segunda-feira, 29 de agosto de 2016

BEIRA DE ESTRADA (67)


A PARADA DA DIVERSIDADE 2016 EM BAURU – ESTIVE LÁ E CONTO ALGO A RESPEITO: CADÊ O POVO BAURUENSE?
Primeiro uma frase, essa dita por Adilson dos Reis, alguém que, segundo diz, passou por lá num mero acaso, junto das filhas pequenas: “Passando próximo das Nações Unidas sem saber desse evento, não tive muita dificuldade em explicar para minha filha sobre um casal de meninas se beijando, mas um homem de cueca e cinta liga foi bem mais difícil”.

Passadas nove Paradas da Diversidade, acreditava eu que, não mais teria que me defrontar com questiúnculas dessa natureza. Elas continuam e, pelo visto, terão prosseguimento ad eternum. Não quero mais entrar no mérito dessas questões. Muito já foi dito, escrito e está por aí para quem quiser consultar e tomar conhecimento, de amplo debate sobre esses probleminhas de forno, ou seja, questões menores dentro da amplitude de um estado de coisas muito maior. Perderia tempo em voltar a analisar um a um dos motivos de sair de cueca na rua, de se trocar um caloroso beijo entre barbudos em praça pública ou de meninas estarem andando pelas nossas calçadas de mãos dadas.

Minha intenção com esse curto escrito é ir além. Dar um passo adiante. Tive o prazer de estar no staf da 1ª Parada da Diversidade em Bauru, administração de Tuga Angerami e tendo como secretário de Cultura, meu amigo José Vinagre. A mais bela recordação que tenho daquela tarde de domingo é a de ver nas ruas ou nos seus entornos, boa parte da população. Não sei se movidas pela curiosidade, mas famílias inteiras estavam nas ruas, vendo e aplaudindo a passagem do cortejo. No entorno existia tanta gente quanto a desfilar. As fotos daquela época estão aí e não me deixam mentir.

Passados nove anos, vida que segue, estamos diante hoje da eminência do Senado da República oficializar um cruel e insano Golpe de Estado sobre nossas vidas e destituir uma presidenta legalmente eleita e sem ter cometido crime algum. Mera vingança de políticos que, reunidos a tiram do poder e em seu lugar oficializam o golpista Michel Temer. Com ele, evidentes sinais de muitos retrocessos no ar, não mais como balões de ensaio, mas como algo sendo institucionalizado pouco a pouco na vida nacional. Leis são revistas, legislação jogada na lata do lixo, país sendo dilapidado, privatização alcançando índices estratosféricos e, pior que tudo, uma massa verde-amarelo nas ruas batendo palmas para o que representou o regime militar, o endurecimento político e institucional e a reboque o conservadorismo, não mais botando as asinhas de fora, mas já impondo padrões. O estado laico está indo pras cucuias e conquistas do movimento LGBT que, ontem esteve nas ruas, tenham certeza, serão violentamente ultrajadas.

Querem um belo exemplo do que está por vir? Hoje na Entrelinhas do Jornal da Cidade, numa nota, está lá para quem quiser ler: o prefeitável Raul, médico que não trabalha por mixaria, disse textualmente que não apareceu por lá em respeito ao seu vice, Arildo, do PSDB e pelo fato dele ser evangélico. Para bom entendedor só isso já basta para ver como, se Raul chegando a ser prefeito, atuará em relação à essa questão, ao Carnaval, aos shows ainda bancados pela Prefeitura, aos encaminhamentos culturais, etc. Não os realizará em respeito ao seu vice. Um grande perigo nos espreita. Do slogan da Parada, “Eu Voto contra o Preconceito”, algo muito sério, primeiro porque não existe nenhuma liga entre ser contra o preconceito e votar em quem apoia o golpe. Impossível conciliação.

Para finalizar, reitero o que ontem ouvi de Cláudio Lago, militante da causa social e que, comigo desceu (junto também Tatiana Calmon e Luzia Aparecida Siscar) a avenida segurando uma faixa contra o golpe. Disse ele: “Henrique, cadê a população de Bauru na Parada? Não vejo quase ninguém, um ou outro gato pingado, mais ninguém. Esse movimento está restrito aos seus, nada mais. Nem os curiosos temos mais”. Desci olhando para os lados e tristemente constatei a veracidade do dito pelo amigo. Das duas uma, ou o interesse se esvaiu naturalmente ou nosso mundo está mesmo mais conservador, pois as bundas sempre estiveram expostas (hoje bem menos, vi poucas esse ano), assim como as cintas ligas? Deixo essa interrogação como necessária reflexão para tudo, todas e todos os envolvidos e os não envolvidos com a questão. Pensemos conjuntamente no assunto.

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