sexta-feira, 1 de junho de 2018

CENA BAURUENSE (173)

DUAS HISTORIETAS SOBRENATURAIS, PORÉM NORMALÍSSIMAS

1.) MAIS UMA RÁDIO MUDANDO DE NOME EM BAURU

Rádio, desde que me conheço por gente é concessão do Governo Federal, algo conseguido da forma mais regular permitida pela democracia vigente, seguindo parâmetros sérios e com rigorosa fiscalização. Aliás, um concessão que passa regularmente pelo crivo do mesmo Governo, um que renova ou não a tal concessão. O mesmo ocorre com o sistema de TV.

Em Bauru, pelo visto ocorre algo a fugir dessa dita normalidade. Meses atrás a até então rádio Jovem Auri-Verde, mais de 60 anos no ar, muda de nome e passa a se chamar Jovem Pan (a partir de hoje está só no modal FM). Até as pedras do reino mineral sabem ter se tratado de uma transação comercial, com dinheiro sendo passado de lá para cá, mas para os fiscais tudo não passou de um acordo de gaveta, com a Jovem Pan somente assumindo a denominação fantasia. Conversa pra boi dormir. Engolimos mais essa, mas como tudo é muito sério neste país, sabemos tudo é fiscalizado com o devido rigor, tomaremos conhecimento em breve das tratativas do negócio. Ou seja, tudo normal, errado é o que está escrito na lei, arcaica e jurássica.

Passado esse episódio surge outro. A Bauru Rádio Clube, que também era conhecida como Rádio Bandeirantes, concessionária desde muito tempo não se sabe como está passando nesse exato momento a bola para uma nova denominação. Ciente dessa ocorrência, li ontem consternado o depoimento da Tribuna do Leitor do locutor de um programa religioso católico todo choroso pelo fim de seu programa e da falta que faria junto aos ouvintes. Quase chorei junto. Liguei o rádio e confesso, foi de chorar a ladainha dos pastores se lamentando o dia todo por estarem perdendo seus espaços ("deus me arrumará outro com mais luz e amplitude", diziam entre choros e lamentações). Eu mais ria que me lamentava, pois num dos programas ouvi um doente ter dito que deixou de procurar o médico para ir em busca da cura do seu mal recebendo a benção do pastor (mão santa). Melhor ficar sem isso para sempre.


Dito isso, volto para o escrito no primeiro parágrafo. A Auri-Verde é hoje Jovem Pan e a Bauru Rádio Clube, que já foi Band recebe a partir de hoje uma nova denominação (que não me interessa, pois pelo visto chega para reproduzir tudo o que o rádio não precisa, dizem ser Nativa). Como todos sabemos, tudo dentro da lei, que não permite VENDA, nem SUB-LOCAÇÃO de bens e instalações, mas simplesmente uma nova denominação, dentro dos rigores da lei vigente, tudo para atender somente os interesses dos fiéis ouvintes, o motivo maior e único de tudo estar sendo modernizado (esse o termo correto). No papel, tudo como dantes, mas só no papel.

Seguir a lei, sem subterfúgios ou desvios pelas vicinais e atalhos é algo que os detentores de poder sabem fazer com extrema maestria. Viva esse Brasil que faz e faz bem feito.

2.) A GLOBO TE CONVIDA PARA UMA ENTREVISTA – VOCÊ ACEITA OU DECLINA? ALGO MAIS DE OUTROS ÓRGÃOS DA MÍDIA MASSIVA BAURUENSE*

* Um pouco de polêmica na manhã de um feriado religioso não faz mal à ninguém.

Um amigo ontem numa mesa de bar me relembrava uma história que aqui quero contar e depois, com a ajuda de todos, tentar identificar quem assim agiu. Vamos para a historinha.

Dois pensadores, ditos como intelectuais foram convidados para dar entrevista na TV Globo. Recusam com a justificativa que todos os sensatos deveriam ter diante do mesmo convite: “Obrigado, declino, não posso dar entrevista para quem produz um jornalismo de tão péssima qualidade e confunde a cabeça do brasileiro com mentiras contínuas”. Como é difícil dar de costas para os microfones da Globo ou de qualquer outro órgão da imprensa massiva. Por alguns minutos de fama se faz de tudo (e mais um pouco neste país).

Relembro o caso da vereadora assassinada, a carioca Marielle. Ela combatia tudo o que representava a TV Globo, mas ao morrer, dias depois, lá estavam na TV, a mãe e irmã dando entrevista para essa TV, numa matéria distorcendo os fatos segundo as conveniências estabelecidas pela crueldade de uma interpretação a prejudicar a própria informação confiável. E por que fazem isso? Poucos conseguem se manter distantes dos holofotes de aparecer em cadeia nacional ou mesmo regional e daí, se mostrar aos demais como alguém que conseguiu ser entrevistado por essa TV. Daí o chavão, é muito fácil criticar a TV Globo, mas quase todos que o fazem (da boca para fora), quando em suas casas, ligam os aparelhos, assistem novelas, futebol, noticiários e depois até reproduzem o que ali assistem.

Volto ao amigo e a história no bar. Ele me disse que encontrou um desses cientistas numa reunião na capital paulista e foi cumprimenta-lo pelo feito. Ele lhe deu a mão, agradeceu a lembrança, mas disse que não era merecedor de elogio nenhum, pois agiu dentro de uma lógica de vida, a que todos deveriam seguir. “Se eles nos agridem com suas mentiras, se o que fazem é ofensivo ao país, por que deveria eu dar minha opinião e aparecer lá, talvez até numa matéria distorcida? Fiz o que deveria ser feito, só e tão somente”. Isso tudo nos faz pensar em tudo o mais, inclusive colocar também a questão no âmbito da aldeia bauruense. E o faço com a pergunta: Se você for convidado para dar uma entrevista para a TV Preve, sabendo de como age na defesa de tudo o que aí se apresenta, você aceitaria? Imporia condições ou recusaria? Se fosse convidado para presenciar um evento na Fazendinha do Recinto da Expo Rural e ter sua foto publicada no jornal, na galeria de página inteira, em cores, dos que passaram pelo local, iria sem problemas? Sei que, posso receber alguns tipos de respostas. 1) Sim, sem problemas. 2) Sim, pois ao aparecer e ser visto nesses espaços, mostraria que ali estou para marcar minha posição contrária. 3) Sim, pois ao dar minha opinião nessa TV posso convencer outros de ideias diferentes, tendo uma utilidade com algum valor e se o fazem a mim, mesmo sabendo se opor ao que fazem, querem ouvir opiniões contrárias. 4) Sim, pois não vejo problemas em ali estar e ser visto. 5) Sim, pois o convite foi irrecusável. 6) Estava de passagem e apareci na foto por acaso, não sendo nada premeditado. 7) Sim, a sociabilidade é tudo. 8) Não, recusaria a ambos. 9) Não existe a mais remota possibilidade. 10) Nenhuma dessas respostas.

Misturo tudo, o convite para aparecer na TV com convites para aparecer na mídia massiva local e desta forma, bato no mesmo liquidificador ideias, respostas e conclusões. Quem nunca aceitou que atire a primeira pedra.

OBS.:
As fotos são dos que aparecem por outros motivos nas telas da TV Globo, para ironizar e demonstrar o quanto são ridículos com esse jornalismo de pífia credibilidade. A esses efusivos aplausos. Encerro lembrando que em 2007 trouxemos em Bauru o jornalista Mino Carta para o OLA - Observatório Latino Americano e lhe disse da possibilidade dele ser entrevistado pela TV Tem, a filial da Rede Globo. Ele rindo me disse: "Impossível. Primeiro porque não me convidariam. Se o fizerem sabem que usaria os minutos para falar algo contra eles. Eles sabem quem convidam". Relembro, isso se deu em 2007, Mino não foi convidado e aquilo que me disse pessoalmente naquela oportunidade me inspirou a escrever esse texto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário