sexta-feira, 6 de dezembro de 2019
MÚSICA (180)
GARAGEM, A PERSISTÊNCIA DO ÚNICO SEBO DE JAÚ* * Escrevo mais e mais, de forma desenfreada e destrambelhada, muito mais para distrair a mente em tempos tão obtusos, diria, nefastos. Essa prática não me permite enlouquecer de vez.
Sander, de Alexander, 45 anos é esse simpático cidadão de cabeça raspada a gilete, persistente comerciante de algo único em sua cidade, Jaú, interior paulista, proprietário de sebo de livros e discos. A cidade já teve boas e saudosas livrarias, algumas de rua, sendo essa a última dos moicanos. A Banca Garagem atua também como banca de jornais, mas só com os jornalões paulistas, pois não existem mais jornais diários funcionando na cidade, sendo o último desses, o Comércio de Jahu, fechado há aproximadamente um ano atrás. Bancas ainda existem outras, todas resistentes, sendo a mais tradicional, a Valini, outrora distribuidora, outra fechando suas portas recentemente, num mercado cada vez mais em plena decadência.
O livreiro, 25 anos de loja no mesmo local, rua Tenente Navarro 23, perto do Hospital Amaral Carvalho, tem orgulho em dizer, de boca cheia e com muito orgulho: "Eu nunca fiz outra coisa na vida. Na verdade, comecei muito cedo. Já aos oito anos, coloquei um cartaz defronte o portão de casa, informando trocar e vender gibis. Denominei o lugar de Gibiteca Edgar Allan Põe, daí em diante não parei mais, desembocando em mim aqui, pleno século XXI e me imaginando no mesmo lugar enquanto conseguir". O próprio nome, Garagem, denominava lugar pequeno, modesto, porém já foi ampliado e cada dia chegam mais itens, para alegria do comerciante.
"Tem muitos que só entram aqui para recarregar créditos no celular, mas diante de tanta opção, muitos são arrebatados e se interessam por um algo a mais. Tive sorte desde o início, já na escolha do ponto, muito próximo ao famoso e movimentado hospital, com muita gente de fora, isso diariamente, esses todos gravitando aqui representa um movimento maior do que os próprios jauense", diz. Assim como todos sebos, muito do seu movimento vem hoje do propiciado pelo Mercado Livre, sustentador do básico, porém sem nunca ter perdido o encanto em abrir e fechar diariamente as portas, pois a cada dia as histórias se renovam.
Quando perguntado sobre o que mais vende, se livros, discos (LPs e CDs) ou filmes, prefere dizer, "todos, ou melhor um pouco de cada. Tenho mais livros, mas tem gente procurando de tudo. O bom mesmo é eu ter conseguido chegar até aqui, sempre querendo mais. Coleções e dicas de onde conseguir algo novo, diferenciado aparece a todo instante. Eu filtro e trago o que sei tem saída. Com o passar do tempo a gente fica bom nisso". Ao me ver de Bauru, diz ter ficado muito triste quando soube do falecimento de João Baú, 94 anos e criador de vários sebos na cidade. "Eu já fui muito de ônibus vc pra Bauru, só para ir buscar livros com ele. Aprendi muito com a convivência, me deu muitas dicas valiosas para tocar meu negócio".
As histórias são muitas e uma delas eu mesmo a vivenciei quando separei alguns CDs de MPB para minha coleção particular. Foi quando me contou: "Está vendo esse Nando assinado em alguns, sabe quem é? Nando Reis, o cantor e compositor. Ele tem fazenda da família aqui na região. Uma parente dele trouxe essas sobras de acervo que ele guarda na fazenda. Fiquei com boa parte, muitas com dedicatória de artistas deixando seus trabalhos para ele". Me interessei ainda mais, fucei, escarafunchei, vasculhei e acabei arrematando seis exemplares de gente produzindo, não só boa música, como representantes de valorosa geração. Ganhei o dia de duas maneiras. Uma revendo e conhecendo pouco mais das histórias do Sander e, também pelos CDs, já preenchendo e ocupando espaço sonoro aqui pelos lados do Mafuá.
OBS: Para contatos, pedidos, bate papos, indicações e conversações de toda natureza, eis os fones do Sander: (14) 3621.8636 e (14) 99172.8650.
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