reais e quando sente sede ou precisa ir ao banheiro, uma dentista ali do lado é seu ponto de apoio e referência. Com quatro filhos, oito netos e um casal de bisnetos, casado pela segunda vez, há quatro anos teve um enfarte, o que o obriga a tomar diariamente sete comprimidos. Questionado sobre o permanecer em pé ali durante tanto tempo foi direto: “Não tenho problema nenhum em permanecer em pé”. Muitos param e puxam conversa (“outro dia me levaram lá na cozinha do Banco do Brasil e até bolo comi”), outros pegam o folheto e o descartam no chão ou na lixeira defronte o banco, mas alguns guardam e pela constância e seriedade com que executa sua função, segue por ali o mais famoso distribuidor de folhetos do centro bauruense.

3 comentários:

  1. Seu Zé Maria, meu companheiro de centrão bauruense. Dele recebo a melhor coisa que é sempre um boa tarde que me dá quando passo quase que diariamente naquele cruzamento da Primeiro de Agosto onde tem esse bar que ele fica na frente, sabe que como não tenho ouro para vender, não me dá mais o papel e sim o boa tarde que vale mais que ouro.

    Camarada Insurgente Marcos

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  2. e tem pessoas que nâo dâo valor por este gesto né
    Rui Francisco Martins, táxista e seu ex-colega

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  3. Henrique
    Como é né , a gente desce e sobre a primeiro de Agosto , ali está ele SEO José Maria ,refletindo nos não temos tempo para bater 1 papo com nosso próximo ? Sempre
    tb recebo o cartão com agradecimento. Parabéns HPA
    pelo reconhecimento ao ser humano !!!
    Gaspar Moreira

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