terça-feira, 15 de outubro de 2019

BEIRA DE ESTRADA (114)


JAÚ - DIA E NOITE MUITO TRISTE*
Hoje não consigo escrever nada além disto. Algo pessoal, em forma de desabafo.


PRIMEIRO A NOTÍCIA NA NOITE DE SEGUNDA, 14/10
O LUIZ GALASSI (CAXI)...

Ele esteve aqui em casa com uma turma e ria muito, me contou os muitos planos da nova empresa de camisetas, dele e da Julia Comim, foram alunos da esposa Ana Bia Andrade. Tinha muitos planos e até se mostrou interessado em produzir a estampa da camiseta do bloco Bauru Sem Tomate é MiXto numa das próximas edições. Alto, espevitado, alegre, divertido, bem articulado e muito novo, passou dos vinte agora mesmo, mas hoje nos deixa. Fico sem palavras quando alguém muito novo parte dessa forma e penso logo no meu filho, quase com a mesma idade e das dores desta vida. Ninguém merece partir tão cedo, ainda mais porque essa vida, mesmo com todos os dissabores é a única que se tem notícia até hoje. Não privava de sua amizade, nem tinha idade para tanto, pois ele estava em outra, vivências diferentes, mas a simpatia havia batido de cara. Essa foto eu tirei dele aqui em casa, festando junto dos amigos, num encontro que nem me lembro direito para festar que motivo. Fico com essa lembrança dele, alguém que estava em vias de realizar grandes projetos, mas teve todos interrompidos. A gente do lado de cá sofre junto de todos sentindo sua falta.


NO VELÓRIO EM JAÚ, A VIDA ME RESERVA UM REENCONTRO DESSES PARA CALAR FUNDO
A morte por si só de um jovem de 24 anos, sem motivo aparente, dentro de um hospital por várias semanas, entubado, se esvaindo pouco a pouco já é por si só algo perturbador, triste demais. Eu e Ana, presenciamos em Jaú uma cidade consternada. O Centro Velatório do Serviço de Luto Paulista, nos mesmos moldes do Terra Branca de Bauru só recebia o velório do jovem jauense e esteve lotado o tempo todo. Quase uma centena de jovens unespianos também lá estiveram, colegas e amigos do curso de Design da Unesp Bauru, num lamento doído de presenciar. Muito triste. O Luiz Galassi (Caxi) era um jovem na flor da idade. Luz por todos os poros. Teve mais uma história para lacrar o dia. Essa comigo. Trabalhei em Jaú tempos atrás no Bradesco, coisa de 30 anos atrás e até hoje mantenho boas amizades por lá, dessas que ao cruzar nas ruas, permanecemos horas relembrando o passado. Dessa feita foi demais para mim. No velório olho para o paí do Luiz e creio já o ter visto, conhecer de algum lugar. Essa impressão só se dissipa quando nos encontramos pessoalmente, já no cemitério e lhe digo ter trabalhado com ele no Bradesco. São mais de 30 anos sem nos vermos, mas uma amizade intensa no período que lá atuei. Neto Bernardi sempre foi um sujeito alegre, conversador, gozador, brincalhão, envolvente. Fomos certa feita juntos para Santos numa turma, boas lembranças. Seu filho veio em casa algumas vezes, nem sabia ser ele de Jaú, nem podia imaginar essa trombada com algo do meu passado. Olhei para o Neto e lhe disse ele ser a cara do filhão, mas nem imaginava associar um com o outro. Foi um caloroso abraço, fiquei com seu fone e a promessa de nos revermos mais, aqui e lá, nada mais. Depois, na despedida, ele me traz a esposa, falamos todos mais alguns minutos, algo cheio de muita dor e saudade. A vida é constituída de coisas deste tipo, voltas e reviravoltas. A cabeça fervilha e na estrada, caminho de volta, volto quieto, calado, tentando juntar uma coisa com a outra, lembrar algo perdido com o tempo nos cafundós da memória. Foi um dia recheado de muita tristeza. Ana e seus alunos todos, ela e outra professora, Monica Moura ali presentes, ao lado deles todos. A mim que, conhecia Luiz dos encontros universitários, me foi reservado uma inaudita surpresa. Fico prostrado o restante do dia, abobalhado e sem conseguir escrever nada. Só o consigo agora, no amanhecer de um novo dia.

E NA HORA DE COMER ALGO, ME DEPARO COM ISSO
Patrão bonzinho é outra coisa... Em Jaú, hora do almoço, lanche num supermercado na avenida Frederico Ozanan e o lado bonzinho do patrão permitindo seus funcionários fazerem uso da lanchonete para almoçarem sentados, por longos quinze minutos. É a modernidade tomando conta de tudo.

OUTRA MORTE
LEIAM ANTES DE DORMIR E PERCAM O SONO...

Patrício Bisso partiu hoje. Quem não se lembra de Olga del Volga perdeu coisas divinais nessa terrinha, antes muito mais alegre que hoje. Tinha três anos há mais que este HPA, ou seja, não tão velho assim, porém com muito mais histórias que esse encrenqueiro mafuento. Bisso fez de tudo na vida e nessa entrevista ano passado para o melhor jornal diário do nosso mundo, o argentino Página 12 conta algo sobre a passagem pelo Brasil, a volta à Argentina, confessa alguns segredos e se mostra sempre ousado, como deveriam ser todas as pessoas nessa vida, pois a carolice é um mal incurável, endoidecedora. O reverencio, pois seu LP, "Louca pelo Saxofone" (1987) estará sempre entre os mais ouvidos no Mafuá. Sua capa merece um poster, ser enquadrada e colocada na parede. Quando li essa entrevista ano passado, disse pra mim mesmo: "Numa próxima ida para Buenos Aires vou tentar entrevistá-lo, bater papo, puxar conversa, desfiar um rosário de assuntos". Fui este ano e nem tentei, hoje me arrependo, talvez nem conseguisse, mas só de falar com a celebridade, me daria por satisfeito. Eis o link da entrevista: https://www.pagina12.com.ar/108827-todas-las-vidas-de-patri…

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