terça-feira, 28 de agosto de 2018

MÚSICA (163)


A PARADA DA DIVERSIDADE SEM A DESCIDA DAS NAÇÕES PERDE PARTE DO SEU BRILHO E ENCANTO - NÃO DEIXEMOS A PARADA PARAR
Gosto da Parada da Diversidade, ou melhor, gostei mais, hoje nem tanto, mas ela continua persistindo e daí, instigante e provocante. Escrevo dela. Estava nas hostes da Cultura quando ela teve início em Bauru. Era uma verdadeira festa nas ruas. O pessoal se reunia lá na Praça da Paz e daquele conglomerado de pessoas, a maioria vinda de todas as cidades da região, com vários trios elétricos, uma espécie de desfile, onde parte da população permanecia nas calçadas e aplaudia o espetáculo. O modelo daqueles tempos era muito mais atrativo que o atual. Ano passado teve um problema com a estrela convidada para o show final, quase cancelaram e depois, devido a pressão popular, ocorreu com novo formato, ocorrendo só os shows em torno de um grande palco no parque Vitória Régia. Já havia perdido aquele algo mais de anos atrás, mas tentava se garantir e como já está inscrita no Calendário de Eventos da Cidade, show pago pela Prefeitura, palco idem montado no gramado, a festa ocorreu nesse novo molde.

Não tenho nada contra a Prefeitura bancar parte do evento, o show principal e o palco. Se ela investe em outros eventos, tem o palco licitado para mais de uma dezena de eventos anuais, perfeito um desses estar reservado para o público da Diversidade. A Prefeitura investe em shows na Expo, no Rodeio do Mary Dota, no aniversário de Bauru, num do Hip Hop, outros de caráter religioso, corridas e espetáculos variados. Procura diversificar e se não acerta no alvo, pelo menos faz algo. Falta melhor direcionamento do que é contratado, mas isso é papo para outra conversa. Estive na Parada e esse ano não participei das demais atividades, os filmes, mesa redonda, a entrega do Troféu Eu Faço a Diferença (que já ganhei anos atrás) e a justa homenagem para o professor João Winck recebendo o título de Cidadão Bauruense. Fui só no último domingo na rua e especificamente para ver a Parada.

Confesso ter me decepcionado com tudo se concentrando ali no Vitória Régia. Foram muitos shows rolando em dois lugares, no palco montado no gramado e no anfiteatro. Começaram com o dia bem claro e foram até o final com o show de encerramento se estendendo até por volta das 22h. Não me atenho a quem foi convidada para o show. Quero me ater a perda ocorrida quando os organizadores aceitaram a não mais descida pela Nações, o que chamo de desfile. Para mim, com isso, o sentido principal da Parada foi desvirtuado e ela ficou literalmente PARADA. Pergunto para uma amiga no local, ela me diz: “Falam que o prefeito proibiu a descida”. Questiono o Winck, quando cruzo com ele no meio do furdunço: “É mais ou menos isso. O problema pelo que sei, foi a quantidade de servidores envolvidos e a hora extra desses”. Não sei se foi somente isso, pois os servidores que estariam durante o dia estiveram até a noite. Todos sabemos que o caixa da Prefeitura está com problemas, pela primeira vez a despesa superou a receita. Falta algo mais.

Juntei tudo o que vi, conversei também com Roque Ferreira, Juarez Xavier, Renato Magú (nenhum deles fazendo parte da organização do evento) e muitos dos que montaram barracas variadas no entorno da festa e também com quem conheço e ia cruzando pelo caminho. A descida pela Nações é quase unanimidade considerada como algo a ser resgatado, do contrário, pelo que resumo, o evento estará entregue definitivamente para uma realização declaradamente comercial. Muito da motivação trazendo pessoas além do público LGBT vinha dessa festa começando por volta das 14h, duas horas de desfile, integração com a cidade e no novo formato isso se perde. Conheço muitas amigas trans que se preparavam para ali estar e vinham empoderadas, montadas em cima dos tamancos, produção esmerada, tudo nos trinks, brilhando dos pés à cabeça e hoje isso se perdeu.

Sei que tudo se transforma, os tempos são outros, mas repensar e repaginar o evento não é subtrair o que de melhor ele possuía. Levo também em consideração que, do jeito que o país está, com essa bestialização preconceituosa tomando conta da cabeça de muitos, faço questão de aproveitar o que ainda resta de licenciosidade festiva nas ruas, pois se um certo candidato chegar ao poder, nem essa alegria nas ruas teremos mais. Foi com esse espírito que marquei rápida presença (não consegui ficar mais que uma hora no local) e escrevo esse texto, mais como um toque para uma necessária discussão a ser feita desde já.

3 comentários:

  1. COMENTÁRIOS VIA FACEBOOK 1:

    Regina Celia Furlanetto Pq não desce mais da Nações? É decisão dos realizadores ou a PM não autoriza ?

    Henrique Perazzi de Aquino Como escrevi, tem a ver com decisão da Prefeitura, mas ainda carecendo de mais detalhes. Pallu Roberto podia dar os esclarecimentos...

    Henrique Perazzi de Aquino Uma autoridade interna da Prefeitura me responde e pede para não ser citado: "Oi Henrique. A decisão pela não descida da Parada foi decisão da ABD e não da prefeitura. Ano que vem retorna. Tudo certo, pago e ajustado. Por que a prefeitura ia proibir?".

    João Winck Nenhuma lei proíbe tal manifestação. Proibitivo são os custos operacionais dessa atividade cívica de grande porte.

    Henrique Perazzi de Aquino Uma baita amiga me instiga pelo inbox deste facebook e pede para não ser identificada: "Pelo que sei o custo dos trios elétricos é muito alto e com o fim de algumas parcerias que entravam no evento bancando esse custo e não mais participam do mesmo, quem teria que bancar isso seria a ABD e eles não querem nem pensar em gastar dinheiro". Seria isso mesmo? Com a palavra o Marcos Souza...

    Marcos Souza Olá amigo Henrique, tudo bem?
    Como não participei da reunião da organização do evento que decidiu por esse formato, acredito que o Leandro Lopes possa contribuir com algumas informações. Grande abraço.

    Leandro Lopes
    Prezados, em outros tempos, infelizmente, vieram críticas de que os trios elétricos davam aparência de carnaval ao evento. Diziam, os desinformados, que se tratava de uma festa e que a Parada não cumpria a finalidade precípua, de ato cívico. Apenas por esclarecer, antes, o Sindicato dos Químicos patrocinava o principal trio elétrico, o do Município. Seguindo o exemplo do ano anterior, a Comissão Organizadora (composta por servidores públicos e representantes do CADS e OAB) deliberou que seria no formato de Encontro pelos seguintes motivos: economia aos cofres públicos, para evitar-se horas extras de servidores e dispensando a interdição da Avenida Nações Unidas, bem como a fixação de banheiros químicos no trajeto; segurança dos participantes, considerando que o espaço delimitado proporciona facilidade ao trabalho da PM e SAMU. Contudo, o principal motivo foi proporcionar visibilidade aos artistas locais que desejavam se apresentar no palco do Vitória Régia. Ademais, no espaço denominado Vale B, os coletivos da Unesp puderam montar uma geodésica (uma belíssima estrutura) com sarau e microfone aberto, além de uma feira mix. Como se vê, o evento ganhou formato ainda mais cultural e cumpriu com o seu objetivo, a celebração da cultura da paz e do respeito às diferenças. Um abraço

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  2. COMENTÁRIOS VIA FACEBOOK 2:

    Leandro Lopes · 174 amigos em comum
    Vale relembrar, ademais, que o Encontro foi o evento de encerramento de uma belíssima Semana de Combate ao Preconceito e à Discriminação, com variadas palestras na OAB, Oficina de Drags no Senac, Festival de Cinema no Sesc, entre outros. Mais abraços!

    Henrique Perazzi de Aquino Eu sei, impossível agradar a todos, gregos e troianos. Se continuam com a descida das Nações tem críticas, se param e priorizam o parque tem críticas. Eu prefiro o carnaval nas ruas, uma festa popular bem com a nossa cara e identidade, onde a comercilização não fica tão evidente. Com essa discussão, algo mis para se discutir e pensar. Se um Sindicato não mais banca o trio elétrico, aquele da CUT poderia voltar a fazê-lo. Um bom tempo até o do próximo ano para ir repensando, alinhavando, costurando possibilidades.

    João Winck Henrique Perazzi de Aquino sem liderança dos conselhos municipais e das lideranças locais não é possível articular o evento cívico.

    João Winck A Associação Bauru pela Diversidade (ABD), principal entidade responsável pela Parada (atividade que encerra a Semana da Diversidade) não dispõe de recursos suficientes para bancar os altos custos dessa atividade. Sem a colaboração, material e simbólica, da comunidade torna-se inviável realizar um evento de grande porte e importância como esse. Um marco na história das lutas populares no município. Sozinhos não somos capazes de tal atribuição. 🤔

    Rafael Macedo Eu compartilho da mesma opinião no sentido do desfile. Realmente, isso faz falta. Eu participaei de quase todas as edições e sempre via a população assistindo e vibrando com quem estava desfilando. Isso era muito legal...
    Mas um ponto positivo dessa edição, foi o espaço para vários artistas e performistas mostrarem seu trabalho. Pelo menos foi o que li... infelizmente só pude participar do show, que modéstia á parte, a Gloria Groove arrasou!

    João Winck Como pai da criança, convido todas as lideranças da Diversidade a conversar sobre o próximo ano de trabalho. Sem militância atuante fica muito difícil realizar uma atividade cívica desse porte: a maior da história de Bauru!

    Leandro Lopes · 174 amigos em comum
    João, as pessoas precisam saber - pois talvez não saibam- que o trabalho do Conselho e da Comissão da OAB, tal como da ABD, não se resume à organização da Semana de Combate ao Preconceito e à Discriminação. Temos empreendido esforços e conquistado políticas públicas e espaços. Apesar do crescimento do pensamento reacionário, resistimos e avançamos. Lamento que não sejamos muitos, pois a maioria dos militantes surgem como participantes da "festa", porém não empreendem esforços na organização e muito menos participam da vida orgânica de nossas atividades - o ano todo.

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  3. COMENTÁRIOS VIA FACEBOOK 3:

    Leandro Lopes · 174 amigos em comum
    Mais um desabafo: apesar de ampla divulgação -nos mais variados meios de comunicação- os outros eventos não são tão prestigiados. Parece-me, pois, que são tratados de forma secundária. Nosso desafio, além de prosseguir, é conscientizar as pessoas, especialmente a população LGBT, que nosso movimento não é só Parada!

    João Winck A questão é mais política do que econômica ou administrativa. Trata-se da articulação dos conselhos municipais numa semana de debates e uma passeata de reivindicações ao final. É uma atividade de protesto e resistência social contra a violência. Sem esse formato de base, vira micareta...

    Márcio Magalhães Penso que restringir o evento ao espaço do Vitória Régia só contribui para invisibiliza-lo! Acredito que a marcha pela Nações precisa ser resgatada, mesmo que não haja trio elétrico para acompanhar no trajeto!!!

    Marcos Souza Faça um convite para uma mesa redonda sobre combate ao preconceito e discriminação e aparece 06 pessoas.
    Coloque um trio elétrico na avenida e aparecem 60 mil.
    Faça um convite para ratear os custos dos trios elétricos e não aparece nenhuma pessoa.

    Márcio Magalhães Uma mesa redonda com 6 pessoas não é menos importante do que 60 mil atrás de um trio elétrico!

    João Winck Essa é uma questão política importante. Afinal, a marcha cívica é manifestação de grande porte. Um conjunto de políticas públicas não pode ser tratado de forma leviana, como se fosse uma micareta 🤔

    Marcos Souza Márcio Magalhães por isso realizamos todos os anos, e aqueles que criticam a falta de trios nunca participam.

    Marcos Souza Passou da hora dessa população se politizar e cobrar os seus direitos o ano todo e não apenas uma vez por ano atrás de um trio elétrico.

    João Winck- Henrique não podemos perder o foco. Estamos discutindo fórmulas de combate ao preconceito, intolerância e violência. Assunto muito sério, que envolve boa parte da sociedade. Trata-se do conjunto de ações cotidianas, cujos resultados ganham visibilidade durante a Semana da Diversidade. Não podemos perder o foco. Não é apenas um desfile. É celebração de conquistas.

    Henrique Perazzi de Aquino João Winck, sim, mas o evento perde mais o foco no formato atual do que quando se apresentando para a cidade nas ruas, com aquelas faixas nas laterais e tudo o mais. Nesse domingo não tomei conhecimento de um só discurso contra a homofobia, só festa. Tudo bem que, valorizando muitos da região toda ali no palco. Propus com o texto isso que vejo acontecendo aqui, o bom debate, claro, límpido, franco e propositivo. Não podemos perder o foco. Creio ter com meu escrito e com as reações provocado algo instigante para todos. Que assim seja. Abracitos.

    João Winck Henrique Perazzi de Aquino vozes propositivas sempre são bem-vindas, inclusive as dissonantes. O que eu não aceito é a crítica à posteriori. Tais questões devem ser pautadas todos os dias, até a vitória... Além disso, na nossa idade, precisamos agir contra a gerontofobia. Estamos cada dia mais vulneráveis...

    Henrique Perazzi de Aquino Estamos juntos, a luta de vocês é também a minha. Defendo a Semana e a Parada. Não sou dono da verdade no que escrevo e onde me posiciono, nem tenho essa intenção. Expressei meu ponto de vista e creio, os objetivos foram atingidos. Assim se constrói e se consolida conquistas.

    João Winck Henrique Perazzi de Aquino você é um formador de opinião. Gente assim é indispensável... Afinal, a luta é comum. 🤔

    Arlete De Jesus Jesus Também gostava da descida, fui no domingo e não gostei deste novo formato e senti que muitas famílias que iam com crianças não foram, também não gostei de algumas músicas com muitos palavrões acho que isso afasta as familias


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