terça-feira, 22 de maio de 2018

DOCUMENTOS DO FUNDO DO BAÚ (116)


PORQUE ME UFANO DE ACADEMIAS DE LETRAS

Acabo de ler algo sobre a pesquisa do historiador brasileiro radicado na França, Diogo Cunha com sua tese de mestrado sobre as estreitas relações entre acadêmicos da ABL – Academia Brasileira de Letras e ditadores militares. É de estarrecer, como se processaram ao longo do tempo e foi se estabelecendo uma conivência branda, que muitos poderiam muito bem denominar de promiscuidade, entre os membros da dita pomposa Academia e os generais da ditadura militar iniciada em 1964. Foram mais que cordiais uns com os outros e até reformas na sede foram conquistadas na dita íntima relação entre as partes. Na tese apresentada na Universidade de Paris e livro publicado ano passado na França, o jovem historiador traça um perfil de algo sempre em voga nessas relações entre entidades do gênero e os poderosos de plantão, desde que conservadores. O texto ainda não saiu publicado no Brasil e lá recebeu o título de “L’Académie Brésilienne des Lettres Pendant la Dictature Militaire-Les Intellectuels Conservateurs Entre Culture et Politique”, saindo pela editora Lambert-Lucas.

Não me peçam para participar de reuniões desse naipe, convescotes onde o chá é servido na temperatura exata prescrita pela temperatura ambiente, mas as discussões são sempre no entorno de uma declarada conivência ideológica entre uma elite cultural conservadora e, no caso da ABL situada na cidade do Rio de Janeiro, a hierarquia militar de extrema-direita. Mesmo com alguns nomes ditos como de esquerda, imagino o nível da conversa atual entre alguns abomináveis hoje lá encastelados, tipo Merval Pereira e José Sarney, para ficar somente nesses dois exemplos. Tudo girando em torno do nacionalismo direitista e o bestial anticomunismo. Os exemplos citado por Diogo no levantamento de sua pesquisa comprovam a relação incestuosa entre as partes, algo a encher de rubor e vergonha o criador da mesma, Machado de Assis. Com 40 cadeiras, lá convivem de tudo um pouco, mas o predomínio é mais que direitoso. Graça Aranha, escritor maranhaense, disse quando cansou das festinhas no salão acarpetado: “Somos excessivamente quarenta imortais, consagração exagerada para tão pequena literatura”.

Sem mais delongas, sugiro para quem quiser saber de detalhes das aberrações entre a direção da ABL e os benefícios concedidos a esses pelo poder dos milicos no poder, uma pesquisa no pai dos burros da atualidade, o google e estarão diante de acordos, conluios, conchavos e benesses de enrubescer mamutes. Guardadas todas as proporções possíveis, não consigo vislumbrar muita diferença entre essa ABL, a matriz de todas e todas as demais existentes país afora, inclusive a local, a funcionando na aldeia bauruense e coincidentemente com a mesma sigla. Certa vez fui sondado para fazer parte do seleto clube, declinei e nunca mais o fui. Não conseguiria ficar a chover no molhado e com conversinhas improdutivas, girando em torno do próprio ego. Não vejo nada revolucionário nas conversas advindas desses encontros, daí vejo como infrutíferos seus alongados debates. Tenho inúmeros amigos e considerados na agremiação bauruense, mas até hoje, confesso e quero ser corrigido se estiver errado, não vi até hoje nenhum pronunciamento de denúncia, de embate, de confronto ou mesmo posicionamento contra as mazelas desta cidade, estado e país saindo do seu seio. Ficar o tempo todo divagando sobre a literatura produzida em Bauru é o mesmo que patinar e não sair do lugar. Só vejo validade de sua existência se for causar, seja o que puderem pensar desta palavra, desde constrangimentos a outrens ou algo impactante a balançar a roseira das instituições carcomidas locais. Do contrário, chá eu tomo em casa.

E COM O QUE ME IMPORTO?

AS HISTÓRIAS DE SOBREVIVÊNCIA NAS ESQUINAS DE BAURU
As histórias podem até ter roteiros diferentes, mas se fundem nas esquinas e quando expostas são por demais parecidas. A necessidade obriga cada um, diante de tentativas infrutíferas de conseguir um emprego fixo, com salário mensal e carteira assinada, com direitos garantidos por lei a sair para as ruas e tentar de tudo para conseguir levar algum para seus lares, suprir suas necessidades básicas. São tantos e se renovam nas demonstrações de suas possibilidades. Alguns colunistas mentem para o povo nos jornais, nas rádios e nas TVs apregoando que tudo está sendo devidamente resolvido, que em breve algo de bom ocorrerá para tudo e todos, que o sofrimento terá consequências salutares, mas com os preços pela hora da morte, com portas se fechando seguidamente, crise se estendendo sem nenhuma luz no final do túnel, o que fazer? Muitos estão a cometer seus primeiros delitos e se o fazem, primeiro é por já terem tentado de tudo e quando nem esse tudo é mais suficiente para se conseguir algum, a opção mais próxima para continuar comendo é pegar algo pela aí. Em qualquer saída pelas ruas, a repetição das cenas de gente se vendendo nas ruas e das mais variadas formas possíveis. São os dignos cidadãos tentando de tudo para continuarem ao menos vivos dentro da crueldade de um mundo onde aprendemos desde pequenos ser o melhor para se viver. Esses das fotos não só os únicos, pois todos nós, diante de algo se aproximando e tomando conta de tudo, a miséria, a danação geral diante das privações provenientes do ato insano de governantes, golpistas que só pensam nos seus botões e se lixam para a realidade das ruas.

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