sábado, 4 de janeiro de 2020

DROPS - HISTÓRIAS REALMENTE ACONTECIDAS (175)


DESCOBRI A PRÓPRIA TORRE DE BABEL NA BALBÚRDIA NOVAIORQUINA

Fiz a talvez esdruxula, mas até entendível comparação entre o que se diz ter ocorrido na tal Torre de Babel e o que presenciei no saguão do hotel onde permaneci alguns dias em Nova York, o Hotel Pennsylvania, na Sétima Avenida 401, bem no coração de Manhattan, defronte o famoso palco do Madison Square Garden e ao lado de uma das mais famosas estações férreas do centro da ilha, a Peen Station. Começo pelo entorno do hotel, algo fervendo nas 24h do dia, intensa movimentação, principalmente de turistas, num vai e vem incessante. Permanecer alguns momentos na portaria desse hotel é presenciar o mundo todo ali circulando, vozes e falas planetárias juntadas pelos mais diversos motivos na cosmopolita cidade.

Um imenso hotel, feito para abrigar gente aos borbotões e o que vi na passagem do ano foi ele lotado, transbordando de gente do mundo todo, turistas ou gente de passagem rápida, num entra e sai delirante. Na entrada dos elevadores, uns dez num dos cantos do hall central, se faz necessário um funcionário de postar na passagem para eles e ir pedindo para todos levantarem o cartão chave do quarto e irem passando rapidamente. O saguão é o próprio cadinho planetário, pois as nacionalidades são as mais diversas, cada um com seu grupo e mescla de seus redutos exposta nos trajes, depois nos trejeitos e na fala propriamente dita. O local tem tráfego intenso o dia todo, podendo ser ali descrito se permanecesse por horas só na observação.

Japoneses por todos os lados, muitos jovens, sempre em bandos, coloridos (como gostam do amarelo), falantes, sem em alto e bom som dominam o lugar. Paquistaneses, orientais, árabes e africanos, muitas nacionalidades misturadas e se trombando nas escadas, portões, elevadores e filas, muitas filas para tudo. Tem latino pra todos os gostos, desde haitianos, paraguaios, mexicanos, guatemaltecos e brasileiros. Fui abordado por uma brasileira que ao me ver com o botton do Lula Livre, se atracou comigo, se dizendo de Curitiba e me apresentou para todos os seus. Muitas discussões, barracos feitas em público, algo onde não se entende o que se está a dizer, mas no tom da voz e na tez das faces, a evidência do clima estar tenso. Um cheiro de maconha no ar, pairando sobre tudo, principalmente do lado de fora, quando tudo o que está lá dentro se encontra com o que está à espera deles do lado de fora, o lado norte-americano.


Observei tudo com o devido carinho, atenção redobrada, radar plugado em cada sintonia para tentar capta isso que me interessa, o algo mais dessa intensa movimentação, essa busca por esse grande centro, o que cada um vem aqui buscar, o esforço para aqui estar e constatar in loco o que vem a ser essa cidade, esse local. Mesmo com toda eferverscência, o hotel flui normalmente, clima de paz, rotina não alterada por nada. Quem vive num clima de intensa movimentação cria meios e maneiras de ir tocando o barco a contento, sabe como lidar com todas as situações e mesmo as mais conflitantes são tratadas dentro da mais absoluta normalidade. Tudo já foi visto, presenciado, nada é mais novidade para quem ali trabalha, portanto, só mais um dia de trabalho. Os personagens se renovam e o que se passa hoje com o africano, ocorrerá novamente, talvez com um indiano, assim por diante.


Para quem não está acostumado, os olhos brilham, ficam cheios de curiosidade por estar diante do diferente, do mais ousado, do libertário junto do reservado, sem saber o que se passa na mente de cada um. Na passagem do ano, me dizem, o hotel sempre transborda, algo histórico, mais de mil pessoas no entra e sai, mas quase todos querendo somente ver a cidade e sua festa na Broadway, o grande palco nas ruas, com quadras totalmente lotadas. O que se vê pouco são norte-americanos, mas alguns deles, principalmente do interior, mais acaipirados, com suas botinas e chapelões, todos em estadas de poucos dias. Essa possibilidade de estar ao lado de tão diversificada mistura de povos me fez pensar assim de bate pronto na Torre de Babel. Talvez ela esteja em plena reconstrução nesse momento, com os povos se misturando e levantando a edificação, ou algo similar do que possa vir a ser esse mundo misturado, dentro de um liquidificador. Ficaria horas só dentro do hall, vendo fluir todas aquelas possibilidades, mas também sou arrastado para as ruas e do lado de fora a continuidade em larga escala de tudo o que o Pennsylvania possibilita. No lugar, mesmo procurando não senti motivações políticas, mesmo com Trump tendo lançado bombas no Iraque e matado iranianos, nada se alterou e na agitação pelo ano novo, as preocupações de quem ali conseguiu chegar me pareceram ser outras.

QUEM COMO EU PRESENCIA O "STOMP" PELA PRIMEIRA VEZ, ALÉM DE NÃO ESQUECER JAMAIS, FICA ALUCINADO
Mais de dez anos atrás Ana Bia Andrade, quando esteve por Nova York foi conhecer o trabalho do grupo STOMP, uma percussão do outro mundo e aquilo a marcou. Depois os viu novamente no Rio de Janeiro e pela TV nas Olimpíadas do Rio de Janeiro. O maravilhamento proposto a marcou e antes mesmo de voltar, ainda em Bauru agendou e comprou duas entradas para o espetáculo deles dia 01/01/2020. Foi o primeiro show assistido na cidade e ela o fez simplesmente por ter a certeza de que adoraria. Sintonia fina, pois saio de lá maravilhado, encantado, hipnotizado com o presenciado. O STOMP é criação e direção de Luke Cresswell & Steve Mcnicholas e conta com doze artistas no palco, um deles brasileiro, o baiano Marivaldo dos Santos. Trata-se de uma inusitada combinação de percussão, com algo teatral, mais para o lado da comédia. O teatro é deles mesmo e está localizado na Second Ave 126, com início começando no horário, 20h, Orpheum Theatre, algo me dito pela Ana como off off Broadway, ou seja, não estão localizados num teatro de grande porte, mais por escolha deles mesmos, pois criaram o seu e dali não se separam. O palco todo foi adaptado para receber peças onde o som flui de uma forma fantástica. No Brasil algo igual ao que fazem pode ser comparado ao trabalho do Hermeto Paschoal, um que tira som de qualquer objeto. Eles fazem o mesmo e em certos momentos ao prestar bem a atenção quando da bateção de latas, via algo por aqui sendo feito com o Ivo Meirelles e a meninada da Mangueira. São trabalhos opostos, vertentes diferentes, mas similares na batida profunda, na percussão feita de formas um tanto inigualáveis. Eu não sou músico, não entendo muito de música, mas gosto muito quando sinto ser a coisa de boa qualidade, daí coleciono música e isso que tive o prazer de presenciar é de inenarrável qualidade. Mais deles no facebook.com/stomponline ou diretamente no site www.stompoline.com. No mais, publico algumas fotos e ao final, quando tudo termina, na saída, dois deles recepcionam a todos no hall de entrada do teatro e Ana, abusada e descontrolada ao ver os dois levantando uma amiga, não se contenta com uma foto e um autógrafo, sugerindo aos dois, incrédulos e sem conseguir negar, até ser também levantada pela dupla de músicos e atores. Saímos de lá em estado de puro êxtase. Foi uma noite e tanto. Eu na minha ignorância nada sabia do STOMP, mas de agora em diante, quero saber de tudo, pois os caras são mais que bons.
Obs.: Não é permitido fotografar ou filmar o espetáculo e só no final eles baixam a guarda e dão o sinal verde, daí poucas fotos do interior do teatro.

THE BLUE MAN GROUP, ESPETÁCULO MAIS QUE AZUL
Ana Bia Andrade não me surpreende, pois sei ser antenada com tudo e muito mais. Sempre foi assim e a cada escapulida pelas ruas novas descobertas. Agendou dois shows navaiorquinos com a devida antecedência, ainda em terras brasileiras, já chegando com o ingresso impresso num sulfite, primeiro o do STOMP e ontem à noite o do BLUE MAN GROUP. Esses são conhecidos dos brasileiros, pois são os protagonistas de famoso comercial de TV do celular TIM, quando mostraram a belezura do "azul" para os brasileiros. Performáticos estão em cartaz há muito tempo num pequeno teatro do circuito cult alternativo da Broaddway. O Astor Place Theatre, na Lafayette Street 434 foi totalmente transformado e adaptado para receber o grupo. É feita uma preparação para receber o público na casa, todos recebendo fitas amarelas para serem amarradas na cabeça e a loucura se instala com o som antes de tudo começar, batidão para acelerar o ritmo. As luzes refletindo sobre tudo, rolos de papéis sendo estendidos sobre a cabeça de todos e duas pessoas sendo escolhidas dentre o público e participando do espetáculo, numa interação bem doidivina. Tudo que fazem tem muitas cores envolvidas, não só o azul. Até quando batem tambores jogam tinta sobre o couro e quando batem forte e sob efeito de luzes, tudo explode no ar. Muito impactante, tecnológico e para magnetizar do começo ao fim. Ana ao escolher ir Revê-los, me conta de como foi a primeira vez que os viu e de algo desta feita, uma transformação mais high tech. Para mim tudo uma surpresa, muito boa e o melhor que faço é ir curtindo, desvendando e saboreando cada particularidade do que me é oferecido. Ela faz questão de dizer a todos que está me apresentando Nova York e vou na onda, sem contestar e mergulhando de cabeça na cidade, sempre com o receio de quem se diz socialista, enfim, isso aqui é o epicentro do mundo do consumo e do capitalismo. Gostar e ir conhecendo é uma coisa e aderir é bem outra. Do Blue Man Group o que posso acrescentar além do brilho estampado nos meus olhos, só posso no momento repetir refrão da velha canção do Simonal: "Vesti azul, minha sorte então mudou...". Mais deles no blueman.com.

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