quarta-feira, 31 de julho de 2019
BEIRA DE ESTRADA (111)
AOS INTELECTUAIS QUE APOIAM BOLSONARO*
* Texto dedicado a um dito intelectual bauruense, que para mim não tem nada de intelectual e que, após discussão hoje pelas vias internéticas me bloqueia e assim estou definitivamente impedido de ler suas bestialidades cuspidas por essa via e meio.
Dias atrás, o diário argentino Página 12 publica um instigante texto, o "Aos intelectuais que apoiam a Macri". De sua leitura, algo bem similar ocorrendo no Brasil. Existe aqui na Argentina uma intelectualidade apoiando a bestialidade de um desGoverno que, em quatros anos afundou o país, tornando-o o mais desigual de todos na América Latina, nível de perversidade para com o povo nunca visto na história e agora, quando se aproxima o período eleitoral, mesmo diante da situação de calamidade que hoje constato o país atravessa, o candidato da situação será o mesmo que afundou com tudo. Algo muito preocupante é constatar pessoalmente algo que havia ouvido através do Victor Hugo Morales, no seu programa de rádio na am750, o La Manãna que a Argentina é hoje o país com o maior índice de pessoas cometendo os seus primeiros delitos. E o que seriam esses primeiros delitos? Puro desespero de causa e quando todas as portas se fecham, calamidade mais do que instalada, a pessoa acaba roubando para saciar a sua fome e a de outros à volta. Impossível não se sensibilizar com as repetidas cenas que vejo em qualquer saída aqui pelas ruas de Buenos Aires. São pessoas e mais pessoas vivendo nas ruas, dormindo em colchões e driblando o frio pela ajuda humanitária de muitos, os ainda sensíveis. O que me choca é exatamente o tema tratado pelo artigo do jornal (eis o link: https://www.pagina12.com.ar/208828-a-los-intelectuales-que-…), quando ao abrir alguns jornais, como o Clarin e o La Nacion, tudo o que ali consta é como se nada estivesse acontecendo. São textos e mais textos mostrando algo que não existe, uma cidade que não existe e um país destroçado por um dólar que não para se subir e uma maquiagem, com o intuito da minoria dominante continuar no poder e reeleger Macri.
Que raios de insensibilidade é essa? Não me assusta, pois no Brasil ocorre a mesma coisa. Uma dita intelectualidade, aqueles que se apresentam como mais preparados, mas só o são para preservar as suas benesses e interesses individuais, nunca algo coletivo. Denominam qualquer interesse por atender anseios dos menos favorecidos como comunismo e o que fazem como progresso, uma nação antenada com as leis de mercado, o rentismo e o fim do emprego como até então era conhecido. Até bem pouco tempo esses ganhavam muito, mas hoje querem ganhar mais, mas não querem mais arcar com gastos com leis trabalhistas e manutenção de direitos dos trabalhadores. A opção neoliberal é sempre pelo estado mínimo, tudo precarizado e os seus lucros na estratosfera. e sempre apregoando que antes gastavam demais da conta, hoje não mais possível, pois os tempos são outros. Defendem as benesses dessa bolha, a dos 1%, a casta que explora todos os demais sem dó e piedade. Junto dessa casta, uma rede de pessoas, onde essa intelectualidade está inserida e esses, mesmo não fazendo parte dos exploradores, se beneficiaram para chegar onde se encontram de migalhas e as defendem com unhas e dentes. São cruéis e insanos até a medula. Não querem de jeito nenhum nem sonhar em terem em seus países governos comandados por gente como Lula ou Cristina, que nem comunistas o são, mas algo fizeram pelos mais pobres. Nem isso é mais permitido, defendem hoje a miserabilidade total do individuo e possuem a cara de pau de nem mais terem as faces ruborizadas.
Intelectual que consegue encontrar argumento plausível para defender governos como o de Macri ou Bolsonaro são os insensíveis dos tempos modernos. Muitos desses se dizem apolíticos e sem coragem para assumir abertamente a opção, mentem descaradamente e dizem não terem apoiado Bolsonaro, por exemplo, pois esse é muito fora da casinha, mas estão caminhando ao lado de tudo o que ocorre e se beneficiando das ultrajantes medidas já adotadas. Aqui onde me encontro no momento, na Argentina, essa mesma intelectualidade é mais descarada e assume seu papel, joga pesado contra Cristina, hoje o candidato Alberto Fernandez e não estão nem aí para essa população famélica nas ruas. Vivem num outro mundo e se lixam para o resto. Folheio o La Nacion de domingo passado e tenho ânsia de vômito, tal o descalabro da insanidade do empresário aliado de Macri. Nas páginas do Página 12 encontro algo a me saciar ainda o ímpeto e o sonho por ver algo sendo restabelecido, tanto na Argentina, como no Brasil. Esse artigo é histórico, pois apresenta quem de fato são essas pessoas hoje a defender o até bem pouco tempo indefensável. Não sei como terá que ser a transformação do mundo para novamente ter seus olhos voltados para essa imensa massa de desvalidos, mas creio, impossível algo pelas vias pacíficas, sem o povo nas ruas, num movimento impondo sua vontade. O conluio que no Brasil garante Bolsonaro, garante também Macri na Argentina. O Judiciário dos dois países são hoje muito parecidos, algo bem próprio dessa cara neoliberal desses tempos. Intelectualidade calhorda em ambos os países, perdição total, algo não mais recuperável pelo voto. Esses 150 assinando o documento mais insano que já vi na vida são os mesmo que irão fazê-lo por Bolsonaro em breve. Não tenho mais esperança de ter Lula e Milagre Sala soltos com esses no poder. Cansei também também de tratar bem esses intelectuais almofadinhas. São o que de pior temos. A los intelectuales que apoyan a Macri - Por Alejandro Grimson y Nahuel Sosa
Hace pocos días 150 intelectuales firmaron una declaración manifestando su apoyo a la candidatura de Macri y Pichetto. Nos parece positivo que toda persona que lo desee, y más aún si tiene vida pública, manifieste sus opiniones políticas. Por eso, desde la posición política opuesta a quienes firman aquella declaración, las y los invitamos a debatir públicamente nuestras diferencias. Como ustedes afirman que la disidencia y el diálogo son claves para construir la democracia y también afirman que hay pluralidad en los medios públicos, les proponemos que se organice allí o en cualquier otro medio que lo desee debates sobre temas de fondo de nuestro país.
Nos ha llamado profundamente la atención que su declaración no hagan mención alguna a la situación económica de la Argentina, ni a la pobreza, ni al hambre ni a la gente viviendo en la calle. ¿Es posible tomar posición sin considerar explícitamente la realidad económico social del país? Quisiéramos invitarlos a reflexionar sobre la necesidad de sensibilizar a todos los argentinos, incluso a los votantes de Macri, acerca de esta situación de extrema gravedad generada por las políticas económicas de estos años.
Entendemos que los partidos hacen lo posible por ganar votos, pero creemos que los intelectuales debemos mantener una vocación crítica. Nosotros hemos hecho públicas desde hace años críticas a medidas y acciones del gobierno anterior. Los firmantes mencionan que ha habido errores en el gobierno de Macri, pero no señalan un solo error concreto. “Error” parece un eufemismo que invisibiliza una realidad que se impone cada día más dura y más cruda.
Queremos saber más acerca de lo que piensan. ¿Considerar un error haber prometido pobreza cero o haber instrumentado políticas que incrementaron la pobreza? ¿Consideran un error haber dicho que la inflación se reduciría en pocos meses o haber tenido políticas que nos llevaron a la más alta inflación en años? ¿Consideran un error haber prometido “unir a los argentinos” o haber tenido políticas explícitas para profundizar la división y la grieta? ¿Consideran un error haber regresado al FMI, haber destruido UNASUR, las políticas de Patricia Bullrich, la total libertad para los capitales golondrina, la bomba de tiempo de la Lebac y las Lelic, la vuelta de la timba financiera?
¿Qué opinión tienen acerca de la afirmación del presidente acerca de que el problema nació hace 70 años? ¿Avalan que en esa frase niegue las consecuencias del terrorismo de Estado, de las dictaduras militares, de 18 años de proscripción? ¿No creen que es hora que aceptar la racionalidad de nuestros distintos adversarios políticos? Tenemos proyectos opuestos para el futuro de la Argentina. Pero el proyecto que ustedes apoyan no es irracional, como un equivalente de la forma en que designan funcionarios del actual gobierno al “peronismo no racional”. Los discursos que estigmatizan opositores terminan generando odio y eso debilita la democracia. Ante el fracaso del programa económico, ante la decepción generalizada porque no se cumplieron las promesas, el oficialismo busca refugiarse en una estrategia dañina, que va de la Doctrina Chocobar hasta el abrazo con Bolsonaro.
Vamos a tomar ahora algunos párrafos de su declaración para graficar mejor nuestro argumento. Una de las afirmaciones que más nos sorprendió de su declaración es que en estos cuatro años “se sentaron las bases para el desarrollo al que todos aspiramos”. Aquella promesa de Macri de no modificar nada de lo que se había hecho bien y cambiar aquello que estaba mal en 2015 ha sido defraudada. Hay más pobreza, caída del PBI, desindustrialización. No vemos ninguna base para el desarrollo.
Afirman que “Macri respetó la división de poderes y se abstuvo de utilizar las herramientas del Estado para fines partidarios”. Dan como ejemplo el pluralismo en los medios públicos. ¿En qué se basan para afirmar ese supuesto pluralismo? ¿Cuántas veces fueron entrevistados de modo profesional los candidatos opositores en dichos medios? Vimos también, con mucho dolor, como más 4500 periodistas fueron despedidos en estos cuatros años. El gobierno actual utilizó instituciones del Estado para fines partidarios. El caso irrebatible es la gestión de Laura Alonso en la Oficina Anticorrupción. Pero el silencio de los funcionarios ante la actitud del fiscal Stornelli, que incluyó una foto cerca del presidente cuando ya se encontraba en rebeldía, es otro ejemplo elocuente.
Respecto de la corrupción en el gobierno anterior y al actual, ustedes hacen afirmaciones contundentes que no se basan en el precepto constitucional de que “toda persona es inocente hasta que se demuestre lo contrario”. Cristina Kirchner es inocente según las leyes vigentes en la Argentina. Jamás ha sido condenada, ni siquiera en primera instancia. Como ustedes saben, Macri fue condenado en segunda instancia. Y hay conflictos de intereses en distintos funcionarios del actual gobierno que claramente deberían ser investigados. El caso de Aranguren es patente. Por eso, no vemos como ustedes los “drásticos cambios para transparentar las acciones de gobierno”. La justicia supuestamente “independiente” no investiga al gobierno actual.
La afirmación de que la inserción de la Argentina en el mundo en el gobierno anterior privilegiaba la relación con Venezuela e Irán no es correcta. La Argentina desde 2003 fortaleció su relación con Brasil y el Mercosur, fue protagonista del inmenso logro de la creación de UNASUR, renegoció con el “mundo” su deuda externa, rechazó el ALCA junto a los países vecinos y otra serie de logros. Ustedes hablan de que “el mundo” nos daba la espalda. Nosotros estamos persuadidos de que hay varios “mundos”, no uno sólo las grandes potencias con gobiernos neoliberales. Naciones Unidas aprobó la propuesta argentina para reestructuración de deudas soberanas, contra los fondos buitre, por una mayoría abrumadora. Y esas potencias que hoy financian la campaña electoral de Macri a través del FMI, le dieron la espalda a la resolución de Naciones Unidas.
Cuando enumeran las carencias del país, también quedamos sorprendidos por las ausencias. En primer lugar, ya dijimos que no aluden a la pobreza y el hambre. En segundo, no mencionan el grave problema que tenemos con la educación. En tercero, no mencionan el retroceso en la investigación en ciencia y tecnología. En cuarto, no mencionan explícitamente el problema de la independencia, transparencia y eficacia del Poder Judicial. Consideramos que sería muy grave que se consolide el actual rumbo que ha llevado a situaciones críticas. El futuro de desarrollo con inclusión requiere un nuevo acuerdo social para transformar el ayer en un mañana mejor, con producción, trabajo, educación e integración regional.
Los autores son, respectivamente, antropólogo UNSAM y sociólogo, integrante de Agenda Argentina.
terça-feira, 30 de julho de 2019
DIÁRIO DE CUBA (110)
segunda-feira, 29 de julho de 2019
CARTAS (202)
DIDI, O FOLHA SECA EM LENÇÓIS E ANTES DA FAMA*
* Antes da leitura do texto sobre o Didi explico dos motivos dele existir. Meu amigo CHU ARROYO é jornalista e dentre tantos jornais onde já esteve metido ao longo de sua vida, acabou no Irajá, ops, digo, num jornal regional envolvendo Lençóis Paulista, Macatuba e Pederneiras, o PEDRA DE FOGO. Vez ou outra pede minha participação e o faço sempre de bom grado. Desta feita me pede para escrevinhar no texto algo sobre Lençóis Paulista e o faço ao meu modo e jeito relembrando uma velha história, pouco lembrada pelos mais novos daquela aldeia. Escrevo e ele publica na edição que está circulando no momento, saindo agora por essa via para avaliação de quem me lê por essa via e meio.
"Algo me faz voltar no tempo quando penso em Lençóis Paulista e isso tem um pé no mundo do futebol, mas não no atual, no de antanho, o de muito tempo atrás. Bauru e Lençóis já tiveram bons momentos nesse “negócio” denominado futebol e muita história para contar e também rever. Não vivo do passado, mas me conforta olhar para trás e com esses olhos, constatar o que se passa no presente. Tivemos momentos auspiciosos. Conto um deles, com aquela pitada de orgulho, sadia inveja. Defendendo suas hostes, quem um dia jogou bola por Lençóis Paulista foi nada menos que o mestre Didi. Sim, o famoso Folha Seca passou temporada correndo atrás de uma bola aqui junto de nós e poucos hoje sabem disto.
Foi bem no começo de sua carreira, mas alguém o trouxe, ele aqui esteve e depois ao retornar ao seu Rio de Janeiro estourou e fez aquele sucesso todo conhecido por tudo e todos. Quando vejo trabalhos de pesquisa com fatos históricos do passado, não sei como ninguém aí de Lençóis Paulista até o presente momento não teve a brilhante ideia de rever essa história, buscar fontes (hoje quase inexistentes), mas ir atrás de documentos, registros que certamente ainda persistem ao tempo e contar, esmiuçar como foi essa estadia de alguém tão importante. Sempre tive baita curiosidade em saber como aqui veio parar, quem o trouxe, quanto tempo aqui permaneceu e tudo o mais, alguns detalhes que os mais velhos ainda devem ter registrado em suas mentes.
“Waldyr Pereira, Didi, foi um grande jogador brasileiro, peça chave do Brasil campeão do mundo em 1958 e 1962. Militou no Fluminense e no Botafogo, em que regressou trás uma breve passagem no Real Madrid. Tinha um passo longo, de precisão milimétrica difícil de alcançar com as bolas da época”, escreve dele o site da Conmebol, a FIFA do futebol sul-americano. “Em virtude de sua elegância, Didi recebeu os apelidos de “Mr. Football” (Senhor Futebol), dado pela imprensa europeia, e de “Príncipe Etíope de Rancho”, elaborado pelo jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues. Com a camisa do Brasil, disputou três Copas do Mundo (1954, 1958 e 1962) e fez 20 gols em 68 partidas oficiais. Como se não fossem suficientes todas as distinções acima, ele foi o autor do primeiro gol no Estádio do Maracanã e inventor da “folha-seca”. Essa famosa técnica consiste em chutar a bola com efeito para fazê-la cair de maneira repentina e imprevisível, tal qual uma folha desprendendo-se da árvore em um dia de outono”, continua o texto da entidade do futebol.
Percebem o quanto foi grande e reverenciado mundo afora pelo mundo da bola? Pois bem, ele aqui deu alguns dos passos iniciais e quase nada existe de registro dessa passagem. Por que? Falta de interesse registrativo e investigativo dos pesquisadores de uma localidade. Levantar boas histórias não é tarefa das mais fáceis, enfim, tudo o que envolve ir atrás, desvendar, seguir o fio da meada não é tarefa para os fracos. Sei que colega meu de quando fazia mestrado na Unesp Bauru estava levantando a história da Lwart no basquete. Foi algo lindo, de grande monta e nem sei se ele já terminou a pesquisa, mas penso em ver também algo a passagem do Didi pela cidade.
Curiosidade mata e sempre a tive na ponta dos cascos. Os documentos todos, se ainda existem, estão disponíveis espalhados por lugares chaves na cidade e junto de antigos boleiros. Isso daria um livro, um curta metragem ou mesmo um lindo texto, até artigo acadêmico. Seria peça de museu. Outra coisa, o museu local possui algo dessa passagem, sejam fotos ou os documentos que ele assinou no contrato com o time local? Isso é de grande valia. Talvez eu esteja desatualizado (torço por isso) e alguém já desvendou isso tudo e não tinha conhecimento. Torço para aparecer algo já pronto e tomar conhecimento, pois o desfrutaria com imensa gula, a só possível por um devorador de boas histórias. Didi em Lençóis, eis a boa história que ainda espero ler um dia e a espalhar pro resto do mundo".
Henrique Perazzi de Aquino – jornalista e professor de História (www.mafuadohpa.blogspot.com).
Tanto eu como Chu gostamos de escrever ao estilo de Bukowski, ou seja, com o copo nas mãos.
A minha subversão é não parar nada do que venho fazendo...
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domingo, 28 de julho de 2019
RELATOS PORTENHOS/LATINOS (68)
COMO GARÇOM DE UM RESTAURANTE TE FAZ ENXERGAR O MUNDO DE FORMA DIFERENTE - A EXPERIÊNCIA COM SEU JOSÉ DO LA BRIGADA
Turista anda por tudo quanto é lugar, muitos desses os de sempre, aqueles lugares onde todos acabam indo quando num lugar diferente, atração turística com lugares inevitáveis. Isso todos fazem quando nesses lugares e não é minha intenção ficar prescrevendo como foram meus passeios. Seria muito pedante e chato. Gosto mesmo é de tentar mostrar algo de um outro lado, onde pouso esse meu olhar, um tanto inquieto e intranquilo. O pratico por todos os lugares, ainda mais nesse momento vivido pela Argentina, tão cruelmente comandada por esse neoliberalismo ultrajante para com o ser humano, pois privilegia uma minoria em detrimento da maioria de sua população, essa cada vez mais vivendo à minga, penúria percebida a olhos vistos. As andanças pelas ruas ocorreram desde 10h e só pararam quando as pernas já estavam um tanto combalidas, fraquejadas pelo uso contínuo, destreinadas e com pouco uso nos últimos tempos. Viajo e ando muito, esse meu exercício. Pernas e olhos muito atentos, registrando tudo o que vejo e a maquininha fotográfica eternizando os momentos. Quando as baixo no computador, em cada uma delas, algo a ser contado, vivência estabelecida. Algumas eu posso contar e o faço nesses relatos a mover minha vida, noutros guardo para mim, pois na revelação de algo não permitido, talvez até chegue a criar problemas para pessoas e essa não é minha intenção.
Seu José e mana Helena. |
Sou um "Historiador de Vagabundos", como li hoje algo do amigo historiador carioca Luiz Antonio Simas e já incorporei no meu repertório (pode ser lido aqui em outro post). O vagabundo prescito pelo Simas não são vagabundos quaisquer e sim, esses simples, pessoas por detrás dos balcões, atrás das vitrines, entregadores, frentistas, serviçais desse cruel mundo, garçons, os que o levam nas costas e passam, na maioria das vezes desapercebidos pela imensa maioria, pois quase nada desses sai publicado em lugar nenhum. E quando o sai, na maioria das vezes, retratados pela imprensa massiva, quase sempre à serviço do poder e dos poderosos, ainda tratando-os de forma jocosa e danosa. Os olhos desses tais historiadores de vagabundos, também denominados de Historiadores das Iniquidades e das Insignificâncias olham para todos esses dando a devida importância. É o que tento fazer e o faço a seguir com alguém conhecido quando almoçava hoje num lugar dito turístico aqui na capital argentina, o Restaurante La Brigada - Lo Distinto en Parrilla (www.parrillalabrigada.com.ar), na rua Estados Unidos 465, em San Telmo.
Seu José, nome bordado no avental da casa e assim tomo conhecimento do seu nome, pois do contrário, seria mais um cidadão sem nome, pelo menos para os que ali adentram, comem até se fartar, recebem o bom tratamento dado por gente como ele, garçons da casa e depois se vão, esquecendo de como isso se deu, mas sempre enaltecendo a casa de assados em conversas que duram uma vida inteira. Quando da chegada na casa (essa nossa terceira vez por lá), o dono, um boleiro muito conhecido por aqui, fotos de futebol espalhadas pela casa toda, autógrafos mil, nos recebe e logo outro nos encaminha para uma mesa para quatro pessoas. Nas fotos nas paredes o dono está ao lado de todos os famosos que por ali aportaram, principalmente os do mundo da bola. Sentamos no lugar dedicado a nós e por uma dessas decisões inolvidáveis da vida, quem nos atende é justamente esse senhor, seu José, um distinto cidadão, beirando os 70 anos e depois nos contando, 26 anos de La Brigada.
Quem diz serem os garçons argentinos grossos não conhece a sapiência do atendimento do seu José. Fez a primeira brincadeira e como fui receptivo, durante toda nossa permanência estabelecemos algo em comum, uma abertura para papos outros. Desta forma, ele se abre um pouco, nos poucos momentos ao nosso lado, tanto tirando o pedido, depois nas passagens para ver se tudo estava bem e por fim, no fechamento da conta. O dono, o tal boleiro, passava e sempre à distância, não se aproximou em nenhum momento, até porque não éramos ninguém no mundo das colunas sociais conhecida por ele. Foi até melhor, pois seu José preencheu todas nossas expectativas e assim, pudemos ir travando algo bem peculiar feito por mim, uma aproximação das e com as pessoas nesses contatos. Durante toda a permanência do grupo por ali o observamos em seu ofício e a constatação coletiva foi a de que, aquele lugar só tinha o sucesso todo alcançado mundo afora, pouco se devendo ao seu proprietário e mais a gente como ele, sabendo como poucos em como tocar uma mesa, direcionar uma boa conversa e trabalhar de fato, algo que o faz, percebemos, com uma dedicação que até os mais desleixados percebem.
Ele ia e voltava, pouquíssimo tempo entre nós, mas sempre com algo marcante, cativando mais e mais a todos. Por fim, quase no momento da despedida, minha mana Helena, boa observadora como eu lhe dirige a palavra e entrega os 10%, não obrigatórios na casa e lhe diz no pé do ouvido o que acabei de escrever: "Essa casa só tem o sucesso todo que tanto tinha ouvido falar por causa de gente como o senhor e pouco por causa do proprietário". Educado e cortês, ele não se altera, mas noto ter gostado do elogio e esboça um algo que dá para se entender tudo de todas as relações empregados/patrões mundo afora: "O jeito a gente adquire com o passar do tempo e não o perde mais, mas nem todos o conseguem. Vocação não é para todos, mas ele é simpático, bom patrão, tanto estar aqui já há 26 anos". Simpático em tudo, sem cutucar nada. Na despedida, um forte abraço e lhe digo ter sido uma ótima estadia, mais até do que a ótima comida, muito por causa dele, de seu jeito peculiar. Ele retribui com uma "igualmente" onde percebo a sinceridade externada, até pela liberdade que teve em poder conversar conosco e mais que isso, sentiu firmeza para fazê-lo. Tem lugares onde se vai, que mesmo se tentando, a proximidade essa não é estabelecida e fica aquela frieza. Com seu José, ocorreu o contrário e se alguém aceita uma boa indicação de comida e de atendimento, a deixo para esse lugar, mas com um pedido especial, solicitem o local onde ele esteja atendendo. Gente como ele movem o meu mundo. São os tais que constroem uma lugar, tijolinho por tijolinho. Ele sabe como fazer e conquistou a todos por causa disto.
O grupo em foto tirada pelo seu José. |
Saio de lá querendo prolongar a conversa num outro lugar, saber mais de seu ofício, detalhes dessa trajetória toda, mas isso já é outra história e na qualidade de turista, não teria nem tempo para tanto e nem ele. De todos os lugares por onde passamos hoje, de todas as pessoas que vimos e trombamos, conversamos e trocamos figurinhas, esse o mais importante, o mais alvissareiro e motivador de minha sentada no final do dias, esquecendo até de continuar batendo perna como turista, tudo para tentar nessas linhas descrever meu encantamento por tê-lo conhecido. Esse são os tais "vagabundos" ditos por gente sem a menor qualificação, os que gostam de lamber botas e só sabem valorizar algo vindo de gente impermeável, isso para não o fazer com qualificação mais insidiosa. Meu dia não seria o mesmo hoje em Buenos Aires se não tivesse conhecido esse seu José e dele pudesse ter escrito esse relato. Só acalmo algo no meu interior após colocar pra fora esse escrito, tirado lá do fundo de um sentimento muito saboroso que sinto pelas relações humanas e mais, por todos esses labutando e tanto nas entranhas, rebarbas de uma aldeia.
Em Tempo: Nunca havia visto nenhum outro garçom deixar a rolha do vinho suspensa junto da boca da garrafa, segura por uma amarração criada na hora de retirar o seu lacre. Tentei aprender mais uma, mas a lição não me foi suficiente na primeira vez. Necessito de muitas outras aulas para conseguir algo parecido.
"Recado para os babaquaras que vez por outra me chamam de "historiador de vagabundos" (como aconteceu agora, agressivamente, na outra rede. Bloqueei os incautos). Eu sou um historiador de vagabundos. Isso é evidente e é elogio, para descontentamento dos "homens de bem". Vou repetir: eu sou um historiador dos "vagabundos" subalternizados pelo processo histórico que, ainda assim, são sujeitos de suas histórias. Têm história, pô. São invisibilizados, mas têm história. Insisto nisso. Não escrevo história de poderoso. Não quero e não posso sair do Brasil. Não tenho grana, tenho mãe, pai e irmãos aqui, todos os meus estudos são direcionados para a cultura carioca e brasileira. Vou sair daqui pra estudar as encruzilhadas da minha cidade? Não dá. Eu preciso frequentar botequins e macumbas para estudar o que estudo, é óbvio. No meio do horror, tenho algumas expectativas: uma delas é contar as histórias da cidade na cidade. Na rua, na encrenca, no perrengue, mas ancorado em pesquisa e reflexão de ponta. Como o povo comum do Rio de Janeiro merece. Eu não sairei vivo do Rio de Janeiro. E muito menos morto, já que serei enterrado aqui. Me aturem ou dividam comigo as cervejas no balcão".
sábado, 27 de julho de 2019
RELATOS LATINOS/PORTENHOS (67)
DUAS CONVERSAS DE RUA NO CAMINITO E A NEGRA ANA CONTINUA PULSANDO NAS PAREDES DO BAIRRO LA BOCA
Eu vim aqui pra conversar com as pessoas e o fiz hoje aqui pelos lados buenaristas, nos intervalos das andanças (ser turista cansa). Dois diálogos são merecedores de registro.
Estivemos no Caminito e como todo ano me perco nas entranhas do que o bairro tem de melhor, seus redutos populares e não as ruas cheias de turistas. Descobri anos atrás um Mercado Popular, frequentado só por gente do lugar, quase nenhum forasteiro. Lá nos fundos um restaurante familiar ao estilo pé sujo, reunindo trabalhadores no seu entorno, televisão ligada num jogo de futebol (aqui tem futebol todo dia) e ao lado, no fundo da galeria uma pequena loja de antiguidades. Vou lá buscar CDs de tango e de música raiz argentina. O dono já me conhece, me vê chegando com um botton do Lula Livre e me apresenta um senhor por ali, ambos peronistas e no exato momento de minha chegada estavam desfiando o rosário de bestialidades de Macri para com seu povo. É claro, adentro a conversa, nos apresentamos e ficamos a falar da situação de Lula e da dupla querendo retomar o poder por lá, Alberto/Cristina. "Aqui, meu caro, ainda temos uma clara chance de retomar o poder, bem diferente do seu país. Nunca esperava ver o Brasil na situação atual, ainda mais depois de ter visto Lula governar o país e colocar o país numa situação invejável". Eles me indicam vários lugares no bairro para ir conhecer de perto o estrago macrista ao país e essa retomada sendo arquitetada com a vitória do peronismo no pleito de outubro. "Volte aqui mais vezes antes de partir, pois todo final de tarde reunimos gente e nas mesas do bar para discutir os próximos passos, o que cada um pode fazer e distribuir tarefas. Nós sabemos muito bem o quanto estamos sofrendo e só nós mesmos unidos poderemos devolver a dignidade do povo trabalhador argentino". As três mulheres comigo me puxam para andar pelo bairro e prometo voltar e detalhar algo desse porvir despontando justamente de onde deve vir, dos cantos onde pulsa os interesses dos trabalhadores. Voltarei antes de partir, até porque quero muito me recarregar antes de retornar para minhas atividades mafuentas no Brasil.
Ainda no Caminito, passo todo ano num pequena loja no centro do movimentado bairro, só para prestigiar uma comerciante revendendo as Alpargatas da Paez, a marca argentina dos melhores pisantes deste mundo. Faço uso delas desde que aqui aportei pela primeira vez, em 2008, quando vim assistir comício de Hugo Chávez nunca mais parei de ler o Página 12 e nem de usar os pisantes das Paez. Essa lojinha é uma graça e sua dona muito consciente. Todo ano, nos retornos que faço para repor as alpargatas (dinheiro juntado o ano todo), além de trazer algo que meus pés muito agradecem, o papo entre nós é dos mais edificantes. Chego com o botton do Lula Livre na lapela e ela já puxa conversa. Digo que o Judiciário de ambos os países são idênticos até no quesito buscar prender Lula e Cristina. Ela me corrige: "São sim ambos muitos perversos, os juízes Bonadio aqui e Moro no Brasil são muito parecidos em tudo, mas aqui, Macri parece, mesmo com todo o espalhafato judicial, não querer a prisão de Cristina, pois sabe que o nosso povo iria se revoltar e descarregar seus votos nela ou nos seus representantes. Eles não a prendem injustamente como fizeram com Lula, pois aqui nos manifestamos mais e isso de povo nas ruas é a única coisa que esses neoliberais morrem de medo. Só o povo mesmo para impedir o avanço desses a destruir nossos países". Eu concordei com ela e dei outro exemplo, o de meus retornos anuais por aqui, desde oito anos atrás e nesse período, primeiro ainda no Governo de Cristina e depois, ano após anos ir vendo como a Argentina se deteriorou. Não tem como esconder esse quadro e isso, reforço a ela, só mesmo o neoliberalismo é capaz, destruir toda e qualquer esperança do povo ter algo, com eles o quadro é de terra arrasada.
Ainda passamos noutro lugar no mesmo Caminito, como fazemos desde 2013, quando naquele ano o artista carioca Felipe Oak, designer por aqui para apresentar um trabalho acadêmico junto de Ana Bia e se propôs a fazer um grafite na cidade. Teria que ser nesse bairro e quando conhecemos um restaurante pé sujo, afastado da muvuca turística, seus donos concordaram e a pintura ocorreu. Para nossa surpresa ele ali desenhou uma linda negra, homenagem para Ana Bia. Todo ano voltamos para ver se a imagem ainda está por lá, pois há dois anos o restaurante fechou. Desbotada, ela resiste ao tempo e o lugar continua desocupado. Hoje, na esquina alguns jovens moradores do lugar estranham nossa presença. Explicamos dos motivos de ali estar e eles baixam a guarda, puxam conversa e ficamos a papear por instantes, eles gostando de saber o origem da pintura. Só faltou pedirmos para nos levar a uma incursão pelos caminhos por nós não conhecidos, entranhas da comunidade de La Boca. Vontade não faltou e como volto lá no meio da semana, talvez isso ocorra. Negra Ana resiste e permanece viva no Caminito/La Boca e assim, vou tentando juntar algumas das histórias aqui presenciadas e na medida do possível ir relatando, como o faço nesse momento.
Em tempo: Esse texto sai nenhuma foto ilustrativa, pois esqueci o cabo para baixar as mesmas da máquina fotográfica para meu computador. Assim que conseguir resolver o problema, elas sairão por aqui (Resolvido, comprei um cabo novo numa loja aqui defronte onde fico em Buenos Aires, rua Suipacha e já fiquei amigo do casal, eles também anti-macristas e torcendo por Alberto/Cristina) e no www.mafuadohpa.blogspot.com.
sexta-feira, 26 de julho de 2019
BAURU POR AÍ (166)
DIANTE DAS ATROCIDADES DO PAÍS, BEIRANDO ESTADO DE EXCEÇÃO, ME RESTA ESCREVINHAR DE PESSOAS, AS DE MINHA ALDEIA
1.) FÁBIO NEGRÃO É AROEIRA PURA NA DEFESA DOS SEUS IDEAIS Bate aquela pontada de dor mais que sentida quando sento aqui e tento escrevinhar algo para algum dileto amigo quando acamado. A vida é realmente muito curta e a gente vai tateando pela aí, tentando fazer dela o melhor possível, dando murros e murros em ponta de faca, driblando as tais adversidades que se colocam à nossa frente a todo instante. Uns conseguem se safar com mais habilidade e sorte, outros padecem mais e mesmo assim não esmorecem, continuam na lida, mesmo diante dos contratempos todos. A gente sabe muito bem quem sabe resistir mais que os outros, quem enfrenta os touros todos de peito aberto, os dragões da maldade com uma lança do tipo da usada pelo Cervantes e esses, mesmo que isso valha pouco nos tempos atuais, onde o individualismo é a flor do Lácio, a bola da vez, merecem um afago além da conta.
FÁBIO NEGRÃO FIGUEIRA PINTO é professor na UNESP Bauru, desses com décadas de baita experiência, intensa folha corrida no trato com alunos diversos e variados. Já viu de tudo dentro da estrutura unespiana, tendo graduação em Bacharelado em Comunicação Visual, curso ainda na antiga FEB – Fundação Educacional de Bauru em 1982 e mestrado em 1997. Atualmente é professor assistente, com capacidade reconhecida e sapiência idem para dar aula no escambau a quatro. Tem experiência na área de Comunicação, com ênfase em Teorias da Comunicação e Políticas e Sistemas de Informação. Áreas de atuação e pesquisa em Economia da Informação e Cultura Urbana; pensamento pós-moderno e produção cultural e midiática. Do lado de fora do campus, um pacato cidadão, morador das barrancas de Bauru, ali perto do antigo SESI, seu porto seguro para as incursões pelas quebradas desta terra, em busca de recarregar baterias e renovar expectativas. Com o passar dos anos a gente vai cansando dessa convivência dentro de estruturas arcaicas, corroídas e viciadas, todo ser normal cansa e busca refúgio em outras instâncias. Durante certo tempo, tudo segue seu caminho normal, procedimentos repetitivos, vida que segue, mas em outros, com os intransponíveis obstáculos colocados no caminho, alguns tropeços. Negrão teve mais um nessa semana quando adentrou um hospital, acometido por algo querendo minar suas forças, desta feita uma hemorragia cerebral de causa ainda não divulgada/identificada. Por enquanto, no estaleiro, resistindo para continuar a lida ao nosso lado, junto dos que resistem bravamente isso tudo sendo despejado diuturnamente em nossos costados. Estamos todos apreensivos, torcida unida e coesa, pois precisamos muito dele para as contendas todas que ainda virão pela frente e preparo igual ao seu, só com ele mesmo. Resistir é preciso e é isso que ele faz nesse momento, tentando dar a volta por cima e com uma legião de amigos e admiradores do lado de cá, unidos numa só torcida, por ele, com ele e para ele. Negrão é dos nossos, nossa cara e nosso jeito de tentar sobreviver neste insano mundo, esgrimando sempre munido com giz e canetas na mãos.
2.) DONA LAURA, COZINHEIRA DO BAR AEROPORTO SE FOI E NADA PREENCHE O VÁCUO DE TÃO PRECIOSA PESSOA
Eu prefiro escrever dos vivos, os muito vivos, os labutando para sobreviver nessa selva de pedra e de muita insensibilidade, mas vez ou outra tenho por obrigação de ofício sentar a bunda aqui na cadeira e me por a dolorosamente escrevinhar de alguém que partiu de forma inesperada ou por ser tão grandiosa pessoa, merecedora de algo de minha parte, um carinho a mais, uma lembrança como registro. Essa que hoje tento num curto relato descrever de sua grandiosidade, mora no coração de muitos, pois a convivência proporcionada pelas idas e vindas em bares, esses que escolhemos para bebericar algo, chorar as pitangas e matar a fome, reunir amigos, possibilita aproximações nunca vistas. Conto uma história de reverência, mas de muita tristeza pela partida de pessoa tão querida.
Dona Laura é LAURA VIEIRA FERREIRA, tinha exatos 63 anos e conhecida de muitos anos, por mim e todos os frequentadores do Bar Aeroporto, o original e encravado no meio da Zona Sul desta cidade. Ela se foi há trinta dias, dia 25/6, deixando um vácuo sem possibilidade de preenchimento, não só para os abnegados do lugar, como para o Ico, o proprietário do bar, que hoje entre lágrimas me disse: "Tirei coisas do cardápio, pois só ela sabia fazer e nem sei se um dia alguém conseguirá. Tem momentos que penso em parar com tudo, são perdas calando fundo na gente, essa me dói demais". Nascida em Arealva, negra, solteira, morando lá nos altos do Jardim Ipiranga, numa rua paralela à avenida Castelo Branco, com a mãe viva, 92 anos e alguns irmãos, era o tudo do bar do Ico. Foi merendeira na Prefeitura e trabalhou em lugares outros, mas no Ico teve o reconhecimento de tudo e todos. Mandava na cozinha e no cardápio, se algo era introduzido, tinha obrigatoriamente que ter sido aprovado por ela, do contrário, nem pensar. Ela, como muitos, não reclamam dos seus problemas, estão no mundo parece que para resolver os dos outros e só foi acusar algo quando não mais conseguiu segurar as pontas. Baixou no Pronto Socorro, tentou voltar e só arriou definitivamente numa cama quando não conseguiu mais dela levantar. A causa de tudo apregoam ser uma diverticulite, com generalizada infecção. A bar sem ela nunca mais será a mesma coisa, pois era peça chave, aquela que dava o xeque mate no quesito atendimento e mais ainda no fino trato para com o resultado final da comida na mesa do freguês. Como comer o tradicional bauru ou o carpacio do lugar sem saber ter sido preparado por ela? Era de pouca conversa, mas na insistência proseava e tinha sempre boas histórias para contar. Ilda, a da banca de jornais na entrada do aeroporto, também quase chorando resume o que foi a vida de dona Laura: "Essa mulher só trabalhou". Mas foi também muito amada.
OBS.: Na foto tirada no dia da Festa da Aviação, ela de lenço protetor na cabeça é a primeira do lado esquerdo, junto de todo o staff do Bar Aeroporto.
3.) JORGE RESISTE NO SINDICATO DOS FERROVIÁRIOS DA FEPASA Num esforço reiniciado hoje, publicarei durante toda a semana mais cinco perfis de personagens Lado B, tentando atingir a meta do milésimo texto ainda este ano. Essa espécie de recomeço foi embalada e incentivada após a realização da exposição com fotos de alguns dos já retratados, ainda em curso lá no Bar do Genaro e com diversificada presença de pessoas, o que me injetou ânimo novo, no sentido de não esmorecer, muito menos interromper algo já feito com muito maior empolgação. Hoje, confesso, com tudo o que tem acontecido ao país, enveredei por outros caminhos na escrita, sem nunca abandonar os feitos com essa gente que vou encontrando e reencontrando a cada saída pelas ruas. Escrever de pessoas, suas histórias é o que me move, mas diante de tanta coisa com mais urgência, esse país de pernas para o ar, acabo deixando de lado essas histórias e ao olhar com mais carinho para as tantas a embolar minha cachola, não resisto e cá estou novamente envolvido nas escrevinhações delas, talvez para não mais parar.
JORGE LUIZ MARTINELO é esse bonachão senhor que nunca chega aos 60 anos, mesmo já tendo passado dos 50 há alguns anos. Os anos passam lentamente para esse ferroviário aposentado e quando na ativa, controlador de tráfego e encarregado de escalas na antiga Fepasa. Assumiu tempos depois um posto de diretor dentro do Sindicato dos Ferroviários, o localizado na rua Antonio Alves, centro de Bauru, onde está até hoje. Resiste ao tempo e mesmo hoje, com um sindicato quase sem associados, continua exercendo suas funções, batendo cartão por ali todos os dias e no atendimento de uma das categorias profissionais com idade mais avançada dentre as sindicalizadas. Morador do Geisel, pais de um casal de filhos, marido da Zani, seu lazer já foi o futebol, jogado até quando pode e o joelho deixou, num campo society preservado por antigos ferroviários lá dentro da estrutura férrea de Triagem Paulista, ao lado do jardim Guadalajara. Continua adorando andar de moto, mas hoje trocou o motor ligado pelas pedaladas e circula de bicicleta pela cidade, o que o mantém em forma. Um sujeito de bem com a vida, desses aposentados que não conseguem permanecer em casa e traz a alegria por onde passe, sorriso franco e sempre cheio de muitas histórias, para contar e também ouvir, pois fala muito, mas também sabe parar e escutar, algo raro hoje em dia. Jorge vai tocando a vida, sem deixar ela alterar além da conta os rumos da sua, traçados para que não chegue nunca aos tais 60.
quinta-feira, 25 de julho de 2019
RETRATOS DE BAURU (229)
RAUL MAGAINE HÁ 23 ANOS NA ESTRADA POR RAUL SEIXAS
Conheci uma pessoa mais que incrível meses atrás na Feira do Rolo, mais precisamente cantando numa manhã dominical no palco do Bar do Barba. Foi empatia a primeira vista, pois além da simpatia, a percepção de estar diante de alguém, reunindo histórias para dar com pau, ou seja, vivência estradeira como poucos. Isso estava mais do que escrito na própria fisionomia dele e já no primeiro dia, tirei muitas fotos e o testei quando dizia para os que ouviam sua cantoria: "Peça qualquer uma do Raul que toco na hora". Escolhi Ouro de Tolo e ele lascou assim de bate pronto, de memória, como o fez com todas as outras, motivo de pedidos vindos de todos os lugares. desde então fiquei de escrevinhar algo dele, incluí-lo no rol destes personagens. Missão cumprida no dia de hoje.
RAUL MAGAINE é seu nome artístico e quando lhe perguntam seu nome ele o repete, daí nem sei se o de batismo é também Raul, mas como esse cantante estradeiro já incorporou Raul Seixas em tudo, desde a fisionomia, vestes e trejeitos, não vejo como não ser a própria reencarnação do roqueiro. Esse Raul nasceu em 1983 e segundo me conta, aos 6 anos teve contato com o original Raul, quando soube de sua morte e surgiu uma paixão nunca mais abandonada. Aos 12, foi embora de casa, sendo hippie, artesão e comedor de pó de estrada, lá pelos lados do Paraná. Deu prosseguimento pela devoção, hoje resumindo tudo numa curta frase: "Raul é para mim o início, o meio e o fim". Artesão, tatuador e músico, violinista dos bons, está pronto para reverenciar os 30 anos da morte do ídolo tocando dia 1/8, aniversário de Bauru no parque Vitória Régia num Tributo a Raul Seixas, subindo no palco por puro amor, sem cobrar cachê. Conta já ter concluído exatos 23 anos com Raul, mais que sósia, já tendo gravado CD e DVD só com músicas dele, se apresentado praticamente pelo estado todo e tendo o prazer de já ter tocado para os Pholhas e Kid Vinil. Um bom contador das muitas histórias vividas reverenciado seu mestre, levando a mensagem dele por onde ande. "Suas canções e sua filosofia de vida me fizeram evoluir e ser hoje o que sou. Já são seis anos de meu retorno à Bauru e continuarei enquanto viver sendo o próprio Raul". Para quem o conhece ou já o viu tocar e cantar, sem sombras de dúvidas, ele diz e pratica isso por onde ande. Toca Raul!!!
quarta-feira, 24 de julho de 2019
ALGO DA INTERNET (154)
REPERCUSSÃO: Carlos D'Incao: Não depende da opção sexual, mas da consciência de classe. Quando há uma inversão de relação (primeiro a opção e depois a classe) há um flagrante caso de alienação. E a alienação tende a flertar com as formas conservadoras do capital. Não são apenas os homossexuais que sofrem na sociedade capitalista. O que dizer dos operários, dos negros, das mulheres, etc... e milhões desses estão no campo da direita hoje. Essa é a minha opinião. Abraço!!
HPA: Carlos, isso mesmo, volto agora de um posto de combustível, onde o frentista me diz que o capitão é a cara dele e dos iguais a ele. Essa ideia ainda perdura entre muitos desses e isso não tem nada a ver com direita ou esquerda, mas com alienação, consciência de classe, ou melhor, com uma formação que não tiveram e hoje, recebendo informações somente pelas via da mídia massiva e algo pelas redes sociais, mas em lugares nada confiáveis, são influenciáveis e manipulados, mesmo sem o saber. Converso muito com todos eles, mas é como naquela história do cara ir colocando o oceano todo em conta gotas dentro de um buraco na areia, temos uma imensidão a ser conquistada, revertida e instruída. Trabalho de Hércules.
Carlos Fonseca: Interessante questão. É interessante também ver que a leitura que vocês de esquerda fazem da direita é de alienação. Eu acho que é uma questão de fé no sistema. O socialismo é mais hábil em abordar os problemas da sociedade, mas não em apresentar soluções. Leva-se em conta que nem toda direita é conservadora nos costumes. Mas eu arriscaria a dizer que a maioria dos homossexuais não são ativistas e não querem impor aos outros suas preferências sexuais. Por isso, para eles, se posicionar à esquerda os constrange a assumir uma posição de ataque que eles não estão interessados porque não acreditam que resolverá qualquer problema nesse sentido, só piorará.
HPA: Pode ser, mas não sacar que quem hoje está no poder está jogando contra seus interesses, isso não tem nada a ver com esquerda e direita, tem a ver com percepção do que de fato ocorre. Não dá para, por exemplo, um nordestino bajular Bolsonaro depois de tudo o que ele já disse deles e também o mesmo com os homossexuais e muitos outros segmentos.
OUTRA COISA, MAS NÃO MUITO DIFERENTE
O QUE É MOTIVO DE PREOCUPAÇÃO PARA ALGUNS, CONFORTO PARA MIM: ARARAQUARA NAS PARADAS DE SUCESSO
Agora sei porque meu filho não quer mais voltar pra Bauru e se sente muito bem em Araraquara... Acordo com a notícia pululando aqui na telinha:
Araraquara é, definitivamente, o centro do mundo: depois da conferência de Jean Paul Sartre, o Hacker Russo.
Meu filho, me esclareça, em qual Araraquara você está? Nessa da foto abaixo ou naquela dita como Morada do Sol? Preciso saber... Sem querer desmerecer Araraquara ou Bauru ou qualquer outro lugar, todos possuem muita gente sacando tudo desse negócio internético, porém, a piada, como sabemos é pela forma de querer tapar o sol com a peneira, achar logo um culpado pra coisa e tentar encostar o The Intercept na parede. Daí, a montagem acima tem lá sua validade, pois ironiza não com a cidade, mas com a solução encontrada pelo Moro & Cia. Eles imaginam que somos mesmo um bando de otários.
OUTRA COISA, MAS NÃO MUITO DIFERENTE
O QUE É MOTIVO DE PREOCUPAÇÃO PARA ALGUNS, CONFORTO PARA MIM: ARARAQUARA NAS PARADAS DE SUCESSO
Agora sei porque meu filho não quer mais voltar pra Bauru e se sente muito bem em Araraquara... Acordo com a notícia pululando aqui na telinha:
Araraquara é, definitivamente, o centro do mundo: depois da conferência de Jean Paul Sartre, o Hacker Russo.
Meu filho, me esclareça, em qual Araraquara você está? Nessa da foto abaixo ou naquela dita como Morada do Sol? Preciso saber... Sem querer desmerecer Araraquara ou Bauru ou qualquer outro lugar, todos possuem muita gente sacando tudo desse negócio internético, porém, a piada, como sabemos é pela forma de querer tapar o sol com a peneira, achar logo um culpado pra coisa e tentar encostar o The Intercept na parede. Daí, a montagem acima tem lá sua validade, pois ironiza não com a cidade, mas com a solução encontrada pelo Moro & Cia. Eles imaginam que somos mesmo um bando de otários.