quinta-feira, 4 de maio de 2017

BEIRA DE ESTRADA (77)


SERIA BAURU OUTRA MACONDO?*
*Cidade fictícia, criação da verve do escritor colombiano Gabriel Gárcia Márquez, no livro “Cem anos de solidão”, comemorando por esses dias 50 anos de lançamento.

Macondo, como se sabe, é a cidade onde acontece de tudo. Lá, a ficção se mistura com a realidade. O inusitado ocorre sem sobressaltos, faz parte do próprio contexto. Que tal viver numa cidade onde o imponderado está inserido em todos os atos do seu dia-a-dia? Do livro, algo mais que valoroso, o fato de ter sido ele quem revelou a América Latina para o mundo. E quando se pensa nas condições do escritor quanto criou a obra, uma pergunta se torna inevitável: pensando em que teria criado a ficcional Macondo? Existiriam cidades na América Latina, que pelo número exagerado de situações esdrúxulas poderiam ser com ela comparada? Viajar imaginando isso tudo é um belo exercício imaginativo. Mas, evidente, Macondo’s não nos faltam. Daí, a pergunta sendo transportada para nossos dias: Se você tivesse que escolher, hoje, morar em Brasília ou em Macondo qual escolheria?

ERIC NEPOMUCEMO, tradutor da obra de GGM assim respondeu a esta pergunta, feita por Aray Nabuco, em entrevista para matéria publicada na revista Caros Amigos (edição 240, março 2017), “No caminho de Macondo”:
“Isso não é provocação. Isso é resposta óbvia, porque Brasília é o lado horroroso de Macondo. Brasília é Macondo naquele febre de esquecimento. Todo mundo esquecia tudo. Em Brasília hoje todo mundo esquece quem é Michel Temer, Renan Calheiros, esquece tudo. Você quer imagem mais monstruosa que Edson Lobão comandando a sabatina do Alexandre de Morais e ainda ter que ouvir o chincheirinho mineiro Aécio Neves, playboy de província? Isso é realmente mágico. O Gabo jamais teria imaginado para criar esse quadro. Com muita razão, no discurso que ele fez, quando recebeu o Prêmio Nobel, “na verdade nós escritores latino-americanos precisamos recorrer muito à imaginação”. Conforme dizia o Eduardo Galeano, “nessa América enlouquecida, a realidade parece muito mais maravilhosa e muito mais tenebrosa do que a mais fértil das imaginações”. Antes dessa entrevista, estava aqui maravilhado com o Alexandre de Morais porque não consigo entender nada do que ele fala. Vamos ter na corte suprema um cara com a aparência de leão de chácara de bordel de subúrbio, com uma fala de puxador de samba de escola paulista de terceira divisão. O que é isso? Se pelo menos a gente entendesse o que ele fala. È mais fácil entender o Celso de Melo. O que estou dizendo é que os caras conseguem superar qualquer imaginação. Eu iria para Macondo, sem dúvida”.

Pois bem, já que em Macondo vale tudo, a nossa aldeia, a cidade onde moro, Bauru SP Brazil, também pode muito bem ser inserida neste contexto. O que se poderia dizer de uma cidade que teve lá nos seus primórdios vereadores se reunindo com o relógio adiantado, só para aprovarem algo do seu interesse e quando os demais chegaram, tudo já estava selado? O fato se repetiu agora, quando nesse mandato, eles se reuniram de comum acordo e em dez minutos realizaram duas sessões, aprovaram o fim das festas populares e depois picaram a mula, fugiram em debandada com o povo chegando a seguir. E o que se poderia dizer de gente ligada as tais “forças vivas” que, para aprovar um condomínio fechado para abastados, tentaram engambelar a todos dizendo área pertencer a outra cidade, onde a aprovação não teria que enfrentar o tramite da lei? Agora mesmo, marmitex eram compradas por valor muito acima do mercado e tudo só foi desfeito por causa de denúncia. Tem ainda o caso de carga de pneus recebida via apreensão da Receita Federal e desaparecida misteriosamente de armazéns. Para tê-los de volta, só mesmo pedindo encarecidamente para quem levou algum por engano, que proceda a devolução. Isso sem falar em promessas ditas ao sabor do vento, como a já antológica, “em cem dias a cidade adentrará o reino dos céus”.

Seria uma longa lista. Deixo as lembranças para os amigos de plantão e sempre a postos: Que ato incluiria Bauru no mesmo rol da Macondo da ficção?
OBS.: Texto chinfrim de minha autoria, em homenagem aos 50 anos de "Cem anos de solidão", obra que quem ainda não leu, deveria fazê-lo o mais rápido possível. Tenho duas em casa...

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