sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

COMENTÁRIO QUALQUER (160)


BENEDITO REQUENA – NÓS NA FEIRA...
Requena, Laranjeira e este HPA.
Laranjeira e Requena.
Duas ou três palavrinhas sobre ele. Seu currículo eu deixo para o jornal. Discorro aqui sobre algo mais, dessas coisas que valem a pena serem lembradas em dias como o de hoje. E o que sei dele? Minhas primeiras lembranças são dele no Jornal da Cidade, quando dava conta da seção Internacional. Ele vasculhava de verdade as notícias, pois na sua época não existia Google, muito menos redes sociais. É da turma fundadora o jornal.

Meu reencontro com ele se deu muito tempo depois. Todo santo domingo ele e eu temos por hábito bater cartão na Feira do Rolo, banca de livros do Carioca, nosso ponto de encontro, oásis no meio do deserto bauruense. Lá, nossa terapia dominical. A diferença eram nossos horários. Ele chegava sempre no horário em que nos preparávamos para ir embora, por volta das 12h. Ele acordava mais tarde, hábitos noturnos de escrita e leitura. Quando perguntei sobre isso de chegar tarde, ele, com seu jeito quieto, contido, contemplativo disse: “Eu não chego tarde. Chego é cedo, já para o próximo domingo”.
O juiz futebol Tonhão e Requena.

Uma delícia as rodas de bate papo por ali e cidade afora. Ele participava de todas, independente se pensava da mesma forma dos debatedores. Emitia opinião sobre tudo, ao seu jeito, sem provocar, sem exageros, porém decidido. Até hoje, por todo o tempo em que nos encontrávamos na feira, não sei se era de direita ou de esquerda. Isso pouco importa nesse momento. Vale muito a maneira de debater, sabendo entrar num debate, sem neura, agressividade ou impondo a sua opinião como a definitiva.

Reafirmo, era um sujeito contido. Gostava mesmo era do ex-prefeito, seu amigo pessoal de longa data, o também jornalista Nilson Costa. A sua reclamação era a mesma do Nilson: “Continuo escrevendo, mas me conte, cadê os lugares para abrigar nossos textos?”. De todas às vezes em que estive com ele em seu portão, lá perto do distrital Padilhão, sempre me recebeu no portão. Longos papos, sem nunca me convidar para entrar. Dificilmente levaria alguém para dentro de sua casa.
Carioca, Rose Barrenha, HPA e Requena.

Relembro uma história me contada pelo Cláudio Amantini. Sabe aquele calhamaço de documentos que o Amantini levava debaixo do braço e entregava para tudo e todos que nos visitavam contando a história do Noroeste, ele tentando ficar em definitivo com o estádio Alfredo de Castilho? Foi algo montado por Requena e a pedido do então presidente do Noroeste. Eram recortes e jornais, todos copiados e entregues aos ilustres visitantes, pesquisa pessoal de sua lavra.

Parte de seus escritos, ele deixou registrado no belo livro de memórias de sua família, algo muito bem escrito, pesquisa de longuíssima data. Era meticuloso, cuidadoso com os detalhes e também indicador de temas de leituras e pesquisa para amigos. Não tenho mais nada a dizer. Perdemos um sujeito bom de conversa, calado, mas conversador (entenderam?). Todos os que gostam de vagar sem rumo em feiras, vasculhar quinquilharias nesses lugares, procurar gente pra prosear, todos são “tutti buona gente”. Ele era, e dessa forma, a feira perde mais um dos seus personagens. Sim, ele já era uma espécie de instituição no lugar. Tristeza dentre os que ficam para continuar contando e registrando a história dos de baixo. Um a menos na roda dos rueiros.

OBS.: Todas as fotos do Requena foram tiradas na Feira do Rolo, seu habitat dominical. As duas primeiras fotos são as últimas dele tiradas por mim, num dos últimos domingos de janeiro, junto do professor José Laranjeira. As demais, devo ter umas vinte com ele, foram sendo tiradas ao longo desses últimos anos (ou já seriam algumas décadas e nem percebi?). Nosso último encontro na feira, lembro bem, foi já depois da meio dia, agora em fevereiro, diante de uma barraca de pastel lá na rua Julio Prestes. Ali estavam eu, Sivaldo Camargo, Kyn Junior, Milton Dota e, acredito Manoel Carlos Rubira. Falávamos de tudo, como sempre, acalorada discussão. Ele se juntou a nós, ali debaixo do inclemente sol da manhã e se me perguntarem, sei, a discussão foi boa, mas nem sei mais do que tratávamos. São tantos os assuntos. Somos todos muito conversadores...
Quicão, HPA, Manoel Rubira e Benedito Requena.

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