O CAPO ITALIANO FRANCO MAZZOTTI NO BAR DO GENARO - BATE PAPO NA CALÇADA Franco é italiano e esteve passando o Natal em Bauru. Dono de uma pequena propriedade da região da Emiglia Romagna (nordeste da Itália), se auto intitula fazendeiro, termo diferente do empregado no país. As diferenças são enormes, o que aqui seria uma chácara, lá fazenda e lá o proprietário não só mora no lugar, como trabalha na propriedade, aqui nem pensar, pois o fazendeiro dá as ordens e não pega no pesado. Franco não é comunista, nem socialista, mas atua numa das regiões onde ocorre a maior influência da esquerda na vida italiana e dessa forma, vivenciando como tem sido esse potencial revertido na política do dia-a-dia tem muito a dizer. E diz, na noite do dia 26, reunimos convidados para estar ao seu lado num bate papo realizado na calçada no Bar do Genaro na vila Falcão. Num clima de congraçamento, Franco preferiu não proferir uma palestra, mas proporcionar um bate papo, uma conversa de perguntas e respostas.
Falou de tudo. Tive o prazer de comandar o microfone e o questionei por hora e meia, mediando também a participação dos presentes. O clima no bar, sempre propício para esse tipo de evento, acaba atraindo para seu interior pessoas propensas a debater, conversar, pensamento livre e solto, sem nenhum tipo de conservadorismo. Franco esteve presente firmando esse lado, esse posicionamento do próprio bar já dentro do contexto bauruense, o de reunir pessoas não só para beber, mas juntar isso com a boa conversa. O começo da conversa foi para explicar o termo capô, que para nós pode ter uma conotação de máfia, mas para eles é somente de liderança, no caso dele, liderança comunitária rural. Muito interessante o sistema em forma de cooperativa da região de Bologna, onde a maioria dos "fazendeiros" estão vinculados e se beneficiam de fato, bem diferente de algumas cooperativas brasileiras só de fachada.
E o papo rolou sobre tudo, desde futebol, saúde, imigrantes, crise, esquerda e direita, Berlusconi e Salvini, sindicalismo, classe trabalhadora, religião, televisão, movimentos sociais, cinema, música e o momento atual com essa onda de conservadorismo querendo ocupar espaços. Na sequência, a reprodução da gravação, mesmo com todas as imperfeições, mas audível.
Eis o link do vídeo feito por Ana Bia Andrade: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/pcb.3139426219420699/3139432389420082/?type=3&theater
Mazzotti e Fabrício Genaro, o capo e o dono do bar. |
Cláudio Lago, presidente do Diretório Municipal do PT perguntando... |
O PAPEL DO HISTORIADOR
HOBSBAWM E O ESQUECIMENTO DA HISTÓRIA, LEMBRADO POR GILBERTO MARINGONI Desde que li pela primeira vez, há mais de vinte anos, "A era dos extremos", este trecho de Eric Hobsbawm não me sai da cabeça. Ele é especialmente dramático se observado no Brasil de nossos dias:
"A destruição do passado — ou melhor, dos mecanismos sociais que vinculam nossa experiência pessoal à das gerações passadas — é um dos fenômenos mais característicos e lúgubres do final do século xx. Quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que vivem. Por isso os historiadores, cujo ofício é lembrar o que outros esquecem, tomam-se mais importantes que nunca no fim do segundo milênio. Por esse mesmo motivo, porém, eles têm de ser mais que simples cronistas, memorialistas e compiladores". (Hobsbawm, 1996, p. 13)
E TUDO PODE VOLTAR A ACONTECER SE NADA FOR FEITO AGORA, LEMBRADO PELO BRIZOLISTA CARIOCA , MEU AMIGO EDUARDO HOMEM DA COSTA
Em 17 de agosto de 1971 a estilista Zuzu Angel escreveu uma carta para dona Terezinha, esposa de general, que a propósito do desaparecimento do filho de Zuzu, Stuart, lhe escreveu dizendo que "todo mundo morre".
Coloco aqui a carta na integra, um documento:
"Terezinha, Agradeço a sua bem intencionada carta, mas gostaria que vc compreendesse que a sua expressão: "todos vão para lá, não interessa o que tenham feito ou como tenham vivido", me magoou e feriu profundamente.
Quero que vc saiba que nem ao menos tenho certeza se meu filho esta morto, pois não me entregaram o corpo. Do dia 12 a 18 de maio ele foi torturado, espancado e por fim arrastado por um Jeep da Gloriosa Aeronáutica Brasileira no Galeão, porque se recusou a assinar confissão do que lhe era atribuido, e que logicamente ele nunca fizera.
Um dos seus professores esteve aqui e disse: "Stuart era tão humilde, delicado, bom e calado que ninguém poderia imaginar quanta cultura e sabedoria ele podia carregar dentro de si." Ainda disse ele: "Estou vendo o Stuart até pedindo desculpas aos seus algozes por lhes dar esse trabalho de espanca-lo, tortura-lo e arrasta-lo num jeep para arrancar confissões hipotéticas."
Terezinha, enquanto houver pessoas como você e outras que acreditam que a nossa melhor juventude, que esta sendo torturada e morta nos cárceres brasileiros realmente comete crimes, tudo continuara a ruir ao nosso redor, conforme expressão sua.
Meu filho passou toda a sua existência estudando, estudando, estudando, só linguas falava 8, que eu tenha conhecimento, talvez umas mais pois ele não gostava de mostrar os seus conhecimentos nem para as pessoas da casa. Enquanto o Brasil silencia sobre o martírio deste jovem, este fato é noticiado em 8.000 jornais no mundo inteiro. O futuro mostrará o Tiradentes da época dos computadores. Zuzu Angel."
Na foto Stuart Angel Jones, um dos muitos brasileiros mortos pela Ditadura Militar.
Foto: Reinaldo Elias, colorizando o passado.
gostaria que vc tecesse algumas linhas sobre a cafona nova definição da rodovia bauru-ipaussu: "rodovia do luxo". definição essa criada por algum marqueteiro imobiliário, em insólito momento criativo, pra justificar os cada vez mais presentes condomínios às margens da rodovia. já pensou em morar na rodovia do luxo?
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