sexta-feira, 20 de março de 2020

COMENTÁRIO QUALQUER (200)


HISTORIETAS E DESABAFOS DESSES INAUDITOS TEMPOS*
* Esse texto pode ir sendo atualizado a cada momento com mais um relato. As ilustrações são são irônicas e sim, realistas, alegres e servindo também para distrair num momento de intensa tensão.

1 - “SELVA - Hace una semana, una mujer volvió de España y llamó a un antiguo amigo. El es de Santiago del Estero. Ella vive en Córdoba. Ambos habrían tenido un encuentro amoroso, clandestino. Luego, él volvió a su pueblo, donde, divertido, contó en un asado de esta fugaz relación. También dijo que la mujer en cuestión tenía síntomas de coronavirus. Uno de los asistentes avisó a las autoridades del pueblo y el tema se convirtió en escándalo: hasta el gobernador de Santiago del Estero se comunicó con su par cordobés para advertirle. Ahora Selva, el pueblo, está asilado y cercado. Todos los negocios están cerrados y nadie entra ni sale de allí”, publicado edição de 18/03 no diário argentino Página 12.

2 - “Acabei de voltar do supermercado . Máscara, álcool gel na bolsa, medo. Vou indo a pé para o mercado, pensando em tudo que está acontecendo e atenta. Mas vejo a seguinte cena. E a cena é que está tudo normal. Como se nada estivesse acontecendo. Churrasco na rua, boteco aberto, um senhor idoso tocando violão. Chego ao mercado de máscara, pessoas me olhando e dando risada de mim. Escutei " nossa que louca acha que precisa de tudo isso". Vou pegando rapidamente o que eu preciso, tentando ficar o máximo longe das pessoas. E chego ao caixa . Todos na fila me olhando com ar de deboche. E uma mulher com um bebê no máximo 10 dias no colo, tossindo feito louca ao meu lado. Eu tento falar a ela : -moça vc não devia sair na rua com seu bebê . Está uma epidemia de Coronavirus. Ela dá risada na minha cara, a caixa também dá. Ela solta :ah moça não chegou aqui isso ainda não. Só pega em velho. Eu viro, pego minhas coisas e vou embora bem rápido. Ninguém com máscara. Vida normal, as pessoas se abraçando. O moço puxando carrinhos, todos batendo papo, sem álcool gel no supermercado, todos sem máscaras .... É tá tudo normal. A coitada que trabalha no caixa lá, com a moça tossindo em cima dela e do bebê de colo. E eu... Sai de lá chorando. Pq não falam a verdade? Pq o secretário da saúde e o prefeito não avisam a população do perigo que estão correndo? Pq deixar chegar no limite? Pq o governo não fala absolutamente nada? Eu sei porque... Genocídio. Necropolítica. Fodassem os pobres trabalhadores. A população segue cega. E tudo normal.... Tudo loucamente normal no meio da pandemia. Ar denso e pesado. Só eu que estou sentindo isso? O caos chegando e as pessoas como se estivesse num dia normal de março ... E segue a vida até tudo desmoronar de uma vez...”, cabeleireira Bia Bassan.

3 - “Esse povo que segue o Bozo regrediu a idade mental de crianças de até 5 anos. Não contestam nada por mais esdrúxulo que seja. Colocam a língua numa tomada se seu mito disser que é seguro. Parecem os fanáticos daquelas seitas que esperavam disco voador. Se ele mandar tomar cicuta e deitar na cama pra esperar a nave esse povo obedece”, músico Samuel Garcia.

4 - "A gente sabia que ia dar merda um governo de extrema-direita num país miserável, mas esse decreto de Moro e Mandetta - ou Morodetta, novo monstro do catálogo - é um novo estágio de absurdo. Agora, quem desobedecer regras de quarentena ou isolamento poderá ser preso. Preso, filho da puta? Preso? Onde? Como? O maior drama dessa pandemia é justamente o contágio rápido e a falta de leitos hospitalares, tu vai levar um doente preso pra onde? Uma penitenciária? É pra exterminar a população carcerária de vez? E aí, como fica seu sonhado projeto de penitenciárias privadas altamente lucrativas, seu capanga de milícia? Os PMs vão usar máscara e luva cirúrgica pra prender o doente ou é pra eles serem contaminados também? Isso num país onde mais de 60 milhões de pessoas estão entre o desemprego, o desalento e a informalidade. O cara mora com a família num barraco sem saneamento básico nem água, tem que ir pra rua catar latinha pra criança não morrer de fome mesmo correndo o risco de voltar pra casa com um vírus, e Morodetta quer ele preso? Existe limite pra essa mentalidade punitivista tacanha? Essa portaria há de ser simples jogo de cena para a claque dos hidrófobos que idolatram o capanga de milícias, mas é um escárnio para todos os brasileiros que estão sabendo que os mais miseráveis serão as maiores vítimas dessa pandemia. Se não morrerem com o vírus, morrerão com a impossibilidade de conseguir seu sustento. O asco que sinto por Moro e seus admiradores, pelos jornalistas que deram asas a esse monstro, agora alcançou um nível que eu não sabia sequer ser possível. Vou mandar engarrafar esse asco pra próxima guerra biológica, há de ser útil”, João Ximenes Braga.

5 - “Difícil dormir. Um dilema que o Governo deveria ser o responsável por resolver mas, por projeto e incompetência, está "lavando as mãos" e colocando a população mais uma vez numa polarização insana: nós contra nós mesmos. As redes sociais estão aí de novo com dois lados. Esquecemos que uma tomada de decisão que afeta o futuro de milhões de pessoas deveria ser feita por quem tem o poder e o dever de mudar o rumo de uma população inteira. Não é o Seu Manoel da padaria nem o ativista da São Salvador. O padeiro e o cientista social possuem o mesmo peso na balança. Nós não deveríamos nos responsabilizar. Nós não deveríamos nos utilizar do discurso da "consciência" pra atacar o outro que está numa encruzilhada ética. É isso que eles querem. O caos gera receita pra quem se apresenta como solução. Receita política e financeira. A lógica do Governo é ser solução pós-caos pra faturar com isso. Não vejo nenhuma campanha pra qualquer esfera governamental que seja ser prevenção pré-caos. No entanto, estamos nos esbofetando como num circo onde o palhaço é a plateia. Eles lavaram as mãos e nós que pagaremos pelo álcool em gel. Metáfora dos dias que vivemos. Aliás, até quando?”, Raphael Vidal, comerciante da Casa Porto Rio RJ.

6 - “Existe um tipo comum de idiota que é formado em SeiTudoDePoliticaPorqueSouFodão, leio Sensacionalista, amo Olavão!... Como eles se proliferam já estão em sub grupos diferenciados de alienação. O tipo comum A é aquele que todos já viram e que pode confundir a bandeira japonesa com uma invasão comunista. Falar que Leonardo di Caprio nasceu um vândalo esquerdista, ou o mais recente: que uma pandemia é só uma pequena fantasia de quem não tem o que fazer. O tipo comum B é o que nunca saiu de sua latrina de mármore e faz curso de como manter o entorno periférico fora de seu trajeto para a graduação em "Aprenda a ser fétido disfarçado de ético".
Posta imagens sacras e louva a Deus, mas dá crédito pra quem apoia morte de líderes do campo, negros e indios justificando: "Vai ver o cara mereceu". :/ O tipo comum C é o que usa seu lado direito do cérebro para acessar todos os chavões, todas as frases fofas e de efeito paralisante como: "Vai prá pia Dona Maria" - "Direitos Humanos prá quê?" - "Deve ser falta de ser bem comida" - "Tá com dó leva prá casa" - "Vai prá Cuba!" - "Só meteu bala? Devia ter torturado um pouquinho"... "Bozo é espontâneo (???) - Não joguem contra" - Hummm, fofinhos não? O tipo comum D acha incrível o arsenal de asneiras dos tipos A, B, C e D e ainda acrescenta a frase de muita reflexão que diz: Petê, Petê, Petê, o culpado é só você! O tipo comum E - São pessoas como eu, que ao ler uma notícia, promete prá si mesmo: Você não vai descer os olhos nos comentários dos tipos anteriores! NÃO LEIA, NÃO LEIA, NÃO LEIA! NÃO LEIA!... E quando vê é tarde demais. O pino da granada destrava em tudo que é direção e boto pra morrer sem pena. Coisas de quem nasceu com Marte em Gêmeos e
Lua em Airton Senna”, Rosa Maria Martinelli.

7 - “Poxa, galera, as fake news não param! Fora as bobagens sobre a China, duas que recebi hoje preocupam bastante. Numa, divulgam que a Ambev está distribuindo álcool gratuitamente mediante preenchimento de um formulário... Lá se vão dados para bandidos... E, a pior, estão divulgando que uma vacina de cachorro serve para humanos! É saúde e patrimônio sendo mais lesados do que já está! Não aprenderam nada!?”, advogado Márcio Machado.

8 - “Cena do dia: 7h30, um senhor, certamente com mais de 70 anos, parado na esquina da Duque com a Gustavo Maciel, sem camisa, short de ginástica, como se quisesse dizer: "pode vir, coronavirus. Neste corpo você não entra", jornalista Júlio Cesar Penariol.

9 - “Acho que não é exagero dizer que a patriótica comitiva de bolsonaro, se não ele mesmo (sinceramente, não sabemos), trouxe o coronavíros para o Brasil e o espalhou por toda parte no dia 15. (...) O que andou aprontando essa comitiva do coiso lá na gringa? Fizeram bacanal de corona? Damares!! (...) Se preparem trabalhadores, os ricos vão nos fazer pagar pela crise de novo. Demissões, redução de salários, mais "reformas" (retirada de direitos), destruição dos serviços públicos... Uma hora vamos ter que retribuir tanta gentileza. Morte aos patrões! (...)Eu ouvi o p. guedes dizendo que pra salvar as empresas irá derrubar os "encargos trabalhistas", eu ouvi direito?”, professor da rede pública Tauan Mateus.

10 - "Fui na DRS - Divisão Regional de Saúde de Bauru retirar insumos para diabete e ouvi que se o Haddad tivesse ganho estaria pior o coronavirus. Não entendo mais nada, ou melhor, temos o governo do povo e para o povo!", comerciante Guilherme Reis.

11 - A sua historieta pode entrar aqui a qualquer momento, basta eu tomar conhecimento.

CALL CENTERS OBRIGAM TRABALHADORES A CONTINUAR NA ATIVA - NÃO SÃO OS ÚNICOS
Foto sacada do link citado abaixo.
O texto do link abaixo é elucidativo e em tempos de pandemia, acrescento algo a mais. Bauru é a Capital do Telemarketing, mais de tantos mil funcionários atuando nesse setor e os empresários todos com ações sociais, investindo e mostrando sua cara em times de futebol, vôley, basquete, natação, pólo aquático e afins. Beleza pura. Alguns se mostram até como futuros candidatos para cargos eletivos no próximo pleito. Hoje acontece algo ainda um tanto inexplicável, ou melhor, bem explicável no setor, porém não justificável (sic). O país inteiro, mesmo sem a anuência do despirocado presidente miliciano Bolsonaro, está praticamente parando, tudo cerrando suas portas, pelo bem de todos, o coletivo sendo levado em consideração, num único momento, algo nunca visto (olha que tenho 60 anos), quando a dispensa é praticamente geral e quase obrigatória. Hoje, sexta, a cidade deveria estar parada, mas alguns inistem em continuar na ativa. Um dos segmentos insistindo em continuar com seus funcionários na ativa é o de telemarketing, os tais call centers. Creio devam estar vislumbrando que com todos em casa, a cobrança se dará com mais afinco. Recebo ligação de três funcionários (as) do setor, todas preocupados com o rumo dos acontecimentos. A ordem é não parar, a ordem é cobrar, a ordem é bater metas, a ordem é acelerar o serviço e tudo em condições hoje condenáveis, imensos salões abrigando de 200 a 400 pessoas por andares. Ouço que até podem ser realizadas as cobranças da casa de cada funcionário, mas a medida não é bem aceita, nem bem vinda pelos empresários. A preocupação geral, além de trabalharem sem condições, com quantidades irrisórias de álcool gel e afins, mas com algo pior, algo plantado já entre todos, a de que parando, os salários não terão como ser pagos. Numa dessas empresas, ontem a divulgação de um manifesto conclamando para uma paralisação a partir de segunda, 23/3. Tarde demais e na contramão de tudo o mais. O empresário desse setor ganha os tubos, visto os investimentos que fazem e num momento como esse, quando poderiam demonstrar a sensibilidade para com a cidade onde estão estabelecidos, para com o momento de pandemia e, principalmente, com seus funcionários, demonstrar um acarinhamento por esses, mas não, persistem no erro e pelo visto, terão que ser, assim como o neopentecostal Malafaia, só irão parar de fato com decisão judicial. O lamento do que ouvi de três pessoas é algo estarrecedor, desumanidade chegando nos limites, todos por um fio, sustentando a coisa por necessidade, medo em todos os sentidos de futuro incerto, tanto na saúde como no bolso. Num momento em que o insensível ministro Guedes já deixa claro que as empresas poderão reduzir o valor dos salários com os funcionários parados, além do vírus, a catástrofe da fome ameaça a tudo e todos. Esse um dos segmentos ainda na lida, porém, não o único e em todos, algo a demonstrar o que de fato move o empresário brasileiro, movido e teleguiado pelo neoliberalismo predatório. Eis o link da matéria que gerou o meu texto: http://www.esquerdadiario.com.br/Trabalhadores-de-call-center-paralisam-exigindo-seu-direito-a-saude-contra-o-descaso-patronal

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