quinta-feira, 13 de setembro de 2018

RETRATOS DE BAURU (218)


CLAUDIO VENDE POESIA NOS SINAIS DE TRÂNSITO DE BAURU
Reencontro o baita amigo Lázaro Carneiro hoje pela manhã no centro da cidade. Na parada para o obrigatório papo, ele me diz do seu desalento, total desencanto com o que vê acontecendo, essa inabilidade para nos aproveitarmos do momento atual e virarmos logo essa mesa. Diante da passividade quase geral, ele não mais produz, acabrunhado me diz: “Tudo o que você vê meu lá no facebook não é novo, tudo velho, reproduzido de tempos atrás”. Percebo esse seu estado de espírito se multiplicando, mas alguns estão por aí poetando como nunca, até como meio de sobrevivência e como forma de ir multiplicando uma ideia diferente da que grassa nas esferas golpistas de poder desses sombrios tempos. Conto a história de um que vejo remando contra as marés nos sinais de trânsito desta cidade.

CLAUDIO DOMINGUES DOS SANTOS, 37 anos, mora em Bauru e estuda Psicologia na Faculdade Anhanguera. Nada sei dele, além do fato de vê-lo regularmente diante dos sinais de trânsito da avenida Duque de Caxias, entre a Saint Martin e Agenor Meira vendendo suas poesias aos que por ali param. Sempre de bermuda, óculos escuros, barba por fazer, mochila nas costados e numa das mãos um punhado de papéis. Chega com seu jeito malemolente e oferece algo inusitado aos motoristas: a sua poesia. Muitos já o conhecem e as moedas circulam de uma mão para outra. Em alguns casos ele ali com o corpo vergado fica a explicar dos motivos de poetar e ter que divulgar seu trabalho desta inusitada forma. Ele não se faz de rogado, vai de veículo em veículo e já sabe o tempo a ser utilizado em cada parada diante dos minutos em que o sinal permanece fechado. Faz companhia para tudo o mais nos sinais da região, convivendo num compartilhado espaço, cada um sabendo muito bem como não invadir o do outro, enfim, o mundo é, supostamente, para todos. De uma das poesias comprada dele, o Poemas Persuadictos (parte vinte) extraio algumas linhas: “Estou perdido no meu mundo organizado/ Onde tudo está certo/ E nada pode estar fora do lugar/ Num constante contato/ Com seres de outros planetas...”. Cláudio deve não só fazer contato com seres de outros planetas, mas deve ser um deles, pois flana com seu jeitão no meio dessa bagunça desorganizada, indiferente a tudo o mais, só pensando no cumprimento do seu objetivo para aquele momento. Consegue arrebanhar alguns trocados a cada investida nas ruas e assim toca sua vida. O vejo assim, um ser meio que deslocado deste mundo, num outro estágio, mais elevado, mas necessitando (ainda) das “platas” para continuar sobrevivendo. Inventou um jeito de conseguir seu intento e dele faz o melhor uso possível. Não me perguntem mais nada dele, pois nada mais sei e nem me interessa. O que sei me basta, um poeta de nossas esquinas. Cada um poeta ao seu modo e jeito, esse o dele. Seu facebook para contatos imediatos é: www.facebook.com/claudio.domingues666

Nenhum comentário:

Postar um comentário