sábado, 4 de maio de 2019

UM LUGAR POR AÍ (122)


DOIS LUGARES POR AÍ
01.) VAL DE PALMAS - XERETA OBSERVAÇÃO DE FORASTEIRO CIRCULANDO PELA ESTRADA DE TERRA DEFRONTE A ANTIGA ESTAÇÃO

Estive recentemente visitando a estação rural férrea de Val de Palmas e conto aqui o que vi. Ela está localizada na antiga estrada para Tibiriçá, uma de terra batida, começando logo após o o Posto Comandante, beirada da rodovia Bauru/Marília. No local além deste imóvel histórico outro, o de um famoso casarão, ambos tombados pela Patrimônio Histórico, o CODEPAC e ali levantados para dar vazão à produção cafeeira de antanho na região. Foram tempos de grande movimentação no local, porém muito antes da privatização, essa estação já se encontrava desativada, para sofrer um longo processo de abandono.

Por um longo período ali funcionou junto a mesma um bar e até um animado e concorrido forró rural, com letreiros chamativos beirando a pista de terra, porém motivados por desavenças no local, tudo se findou e o que restou no local foram os moradores, que asseguram, até a presente data, que tudo permaneça em pé. Não fossem esses, essa estação já estaria sido totalmente vandalizada. A presença de moradores inibe que o local seja depredado e totalmente destruído. Famílias ali residem, se ajuntando e mesmo diante da precariedade, conseguem dar um ar de dignidade ao local.

Minha lembrança de uns dez anos atrás é a de alguns vagões férreos ali abandonados, esses totalmente dilapidados e o que resta dele, virados para o lado de uma ribanceira e deles retirados tudo o que possa ser considerado servível. Ainda no local nada mais que sucata de pouca serventia. Alguns barracos de madeira surgem ao lado deles, no entorno da estação e com eles o registro de alguma movimentação. Do outro lado, o de quem segue adiante, um barracão, antigo armazém ligado à estação e ali, pela limpeza no local, mato cortado, sua utilização talvez como depósito para algum fazendeiro da região.

Os trens ainda passando por ali o fazem numa velocidade que, se a pessoa for lépida e fagueira, consegue subir facilmente em sua rabeira. São composições compridas, de carga da Rumo, a concessionária da malha ferroviária no trecho, inclusive Bauru. Na estrada de terra, o cuidado dos que ali passam de carro são para os animais no entorno da estação. No dia em que ali passei, alguns porquinhos enfileirados em fila indiana teimavam em zanzar na pista e a parada para observar o espetáculo deles numa dança diante do carro foi obrigatória, até como reverência para o que propiciavam para olhos não acostumados com o que via.

Não existe projetos, nada no horizonte a ser vislumbrado para essa estação e para tantas outras na mesma situação. Existiram e foram funcionais durante um período da ferrovia, mas com o declínio da atividade comercial no seu entorno foram sendo fechadas, muito antes da privatização das ferrovias brasileiras. Viraram peças a serem esquecidas, pois diante de tantas edificações históricas no mesmo estado, passaram a ser consideradas invisíveis e assim continuarão até serem totalmente dizimadas. Os moradores do local, solícitos e simpáticos para com forasteiros como esse mafuento escrevinhador, permitiu que fotografasse o local, chegasse perto da estação sem nenhum tipo de problemas. O único receio é que, com divulgação do estado conhecido por todos, surjam problemas para sua permanência, no mais convidam para conversas.

Permaneci pouco menos de meia hora no local e com o registro das fotos aqui publicadas, algo mais do que se passam com uma infinidade de pequenas estações rurais ainda espalhadas por uma malha férrea antes de intensa movimentação e hoje, entregue ao esquecimento e renegada a lembranças de uns tantos que ainda passam por ali e relembram histórias de antanho. Outras tantas foram derrubadas, principalmente as cujas malhas foram retiradas, pois sem os trilhos, os fazendeiros desses locais, derrubam tudo e não deixam mais nem vestígios de sua existência. Essa ainda resiste, como um fantasma ali na beira da estrada de terra. O lugar, se não assusta, também não mete medo, mas para amantes de boas histórias, sempre um algo a mais para ser desvendado e relatado. É o que tento fazer nesse exato momento.

2.) 20 ANOS DA FOLHA SECA
Se existe um lugar dentro da cidade do Rio de Janeiro que todo visitante precisa necessariamente conhecer esse lugar é a Livraria Folha Seca, do amigo Rodrigo Ferrari, o Digão e de sua mãe, Maria Helena Ferrari, uma dupla que, juntos tornaram a Cidade Maravilhosa mais doce, fraterna e suave, mesmo nesses tempos amargos, pueris e bestiais. Aquilo lá é um oásis, uma ilha no meio do oceano recheado de incertezas e adversidades. Vou ao Rio com menos frequência que antes, mas em todas necessito me recarregar, não só da boa conversa, encontrada muito por lá, mas pra consumir, ver as pessoas, saber das novidades, trazer algo e me inspirar para o que virá pela frente. Adoro aquele lugar e sempre pensei ser possível tentar fazer algo por Bauru, a aldeia onde nasci e vivo, com a mesma cara e sapiência. Conheci o Rodrigo quando ainda era funcionário de uma famosa livraria carioca, isso já vai mais de 20 e tarará de anos, perto dos trinta acho e a partir de então, nos tornamos fraternos, amigos e isso vai se prolongar por todo o sempre. Ele também era amigo de meu sogro, seu Zé Pereira (pai de Ana Bia Andrade) e só fui ficar sabendo disso depois, quando conheci Ana e esse me levou para passear pelo Rio Antigo e descobrimos juntos que eramos amigos do Digão. Ali tem tanta coisa boa, aquela reunião de livros com tema do Rio, Samba, Carnaval e Futebol, tudo junto e muito misturado, como só a cabeça do seu dono soube reunir, manter e tocar adiante. Além de tudo, idealizou, criou e mantém um samba na frente do local, com a ajuda de outros comerciantes e ajudou decisivamente a revitalizar um dos lugares mais bucólicos do velho centro do Rio. Ali só existe virtudes, nenhum defeito ou demérito. Amo de paixão e indico para todos os que que vão pro Rio e buscam um porto seguro, um lugar onde as amizades nascem assim do nada e a gente se sente, não só em casa, mas entre pessoas confiáveis, livres, leves e soltas como deve se
r a vida. Eles completam vinte anos (parece que foi ontem) e já tem até um documentário sobre eles rodando por aí. Para quem não conhece, ei a oportunidade.

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