sábado, 25 de março de 2017
O PRIMEIRO A RIR DAS ÚLTIMAS (38)
MINHA VERSÃO DO SHOW DO IVAN LINS NA HÍPICA EM BAURU
A história do show do Ivan Lins em Bauru na Sociedade Hípica eu começo relembrando outra com muita similaridade. Essa quem me contou foi um baita amigo, mas não declino seu nome, pois não tenho autorização para tanto. Seu relato é bem ilustrativo e demonstrativo do que venha a ser essa incomensurável e “sem limites” Bauru “. Ouço dele história de um recorte do antológico show na Cervejaria dos Monges, com o norte-americano B. B. King. Primeiro me diz não ter conseguido assistir (eu também não e pelos mesmos motivos) por causa do alto preço. Na comparação, hoje em torno de uns R$ 250 reais. O preço do show do Ivan é bem menor, R$ 125 reais e pesado para alguns (dentre os quais me incluo), mas não um absurdo, pois, gente como eu está mais do que (mal) acostumado a ir em shows no SESC, preços subsidiados e daí, outro patamar.
Conto a história do show do B.B. King como me contou: “Claro que não generalizo para todos os presentes, mas no banheiro feminino algo surreal desta Bauru. Três mulheres num papo e show rolando lá no palco. Conversavam entre si e todas ali meio perdidas no meio do som do bluseiro. Uma delas desabafa para as demais estar ali, por pura imposição marital. Tinham que estar, pois precisavam ser vistos, ali toda a nata da cidade e, portanto, receberiam comentários positivos se ali presentes em carne e osso. E confessa não estar entendendo nada, gostando nada e não vendo o momento daquilo tudo acabar. Uma música diferente, né?”.
Triste? Não. A cara da elite bauruense, paulista e brasileira. Vão, não por gostar, mas para serem vistos, fotografados, saírem na coluna social e continuarem em evidência social. Uma beleza. Também não generalizo e o digo já voltando para o show do Ivan ontem na cidade. Fui, assisti entre amigos, gostei, cantei quase todas, sem nenhum tipo de remorso. Tenho quase todos os LPs e CDs dele. Já tive o prazer de assistir outros de seus shows, todos em espaços maiores e para público mais diversificado. Esse aqui, quem lá esteve sabia, público determinado, específico, marcante para o espaço. Salão repleto de mesas e convescote rolando solto, estilo casa de espetáculos. No caso bauruense, algo que a Hípica já tem feito em shows anteriores, abarcando os mais abastados, a dita elite financeira e social. Por outro lado, muitos de outras camadas mais simples, num esforço danado para ali estarem e simplesmente por gostarem do cantor. Tinha de tudo. Eu, ciente do que encontraria, não tenho do que reclamar. Fui conferir um show de alguém que admiro. Portanto, sem neuras, cobranças e quetais. A obra do Ivan é admirável, suas parcerias e a forma como canta sempre me atraíram. Seus primeiros discos são um primor do combate à ditadura militar de então.
De uns tempos para cá tenho lido algo sobre a postura do Ivan ter se bandeado mais para a direita e assumido posições mais conservadoras. Confesso não ter me interessado sobre o tema e nada ter lido. Vejo no show uma citação dele para com Sergio Moro dentro da música Formigueiro. Não passou disso e muitos dos seus clássicos, cantou como forma de protesto contra os desmandos atuais, isso bem claro. Não fez um sequer discurso político, pois todos já estavam mais do que embutidos em suas canções. Ivan é hoje um senhor na casa dos 70 anos, com clássicos sendo cantados por tudo e todos. Ontem mesmo a prova disso. A elite bauruense presente no show (e misturada com muita gente mais simples) cantou tudo e na ponta da língua. Se estiveram ali para fazer a migração do que estavam cantando para com a realidade vivida, isso outra coisa.
Ivan, pelo conjunto da obra, me embalou durante muito tempo. Canto várias de suas canções e não quero crer ter ele se bandeado totalmente para o lado mais insensível dos brasileiros, o dos verde-amarelos nas ruas e não nas lutas. Pode ter se desiludido com muita coisa, mais do que justificável isso, pois inegável desilusão todos nós tivemos, mais ou menos ao longo dos tempos. Insistir acreditando é algo bem nosso. Vejo isso também nas canções do Ivan, como o “desesperar jamais”. Claro e evidente que, se ele no SESC, por exemplo (hoje está num, no Pompéia em Sampa), teria outro público e pulsaria de outra forma. O artista pulsa também de acordo com o público diante de si. Para cada momento uma reação diferente.
Encerro com algumas linhas sobre Bauru e seus públicos. O que poderia esperar de um show na Hípica e com parte da elite nativa ali no salão? Nada diferente do que foi presenciado. Enfim, percebo que, tanto o alto, como o baixo clero gostam de Ivan. Intensidades diferentes, mas gostam, cada um ao seu jeito e modo. Besteira me aprofundar em elucubrações desvairadas. Prefiro continuar com os pés no chão, cantando as canções do Ivan por onde circule e propondo o algo novo, a saída imediata do regime de exceção golpista que nos usurpou o poder e conseguir, ao menos, assistir belos shows e tietar à vontade. Discuto o mais em outros momentos, fiz a minha parte, ali fui para me divertir e o máximo das observações que tive estão aqui juntadas. Se valem para alguma coisa, não sei. Sei que do show, ao menos revi Ivan e sua bela obra. Isso me basta no momento.
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