quarta-feira, 16 de outubro de 2019

DROPS - HISTÓRIAS REALMENTE ACONTECIDAS (172)


MENINO JUAN, CINCO ANOS E JÁ CIENTE DAS AGRURAS DESSA VIDA
Sou muito emotivo e me empolgo quando diante de algo que quero ver resolvido e não consigo. As injustiças e dificuldades estão pela aí e por todo canto. São tantas e acabo observando com mais afinco as no meu entorno, fazendo delas exemplos para tudo o mais, as imensas e quase intransponíveis mundo afora. O mais fraco no mundo onde o que vale não é o indivíduo, mas as suas posses, pertences e saldo bancário, tudo ditado pelas leis de mercado, vou juntando histórias, relatos bem doídos, sentidos e tentando ao meu modo e jeito ir encaminhando alguns, sempre em busca de, ao resolver algo aqui, estar dando uma valioso contribuição para o todo. Essa história aqui relatada me toca fundo, pois muito próxima de mim, me desdobro, não só em passá-la adiante, como sensibilizar mais e mais pessoas, para algo além da solidariedade, uma ação social coletiva, proposta governamental de um país, que bem sei hoje não é o desses atuais desGovernantes.

JUAN GUILHERME FERREIRA DE SOUZA MORAES tem esse nome comprido e o soletra inteiro, mesmo com cinco anos de idade. Quando o faz, deixa bem claro: "Meu nome é com J e não com R". Ele já sabe ler e recém chegado em Bauru de Bariri, isso se deve aos ensinamentos da rede básica municipal daquela cidade. Família muito humilde, mora com a mãe e uma tia, essa a única trabalhando na casa e com salário de R$ 1.200 reais mês. A mãe bem que quer trabalhar, mas não consegue conciliar a escola do filho com os horários. Conseguiu vaga em escola municipal, horário parcial e para conseguir vaga no integral precisa comprovar trabalho e para comprovar trabalho não tem como levá-lo e buscá-lo trabalhando. A vaga, já descobriu não virá sem trabalho. A solução encontrada pelas duas irmãs foi a de levá-lo para a cidade de onde vieram, interior de Minas e ele ali permanecer aos cuidados de outra irmã, até pelo menos tudo se normalizar por aqui. Com o trabalho de uma as dificuldades se acumulam e a esperança é quando ambas tiverem emprego. Juan mora ao lado do Mafuá, não pode me ver e já puxa conversa. Lê tudo o que lhe cai nas mãos, entende tudo de futebol, joga bola batendo a mesma na parede de seu quintal e está agora contando nos dedos quanto falta para ir pra Minas. Dói a cada dia ele vir e me dizer: "Hoje um dia a menos para ficar aqui em Bauru".
Na última festa aqui no Mafuá ele impressionou a muitos, pois leu tudo, praticamente alfabetizado e tendo ao lado, muitas outras crianças com até dois anos a mais e lendo quase nada. Juan, "com J, viu!", é a simpatia em pessoa, sonhador, falante, joga bola com chinelinho de dedo, diz que sua mãe já explicou tudo, que não vão ter outra saída, terá que ir pra Minas, ficar longe dela por uns tempos, mas vai voltar, assim que a mãe estiver trabalhando e puder conciliar os horários com a escola. Na daqui, já lhe disseram que nesse período até pode não comparecer todos os dias na escola, pois está num estágio mais adiantado que os demais, mas não pode deixar de ir. Ele já não sabe se continua indo na daqui ou espera chegar em Minas. A mãe já arrumou o dinheiro para ir levá-lo, mas está também em vias de gastar, pois contas e outros gastos batem à sua porta a todo instante, porém, não conseguiu ainda nada para o seu retorno, daí nem sabe o dia certo de fazê-lo. Já recusou dois empregos, por não ter onde deixá-lo, pois a irmã trabalha o dia todo e ela nem pensa em deixá-lo sozinho. Os dias passam rapidamente e a cada retorno, lá está Juan batendo bola em seu quintal e ao me ver vem correndo, pergunta se não quero brincar e me diz da viagem, dos jogos de hoje no Brasileirão de futebol, de uma única amiguinha já feita numa casa ali perto e fica assim cheio de dúvida sobre o querer ir e o não poder ficar. "Eu sei que não tenho escolha", me diz e isso me dilacera por dentro.

OBS.: Pronto, a história está contada, feita numa só golfada, sem correções e muito pensar. Despejei no papel como os náufragos fazem quando diante de uma garrafa e jogam uma mensagem ao mar em buscar de encontrar um porto seguro. Existem milhares, diria mesmo, milhões de Juans espalhados por aí, alguns com histórias até mais doloridas que a dele, porém, mesmo ciente de tantos, esse aqui está bem aqui do meu lado, converso com ele todo dia e essas coisas me remoem por dentro e fora. Tinha que escrever, mesmo muitos me criticando. A intenção não é expô-lo, mas falar das injustiças deste mundo, das desigualdades e por que não, alguma solução para ele e tantos outros. A vereador Marcos Souza acaba de dizer que a Prefeitura está em vias de abrir uma creche no centro da cidade para crianças como ele. Não consegui me conter, as desigualdades deste mundo são imensas, incomensuráveis e aqui um só pedacinho de tudo o mais acontecendo neste mundo.

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