terça-feira, 28 de março de 2017

FRASES DE UM LIVRO LIDO (112)


LIVRO DE CABECEIRA: FAUSTO WOLFF EM DROPS, PEQUENAS DOSES DIÁRIAS – MELHOREI DO DELIRIUM TREMENS
       texto dedicado ao economista Reinaldo Cafeo

Tenho um livro ao lado da cabeceira da cama (todos deveriam ter um) e o leio aos poucos, em doses homeopáticas, ou seja, um bocadinho por dia, drops após drops, sem nenhuma pressa. Escolhi a dedo um belo catatau de um jornalista pelo qual tenho saudáveis recordações, FAUSTO WOLFF. Já escrevi muito dele e para quem se interessar, cliquem aqui e leiam algo mais: http://mafuadohpa.blogspot.com.br/search?q=fausto+wolff. Essa história vivida tendo Fausto como o do outro lado da linha (trocavámos e-mails pouco antes de sua morte) para mim é por demais dolorosa. Tenho muitos livros dele aqui no mafuá e um deles, o tal catatau, “A MILÉSIMA SEGUNDA NOITE” (ED. Bertrand Brasil RJ, 2005, 742 págs), foi todo construído com pequenas histórias, 1001 (mil e uma) para ser mais preciso, aqui reunidas e por mim escolhido para permanecer ao lado do meu berço sepulcral. Ao deitar ou acordar, puxo para perto dos olhos e leio uma história, daí levanto ou deito e até sonho com o que leio. Escolhi uma, a que li na noite passada, de nº 94, talvez já conhecida por muitos, mas sempre ótima de ser lembrada, relembrada e relida, ainda mais diante desses sempre crendo (cada crença doida, meu!) que o dinheiro move tudo. Vamos a ela:

“Esta história que me contou foi R. Traven, um grande artista e um melhor ser humano, pois, em verdade, ninguém sabe quem foi ele, exceto eu. No princípio do século XX, um turista americano que visitava as florestas mexicanas dispersou-se do grupo e acabou encontrando uma tribo de índios que tivera pouquíssimo contato com os bárbaros europeus. Entre os índios, o turista descobriu um que era exímio artesão. Fazia cestos maravilhosos, dignos de figurar em qualquer museu artístico do mundo. Algo realmente de uma beleza inenarrável, como triste alegria de um pôr-do-sol ou uma gota de orvalho refletindo o mundo. O turista comprou o cestinho por um peso e os índios o reconduziram até sua caravana. Em Nova York a peça artesanal foi tão elogiada que o homem decidiu voltar à aldeia indígena mexicana e iniciar uma produção em larga escala. Dirigiu-se ao velho artesão e perguntou-lhe quanto custava um cesto:

- Um peso.

- E dois?

-Três pesos.

O homem não entendeu a lógica e continuou:

- E cinco?

- Cinquenta pesos.

Pois mais que o gringo tentasse explicar-lhe que o preço deveria diminuir à medida que a produção aumentava, não conseguiu fazer o índio mudar de ideia. Finalmente, o cesteiro lhe disse:

- Se eu vender um cesto por dia a um peso, ainda tenho tempo para me divertir, tomar mescal, pescar e fazer amor. Se vender dois, será mais difícil, se vender três, terei uma vida triste; e se vender cinco, não terei tempo para mais nada.

- Mas você pode fazer os outros trabalharem por você.

- Estás louco, gringo? Eles me matam!

O turista começou a gritar, vociferar, ameaçar, tremer, babar, a fazer tal escândalo que tiveram que prendê-lo na esperança de que se acalmasse. Como não se acalmou, deram-lhe tanta mescalina que ele enlouqueceu. Acabou morrendo entre os nativos como o ‘bobo da aldeia’. Mais tarde outros americanos, como vocês bem sabem, apareceram por lá e, debaixo de pau, acabaram por convencer os índios que o capitalismo não é uma loucura”.


Essa, uma das milésimas e uma histórias (com H mesmo), uma mais saborosa que a outra. Recomendo, até para amenizar o deliriuns tremens. Meu médico afirma ter este insano paciente melhorado muito após medicado com doses seguidas de Fausto Wolff. Recomendo o mesmo para tudo, todas e todos.

Em tempo: O livro eu não empresto, pois dele faço uso diário. Tentem na Estante Virtual, Banca do Carioca, Submarino, Jalovi ou, até mesmo, nas ditas boas casas do ramo (poucas, muito poucas hoje em dia). Não o encontrando, passem aqui, me visitem e façam uso desse eficiente medicamento aqui nas acomodações mafuentas nas barracas do rio Bauru.

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