sábado, 11 de abril de 2020
RETRATOS DE BAURU (239)
A FORTALEZA DO CLAUDIO SILVÉRIO NÃO RESISTIU E SE FOI MUITO JOVEM Esse cara era dez. Gostei dele desde a primeira vez que o vi, isso há mais de uns sete anos, por aí. Ele era frentista no Posto Aeroporto, onde abastecia o carro e sempre me atendia com um papo pra lá de generoso. Certo dia descobri que ele, nas horas vagas, era o "barbeiro" das plantas do posto e das imediações. Dava o trato na jardinagem do lugar, todo repaginado por sua causa. O negão era fuçado e certo dia me desabafou que não estava mais aguentando ali continuar, pois não era reconhecido, não o valorizavam e que iria tentar a sorte como barbeiro/cabeleireiro, num salão de amigo no Bela Vista. Escrevi na oportunidade um perfil para o Personagens sem Carimbo - O Lado B de Bauru, contando algo de sua trajetória. Desde então, pouco o vi, somos amigos aqui pelo facebook e o via deslanchar, ganhar e ocupar espaços, um vencedor em tudo o que fazia. Além de tudo, o cara sempre foi um touro, uma fortaleza humana, rocha de músculos, complexão dessas de você não só se impressionar, como dizer ser intransponível. Claudião fazia o que gostava, amava muito sua família, seguia sua religião numa boa e ajudava o próximo, além de estampar a felicidade na fisionomia.
O fato é que ele se foi, infarto ou até mesmo Covid-19, algo o levou assim num vapt-vupt. Coisa mais triste e dessas que a gente pára e pensa: se isso aconteceu com o Claudião que era uma rocha humana, o que será de mim que tenho um monte de dores, problemas internos e chego aos 60 com um retrospecto nada recomendável? O Claudio não deve ter parado um só momento e, pelo que sei, atendia clientes em casa, ia cortar cabelos a domicílio, sempre solicito com tudo e todos, mesma presteza e cordialidade. Ninguém pode afirmar a causa de sua morte com precisão, assim como ninguém deve afirmar nada sobre como se dá a transmissão desse vírus tomando conta do mundo, pois como sabemos já é comunitária. A profissão por ele exercida é das mais cruéis, tendo que estar no cara a cara com as pessoas diriamente. E ele ia, fortão e resistente, deve ter imaginado que sairia dessa numa boa. Fico aqui revendo suas fotos e me lembro como se fosse hoje das conversas bem antes dele montar e trabalhar na nova profissão, a que o fez deslanchar na vida. Sempre foi um cara do bem, desses que a gente não encontra em qualquer lugar. Não tenho mais nada pra dizer dele, desses males súbitos que nos levam inesperadamente e nem desse tal de Covid-19. O que sei e reforço com o ocorrido é que devo me manter aqui isolado, no meu canto bem quieto e esperar isso tudo passar, ciente de que as dificuldades todas que passo hoje posso superar depois, com o tempo, mas a vida eu não superarei se dela vacilar. O Claudio não vacilou, ele não era homem de vacilo, pois soube o momento certo de sair do emprego de frentista e ir de encontro ao seu sonho de vida, ele sempre foi um batalhador, desses de fechar os olhos e ir à luta. Perdas como essas ferem a gente por dentro e por fora, muito tristes e pelo que vejo, outras tantas vão se repetir daqui por diante, muitas por causas inesperadas, como infartos e outros males, como as provenientes desse vírus, pois esse negócio aí fora é muito mais sério do que a gente possa estar imaginando. Claudião não merecia isso, mas agora é tarde, hoje ele é notícia no jornal, o citam na rádio e na TV, mas não do jeito que queriamos.
POR POUCO NÃO MALHAMOS O JUDAS HOJE NUM LOCAL INCERTO E NÃO SABIDO EM BAURU - ADIVINHA QUEM IRIAMOS HOMENAGEAR? Hoje é dia de malhar o Judas. Olho pelo retrovisor e não me vejo fazendo isso ao longo de minha vida. Por onde moro essa prática não é muito usual. Vez ou outra apareciam políticos travestidos de Judas e alguns ateando fogo em suas vestes, entre pauladas e quetais. No país, em lugares específicos é tradição, sempre ligada à religião, hoje Sabádo de Aleluia, data da igreja católica. Pois bem dito isso, dias atrás meu amigo Claudio Lago me liga e me propõe algo para a madrugada passada, de sexta pra sábado. Queria que confeccionassemos um Judas com a cara do SENHOR INOMINÁVEL, esse aí que ainda comanda esse país do alto de sua parvalhice e fossemos fixá-lo de madrugada em algum lugar da cidade. Só isso, montar na reclusão da quarentena a que todos estamos submetidos e numa escapulida na madrugada, entre poucos, amarrá-lo com uma corda em algum ponto onde circule muita gente por esses dias. Fiquei tocado, pensei numa estratégia, imaginei locais e o como faríamos com o rosto para que todos tivessem certeza ser dele a imagem do traidor. Comento aqui em casa e Ana, a companheira de todas as horas, que hoje detém a chave do lar sob seus cuidados, diz em alto e bom som: "De jeito nenhum. Nem pensar. Daqui o senhor não sai". E deu ponto encerrado na questão. Se essa decisão passasse numa discussão partidária, horas seriam utilizadas para se chegar a um veredicto, mas aqui em casa e nas condições atuais do confinamento, não existe forma e jeito de retrucar, quanto menos regatear ou querer alterar decisão tomada. Aquietei o facho e fiquei só na vontade. Seria a oportunidade de fazer algo nesse dia de homenagens a grandes traidores mundiais, dentre os quais, nosso presidente deve ser dos mais homenageados no dia de hoje, pois tem ficha corrida para tanto. Portanto, na impossibilidade de uma ação concreta, escrevo e publico esse texto como forma de ter cumprido a missão, pois como tudo hoje é realizado de forma virtual, fica sendo como se eu, Claudio e alguns outros tivessemos feito o Judas e ele estivesse agora numa esquina aguardando ser devidamente malhado. Façamos a malhação por essa via e meio, mais recomendável no momento, menos sujeita a percalços, tropeços e riscos. Fica o registro. Não fui, nem eu e nem Claudio (a Luzia Aparecida Siscar também não permitiria), vontade não nos faltou, mas vale muito neste e em todos os demais momentos a intenção e a vida.
BLOCO DO TOMATE, CARNAVAL NO SÁBADO DE ALELUIA E TODOS UNIDOS POR TADEU RIAN Hojé é Sábado de Aleluia, ou seja o final da Quaresma católica. Há muito tempo atrás e os tomateiros são deste tempo, neste dia, após 40 dias sem muita festa, ocorria uma espécie de volta ao passado, recaída, revival e ocorria em todo o país bailes de carnaval. Com o tempo isso foi se perdendo e a intenção era reviver esse clima. O pessoal do bloco burlesco, farsesco e algumas vezes carnavalesco, o Bauru Sem Tomate é Mixto tinha decidido que, neste ano, pela primeira vez faria um furdunço nesta data, revivendo não só a festa carnavalesca, mas nesse primeiro, possibilitando o reencontro com nossos homenageados como musos do ano, a Maria Cecília Campos, que não pode desfilar conosco neste ano e o Agnaldo Lulinha Silva, que desfilou, mas estava se recuperando de acidente de moto. Seria algo pra endoidecer gente sá. Evidente que nada aconteceu, pois tudo, mas tudo mesmo está adiado até segunda ordem. Em primeiro lugar, a vida de todos nós, pois como é sabido, todos devemos permanecer reclusos, quietos e com a luz baixa, aguardando o momento certo para reacender o fogo, além de também um percentual grande dos tomateiros já ter uma certa idade e daí, resguardo ampliado. Estamos todos aquietados, porém inquietos e fazendo algo de outras formas e jeitos.
O encontro pensando e repensado fica pra depois e em seu lugar estaremos todos juntos, de mãos dadas, sem soltar uns das mãos dos outros, buscando energias lá do fundo e as repassando para todos que dela necessitam nesse momento. No caso dos tomateiros, em especial para um dos seus integrantes mais ilustres, Tadeu Rian. Ele é parte integrante do bloco desde o início, oito anos atrás, cantante do grupo Kananga do Alemão e em todas as edições participando dos ensaios e descendo o Calçadão da Batista emprestando sua voz, ao lado de Tatiana Calmon, cantando nossa marchinha do ano e todas as que fazem a festa pegar literalmente fogo. Pois bem, o Tadeu está internado num hospital desde o começo do mês e mesmo sendo a fortaleza física que todos conhecem, além de cantor, um construtor como poucos. Entristecidos, todos estamos juntos unindo forças, pensamentos positivos pelo breve reestabelecimento do grande Tadeu. O Tomate inteiro se une a outros tantos, seus familiares, amigos e colegas de rodas de samba e trabalho e aqui estamos a demonstrar o quanto necessitamos dele junto de nós, com aquela presença espirituosa e cheia de amor. Estamos quarentenando e promovendo um Sábado de Aleluia diferente, todo voltado em fluídos positivos voltados para ele. Queremos te ver em breve aqui conosco, caro Tadeu. A gente te ama do fundo do coração.
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