quinta-feira, 11 de abril de 2019

MEMÓRIA ORAL (238)


AUDIÊNCIA PÚBLICA DAS ENCHENTES - O QUE VI, NÃO VI E IMAGINEI VISLUMBRAR

Foi ontem, 9h30 da manhã, com pequeno atraso, lá no salão principal da Câmara dos Vereadores de Bauru. Confesso, nessa legislatura tenho voltado muito pouco a esse outrora bem frequentado lugar, ontem uma delas e para presenciar mais uma AUDIÊNCIA PÚBLICA, desta feita a tratar da questão das enchentes na cidade de Bauru. Marcada pelos vereadores Natalino da Pousada e Roger Barude, contando com claque garantida, a presença de muitos moradores e populares, tudo ocorre em exatas duas horas, tempo registrado em relógio. Assistimos vídeos de tragédias anteriores, ouvimos as apresentações de praxe, a fala quase obrigatória dos vereadores presentes (enfim, a casa é o lugar deles exercitarem sua falação), a das autoridades presentes, a dos responsáveis pela Prefeitura e o que ouço menos é a voz dos moradores, pois lhe sobrou pouco espaço de tempo, esse quase todo ocupado com respostas e salamaleques outros.

Não existe como remediar, tripudiar ou regatear, da parte da Prefeitura, ideias, pouca grana no caixa, portanto, iniciativas poucas para sanar de vez a aflitiva questão. Não nego ter ouvido algo sensato, a propositura de algo para conter o ímpeto das águas, os tais piscinões, também chamado por alguns de barragens. Dentro de um orçamento fantástico, desses inimagináveis nas atuais condições, ouço que dois desses seriam algo como a paliativa solução para o momento, mas totalmente fora do orçamento atual, contido e restrito. Bonito ver a disposição do secretário de Obras, Ricardo Olivato em responder as questões, uma a uma, sem altercações, atencioso e minucioso, porém com tudo, a certeza de que, além da draga hoje retirando terra do fundo do rio Bauru, imediações da Nuno de Assis, pouca coisa de concreto. De prático mesmo, isso e algo dito pelo secretário José Carlos Fernandes, da SEBES, quando diz que, ele e os seus estarão "rezando" junto e pelos desassistidos. Ufa!. Pelo menos rezam por nós. Nada contra quem reza, mas preferimos nesse momento ação, reação e combustão. A Defesa Civil, hoje sem coordenador, marcou presença com um funcionário a envergar o surrado jaleco, mas sem fazer uso da palavra, pois como disse, estão acéfalos de direção.

Surreal a fala do vereador Meira, quando informa que de imediato mesmo, a isenção do IPTU para os moradores em situação de risco, algo em torno de R$ 300 anuais cada, ainda com uma ressalva, não seria isenção total de pagamento e sim, desconto de 50% do valor, talvez para o próximo ano, com alguma remota possibilidade deste. Recursos mesmo, só contando com algo vindo dos governos estadual ou federal, ou o velho sonho de abiscoitar parte do Fundo de Tratamento de Esgoto, uma porcentagem de dinheiro em caixa, reservado para uma finalidade e que, mediante o bom uso de um recurso cheio de bons argumentos, talvez a possibilidade de ser utilizado para finalidades outras. Sonhar é preciso, porém, nesse quesito, com os pés no chão, sempre é bom lembrar, isso levaria tempo considerável e disposição para alguém dentro da atual estrutura de poder tecer os tais convincentes argumentos para se pensar em chegar nesse objetivo (quem vai fazer isso mesmo? - já vejo um jogo em empurra-empurra).

Vereadores discorreram sobre o entendimento que possuem da tragédia, até com lembranças do arco da velha, um histórico sobre a situação climática do planeta. A tragédia do Rio de Janeiro foi lembrada, rememorada e citada como argumento para deixar a todos bem claro, "isso de agora em diante, será algo comum, corriqueiro". Sim, a saída para quem reside em área de risco é sair dela. Disso todos sabem, mas diante da quase impossibilidade dessa imediata retirada, todos estão mais perdidos que cego em tiroteio, querendo falar muito, expor algo pelo qual enfrentam, botar os bofes pra fora e diante de tanta burocracia e falta de caixa para atendimentos, creio que poucos saíram do recinto da Câmara com alguma esperança concreta de soluções a curto, médio e mesmo a longo prazo. Enfim, Audiência Pública é algo democrático, porém, no caso das realizadas por aqui, sempre levando em consideração ser peças criadas pelos vereadores, iniciativa desses, ou seja, obra desenrolada sob o manto deles. Tudo é dominado pelo regimento da Casa e mesmo quando acontece alguma possibilidade de ampla discussão, essa ocorre e fica restrita a esse ambiente. A claque se faz presente, necessária para preencher o espaço, aparecer na foto, pouco mais além disso.

De tudo, como já era sabido, fica latente que, a solução para quem reside em áreas de risco, ditas por alguns como CONDENADAS, é ir tateando no escuro, fazendo das suas para driblar o que os céus lhes envia, correndo atrás ao seu modo e jeito, buscando em forma de clamor pelo atendimento de algo básico, cumprimento de promessas e mesmo documentos anteriores, sem grandes esperanças. Estivemos por lá, fomos vistos, alguns até falaram, até o IML se aproveitou maravilhosamente do momento e expôs sua calamitosa situação, com defuntos no meio d'água, porém, de solução mesmo, por enquanto nada, alguma esperança. Vida que segue, grito feito, situação mais que exposta, aconteceu mais um capítulo dentre tantos outros a tratar da vida de uma cidade de porte médio, sendo esse, como seu viu, somente mais um dos tantos problemas dentre tantos outros prioritários. Entramos na fila de espera para conseguir o atendimento de algumas de nossas reivindicações. Enquanto se aguarda, se faz necessário continuar fazendo o dia a dia ter seu prosseguimento a contento. Com reza ou sem reza, continuamos pela aí.

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