sexta-feira, 12 de abril de 2019
CHARGE ESCOLHIDA A DEDO (145)
LEMBRADO E ENTREVISTADO PARA TRABALHO UNIVERSITÁRIO SOBRE O AI5 - EIS O DEPOIMENTO DESTE HPA "Bom dia , Henrique! tudo bem? Meu nome é G e sou estudante de jornalismo da __ , o professor Y passou seu contato e gostaria de saber se posso fazer três perguntas pra você sobre a AI-5. Aguardo retorno, obrigada!", tudo começou desta forma e jeito. Minha resposta: "Sim, a vontade. Quando, como e onde achar melhor?". E tudo se deu pelo WhatsApp mesmo. Omito os nomes, pois não estão autorizados por esses.
Eis as perguntas e respostas na sequência:
1) Qual foi a grande consequência do AI-5 nos jornais do interior?
Resposta: Os jornais do interior, como todos os demais foram calados. A maioria da imprensa interiorana, de certa forma já se encontrava calada. A grande maioria dos donos do jornais e meios de comunicação interior afora são constituídos por pessoas pertencentes aos grupos de poder do local, das cidades. E o que fazem esses grupos de poder locais? São todos ligados aos grupos de poder que manuseiam os interesses populares, os da classe trabalhadora. Esses grupos já estavam compondo com quem produziu o golpe. Assim como a rede Globo, O Globo, Folha SP, o Estadão faziam em caráter nacional, os pequenos do interior pior ainda. Dificilmente os jornais do interior brasileiro eram dirigidos por pessoas libertárias, existiam alguns, esses foram violentamente calados, contidos, censurados e até de forma violenta, mas a grande maioria fazia parte do stabelechiment. Esses não só aceitaram como apoiaram o golpe. A maioria desses jornais não sofreu censura, pois estavam a favor do golpe, da ação dos militares e aceitaram aquilo como algo normal. Os que não aceitaram sofreram as duras consequências. Todos nós sabemos como foram executadas essas duras consequências, de forma híper violenta, censuradas e submetidas ao crivo de um censor. Toda imprensa alternativa no período e parte da grande imprensa sofreram com isso e quem se arriscava a publicar algo sem passar por esse crivo, poderia ter seu órgão de comunicação fechado e até com violência física. A minha visão é essa, até hoje os donos dos meios de comunicação no interior fazem parte dos grupos de poder que dominam os interesses das cidades onde atuam. Se você ler o único jornal impresso existente hoje em Bauru, que não deixa de ser um interessante jornal, ele representa o que, de que lado ele se encontra? Por exemplo, você não vai encontrar lá a defesa da Previdência Privada e sim, o da reforma como interessa aos grupos econômicos neoliberais. Os grupos de poder ali estabelecidos, os que dão sustentação, que mantém o jornal eles são a favor disso e naquela época a mesma coisa.
2) Ocorreu mesmo a censura? Como foi?
Resposta: A censura ocorreu e continua ocorrendo. Ela ocorre de várias formas e jeitos. Todos os textos que saiam num jornal, rádio ou TV eram submetidos para pessoas indicados pelo Governo, cujo papel era fazer a varredura e o que contrariava os interesses governamentais eram impedidos de circular, não importando se isso representasse a verdade dos fatos. O outro crivo, existente até hoje é do próprio meio de comunicação, ciente de uma tal de limite que sua publicação tem, não o ultrapassa, pois perde verbas e pode passar a ter seu nome num index para com os poderosos. Ciente deste limite ele não o excede. E o que vem a ser não exceder esse limite? Na maioria das vezes é falsear com a verdade, é simplesmente dizer o que o grupo instalado no poder quer ouvir, ver e ler. Contrariando a isso, vai estar criando um grande problema para ele. Criar um grande problema para ele é ter o iminente fechamento do jornal, ter as publicidades reduzidas e como não quer ter esse tipo de problema, se submete. Esse também é um tipo de censura, a econômica. Os próprios anunciantes quando possuem um viés conservador induzem o jornal para defenderem seus interesses e dane-se o resto. Estão aí para isso mesmo. Como o jornal pode ter uma linha democrática, libertária se quem está por detrás age o contrário? Impossível. Ele deixa de noticiar a verdade factual dos fatos para noticiar uma verdade falseada, uma grande mentira, a verdade que os donos do poder quer ouvir e ver impressa. A censura de antes, a do regime militar era mais violenta, mas a de hoje também está se aproximando daquela, pois na comparação, o estado de exceção ocorre em ambas situações. Hoje nós temos um país tutelado, você percebe, o STF não faz mais nada se não consultar sua oculta instância militar, eles estão decidindo novamente o que pode e o que não pode sair, o antes e o hoje embalados pelo crivo militar. Acabo de ver uma entrevista do prefeito do Rio, o Crivella, onde ele acusa a Rede Globo de ser isso e aquilo, mas você percebe que mesmo essa TV sendo isso e aquilo para o prefeito, ela em nenhum momento contraria os princípios básicos que ela defende das leis do mercado. É o mesmo que os meios de comunicação massiva fazem país afora. Faziam antes e fazem hoje. É muito simples um jornal como a Folha de SP ou mesmo a Rede Globo, décadas depois do fim do regime militar vir a público fazer sua mea culpa e pedir desculpas. Na época faziam o jogo que o Governo estabelecido impunha e depois, comodamente, pediram desculpas. Hoje, também descaradamente agem novamente escamoteando a verdade dos fatos, favorecendo quem está ocupando o poder, tudo para se beneficiar. É isso o que ocorre.
3) Como foi o jornalismo no interior na década de 60?
Resposta: Falando pelas rádios e jornais, afirmo da existência de uma pluralidade muito maior do que a atual. Se você for comparar quantos órgão de comunicação existiam impressos na cidade Bauru nos anos 20, 40, 50, 60 e setenta e os de hoje, uma brutal diminuição. Hoje nem jornal de bairro tem mais. Você encontra muitos poucos meios desse tipo pelas redes sociais, mas impressos, quase nada. Quantas rádios existiam na cidade e na região noticiando os fatos, produzindo informação e quantas existem hoje? E o que fazem as rádios de ontem e o que fazem as rádios de hoje? Então, a imprensa no interior definhou e isso se deve também, em partes, a essa remodelação, desse novo momento das comunicações no mundo todo. Isso não é só aqui, poucos resistiram, poucos resistem. O que nós tínhamos em abundância no passado, não temos mais hoje. A cidade não possui hoje nenhuma rádio no espectro AM e as rádios FMs com jornalismo pífio, ocupando pouco espaço, hoje quase só com música e de péssima qualidade. E o jornalismo, todo ele a defender somente uma linha de pensamento. Um jornalismo vesgo, no jornalismo impresso a mesma coisa, no televisivo a mesmo coisa, todos vesgos, caolhos. Não existe hoje nenhum meio de comunicação a mostrar o outro lado da questão, da notícia, até para gente poder comparar isso que sai com outra possibilidade. Isso não é mais sugerido ao ouvinte, leitor e telespectador. Existem poucas alternativas pelas redes sociais, aqui em Bauru o Jornal Dois faz isso de uma forma singular, como outros o fizeram e tiveram curta duração, pois foram estrangulados pela questão financeira. Ninguém consegue sobreviver muito tempo com as próprias reservas, sem respaldo publicitário. Não existe hoje um só programa nos meios de comunicação que não sofra um tipo de pressão quando contrariando os interesses dessa classe dominante, os donos do poder local, que está por detrás de tudo, inclusive dos meios de comunicação. O que posso te falar dos anos 60 e já comparando com o atual momento é isso, a pluralidade quantitativa não existe mais hoje. Outra faceta, antes tínhamos muito mais imprensa sindical, estudantil, operária, de bairros e hoje quase nada, tudo quase zerado. Hoje tudo restrito a essa imprensa massiva e pouquíssimos meios pelas redes sociais.
Desta forma está iniciado o debate sobre a questão.
Pergunta: Há liberdade e pluralidade de imprensa em Cuba?
ResponderExcluirRESPOSTA: Sim, numa correlação com a existente hoje no Brasil, talvez a de lá seja mais honesta, sincera e menos distorcida.
ResponderExcluirHenrique - direto do mafuá