domingo, 1 de julho de 2018

BEIRA DE ESTRADA (96)


FEIRA, LUGAR DE INTENSAS POSSIBILIDADES

Quando escrevo por aqui que a feira dominical de Bauru, a da rua Gustavo Maciel, entre as ruas Primeiro de Agosto e Julio Prestes, englobando a babilônia do nosso Mercado de Pulgas, a Feira do Rolo, como o espaço mais democrático da cidade, alguns me acham exagerado.

Meio exagerado eu sempre fui, mas não nesses quesitos rueiros, ruísticos e ruentos. A democracia, como é mais do que sabido, é uma falácia, uma faca de dois gumes, pois ora acontece que é um beleza e no mesmo momento é implacavelmente desprezada, ignorada e ultrajada. Portanto, não existe mais a menor possibilidade de afirmar estarmos vivendoi num regime democrático, pois até as pedras do reino mineral sabem ser isso meia verdade. Na terra onde uns podem tudo e outros podem quase nada, uns possuem amplos espaços de participação e outros quase nenhum, a única confirmação é a de que a democracia é falha, caolha e pisa em falso. Tudo isso para reafirmar que se existe democracia nesta cidade varonil, dita como capital da Terra Branca, ela de fato existe ali na feira dominical.

Pode ser que estou vendo fantasmas, mas creio eu, pelo menos ali viceja algo onde o pluralismo é mais latente que, por exemplo, na política, onde a democracia decididamente existe pela metade (e olha lá). Por acreditar nisso que escrevo, enxergo ali algo raro na vida desta aldeia, mais conservadora que progressista. Ali os tipos todos se reunem e sem serem convocados, pois fluem de todos os lados e acabam se juntando no frigir dos ovos, ou seja, no asfalto da feira ou no paralelepípedo da do Rolo. Tem para todos os gostos. Eu não me canso de tirar fotos de amigos durante minha estadia por ali. Tiro a de amigos, pois os não muito considerados nem gostam de serem reetratados, pois muitos já chegam com aquela cara fechada de péssimo humor e daí, o melhor mesmo é manter distância, quanto mais querer fotografar. Vou foto grafando e conversando. Trombei hoje, quando Ana Bia me acompanhou com muita gente que fazia muito tempo que não via. Paramos mais do que o de costume para conversa e a percorri em toda sua extensão.

A tal da democracia que digo existir na feira me faz sair de casa para ali estar ciente de que poderei dar de cara com uma pá de amigos, mas por outro lado, muitos desafetos, adversários e até mesmo raivosos. Ninguém está isento de se dar bem ali na virada da esquina, como se dar muito mal. Hoje teve um que ao me ver na banca do Carioca, desviou a cara, abaixou os olhos e fingiu não me ver. Já tomamaos muito chopp juntos, mas a vida nos distanciou e hoje estamos em campos mais do que opostos. Cada um sabe as escolhas que faz na vida e se o encaro é por não ter nada para esconder (só algumas poucas dívidas). Ando de cabeça erguida, bolsos vazios, mas fazendo ainda o que gosto e com quem gosto. Quem se esconde deve estar numa outra, envergonhado de como toca sua vida. A riqueza da feira está nessas possibilidades de reencontros, os a trazer luz e outros recordações não tão boas.

O que me reconduz todo domingo para esse mesmo lugar é exatamente isso, a possibilidade de ser visto e de ver as pessoas. Ficando em casa, recluso no meu casulo, estaria fugindo disso tudo. Eu até quero fugir de algumas situações, mas a vida nos obriga a enfrentá-las e nada melhor do que fazê-lo no meio de outras tantas pessoas. Hoje mesmo, subimos e descemos a dita cuja feira e não comprei nada. Nem sacola levei, mas sei que ao ir embora, voltei melhor do que quando cheguei. Sabe uma coisa que não tem preço? Conto aqui. Uma bobagem, mas para mim de grande significado. Deixei o carro estacionado num local, R$ 4 reais pelo tempo todo e quando deu 12h50, o cara já sabendo que devia estar tomando um chopp no Bar do Barba, foi lá me avisar que iria fechar. Voltamos abraçados, ele para fechar o portão e eu para retirar meu carro. Virou meu amigo, o conheci ali mesmo e hoje, sei que nutre por mim ao menos simpatia e procuro retribuir com a mesma intensidade. Isso é viver.

Queria escrever mais e mais sobre isso de estar na feira, mas hoje é domingo, tenho outros compromissos e qualquer dia desses continuo. Veja pelas fotos alguns dos que cruzaram hoje no meu caminho.


OUTRA COISA:
VOU COLOCAR AMANHÃ BEM CEDO NA FRENTE DO COLÉGIO SÃO JOSÉ, NA GUSTAVO ENTRE A BANDEIRANTES E A RODRIGUES ALVES
Quanto tempo ela permaneceria diante do São José?

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