segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

ALFINETADA (187)


AQUELE CANSATIVO E REPETITIVO DIÁLOGO - MAIS UM TRAVADO ONTEM NA FEIRA DOMINICAL, QUANDO DEI UMA DE SEU SARAIVA, O DA TOLERÂNCIA ZERO

O cara me conhece de algum lugar, pois de mim se aproximou só para me perturbar sobre Carnaval. Não se apresentou, já chegando com as armas empunhadas, cuspindo fogo. No seu traje já pressenti ser evangélico, mas não um dos que respeito e sim, neopentecostal, ou seja, os que seguem cegamente os preceitos do seu Jair, o da casa 58 lá do do Condomínio Barra Pesada. Percebi sua intenção e me preparei, pedi mais um chopp pro Barba, o da curva da esquina da Feira do Rolo:

- Meu caro, não sei como você consegue ainda defender essa dinheirama para o Carnaval e a cidade nesse caos, carros rolando água abaixo?

- Primeiro gostaria de de saber quem és, de onde vens e quais interesses estaria defendendo, professando, curtindo, repassando adiante, pois te vejo pela primeira vez na vida e já me chega assim cobrando, sem ao menos demonstrar entender dos motivos da maior festa popular brasileira continuar acontecendo, atraindo parcela significativa da população bauruense e obtendo alguma ajuda do poder público para sua viabilização, tendo como contrapartida muitos dividendos para a cidade. Vamos nos entender aonde nos situamos para dar prosseguimento na conversa, do contrário, tenho mais o que fazer.


Geralmente não sou grosso, mas o pavio anda curto. Encheu o saco ter que ficar repetindo pra lá e para cá sobre isso de como se dá a divisão de dinheiro dentro das esferas do poder público, quanto fica com cada secretaria, valores discutidos com muita antecedência, coisas do gênero.

- Sou sim evangélico, mas não é somente nós que cobramos isso. Esse dinheiro, mais de R$ 500 mil poderia ser utilizado em obras, veja o que aconteceu na cidade nessa última chuva. Essa festa poderia ser realizada com recursos próprios.

Ele me disse seu nome, de onde era, não senti firmeza, mas tive que pesar pesado, até para recolocar as coisas no seu devido lugar.


- Meu caro, me desculpe, mas é pura hipocrisia cobrar a Prefeitura desse jeito sem conhecimento de causa de como de fato ocorrem as coisas por lá. Sou crítico deles, mas fundamentado. Não sei se você sabe, mas a Cultura, que tem essa verba reservada para essa específica festa, muito bem empregada, por sinal, pois o retorno é imensamente maior para a cidade, ela não só dá ajuda para o Carnaval. Ela o faz também em eventos anuais para os de sua religião, banca shows e para esses você fica quieto e não reclama. Tem que entender que o poder público tem que atender a todos, Carnaval, vocês lá da igreja, a Parada da Diversidade, música de todo tipo, Hip Hop, Sertanejo, MPB, cantorias variadas e isso ocorre. E daí chega o Carnaval, essa Nau dos Insensatos recomeça a ladainha de sempre, totalmente desfocada, desorientada e despropositada. Vocês precisam juntar o Lé com o Cré, pois o pau que dá em Chico dá também em Francisco. E mais, agora vai me ouvir (o gajo queria me interromper) Essa chuvarada, por mais que o prefeito tenha culpa, não pode ser contabilizada só a ele, seria leviandade fazê-lo, pois está ocorrendo no país inteiro e as causas são variadas. O dinheiro para uma coisa está a ela destinado e para eventos com o Carnaval idem, não se misturam. Só mesmo quem nada entende de como se processam as coisas dentro do poder público, para vir a público, nesse momento e querer distorcer e bagunçar o coreto, querer impor algo totalmente sem noção, como se esse valor fosse resolver o problema dos buracos e das enchentes na cidade. Cansei disso.
Ari Leite

- É, mas outros lugares já cancelaram o Carnaval.

- Meu caro, cada um sabe onde o sapato lhe aperta. Sempre existiram os fracos, os "marias vai com as outras", os frouxos, os que na primeira batida de pé no chão se borram todo. Em primeiro lugar, isso de propor algo contra o Carnaval é campanha dos de sua religião, pois querem todos bem adestrados para cultos e não para nenhum tipo de festa. Quem não respeita o que o semelhante faz, não merece respeito. Num mundo plural, laico isso nem seria permitido, pois todos devem ter as mesmas oportunidades. O cara que vem pra mim e fala essas baboseiras sobre o Carnaval, sendo evangélico e faz vista grossa para o Prefeitura pagando shows de cantores evangélicos, pra mim não se dá ao respeito. E os que não são religiosos e o fazem, das duas uma, ou estão cada vez mais imbuídos desse conservadorismo barato e pueril querendo tomar conta de tudo ou desconhecem por completo os meandros de uma Prefeitura. São os que acham, resolveriam tudo lá sentados, misturando tudo, completamente sem nenhuma noção. Por favor, sem levar em consideração esses pequenos detalhes, nem quero conversar contigo, pois vai ser pura perda de tempo, o dia passa rápido, amanhã é dia de trampo e quero aproveitar um pouco aqui do meu chopp. Entendido?
Noira Mello


Não, ele não entendeu, ficou lá na minha frente com cara de paisagem por mais alguns instantes, mas desviei a conversa, pois de pueris argumentos estou mais que cheio. Não sou sem educação, mas dei de costas e cai no furdunço da feira, trégua que a chuva deu na manhã de ontem pra gente poder ir pras ruas. Sabe aquele personagem do humorístico da TV, o da Tolerância Zero, pois é, sou eu. Chega!

OBS. 1: Sou o incorporado Saraiva, personagem pavio curto do Zorra Total, onde o falecido e ótimo ator Francisco Milani, muito me representa neste insólito momento brasileiro.
OBS. 2: "Para descontrair e esquecer esses chatos, evangélicos ou não: abaixo a foto de Ari Leite, o criador do personagem "esquentadinho" Saraiva. Ele fazia parte do humorístico "Show Riso" da TV Excelsior, nos anos 60. Sua partner era a belíssima Noira Mello", jornalista Ricardo de Callis Pesce.

ALGO DO ILUSTRADOR DA CAMISETA DESTE ANO DO BLOCO DO TOMATE
Silvio descascou abacaxi do bloco este ano.

São oito anos consecutivos e a cada ano um ilustrador diferente estampando a camiseta, sempre com alguma ligação com essa terra do sanduíche. Vamos pela ordem dos amigos dos traço: Gonçalez Leandro, Fausto Bergocce, Antonio Junião Junior, Gilberto Maringoni, Fernandão Dias, Greifo Ilustra, Mariane Santinello Longhi e neste ano um cara do balacobaco, o artista plástico, letrista por seis anos consecutivos de nossas marchinhas, stalinista de quatro costados, iluminador do Teatro Municipal, diretor teatral, frasista de mão cheia, pai de uma linda guapa, o Silvio Selva. Silvão, como a gente carinhosamente o chama é um criador de caso, ou seja, esse o requisito básico para fazer parte do farsesco, burlesco e algumas vezes carnavalesco bloco Bauru Sem Tomate é MiXto. Quem não for criador de caso, temperamental e antissocial não é um tomateiro normal, daí ele se enquadra como uma luva em todos os anormais predicados que o associam de carteirinha ao restante do grupo (ou seria bando?). Nós, os tomateiros recebemos denominações variadas e múltiplas, alguma de justo enquadramento, outras não aceitas, todas discutíveis. Com Silvio não poderia ser diferente. Um baita de um cara, resistente como aroeira, dois metros de altura e enfrentador contumaz de coxinhas e afins (dizem possuir taco de beisebol na mochila pronta para uso). Além de esculpir peças, pinta e borda, ou seja, bate nas onze. É nosso chapa, revolucionário até o último fio de cabelo (o gajo é careca) e depois de seis anos produzindo nossa marchinha, cansou, pediu um tempo e neste ano, para não dizer que havia nos abandonado por completo, disse estar propenso a ilustrar a camiseta. Passamos o tema e a coisa fluiu como açúcar no mel, pois ele conhece muito bem a nós todos, a gente o conhece, ou seja, somos da mesma laia, andamos pelas mesmas vicinais, curtimos os mesmos desvairados descaminhos. Tudo ficou a contento e caiu no agrado coletivo. O tema "Bauru - A Cannã das Capivaras" está perfeito com o animal na bandeja, pronto para ser devorado (não seria exterminado?) pelos moradores dos condomínios fechados, algo de igual teor ao ocorrido com os assentados do Cannã, culminando com a mala explodindo com dinheiro alheio, essa a liga a mover o mundo das tantas capivaras destas plagas. O Silvio é isso tudo e muito mais. Os tomateiros todos lhe agradecem de montão por tudo o que tem feito pela gente, mas sabemos, com ele o buraco é mais embaixo, não podemos ficar o elogiando muito, pois pode achar ser frescura e mandar tudo e todos pra aquele lugar.

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