segunda-feira, 20 de maio de 2019

COMENTÁRIO QUALQUER (188)


DO MESMO JEITO QUE ABREM PODEM FECHAR – HISTÓRIAS DE VIDA

Dois parágrafos de curta prosa. Ontem tomo conhecimento da história desse ponto comercial na Nações Unidas, um restaurante aberto dois meses atrás ao estilo cowboy mexicano e despertando a curiosidade desse escrevinhador. Um grafite em tamanho gigante na fachada e dizeres me fazendo imaginar já degustando a tal comida mexicana. Não deu tempo. Do jeito que abriram, fecharam. Não duraram nem dois meses. Eram dois negócios num só, um tentando viabilizar o outro, paralelos e em conjunto. Do restaurante e quem dele preparara os pratos, ouvi maravilhas, cuidadoso e especializado na temática escolhida, pratos requintados e com preços honestos. Podia até ter acertado a mão, mas sem o cacife para investir mais um pouco e após o ocorrido com o ponto anexo, quando o investimento num bingo aliado ao negócio, produz denúncias de vizinhos e a obrigação de encerrar o que mais atraia público. Perdi a oportunidade e me contam que, o cozinheiro já está em outra, trabalhando agora no Paraná e o letreiro chamativo ali, agora de portas fechadas, lacradas e esperando novo investidor. Uma história que, se conhecida em detalhes geraria um escrito emocionante e cativante. Perdi também a oportunidade de conhecer a casa funcionando, pois passei algumas vezes diante dela e não a adentrei. Hoje, ao saber de alguns detalhes, me solidarizo com esses tantos buscando fazer algo, a saída para obter uma renda, um ganho, um soldo pra chamar de seu e diante desse inexorável quadro de dificuldades, expostas como fratura exposta diante de todos nós, acabam por investir o pouco que possuem e ainda se dão mal. Entristecedor.

Ontem também num bate papo com baita amigo sobre o que considero a atividade comercial que, mais abre portas na cidade: os salões de barbeiro. Quem circula pelos bairros da cidade se depara com isso, muitos, melhor, aos borbotões, salões abertos nos mais diferente lugares, espalhados por todos os bairros, desde os chiques aos mais simples. Impossível não serem notados. O comentário do amigo ao lado no carro foi direto e reto: “Infelizmente, do mesmo jeito que abrem, fecham”. E passamos a falar sobre isso tudo. Na impossibilidade de empregos com carteira assinada a pessoa tem que se virar e tenta ao abrir seu próprio negócio, se safar e ganhar algum, sobreviver e, é claro, fazer sucesso. Isso ocorre também na quantidade de gente hoje vendendo algo nas beiradas de calçadas. Um comércio em franco crescimento, também espalhados por todos os lugares. Pequenos comerciantes, sem registro, sem nenhum tipo de amparo previdenciário, simplesmente comprando algo e os levando para a beirada da calçada e tentando desta forma obter algum lucro, alguma renda. Recentemente paro em dois desses, um aqui na Araújo Leite, perto do Pão de Açucar, um pequeno produtor, com tudo ali numa prateleira e junto deles, outros produtos de outros pequenos como ele e na rua principal do Parque Viaduto, dentre tantos por ali, compro um cacho de bananas num e ele me conta sua história. Ao ouvi-la me dá vontade de nunca mais adentrar um supermercado e só comprar, daqui por diante, de pessoas como ele, fazendo de tudo e mais um pouco para levar a sobra do investido pra casa e assim dar um jeito de conseguir tocar sua vida pra frente sem adentrar loucuras outras. Essas histórias da viração humana me tocam demais da conta. A minha própria é um espelho disto tudo, pois o que faço hoje é também o mesmo que todos eles, sem tirar nem por.

MUITO TRISTE

No cruzamento da Azarias com a Duque, paro no sinal, ele se aproxima do vidro e me diz balbuciando: "Me dá um dinheiro. Estou quase comendo merda de tanta fome que eu tô". É como se tivesse levado um abrupto soco na boca do estômago. Abro os bolsos e lhe dou sem olhar uma nota para comer algo. O sinal abre e parto. Paro adiante e do outro lado da rua tiro a foto. Ele continua a pedir e não se foi até agora em busca de comida.

A MORTE DO ZÉ BATÉ, ANA BIA ESCREVE TEXTO PARA O JC E EU ENCONTRO FOTOS TIRADAS EM SUA CASA DE NOGUEIRA EM 2016: https://www.jcnet.com.br/Geral/2019/05/aos-56-anos-morre-o-subprefeito-de-tibirica-jose-antonio-cosmo-o-bate.html
O ZÉ PARTIU... - A lembrança que tenho do Zé Baté, ou Cosmo, sub-prefeito do distrito de Tibiriçá é essa, ele batendo seu bumbo, forte e doído lá defronte sua casa, em Tibiriçá, num dos ensaios do Estrela do Samba de Tibiriçá. Aqui ele em fevereiro de 2016, num dos registros que fiz dos ensaios do bloco. Uma dessas perdas sem explicação. Vamos pra lá nesse momento prestar nossa reverência para ele e solidariedade aos amigos e familiares.

FAMÍLIA BATÉ: CONTOS E ENCANTOS EM TIBIRIÇÁ
No interior de São Paulo, mais exatamente no distrito de Tibiriçá, vinculado à cidade de Bauru, mora a família Baté. José Cosmo, sobrenome que desde o fim da escravatura vem dos padrinhos, é o patriarca conhecido como Seu Baté. O apelido surgiu em uma contenda de futebol quando o time de Taubaté era o ‘rival’.

Desde o bisavô escravo, passando pelo avô e pelo pai, a família atravessou o rio São Francisco, oferecendo fumo e pinga pro ‘Caboclo das Águas’, passou por Cachoeira na Bahia, até chegar ao interior de São Paulo. Em um momento de fome, o pai confiou a São Benedito o sustento da esposa, filhas e filhos.

No distrito, de aproximados 1 mil habitantes, para o qual se mudaram em 1973, fica a ‘casa grande’. Carnavalescos, fundaram o bloco de rua ‘Vai quem quer’, atualmente desfilando no sambódromo de Bauru como o ‘Estrela do Samba de Tibiriçá’.

Não tem carnavalesco, temos amigos e colaboradores. Enredo, samba, abadás e fantasias, são resolvidos em grupo composto por famílias e amigos. Concordam, discordam e chegam ao acordo. Tudo dá certo com o trabalho do coletivo, onde cada um faz o que sabe fazer.

Ao longo do ano, constam do calendário duas datas especiais: o dia de Santo Antônio, 13 de junho, e o agradecimento para São Benedito em 20 de novembro. Na festa de Santo Antônio, que chega a congregar 800 pessoas no ‘quintal dos Baté’, ergue-se o ‘mastro’ e canta-se o ‘terço’.

Em novembro, o motivo é o da gratidão pelo alimento de cada dia não faltar como antes. Instituíram uma medalha, a fim de premiar os membros da família que obtinham conquista nos estudos. Com o tempo, são agraciados com a medalha, atualmente denominada ‘Zumbi dos Palmares’, todos os que participam da festa.

São considerados igualmente guerreiros, assim como foram, desde os ancestrais, e são os ‘Baté’. Contar um pouco desta história de resistência negra no interior de um dos maiores estados brasileiros, cuja fonte é a memória oral, por ora, preservada e transmitida, é algo que encanta.

Por Ana Bia Andrade

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