domingo, 7 de julho de 2019

PRECONCEITO AO SAPO BARBUDO (143)


REVIVENDO REDUTO DOS "BARBICHAS"
Ana Maria De Carvalho Guedes, essa inolvidável professora de Letras, possui uma memória bem viva e sútil. Ontem ao chegar no Bar do Genaro (propriedade do militante Fabricio Genaro, na vila Falcão), local escolhido para degustação de uma suculenta feijoada por inusitado grupo de bauruenses e aproveitando o ensejo, fazer acontecer a gravação de uma entrevista com nada menos que o refugiado Jeferson Barbosa Silva, esse professor inspirador de uma pá de gente aqui em Bauru e alhures, vendo a turma ali reunida, sentou, ouviu, depois não se segurou, soltando a lembrança sacada lá do fundo do baú: "Isso aqui está me parecendo aquele reduto lá da Prefeitura que o Chico dal Médico denominou de Canto dos Barbichas. Ele o fez para não ter que chamar aquilo de Canto dos Comunistas". A mesa onde estávamos, eu, este intrépido mafuento, Geraldo Bergamo, Milton Dota, Pedro Romualdo e se juntando para a comilança, Gilberto Truijo e Wilson Tuim já tinha um nome, uma placa a ser fixada na parede e a marcar definitivamente o local: "Reduto dos Barbichas". Mesmo que todos por ali não possuam a indumentária na face, ela serve para todos os presentes e outro tanto ausentes, um deles Antonio Pedroso Junior, que ficou de vir, mas acabou ficando pelo caminho (os desvãos de Sorocaba até Bauru são incontornáveis, ele ficou enroscado num deles).

A juntada de barbichas tinha motivo, o mestre Jeferson estaria novamente entre nós, vindo da distante Natal RN, onde sentou praça, lugar muito mais arejado que a Bauru atual e de lá, continua sobrevivendo garbosamente, porém, vez ou outra baixa pro reduto criado e mantido no interior paulista. Sabendo disto, marcam uma feijoada no Genaro e Pedroso me instiga para fazer uma gravação ao vivo e a cores, enfim, justificativa mais que aceitável, todos já estamos dobrando o Cabo da Boa Esperança e assim sendo, os ainda possíveis encontros devem ser registrados para a eternidade. De posse de alguns trocados no bolso e minha inseparável maquininha eletrônica me bandeio para o local. Chego pouco antes das 13h e o convescote já estava armado, conspiração contra a ordem estabelecida em plena organização. Prontamente me junto aos conspiradores e começamos a armar o que ainda pode ser feito para desbancar os malversadores hoje no comando da coisa.

Primeiro comemos, pois pela idade vislumbrada entre os presentes, não será mais possível nenhuma revolução sem sustância acumulativa via oral. Genaro e as suas (ele possui um séquito instalado em sua cozinha, constituído de mãe e irmã, pois ele mesmo de cozinha é um zero a esquerda) servem os bardos e a conversa começa a fluir. Além das lembranças do passado, o assunto do momento, como não poderia deixar de ser foi o tal do valor de R$ 33 milhões, valor cobrado por uns que se viram prejudicados pela utilização de áreas ditas de suas propriedades como de preservação ambiental. Jeferson dá um verdadeira aula de como a decisão é das mais esdruxulas, feita por quem desconhece de fato, não só a legislação existente como as leis do original capitalismo. "Não existe capitalismo sem risco, esses perderam e precisam entender isso, querer cobrar pelo risco do negócio, algo insano", nos ensina.

Acho de bom alvitre antes de continuar a conversa, todos tomarem ciência da gravação ocorrida a seguir, de aproximadamente 30 minutos, verdadeira aula. Primeiro descrevo o formato. Tudo de copia, nada se cria, pois o que ali ocorreu foi nada menos que uma homenagem ao velho e saudoso Pasquim, com data sendo comemorada por esses dias. Suas entrevistas ocorriam desta forma e jeito, em torno de uma mesa, de preferência em bares, com copos cheios, onde o entrevistador se via acuado por todos os lados, meios e maneiras, dependendo da situação, suavemente ou mais impiedosamente. Cada um interrompendo o outro e lançando perguntas para o alvo do dia. O escolhido desta feita foi o mestre Jeferson e daí ligamos o gravador, nesta possibilidade que o celular nos propicia e fazemos tudo ao vivo, sem cortes, sem interrupções, com gafes e tudo o mais. Sintam como se deu a barafunda: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/2768107483219243/.

Geraldo Bergamo, outro professor desses como não se fazem mais nos dias atuais, não parava de repetir: "Quero meu país de volta". Todos ali com o mesmo sentimento, estávamos lavando a alma em público e expondo para quem ainda se predisponha a escutar e valorizar, como sempre foi feito por todos, sem medo de ser feliz, com liberdade e botando o bloco na rua, com a cara e a coragem. "Hoje existe uma blindagem feita em cima da palavra esquerda e da comunista. Poucos ousam se dizer delas em público. Eu sou e sempre continuarei sendo comunista. Que mal existe nisso?", alardeia Jeferson. Diante da destruição em curso hoje no país, com reflexos mais do que evidentes na vida de todos os presentes e ausentes, sentar e colocar as cartas na mesa, algo mais do que necessário. A intenção dos "barbichas ali reunidos é clarear algumas questões, mostrando outras vertentes e possibilidades, muito distantes das vigentes hoje. Vir a público e expor esse lado, ser contrário a destruição do patrimônio público brasileiro é antes de tudo, uma atitude de coragem.

Todos puderam se manifestar, a conversa foi mais que proveitosa e mais do que o registrado na gravação, ela fluiu de uma forma difícil de ser contada, pois a cada instante surgia novo rumo para as conversas. "O debate em Bauru hoje gira e torno dos 33 milhões que hoje tentam roubar do erário público, quando deveriam ser outras", foi a partir disto e de muito mais que a conversa perdurou até quando as pernas, vozes e ímpeto foi se arrefecendo, provocadas pela malemolência do efeito da boa comida e da bebida. Exauridos, porém não de todos abatidos, só um pouco cansados, a mesa foi se dispersando lá pelas 16h, cada um seguindo seu caminho. Missão cumprida, pois com a divulgação da conversa, algo mais foi lançado ao ar para quem dela saciou e bebeu das conversas junto dos presentes. Não satisfeitos, algo mais foi devidamente marcado para os próximos dias, ou seja, a arcaica estrutura ("ou a gente derrota ou a Globo ou nada vai mudar", foi dito e repetido por todos) deve ir se preparando, pois os "barbichas" continuam na ativa, meia boca, mas jogando o jogo.

Ele encerra tudo profetizando algo muito simples: "A saída é a luta. A essência da organização em favor da luta é instalar a verdade. Como que faço para começar a encaminha a luta? Colocando a verdade na mesa e debater a verdade".

2 comentários:

  1. COMENTÁRIOS VIA FACEBOOK:
    Antonio Luiz Ferreira Ramos bom dia grande amigo HENRIQUE qualquer hora eu vou ai conhecer o BAR do meu grande amigo FABRICIO GENARO

    Gilberto Truijo Bate papo que se tornará inesquecível.

    Reginaldo Tech Aplausos a essa gente aguerrida.

    Regina Celia Furlanetto Que delícia de escrita Henrique. E o depoimento do Jefferson então? Dia memorável.

    Daniel Dalla Valle Nós comunistas temos que nos manter unidos, força contrária a isso virá de todos os lados. Não deixe de nos convocar, professor!

    Rui Zilnet 👊🏾👏🏽👏🏽👏🏽

    Fabio Mirto A velha e boa guarda do bauru que todos desejamos

    Henrique Perazzi de Aquino Jeferson me corrige, a denominação correta dada por Chico dal Médico não é REDUTO DOS BARBICHAS e sim, DOS BARBUDINHOS. Era como ele denominava o lugar específico onde os "comunistas" se encontravam no prédio da Prefeitura.

    Pedro Romualdo Eu fiz parte de reduto dos barbudinhos.

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  2. COMENTÁRIOS FACEBOOK SOBRE ENTREVISTA COM JEFERSON:
    Gilberto Maringoni · 1:39 Sensacional entrevista com um dos grandes intelectuais que marcaram minha formação. É sempre estimulante ouvir o camarada Jefé. Saudades. Enorme abraço a todos. Parabéns, Henrique

    Ailton Pereira Aguiar · 22:37 Belas palavras o sindicatos estão a trabalho do próprios umbigos e não para organizar são poucos hoje que querem a luta real

    Fatima Aparecida Napolitano · 1:17 dois queridos professores...bom ver vocês... Jeferson e Geraldo...sem falar que são poetas maravilhosos❤️

    Paulo Saca Cunha · 0:57 Muito bom!

    Paulo José Oliveira Silva · 0:36 entrevista sobre assuntos relevantes e que deve ser assistida atentamente.

    João Carlos Dias Moreira · 7:08 Só feras! Muito bom.

    Marcos Fernando Pereira · 0:40 Onde é o bar do genaro

    José Xaides Alves · 0:00 Abraço a todos,,, em especial ao Geraldo Bergamo e Jefferson.

    André Luiz · 27:28 A verdade prevalece sempre

    André Luiz · 26:13 Grande Henrique

    Maria Emilia Lomba · 17:53 Muito boa a conversa!

    Joao Correia Filho · 1:03 Jefferson ta em Bauru?

    Marco Antônio Souza · 7:13 A menção à CLT com a devida vênia está equivocada. Confirmem com o Truijo.

    Pedro Romualdo · 0:03 Marco Antônio Souza Ele estava se referindo ao capitalismo sem riscos. Compraram e não participaram da discussão na época, do Plano Diretor Participativo, onde poderiam opinar sobre a questão. Investimento capitalista também dá com os burros n'água pois tem que cumprir a lei.

    Reginaldo Tech · 6:01 Dota, Jefé, Pedrinho, Bérgamo... abs

    Marco Antônio Souza · 4:51 Nem todo investidor é empregador.

    Reginaldo Tech · 3:19 Que saudade desses camaradas!!!

    Matheus Brito · 22:46 Que aula!

    Ailton Pereira Aguiar · 25:02 Parabéns Henrique Perazzi de Aquino só a luta vai transformar

    André Luiz · 24:37 Eita...a esquerda unida

    Ailton Pereira Aguiar · 18:03 Grande Geraldo Bergamo

    André Luiz · 27:50 Lula livre!!

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