domingo, 9 de setembro de 2018

MEMÓRIA ORAL (230)


REENCONTRO COM UM RESISTENTE VIVENDO SOMENTE DE MÚSICA
Tempos atrás viajava semana sim, semana não para Curitiba. Coisa de uns quinze anos atrás, algo mais, algo menos. Ia a trabalho vendendo minhas chancelas e sempre conciliei o ganha pão com algum lazer. A música me envolve desde sempre e em cada aldeia que aporto, acabo descobrindo lugares onde a música flui de forma abrangente, plena e absoluta. Descobri lugares inimagináveis naquele rincão. Infelizmente, muitos já fecharam as portas. Passo diante desses com certa tristeza. Como diminuíram esses lugares de louvação exclusiva da boa música. Uns poucos resistem. Conto algo de um desses.


Clóvis Cordeiro da Silva, ou simplesmente Clóvis mantem no mesmo lugar, na rua Emiliano Perneta nº 30, na loja 19, dentro de uma pequena galeria, bem próximo da praça Zacarias, centro curitibano, um oásis musical, o Só Música. Ele vive exatamente disso, do comércio de Discos, LPs e CDs, fazendo tudo o que se possa imaginar, comprando, vendendo, trocando e até importando. O espaço é pequeno, aconchegante e transpira/respira música por todos os poros. Chego desta vez e lhe faço uma surpresa: "Você pode não se lembrar de mim, mas eu tenho algo dentro de mim a me fazer retornar para aqui em cada retorno curitibano". Ele lembrou, fala de Bauru, ele com parentes em Águas de Santa Bárbara. Falamos de nossas proximidades e muito de música.

Desde que o conheço pouca coisa mudou na loja. Tudo "continua como dantes no quartel de Abrantes". o ditado cai como luva para designar o espaço onde há 25 anos, ele cultua algo a mover sua vida. O tempo passa, envelhecemos, mas sempre existirá algo a nos fazer ter mais que uma sobrevida. No caso do Clóvis esse algo é sua loja e o seu interior, o manuseio, o tato com essas preciosidades e ficar com o ouvido mais que atento, alternando as possibilidades musicais. De algo ele não abre mão, a de reverenciar sua diva, uma que elevou num altar e de lá não desce por nada deste mundo, a cantora Alaíde Costa. De uma paixão, veio a amizade e em várias oportunidades eles deu mais que um jeito de trazê-la para cantar em Curitiba e região. São uma espécie de amantes, apaixonados musicais. O jeito que ele fala de Alaíde não mudou dos tempos que o conheci e frequentava com mais assiduidade.

Ver ele lá naquele canto só dele e de todos os que gostam de estar junto de uma boa música, além do prazer inenarrável já aqui descrito, possui algo mais e ouvi dele uma preciosidade, dessas que precisam ser passadas adiante. Falávamos das agruras do momento atual do país, dessas dificuldades todas, portas se fechando, intolerância grassando nos relacionamentos, intolerância dentre pessoas até então próximas e tudo o mais. Clovis, com sua habutual sabedoria e sapiência me diz: "Eu acredito numa volta por cima. O país já sofreu demais, já resistimos demais, estamos aqui, lutando, fazendo o que podemos para continuarmos vivos e esse país é grande demais, tem que ser também iemsno como o seu tamanho para superar isso tudo, esse ruim momento. Eu vivo para acreditar. Trabalho, estou aqui diariamente, sempre olhando com olhos cheios de esperança para o futuro. O que serioa de mim se não acreditasse? Não vai demorar muito, a estabilidade que tínhamos antes vai voltar, o brasileiro saberá superar esse triste momento". Ouvi também cheio de boa esperança e confirmo, a esperanbça é sempre a última que morre.

Não imaginam a baita felicidade que é a de rever lugares como esse e saber que ainda continuam com as portas abertas, sobrevivendo ao seu modo e jeito, duras penas, mas ali, na lida, no toco, levando adiante isso de expor e reverberar a música. Clóvis faz isso com maestria, uma sabedoria que o fez ir sobrevivendo muito mais do que se possa imaginar. Praticamente ele é hoje o único a viver com uma loja exclusivamente do tema música, da venda desses produtos. Num tempo onde se querendo, tudo é baixado via internet, o lugar é para aficcionados, apaixonados e colecionadores, amantes, como ele de ter em casa essas peças mais que preciosas. "O tempo passa, o tempo voa", dizia o refrão da canção de um banco que já se foi, o Bamerindus e com a Só Música, caindo como uma luva, a continuidade pode ser alterada com a substituição do nome do banco pelo dessa loja, "e a Só Música continua numa boa". Não tem preço voltar pra Curitiba e ir lá bater papo com Clóvis e receber esse sopro musical na face. Volto recarregado e tenho que escrever dele, pois outros precisam quando de passagem por lá, baixarem no lugar, um verdadeiro e original ponto mais que turístico da capital paranaense. Ele merece os píncaros da glória. Viva Clóvis!!!

OBS.: O endereço já passei, faltou o fone (41) 32224339 e o e-mail para pedidos variados e conversas musicais: so.musica@hotmail.com

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