quinta-feira, 31 de maio de 2018

OS QUE FAZEM FALTA e OS QUE SOBRARAM (112)


DUAS HISTÓRIAS DE BAURUENSES SEM FOTOGRAFIAS NO SEU RESGATE


1.) MARCÃO, O HOMEM DA VALISE

Hoje passei pela praça Luiz Zuiani e me bateu saudade de uma pessoa que via sempre andando de um lugar a outro pelas ruas centrais da cidade. Um tipão de quase dois metros de altura e que, por essas desventuras da vida não tive o prazer de conhecer pessoalmente, ou seja, bater um papo, conversar e trocar ideias. O via sempre pelas ruas, mas como tinha um jeitão um tanto agressivo, nunca me aproximei. Hoje me arrependo profundamente de nunca ter tirado uma mísera foto, pois creio, seria a única de um personagem tão rico das ruas desta cidade. Sei pouco dele e o que relato a seguir é para irmos o identificando, cada um acrescentando algo novo, possibilitando a construção de um perfil que o eternize como mais um dos que enriqueceram nossas ruas.
Foto meramente ilustrativa.
 

MARCOS ZUIANI sempre foi conhecido na cidade pelo nome no aumentativo, MARCÃO e isso se dava pelo tamanho, grandão, sempre de calça social, barbona grande, com um pito nas mãos e noutra uma inseparável valise, dessas duras, de vendedor. Circulava assim e dessa forma deitou fama por onde circulava. Filho do médico Luiz Zuiani, hoje nome de praça ali nas imediações do Cemitério da Saudade, local também da residência da família. Conhecido por todos, tinha um jeitão espalhafatoso, desses que falavam alto, intimidavam pela postura aparentando ser bravo. A história mais famosa dele só ficou conhecida após seu falecimento, quando descobriram que o busto de seu pai, também ex-prefeito da cidade, que havia sumido tempos atrás do lugar e todos falavam ter sido roubada, na verdade foi recolhida por ele e guardada num armário em sua casa. Disseram que a alegação era para evitar que fosse roubada, daí guardou. Ele e sua valise pelas ruas fizeram história, inseparáveis e com conteúdo pouco conhecido. Enfim, o que Marcão carregava em sua valise? Só quem mesmo o conhecia pode desvendar o mistério. Trombava com ele pelos pontos mais diversos da cidade, ou seja, ele andava muito. Certa feita numa agência bancária presenciei um diálogo aos gritos dele com um desses vigias que queriam que abrisse a valise/maleta, para se certificarem do seu conteúdo e o deixarem adentrar. Fez o que chamamos de barraco. Posto isso para ver se alguém possui uma foto dele com sua valise, até para registro de um tempo que não volta mais. Leiam também isso, já publicado e com tema correlato: http://mafuadohpa.blogspot.com/search?q=herma+do+prefeito

2.) ADOLPHO SIMÃO RASI, O “SUBVERSIVO” QUE DÁ NOME AO SESC BAURU

Fui praticamente apresentado ontem para uma pessoa que, assim de bate pronto, de imediato bateu uma empatia mais que profunda, enorme e inenarrável. Isso ocorre em demasia nos dias de hoje e se deve a algo muito simples: a história bauruense ainda está muito mal contada, toda fragmentada e clamando por gente que a reescreva, ou melhor, a conte adequadamente. Resgato aqui e agora algo de um personagem mais que encantador desta cidade e o faço após ler algo bem simples, uma simples nota publicada no facebook contando uma passagem da vida desta pessoa. Bastou para me interessar e com os comentários posteriores, entender da necessidade de se escrever mais e mais de gente assim, os que os a história oficial faz questão de ocultar.
O busto é em homenagem ao filho do Adolpho.
 

ADOLPHO SIMÃO RASI possui dois sobrenomes de peso na cidade de Bauru, ambos ligados aos grupos de poder dominante. A gente bem sabe que, em todas as famílias existem os que saem pela tangente e não seguem os ditames familiares ligados ao conservadorismo. Esses os mais valorosos. Poderia citar nesse rol o Toledo, morto durante a ditadura militar, filho do fundador da ITE. Adolpho é outro. Vejam o que Antonio Pedroso dele publica ontem: “Adolpho Simão Rasi, hoje nome do SESC em Bauru, no século passado, a qualquer movimentação politica era preso e conduzido para a Cadeia Pública. Como bem definiu o amigo e professor Zarcillo Barbosa fazia parte da lista dos suspeitos de sempre, da polícia política. Certo dia estava cuidando de sua videira, de onde colhia as uvas para fabricar o próprio vinho quando chegou uma viatura policial. Atendeu os policiais e recebeu voz de prisão. O diálogo, que se seguiu é hilariante: ‘Por que estou sendo preso, dr?’. A resposta: ‘Por causa de suas idéias...’. Sua resposta: ‘Então, leve-as, trancafie-as e me deixem cuidando de minha lavoura”. Como não se interessar por quem age dessa forma e jeito? Zarcillo escreve mais dele: “Quando o velho Adolpho era solto, porque o juiz entendia da inutilidade da sua prisão, descia a Batista com o cobertor enrolado, debaixo do braço, era recebido com vivas e abraços pelos lojistas e clientes. Sua história emocionou José Papa Jr., presidente da Federação do Comércio, nos anos 1970, que batizou com o seu nome o prédio do Sesc. Adolpho era pai de Octavio Rasi, de Oswaldo Rasi e Lenine Rasi (não por acaso). Avô de Mauro Rasi, o dramaturgo e cronista de O Globo. (...)Tiraram o nome do velho “Dorfo” da fachada do prédio do Sesc. Oswaldo Rasi, que durante 30 anos foi conselheiro da Federação do Comércio, foi homenageado pelo Sesc com uma escultura em bronze da sua cabeça. Estava no saguão de entrada. Transferiram com o pedestal para o lado do muro do pátio de atividades múltiplas. Assim são tratados os nossos heróis”. A única menção dele nos livros sobre Bauru é a feita por Pedroso no “Subversivos Anônimos”. Conheci demais o Oswaldo Rasi, batendo papos homéricos nas esquinas da cidade, algo não mais possível com os ditos dirigentes lojistas dos tempos atuais. Esse texto tem o intuito de possibilitar pesquisas variadas e múltiplas envolvendo personagens da história bauruense que ousaram ser e fazer algo diferente. Esses são os mais interessantes e Adolpho, pelo pouco que dele tomo conhecimento, merece pesquisa e estudos ampliados.


OBS.: Fui ao SESC Bauru hoje só para fotografar o busto do homenageado na unidade Bauru, mas me decepcionei, pois o único busto lá existente não é o dele e sim, o de Oswaldo Rasi. Ninguém por lá soube me explicar dos motivos da troca e fico sem publicar nenhuma foto dele.

Um comentário:

  1. Bom ter pessoas que procuram resgatar a memória da cidade...parabéns pelos artigos...especialmente ao do meu bisavô Adolho S. Rasi.

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