sábado, 1 de agosto de 2020

BAURU POR AÍ (180)


BAURU 124 ANOS – A CIDADE E “OS MENINOS DA RUA PAULO”
Acordei pensando numa analogia possível entre a Bauru que hoje completa seus 124 anos e um livrinho que li há muito tempo atrás, “Os meninos da rua Paulo”, do húngaro Ferenc Molnár (tradução do Paulo Rónai), selo da saudosa Coleção Calouro. Consegui o localizar aqui no Mafuá e dele faço uma citação, feita pelo tradutor, resumo da obra, para depois chegar no que almejo. “No ponto de partida, houve, em 1889, num dos arrebaldes de Budapeste, um grupo de garotos, alunos do mesmo colégio, que costumavam reunir-se, depois das aulas, num terreno baldio, para jogar péla, brincar de clube, fingir de exército, arremedar eleições, sentirem-se importantes, viver num mundo que fosse só deles. Noutro ponto próximo da cidade, uma ilhota do Jardim Botânico, outro magote de meninos formava outro império de faz-de-conta. Apenas, estes não tinha espaço para jogar péla. Daí ocorrer-lhes a ideia óbvia de ocuparem o grund da Rua Paulo, tomando-o ao primeiro grupo; este, porém, estava resolvido a defender aquele pedacinho de terra. Já se vê que o conflito dos dois grupos daria o assunto do romance. Evidentemente o grund era, para aqueles meninos, muito mais que uns poucos metros quadrados desocupados: era o cenário daquilo que lhes parecia a parte essencial de suas vidas; num mundo de edifícios feios, apartamentos apertados, quartos sem ar, janelas sem paisagem – um reino para a aventura, a evasão, a liberdade”.


Aquela epopeia juvenil que tanto me encantou no passado – e a tantos outros -, foi revivida por mim, ainda na cama e tento a transportar para a Bauru de hoje, substituindo os grupos juvenis rivais de antanho e do romance para os aqui postados e perfilados na Bauru de hoje, no confronto dentro do cenário desta insólita cidade hoje completando 124 anos. A briga juvenil é pano de fundo, no que quero lhes demonstrar. De um lado da contenda os tais ditos e vistos como poderosos, recebendo durante certo tempo até o pomposo nome de “forças vivas”. Estes e ao lado destes os “almofadinhas”, aliados dos donos do poder local, atuando na defesa do 1% detentor da grana, assim se enxergando como donos do lugar. Os que possuem dinheiro de fato são poucos, mas na defesa destes, muitos querendo ali chegar e fazendo de tudo e mais um pouco na defesa de interesses, que não são os seus, mas o fazem por nunca terem aderido à luta ao lado dos trabalhadores e pelo fim dos privilégios de uma casta.

De um lado da contenda pelo domínio territorial da “rua Paulo” estão estes e do outro, o nosso balaio de gato, muitas vezes se confrontando entre si, mas em outras – como vejo necessário neste momento -, unidos, todos os que almejam algo diferente, com melhor distribuição de renda, ocupação de espaços urbanos sem distinção, fim dos privilégios e propondo o que para os outros é inadmissível, sacar dos que mais possuem propiciando aos que menos tem uma vida mais confortável e amena. A grosso modo, talvez não privilégio de Bauru, mas sonhei com isto e queria relatar este sonho, justamente hoje, dia do aniversário desta cidade, que não escolhi nascer, mas aqui o fiz, cresci e vivo. Aprendi seus meandros internos e me aliei a pessoas, grupos nos quais pude ir tentando ocupar os espaços, dar voz a essa intranquilidade interior e assim, mesmo com muita adversidade, fizemos e acontecemos. Chegamos perto de mudar algo em alguns momentos, noutros não, mas nunca desistimos e a contenda continua, cada qual se municiando e se postando no campo de jogo ao seu modo e jeito. Se “eles” tem mais recursos, sabem se impor na base da marra, nós sempre demos um jeito, mesmo não vencendo de mostrar o quanto são perversos, ridículos e daí, seguimos em frente. Não desistir também faz parte do negócio.

Logo mais teremos eleições pela frente e nela mais um capítulo do enfrentamento em questão. Neste, toda a força do armamento da Zona Sul é colocado em jogo. Artimanhas pelas quais quase sempre perdemos feio. Hoje, esse grupo dos representantes dos interesses da minoria se mostram até mais usurpadores e violentos. São grotescos no que fazem, mas se o país, num todo não consegue fazer compreender suas camadas populares, o quanto de ruim Bolsonaro representa, como o conseguiríamos fazer em algo local, aqui na aldeia bauruense? De todas as candidaturas anunciadas, poucas possuem essa pegada com viés de defesa dos interesses populares e a maioria, essa ainda conseguindo engambelar o voto da maioria, faz uma triste defesa do lado nefasto da “rua Paulo”, a que ocupa e impõe pela força – ou enganando, ludibriando tudo o mais - sua permanência.

O jogo é este, sempre ocorreu desta mesma forma e jeito, mas como em alguns momentos a reversão foi possível, um dia o será novamente. E por que não agora? Talvez essa pandemia sirva para uma melhor conscientização, agrupando mais cabeças e mentes para a invasão e ocupação dos espaços, construindo algo realmente novo, transformador diante do que hoje vemos em curso. Sim, a “rua Paulo” pode ser essa aldeia bauruense e desta contenda nasça, floresça e frutifique algo bem diferente do que ocorre. Pode ser sonho, mas sonhar é preciso e junto do sonho ir construindo algo revolucionário, deixando o outro lado de cabelos em pé. Na verdade, quando este grupo querendo desencastelar os que ali estão estão deste o nascimento da cidade, perceberem serem maioria e se derem conta das injustiças todas cometidas em seu nome, a mesa poderá ser devidamente virada. Torço para essa generalizada “bagunça” ser viabilizada o mais rápido possível. 

Peço antecipadas desculpas as tudo, todas e todos pela pobre alusão e comparação, mas foi o máximo que consegui com meu sonho nesta noite. Ao acordar, ele ainda não estava de todo finalizado e formatado. Sei, sua finalização se dará aqui mesmo, nas ruas e lutas bauruenses. Vamos à elas.

NO ANIVERSÁRIO, DOIS JORNALISTAS E ALGO DE BAURU
1 - "Bauru, sua doida. Eu gosto do seu lado B. Dos meninos que levaram o Bauruzinho para casa, foram detidos e carregaram o boneco feinho em um carrinho de supermercado, ao lado de umas placas de trânsito. Do abaixo-assinado contra a estátua da Havan. Da onça que apareceu no Parque Vitória Régia, subiu em uma árvore e mobilizou a cidade. Do padre excomungado. Da cidade excomungada. Da cafetina que ficou rica, foi tratada como santa, depois perdeu tudo. Eny morreu em um prostíbulo de quinta, que história! Do Tim Maia inventando o bauruets. Da garota de Bauru, 15 anos de vida e cinco de rebu (saudade, Cazuza). Da lenda sobre o Raul Cortez circulando pela cidade por causa de uma paixão (era verdade, ele contou no final de uma peça!). Do Che Guevara no trem da morte (não tenho certeza, mas quero acreditar). Do anel esquecido do Nasi. Do Belchior que, em suas andanças, vivia por aí na fase de Partido Verde. Dos amigos de infância que o Pelé esqueceu. Do Tom Zé dando bronca no púbico - acontece em todo lugar, eu sei. E quem lembrar que conte mais histórias", jornalista Cristina Camargo.


2 - "No dia primeiro de agosto de 1896, Domiciano, ex-escravo do Capitão Araújo Leite, chegou a Bauru vindo do telégrafo de Bom Jardim, que era a ponta da linha da Sorocabana na época. Galopando em disparada com seu cavalo, agitando um papel em uma das mãos, uma pequena multidão o esperava soltando os foguetórios para o alto. Era o telegrama informando a mudança da sede do município de Espírito Santo de Fortaleza para Bauru (e a mudança do nome também). Era o fim da trama urdida pelos poderosos locais, que começara no dia 7 de janeiro, quando o nosso mito fundador dos relógios adiantados provocou a fundação de Bauru como município - pois antes era apenas um distrito. Foto: Bauru em 1905 (Comissão Geográfica e Geológica do Estado de São Paulo - Mugeo)", jornalista Luis Paulo Cesari Domingues.

EU E MINHAS SAUDADES
SABE DO QUE SENTIREI FALTA NA FESTA DO ANIVERSÁRIO DE BAURU NO VITÓRIA RÉGIA?
Da participação do Quintal do Brás. O facebook me faz recordar hoje resgatando foto do Brás, em texto de como conheci o grupo, o quintal, o Brás e tudo o mais que acontecia ali na beira da linha do trem, na vila mais ferroviária, carnavalesca e sambista desta cidade, a Falcão. De lá, tempos depois, quando atuei nas hostes da SMC - Secretaria Municipal de Cultura, como diretor de Patrimônio Cultural, tive a oportunidade de levar o grupo para tocar dentro do espaço do Teatro Municipal, ali na Nações Unidas, num belo projeto que aos domingos trouxe o samba de raiz para aquele espaço público. Muitos torceram o nariz, pois o local foi praticamente ocupado por gente ligada ao samba, mas nada de ruim aconteceu, aliás só de bom, pois sempre lotado, além de bombar, foi ali naquele lugar que o grupo do Quintal do Brás teve, não o pontapé inicial, mas o reconhecimento e a valorização que precisava para se impor e se tornar esse grupo cheio de belos talentos, muitos deles j´pa espalhados país afora, tocando e encantando muita gente. O hoje valoroso e já reconhecido Ivo Fernandes é cria deste espaço, ali se fortaleceu, como tantos outros e disto tenho o maior orgulho, talvez um dos maiores de minha passagem como homem público, o ter reconhecido neles, logo que bati os olhos e soube dar o incentivo que precisavam para depois deslanchar.
Durante anos, praticamente todos desde então, o Quintal do Brás é convidado natural, quase obrigatório e tem espaço cativo, lugar garantido num pedaço de chão no parque Vitória Régia, de onde no entorno de uma enorme mesa, vão se achegando os sambistas, ocupando os espaço e no entorno deles o povo, uma multidão. Dali o samba flui e se espalha pelo parque, toma conta de tudo e muitas vezes é mais animado e mais concorrido do que a atração musical traziada a peso de ouro para tocar no nobre palco. Este ano estaremos privados do Quintal, pois a pandemia nos obriga a este afastamento, mas nada impede de vir à tona as lembranças. Revivo isso com louvor, cheio de orgulho e contentamento, pois sei que para mim e para tantos outros, a festa de aniversário da cidade não é a mesma sem a presença do Quintal tocando ali no gramado. Se cada pessoa tem algo pelo qual gostaria de ser lembrado um dia, algo feito e deixado como legado, no meu caso, sem sombras de dúvidas, isso seria o fato de ter dado o incentivo para que o Quintal crescesse e se multiplicasse. Guardo isso comigo para todo o sempre. Baita abracito aos rapazes bons de samba de mesa, ao velho estilo consagrado do Fundo de Quintal e alguns outros. Releiam o texto que na época escrevi com a mesma emoção que o reproduzo. Enfim, eu só vou no Vitória Régia a cada ano na festa do aniversário de Bauru por causa do Quintal.
Eis algo que já escrevi deles no blog Mafuá do HPA: https://mafuadohpa.blogspot.com/search?q=Quintal+do+Br%C3%A1s

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