terça-feira, 3 de outubro de 2017

CARTAS (180)


ERA PARA A TRIBUNA DO LEITOR DO JC, MAS SAI ANTES AQUI PUBLICADA - NEM O NOME AURI-VERDE SERÁ MANTIDO


meus caros do JC:
Carta de minha lavra e responsabilidade com solicitação de publicação na Tribuna do Leitor, inédita e excluiva, pelo que antecipadamente agradeço. Sei que o tema é forte, contundente, porém, pelas conversas que ouço nas ruas, relato dos demitidos, acho necessário mostrar o outro lado da questão. Grato por tudo, do leitor de todas as horas, HPA

A AURI-VERDE SE FOI...
Complementando a matéria publicada no Jornal da Cidade sobre o “acordo” da Auri-Verde com o Grupo Jovem Pan, publicada na edição de 27/09, algumas considerações se fazem necessárias:

- O melhor é dizer mesmo “acordo” entre as partes, uma vez que no negócio rádio o dono é o Governo Federal, pois rádio é concessão pública. Porém, até as pedras do reino mineral sabem que tudo neste país é vendido, até vento, portanto, o que foi oficializado com entrega de envelopes e tudo mais foi um acordo, uma explícita venda, como ocorre em todas transações no setor. Legal ou ilegal, ah, isso são outros quinhentos;


- Seria bom ao menos citar algo sobre as demissões ocorridas na rádio imediatamente após o “acordo” e também todos os antigos processos trabalhistas, sendo postergados de solução a curto prazo. Fácil encontrar pela cidade muitos jornalistas em situação deplorável devido à demora na solução dessas pendengas, tendo que tentar reiniciar suas atividades na bacia das almas, num hoje pavoroso mercado de trabalho radiofônico. Insensibilidade para quem tanto suor dedicou à rádio também deveria pesar na hora dos acertos e do tal "acordo";

- Pouco sobre o que vem por aí. Descrevo o que vejo rolando. O padrão de Jornalismo da Jovem Pan é a cara do neoliberalismo em curso no país. Sempre de mão única, sem permitir o contraditório. De nada adianta a existência de um jornalismo 24h se o mesmo perdeu o senso do que seja de fato um trabalho isento, dentro da verdade factual dos fatos. De que vale uma mesa redonda com vinte debatedores se todos pensam e agem da mesma forma e jeito? Bom mesmo é possibilitar ao ouvinte uma ampla amostragem de todas as partes da questão e deixar ele escolher a sua, não impor somente uma e como a única existente. Assim como profetizou Millor Fernandes há décadas: “Jornalismo é oposição, o resto é balcão de secos e molhados” e
Rebanho de ovelhinhas neoliberais jovem-panistas.


- Uma grande pena o ex-presidente Lula ter perdido a rara e única oportunidade de modernizar as Comunicações, promovendo uma Lei de Médios condizente com os novos tempos, sem essa absurda concentração de proprietários, lobbies declarados e oficializados. Hoje, não existe uma só rádio no país onde ainda se possa fazer a defesa da possibilidade de um outro mundo fora dos padrões neoliberais. Nenhuma. Todas cada vez mais num grande conglomerado, linha de pensamento único, nada oxigenante. Os bons ventos se foram e os novos serão de informação truncada, com a cara e mente de um jornalismo cada vez mais concentrador, de ideias, de lucros e sem possibilidades de mostrar o outro lado da questão.

Nada a comemorar, muito a se preocupar.

HENRIQUE PERAZZI DE AQUINO – jornalista e professor de História

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