segunda-feira, 6 de junho de 2016

DIÁRIO DE CUBA (78)


CUBA NA VISÃO DE BAURUENSES QUE VIRAM DE PERTO A EXPERIÊNCIA E FALAM COM CONHECIMENTO DE CAUSA
Fábio voltou da ilha faz uma semana.

Essa ilha é mesmo efervescente. Imaginem o que é ser diferente num mundo onde o predomínio é a pasteurização? É o tal do remar contra a maré. Cuba foi o ideário durante décadas (desde 1960, mais precisamente). Gerações e gerações olhavam para a revolução com uma olhar cheio de esperança. Ela foi e continua sendo um espelho para se contrapor ao vigente e cruel capitalismo. Só o fato da proximidade com seu maior algoz, os EUA e serem absolutamente o oposto do que dita as ordem do Império o tornaram uma das nações mais altaneiras do planeta. Exemplo para tudo e todos de como viver com simplicidade, sem ostentação e do compartilhamento humano na sua quase plenitude. No Brasil de hoje, com retrocessos a olhos vistos, quando se iniciou o gradativo aumento do ódio nas ruas, começaram a pipocar uns bestiais insultando a tudo e todos pensando contrário ao ideário conservador. A provocação vinha sempre da mesma forma: “VÁ PRA CUBA!”. Eles viam isso como um insulto e se enganavam redondamente, pois os provocados sempre quiseram conhecer de perto a experiência cubana. Os que foram voltaram cheios de boas histórias, algumas de puro encantamento.

Muitos amigos bauruenses estiveram por lá nos últimos meses. Arthur Monteiro Junior, o advogado injustamente recém-demitido do Sindicato dos Bancários vai sempre, quase todo ano e vai para participar das brigadas de trabalhadores. Sempre em cidades do interior e pegando no pesado. Vai por dois motivos, um para dar seu quinhão de contribuição para a revolução cubana e outra para conhecer mais e mais da experiência cubana e depois, fazer isso de tudo aquilo em sua vida pessoal. Arthur é uma pessoa mais do que diferenciada, isso se deve em muito a Cuba e tudo o mais que leu sobre temas relacionados durante sua vida toda. Observo nele e em sua atuação e constato ser a pessoa que é, muito por causa dessas experiências ao longo de sua vida.
Arthur na ilha com um companheiro


Outra pessoa que voltou recentemente, coisa de meses foi Darcy Rodrigues, o militar reformado do Exército Brasileiro, com uma história de vida dessas inigualáveis e parte dela ao lado de outro militar de boa cepa, Carlos Lamarca. Darcy morou em Cuba quando exilado e voltou ano passado, revendo o país décadas depois. Voltou nos lugares onde trabalhou, morou e frequentou. Imaginem as histórias que tem para contar. Tem um filho nascido na ilha e é desses que em cada conversa dá uma lição sobre a história de Cuba. Já vi muitos se darem mal quanto tentaram o encostar na parede com questionamentos negativos sobre a ilha. Levaram um banho e a maioria saiu de fininho. Uma delícia conversar com ele sobre assuntos relacionado à ilha. Sabe tudo de lá e quando compara com o Brasil de hoje, tem muito a ensinar a todos nós.
Marcão e lembranças da ilha.

Outro que foi recentemente e tenho uma vontade danada de conversar é o Marcos Roberto Costa Garcia, o Marcão, Secretário das Finanças da Prefeitura Municipal de Bauru. Vejo o Marcos como uma pessoa das mais sensíveis, boa praça, desses que dificilmente se deixam enervar, mesmo diante de baita pressão. Pudera, o que faz nos momentos de lazer? Num desses anos juntou amigos e foi-se para Cuba. Sabe o que acontece com gente que vai para Cuba nessas circunstâncias? Volta recarregado. Simples de explicar. O sujeito vive sob uma intensa pressão de um mundo onde o “deus dinheiro” é tudo, o motor de tudo e vai conhecer uma experiência onde o oposto é a mola propulsora da economia. Imagino o belo contraste na cabeça de todos que, fazem de sua atividade principal a movimentação financeira e se deparam com outra exatamente oposta a isso, onde o ser humano vale tudo e o dinheiro é um mero detalhe, necessário, mas não a peça principal. Marcão é um dos que sabem conciliar tudo na prática de sua atividade.
Darcy voltou depois de décadas distante da ilha.


Por fim, cito o exemplo mais recente. Fábio Fleury, diretor da rádio Unesp FM Bauru, gente ligada ao rádio e à cultura de um forma geral. Acaba de voltar (semana passada) da ilha e suas impressões soam diferentes de todas as demais, por um único motivo, ele não é socialista, muito menos comunista, mas um antenado observador e nem um pouco ranzinza, muito menos desses empedernidos conservadores. Pedi a ele se podia me responder a algumas perguntas sobre suas impressões sobre a ilha, sete perguntas ao todos e suas respostas me impressionaram. Não as publico na íntegra, pois não tenho autorização para tanto, mas me servirão e muito para um trabalho acadêmico em curso. Das suas impressões cito um curto trecho: “Cuba é um país singular. Acredito que a forma de socialismo em que eles vivem só é possível lá, por meio de questões geográficas, populacionais, culturais e históricas. Ela não tem força para influenciar o mundo capitalista, mas pode ensinar em várias áreas. Percebe-se que eles – o Governo gasta uma energia – com força e pelo discurso – para manter a mentalidade socialista, principalmente para as novas gerações que estão ficando distantes da emoção da revolução. Aos brasileiros preocupados com Cuba eu falo: È muito mais fácil o Brasil tornar-se uma ditadura de direita que de esquerda, então, respeite as idiossincrasias de Cuba e deixe em paz...A vida em Cuba é dura, simples, mas digna, embora seja claro que os militares possuem privilégios, inclusive de moradia, pois também fiquei num hotel no bairro deles e era muito elegante.”.

De tudo, tiro uma conclusão bem simples. Discuto Cuba só quem a entende e não vem querer me jogar na cara chavões sem sentido. Aliás, quem age assim fujo, pois de cara sei que nada sabem da ilha. Desses todos aqui citados, o imenso prazer em conversar sobre a ilha, dessas conversas que se alongam até não mais poder, discussões sérias, feitas com pessoas que de fato viram o outro lado da moeda e podem falar de cátedra. E discutir com gente assim é mais do que uma delícia. Querem mais? Em breve um texto acadêmico sobre o tema.

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