terça-feira, 14 de julho de 2020

CENA BAURUENSE (204)


A PANDEMIA TEM PROSSEGUIMENTO E AS FOTOS AGORA, EM SUA MAIORIA, NÃO SÃO DO HPA, MAS GILETEADAS DE AMIGOS (AS)

01. Em 22/06/2020
Ponto de Táxi do antigo Aeroporto, hoje às moscas e com a notícia de que, um deles, ainda se propondo a trabalhar no ramo, tem média de uma corrida por dia e algo a amenizar o padecimento foi cesta básica conseguida pelo sindicato junto à Prefeitura para todos da categoria na cidade. Ilda, a da banca de jornais, ali ao lado, resistindo como pode, ao saber da história solta essa: "No meu ramo, padecer parecido, mas a distribuidora não move uma palha para fazer o mesmo e conseguir para os jornaleiros, mera cesta de alimentos. Estamos à mingua".
02. Em 23/06/2020Desolação é o que sinto ao passar pela avenida Octávio Pinheiro Brizola, defronte a USP e presenciar ali abandonada por mais de noventa dias, sem nenhuma movimentação, a perua, onde simpático senhor revendia frutas e legumes. Por onde andará? Como estará se safando nestes tempos? Impossível não enxerga-lo sentado à sombra no aguardo de quem parava para algumas comprinhas.
03. Em 26./06/2020Prédio fechado, antigo "puxadinho" junto ao prédio original do Bauru Tênis Clube, esquina das ruas Gustavo Maciel com Sete de Setembro, local onde funcionou até bem pouco tempo a cobradora de telemarketing Multi Cobra, cuja massa falida foi vendida para a outra cobradora, a Paschoalotto, hoje propriedade majoritária do empresário carioca Armínio Fraga - segundo maior empregador da cidade, perdendo só para a Prefeitura Municipal. A Paschoalotto investe em outros locais de sua propriedade e este se torna mais um fechado/lacrado, dentre tantos na mesma situação na região central da cidade.
04. Em 29/06/2020No domingo de manhã um pedido de socorro publicado no facebook por Priscila Lellis Krupelis: "Amigos, meu carro foi roubado em frente à minha casa no Jardim Chapadão. Ele fica pra fora por falta de espaço. Ao acordar hoje de manhã ele não estava lá. Já tomamos as medidas legais, porém peço a ajuda de vocês no compartilhamento e caso o encontrem entrem em contato comigo ou com meu irmão Daniel Krups. O modelo é Uno 2000, cor grafite. A foto é um pouco antiga, hj ele tem mais marcas de usado. Gratidão". O desespero da professora durou pouco e ontem à tarde o encontram, sendo montado uma rede para localizá-la, guincho contratado e entregue a ela. Por fim, ela agradece: "Esse post é de agradecimento. A tantos e tantos que me ajudaram ontem, de muitas formas. A cada compartilhamento eu sorria. Foram 1500 no total! Uau! Quase caí em dois golpes nos quais tentaram me tirar dinheiro, mas graças a meu irmão, meu amor Andre Mastrandea e nosso amigo Joao Cleber Sanches (esses dois últimos chegaram em casa rapidamente pra me ajudar) eu não caí. Agradeço aos amados Elizabeth Nazário, João, Catarina e Helena, que nos receberam em sua casa e ajudaram nosso dia a ser mais leve. Agradeço à Michelle Munhoz Di Flora Oliveira, que me mandou foto e vídeo de um aluno, que me acalentou o dia. Agradeço a tantos que mandaram mensagem pelo whats me dando dicas e sugestões para encontrar o carro. Agradeço aos queridos que ajudaram em oração e fé. O carro foi encontrado sem maiores danos na rua, bem longe de casa. Fiquei sem celular e graças ao face meu irmão viu e conseguiu resgatá-lo". Enfim, para esse tipo de ação o Facebook é ótimo.
05. Em 30/06/2020Em foto de Jean Morales, situação atual do antigo Posto Seis, junto ao Colina Verde, antigamente beirada da rodovia Marechal Rondon, mas desde quando a rodovia foi rebaixada pela duplicação, ficou no alto e não mais podendo ser utilizado como posto, daí veio o abandono até chegar na situação atual, praticamente em vias de ser demolido e desaparecer do mapa. Uma edificação que não mereceu a devida atenção nesse período, para poder ser transformada em algo útil e daí, tudo se perdeu e agora se evapora.
06. Em 03/07/2020"Hoje no Hospital Estadual. Todos amordaçados, calados, fechados, preocupados", com esta legenda, Rose Flag Barrenha esteve na manhã de hoje na fila do atendimento do Hospital Estadual e de lá traz o registro fotográfico e a preocupação estampada na fisionomia dos presentes.
07. Em 04/07/2020"Plantar em sua casa mesmo é maravilhoso. Mais maravilhoso é ver crescer, colher e comer. (...) Se não posso ir à feira, planto e colho aqui em casa mesmo", com essas legendas, o casal morador do Rasi, Nicola Augusto e Silvia Regina, embaixadores do bairro e morando bem ao lado da praça principal, fazem uso do tempo livre e do quintal para terapia e assim tocam a vida nestes tempos.
08. Em 07/07/2020A nova rotina da unidade Bauru do Poupatempo e imagino de todas as demais é o das portas fechadas, lacradas - como se vê na foto - e praticamente, para desespero de quem lá trabalhava, algo definitivo, pelo menos foi o que se ouviu da boca do vice-governador há pelo menos dois meses atrás, quando em entrevista no Palácio dos Bandeirantes disse em algo assim: "A maioria dos serviços lá oferecidos pode agora ser feito via virtual, daí não existe mais a necessidade dele voltar a ser o que era". Entenderam? Será que já podemos pensar na utilização do espaço para atividades culturais, antes que algumas igrejas tomem a iniciativa e transformem o espaço em local para outro tipo de veneração e devoção?
09. Em 08/07/2020Em registro feito pelo pessoal que presta assistência à população residindo nas imediações da praça Machado de Mello, centro velho da cidade, ao lado da antiga estação da NOB - Maria Ines Faneco e equipe, eis alguns destes, junto com voluntária da equipe de apoio, em pose momentos antes de ganharem alimentação e roupas, dignas pessoas humanas tentando ao seu modo e jeito suportar não só as agruras de viver nas ruas, mas a insensibilidade de muitos ainda acreditando ser isso uma mera opção dos que estão ali por ser este um modo fácil e confortável de viver.
10. Em 09.07.2020Peço para a amiga arquiteta Kelly Magalhães, moradora do edifício Brasil Portugal, ali na maior e mais movimentada "encruzilhada" bauruense, a das avenidas Rodrigues Alves com Nações Unidas uma foto lá do alto, vislumbrando as praças ali embaixo, uma de cada lado. Ela me envia uma a envolver o hoje outrora posto, agora rodeado de tapumes e algo dali fluindo, lugar de acontecimentos mil na noite bauruense, desde enchentes, revoadas de sem tetos, ponto de partida e chegada de excursão de muambeiros, tráfico, prostituição, descanso na sombra das árvores e nos bancos, enfim, um lugar a ferver de dia e também de noite, com nenhum morador das imediações fenecendo de monotonia.
11. Em 10/07/2020: Hoje quem diz adeus a este mundo é Rose Miziara, antiga comerciante da Água do Paiol, onde herdou da mãe e tocou até quando deu famosa venda, empório, pequeno mercadinho, localizado debaixo de frondosa árvore, também local de muita prosa e cerveja, antes do advento da pandemia. O registro é de um dos seus fornecedores, João Carlos Dias Moreira.


DAQUI POR DIANTE, DOIS PASSAPORTES BRASILEIROS - NUNCA MAIS SEREMOS VISTOS COMO ANTES E ASSIM SENDO, JÁ DEVEMOS IR SE PREPARANDO PARA O PIOR
Explico. Até agora o brasileiro em viagem ao exterior, por qualquer natureza, à trabalho ou a lazer se deparava com boa recepção. Por onde circulasse, na maioria das vezes, do outro lado alguém predisposto a dialogar com ar alegre, sempre citando algo, futebol ou mesmo música. O papo fluia de forma proveitosa, sempre a nosso favor. Pelo visto, após o golpe desferido ao país em 2016, chegada de Temer ao poder e agora com Bolsonaro, quando após mais de ano e meio de desGoverno, o mundo inteiro já tomou conhecimento de quem se trata, como trata o país e pior que tudo, algumas reações de brasileiros receptivos às suas loucuras como modo de vida, algo mudou no conceito que o mundo possuia até então do país. Caímos no conceito. Somos renegados e rejeitados. Não sei até que ponto poderá existir num curto espaço de tempo algo a modificar essa alteração de percepção dos que nos recebem lá fora, diante de tantos fatos terríveis pelos quais estamos passando.

De algo tenho certeza: será necessário muita conversa para tentar ao menos contornar, primeiro a gozação que seremos objeto e depois, algo mais sério, voltar a tentar ao menos não aumentar o distanciamento já evidente, em curso e só aumentando. O mundo anda com medo de brasileiros. Isso só não é mais perceptível neste momento, pois estamos todos sem poder sair de nossos lugares, mas no momento em que alguns se puserem a viajar, esses efeitos serão sentidos sem dó e piedade. Eu, cá do meu canto, já penso numa solução. Aliás, pensei em várias. Poderia levar uma placa e a levantar toda vez que alguém vier com o papo do distanciamento: "Sou brasileiro à moda antiga, abomino Bolsonaro e tudo o que representa". Isso já ajudaria bastante, mas não creio seja o suficiente. Pensei na criação de dois documentos, um dos que apoiaram Bolsonaro e apóiam suas maluquices e se tiverem coragem, que o façam também enfrentando mundo afora os que o rejeitam. Que cheguem lá fora e digam o que pensam, que não usaram máscaras, que não se protegeram e que tomaram o medicamento sem nenhuma eficiência médica comprovada. Vamos ver se serão corajosos o suficiente para lá fora continuar expondo a maluquice que propiciam aqui dentro. Para os demais, os ditos normais, sensíveis, um documento diferente, ali prescrito todos os cuidados tomados com sua saúde e a dos demais à sua volta, respeito à quarentena, isolamento social, nenhum vínculo com ideias de que o mundo não seja redondo e tudo o mais.

Seria uma espécie de "salvo conduto" a demonstrar nenhuma vinculação com nada que diga respeito ao bolsonarismo, sua total rejeição e vida correndo em total desalinho com o que ocorre no país desde a chegada do Senhor Inominável ao poder. Penso em algo assim, pois não vai ser mais possível chegar lá fora de peito aberto, se dizendo brasileiro e se manter indiferente ao novo tratamento, já perceptível até para uma simples ida ao Paraguai nos dias atuais. Como chegar na fronteira de entrada do país vizinho e ser visto como um desmanzelado, tratando a vida com desdém e impondo riscos não somente a sim, mas a todos à sua volta? Serão medidas necessárias daqui por diante e todas, darão uma clara demonstração da existência de dois brasis dentro do mesmo Brasilzão. Triste isso, mas inevitável, pois não quero ser comparado aos que ajudaram a destruir não só a boa reputação do país lá fora, como também o próprio país, pois qualquer pessoa sensata percebe nitidamente a enorme disparidade entre os país que tínhamos e o que temos. Serão medidas necessárias, pois não quero carregar comigo por onde circule qualquer vínculo com algo que lembre o bolsonarismo. Quero ajuda para pensar em medidas que possam amenizar o que o brasileiro que repudiou isso tudo em curso possa sofrer de retaliações. Contribuições serão bem vindas.

Desde já exijo minha carteirinha: "NÃO SOU BOZO".
OBS.: Pensem também no inverso, nos estrangeiros que recebemos do mundo todo. O Brasil perdeu o poder de atração que possuia, pois com postura nova, poucos serão os doidos se arriscando a vir aqui enfrentar um país com postura tão nefasta e destrutiva. Com Bolsonaro perdemos em todos os quesitos.

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