quarta-feira, 15 de julho de 2020

MEMÓRIA ORAL (257)


HOSPITAL ESTADUAL - POR FORA BELA VIOLA, POR DENTRO PÃO BOLORENTO

João é meu amigo de longa data e por esses dias passa perrengue cheio de muita dor e constrangimento. Uma pessoa muito querida, amor de sua vida, está internada no Hospital Estadual de Bauru, o fatídico e único a atender os pacientes com Covid-19 em Bauru e região. Ele sem poder visitá-la, apenas conversa diariamente pelo telefone e as histórias que ouve são aterradoras. Transcrevo algumas, ainda em estado de choque.

- Henrique, você conhece muito bem a FAMESP e tudo o que ela representa, como age e tudo o mais. Não preciso entrar em detalhes dos procedimentos, mas a história que fui tomando conhecimento aos poucos é estarrecedora e mostra de fato como age o governador João Dória e tudo o que representa o governo do estado de São Paulo. Nem no quesito Saúde, que neste momento deveria merecer toda a atenção, dedicação e cuidados, pelo visto o que de fato ocorre é algo bem diferente. Está preparado para ouvir coisas de arrepiar?

- Nossa - digo -, a coisa é assim tão feia?

- É mais do que possa imaginar, ou melhor, vindo de governos onde tucanos estejam no comando, pode-se esperar tudo e mais um pouco. O que ouvi pelo telefone dessa pessoa querida é algo como que um pedido de socorro, um grito lançado lá de dentro para que alguém aqui do lado de fora possa fazer algo em defesa dos funcionários, todos ilhados e sem nenhuma condição de denunciar nada, pois acuados, amedrontados, continuam atuando num sequencial sem parada, ritmo acelerado e com muito pouca retaguarda.

- Nossa, conte logo, o que você ouviu, pois mesmo sem o saber, já estou preocupado.

- Pois bem, nem sei por onde começar. Essa minha amiga não está com covid e está internada por outro motivo, mas as histórias que foi ouvindo com o passar dos dias lá internada a deixa com muito medo e receio de lá continuar. Na ala onde está não tem ninguém com covid, mas as histórias circulam e todos os profissionais estão trabalhando com muito medo. Não existe tranquilidade para o exercício profissional. São muitas as pessoas afastadas de suas atividades, todas por causa do vírus e um clima de terror pairando no ar. O hospital não disponibiliza exames para os funcionários, pois segundo lhe disseram tem medo que ao descobrir mais infectados, tenham que afastá-los e como não estão contratando ninguém, existe hoje uma sobrecarga para todos e isso deve aumentar a cada no dia.

- Como? Não fazem exames nos funcionários e até hoje, como todos os que já foram afastados, não contrataram ninguém para as substituições? É isso?

- Quando ela me disse isso, também não acreditei, mas é o que acontece. Todos os que fizeram exames até agora, fizeram por conta e basicamente nas UPAs, pois muitos conhecem pessoas desses lugares e conseguem lá os exames. O percentual de infecção é muito maior do que se divulga, esse o grande caos da saúde. O hospital está em estado de alarme e alerta, pois os funcionários não tem a quem reclamar. Todos trabalhando sob muita pressão. O quadro funcional está se reduzindo, pois diante de um número cada vez maior de pessoas afastadas de suas funções, a FAMESP não irá contratar ninguém e o que se sabe é que continuará atuando com o quadro atual, mesmo debilitado e já muito reduzido. Todos os funcionários estão sendo pressionados para fazerem horas extras, pois como não existe mais ninguém na reserva, a cada dia cresce a pressão para que todos dobrem seus horários.

- E como ela ficou sabendo disso tudo? - lhe pergunto.

- É como lhe disse, ela foi ouvindo conversa entre as pessoas que lhe atendiam e começou a perguntar. De início tiveram reservas, mas depois foram se abrindo e minha amiga foi juntando tudo. Quando me contava, disse pra mim mesmo, algo precisa ser feito. Te ligo, pois sei que vai fazer alguma coisa. O Hospital está lotado, no limite de vagas e com os funcionários no limite, todos esgotados, sem saber o que virá pela frente. Ela me disse que ouviu de uma delas algo muito triste, que sabe que todos irão pegar a covid, pois a maioria já se contaminou e não estão vendo escapatória, questão de mais dia menos dia. Não ouvi nada sobre as condições de trabalho e sobre se os equipamentos e o material que possuem é suficiente. A preocupação dos funcionários parece que não é essa, mas as condições em que eles estão trabalhando. Você imagina alguma coisa que pode ser feito, para que contratem mais pessoas da área para atuar lá no hospital, pois pelo que vi a calamidade está instalada entre os funcionários.

- João, o que posso fazer é denunciar, publicar o seu relato aqui no facebook e compartilhar, ver se isso chegue a alguma autoridade que possa investigar, cobrar, acompanhar mais de perto e exigir mais respeito com a pessoa humana. Aparentemente aqui do lado de fora, até o momento, o hospital tem apresentado um resultado satisfatório para a cidade, ninguém deixou de ser atendido, mas pouco sabemos de como se passam as relações trabalhistas. O trato com o paciente me parece bom, mas o trato com os funcionários, esse como me diz, deixando muito a desejar.

- Verdade, Henrique. Minha amiga não tem do que reclamar. A imagem que estão passando neste momento para a cidade é boa, mas ocultam esse outro lado, o de como se dá as relações com o profissional que está na ponta, atuando na frente de batalha, sendo que, ainda mais neste momento, todo e qualquer profissional de saúde deveria ser tratado com o máximo respeito e consideração. Continuam pagando tudo direitinho, mas exigindo mais do que deveriam, pois o momento é tão grave que, os profissionais de saúde, os que estão cuidando dos contaminados, esses deverriam receber tratamento especial, até com acompanhamento psicológico, um amparo especial. E pelo visto isso não ocorre. Era isso, meu caro, eu senti nas palavras a mim transmitidas algo abafado lá dentro e ainda não ventilado aqui do lado de fora. O Hospital atendendo tão bem a população, por que não age da mesma forma com seus funcionários? Triste isso de constatar que por "fora bela viola, por dentro pão bolorento".


obs.: Evidente que, João não é João, nome fictício, assim feito para não causar transtorno para ele e sua amada, optei por mantê-los no anonimato. Melhor assim...

O FALO

Diante de uma árvore que veio abaixo no parque Vitória Régia e foi transformada em bancos, o jornalista Vitor Oshiro prescreveu: "Sobre o banco do Vitória Régia: Colocando os pingos (eu disse pingos) nos “is”. Especialistas em arte me disseram que a simetria do banco tem uma forte inspiração nas obras de Pablo Picasso. Porém, uma fonte sigilosa matou a charada a pau. Ela me garantiu que foi uma maneira de homenagear o criador do sanduíche Bauru: o Casimiro Pinto Neto! Há quem diga que seja uma forma de rememorar a famosa aparição, em 2014, da onça pintada (ou seria parda?) no Vitória Régia. Ora bolas, tudo faz sentido agora! Saco, por que não pensei nisso antes? A verdade é que, brincadeiras e trocadilhos à parte, a ideia de reaproveitar o timburi caído no Parque foi muito boa! Ponto (eu disse ponto) para o poder público! Sobre o formato, digamos, peculiar, foi exatamente isso o que garantiu boas risadas aos bauruenses! E que mal tem em darmos alguns sorrisos em meio a esses tempos tão difíceis? Diante de tantos fatos pesados, que todos nós possamos, de vez em quando, ter uma vida mais leve! Ou melhor, uma vida mais gozada!".

Se ele não foi suficientemente explícito, o artista plástico Esso Maciel o foi e tascou assim que olhou a foto: "Tem até glande e chapeleta".

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