sexta-feira, 9 de outubro de 2020

DROPS - HISTÓRIAS REALMENTE ACONTECIDAS (184)


ELE NÃO PODE PARAR*
* Sigo hoje o dia inteiro só com historinhas, todas ocorridas no entorno de minha pessoa.

HISTORINHA UM
Ele acordou e sabia, teria que estar naquela cidade, atender cliente e o faz como na maioria das vezes, com seu carro.
Este seu ganha pão, ligou a máquina, cruzou os dedos e foi cumprir compromisso assumido, tirar mais um pedido, remar contra a maré.
Estava com pouca grana, colocou o que tinha de gasolina no tanque e pegou estrada, 140 km de Bauru e o fez só depois do almoço, pois sem grana, assim não passaria fome.
Chegou, atendeu o cliente e esperava receber de forma imediata, porém este não o pagou. Postergou e prometeu fazê-lo depois.
Ele, mesmo desmoronando, não insistiu.
Saiu de lá, sentou num banco da praça e pensou: "E agora, o que faço para voltar?"
A gasolina que tinha no tanque não daria, ficaria pelo caminho.
Pensou, matutou, enfim, não conhecia ninguém daquela cidade que, naquele momento pudesse lhe estender a mão e entender sua situação.
Precisa de R$ 40 reais, o suficiente para chegar em casa.
Não teve coragem de voltar ao cliente e contar sua situação.
Liga para amigo de Bauru, ciente de que este possui muitos conhecidos naquela cidade e para este se abre, conta a situação, quase chora.
Diz ter vindo com uma calça e por esquecimento, o dinheiro havia ficado em outra, hoje sem nenhum cartão, estava no mato e sem cachorro.
O amigo liga para seu conhecido e este lhe diz: "Posso ajudar, mas terá que esperar terminar reunião on-line, só lá pelas 19h, daí vou com ele no posto".
Liga de volta, explica e pensam juntos noutra solução. Sugere que vá ao posto, diga que o dinheiro do abastecimento será transferido para sua conta. Tudo acompanhado e só depois abastecer.
Diz também que vai enviar algo a mais, pois precisa se alimentar. Ele se recusa ao algo a mais, diz não estar com fome, explica ter almoçado antes de vir.
Combinam assim, ele chegaria num posto e de lá ligaria.
Desligam e a espera se mostra longa. O tempo passa.
"Por que a demora se ele já estava indo para o posto?", começa a se preocupar.
Passados uns 40 minutos, o telefone toca e do outro lado a explicação. No relato o amigo diz que, quando desligou o telefone, toca novamente e do outro lado o tal do cliente, o que terminou de atender: "Você ainda está na cidade? Volte aqui, preciso de algo mais".
Ele foi. Complementou o pedido e se antes adiara o pagamento, desta feita fez diferente: "Te fiz voltar. Não é justo não te pagar já". E pagou.
Agradece o que faria por ele, prometem se ver em breve, desligam seus telefones e assim, carro abastecido, inicia o retorno para Bauru.HISTORINHA UM*
* Sigo hoje o dia inteiro só com historinhas, todas ocorridas no entorno de minha pessoa.
Ele acordou e sabia, teria que estar naquela cidade, atender cliente e o faz como na maioria das vezes, com seu carro.
Este seu ganha pão, ligou a máquina, cruzou os dedos e foi cumprir compromisso assumido, tirar mais um pedido, remar contra a maré.
Estava com pouca grana, colocou o que tinha de gasolina no tanque e pegou estrada, 140 km de Bauru e o fez só depois do almoço, pois sem grana, assim não passaria fome.
Chegou, atendeu o cliente e esperava receber de forma imediata, porém este não o pagou. Postergou e prometeu fazê-lo depois.
Ele, mesmo desmoronando, não insistiu.
Saiu de lá, sentou num banco da praça e pensou: "E agora, o que faço para voltar?"
A gasolina que tinha no tanque não daria, ficaria pelo caminho.
Pensou, matutou, enfim, não conhecia ninguém daquela cidade que, naquele momento pudesse lhe estender a mão e entender sua situação.
Precisa de R$ 40 reais, o suficiente para chegar em casa.
Não teve coragem de voltar ao cliente e contar sua situação.
Liga para amigo de Bauru, ciente de que este possui muitos conhecidos naquela cidade e para este se abre, conta a situação, quase chora.
Diz ter vindo com uma calça e por esquecimento, o dinheiro havia ficado em outra, hoje sem nenhum cartão, estava no mato e sem cachorro.
O amigo liga para seu conhecido e este lhe diz: "Posso ajudar, mas terá que esperar terminar reunião on-line, só lá pelas 19h, daí vou com ele no posto".
Liga de volta, explica e pensam juntos noutra solução. Sugere que vá ao posto, diga que o dinheiro do abastecimento será transferido para sua conta. Tudo acompanhado e só depois abastecer.
Diz também que vai enviar algo a mais, pois precisa se alimentar. Ele se recusa ao algo a mais, diz não estar com fome, explica ter almoçado antes de vir.
Combinam assim, ele chegaria num posto e de lá ligaria.
Desligam e a espera se mostra longa. O tempo passa.
"Por que a demora se ele já estava indo para o posto?", começa a se preocupar.
Passados uns 40 minutos, o telefone toca e do outro lado a explicação. No relato o amigo diz que, quando desligou o telefone, toca novamente e do outro lado o tal do cliente, o que terminou de atender: "Você ainda está na cidade? Volte aqui, preciso de algo mais".
Ele foi. Complementou o pedido e se antes adiara o pagamento, desta feita fez diferente: "Te fiz voltar. Não é justo não te pagar já". E pagou.
Agradece o que faria por ele, prometem se ver em breve, desligam seus telefones e assim, carro abastecido, inicia o retorno para Bauru.

HISTORINHA DOIS
Durante algumas décadas ele viajou pelos quatro cantos deste país vendendo assinatura de revistas. Ganhou bem e contribuiu com a Previdência, sempre com valores baixos. Conheceu praticamente o país inteiro.
O tempo passou, o corpo já não conseguindo acompanhar a necessidade de continuidade do que fazia. Adoeceu, teve que se aposentar e o fez, caindo desmedidamente seus rendimentos.
Por certo tempo conseguiu se manter, enfim, tinha guardado algumas economias. Com a pandemia, elas se foram - elas e tudo o mais.
Algo precisava ser feito e foi. O que sabe fazer e bem é vender, de porta em porta, adentrando escritórios e convencendo no frente a frente a aquisição do que tem para oferecer.
O negócio de revistas está em baixa: "Fazer o que? Com o que posso neste momento aumentar meus rendimentos?", matutava.
Escolheu permanecer no que sempre soube fazer, inclusive comandando equipes de vendedores e o produto escolhido foi os mapas rodoviários.
Ligou para o conhecido fornecedor e este lhe envia um estoque, tudo em consideração e consignação.
Vai à luta, mas logo de cara percebe, os tempos são outros. O que mais ouve: "Hoje tenho o google maps, não preciso mais disso".
Consegue tirar leite de pedra, sempre vende algo, mas cada dia mais difícil. 
Não desiste e num arroubo pensa em mim. Liga e diz: "Amigo, você que é ligado nesse mundo político, me diga, sabe de alguém prercisando de comandar equipe na distribuição de propaganda política? Tenho experiência, sei como fazer, preciso trabalhar, a coisa não está fácil".
Conversamos bastante e lhe pergunto: "Tu conseguiu se aposentar?". Diz que sim e complementa: "Foi por baixo, hoje ganho uns mil e pouco, está complicado, preciso de mais".
Não lhe dou esperanças, pois dos que conheço, os de minha linha política, a maioria o faz por militância, de forma espontânea.
Antes de desligar ainda me diz: "Vender mapa ou revistas era uma mina de ouro. Todos queriam ter mapas nos seus escritórios e assinatura de revista era mamão no mel, hoje dureza total. Como os tempos mudaram, hem! Acho que nem revista os escritórios fazem mais questão de ter lá nas salas de espera".
Desligamos e me coloco em seu lugar, mil reais não dá nem para cesta básica e os remédios. Cada um rói o cerebelo em busca deste algo a mais, o complemente salvador que, em dias pandêmicos, cada vez mais inalcançável. Dilacerante ouvir as histórias que me chegam. A cada uma, definho junto delas.

HISTORINHA TRÊS
“Oi Henrique tudo bem? Meu amigo sei que estamos vivenciando momentos difíceis, mas estou pedindo um apoio dos amigos pois fui demitido várias vezes desde que encabecei a oposição e não consegui mais me firmar, a última empresa em que eu estava trabalhando, eu trabalhava escondido pra que ninguém ficasse sabendo, mas não sei como ficaram, me chamaram lá e me fizeram a proposta de pedir a demissão ou ser demitido por justa causa. Estou passando por momentos difíceis meu amigo, a minha esposa Qtambém Perdeu emprego e estamos pra perder tudo, enfim.... Estou passando por necessidades, minha energia foi cortada, estou sem despesa na minha casa. Todos me conhecem e sabem que eu corro atrás, luto e me viro como posso mas não consigo fazer uns bicos e estou pedindo ajuda aos amigos que me conhecem e sabem da minha índole. Tenho muita vergonha dessa situação, mas preciso engolir tudo isso e pedir ajuda aos que me conhecem, qualquer ajuda é bem vinda meu amigo e logo que tudo se normalizar faço questão de devolver.... Obrigado meu amigo”, o pedido.
Cortei alguns pontos, pois não quero, não devo e não preciso identificar a pessoa. Quero reproduzir algo se espalhando com o vento, cada dia mais e mais. Dificuldades aumentando, histórias se repetindo, uma atrás de outra, cada qual com pitada mais dolorosa.
Tento algo: “como posso te ajudar, meu amigo? Eu também tive tudo tão reduzido. Poderia ser com uma cesta básica?”. Sua resposta: “Oi meu amigo, eu estou muito envergonhado de estar pedindo, mas preciso. Aceito qualquer ajuda meu irmão, serei muito grato”.
Quando lhe digo de divulgar, tentar ampliar o leque de gente lhe ajudando me diz: “Oii Henrique, na verdade por mim eu não tenho problemas com relação a isso, mas a família da minha esposa me critica muito por ter escolhido lutar e ter perdido todos esses empregos, ter sofrido todas estas demissões. A família dela é muito grande, alguns são muito bem de vida, mas não peço nada a eles, pois sei que virão as críticas e eles começarão novamente a falar das minhas escolhas. Por esse motivo eu peço pra não ser exposto meu amigo, isso me traria problemas.... Me desculpe Henrique. Mas essa família é complicada e com certeza vai acabar em brigas”.
As escolhas que a gente faz em vida, lutar por direitos, fazer a defesa da causa dos trabalhadores, que queiram ou não, causa medo e apreensão. Quem o faz, ainda mais nestes tempos, o faz acuado, sem respaldo e ciente de que, por qualquer coisinha, será o primeiro da lista. Muitos estão na mesma situação, perdendo o pouco que possuem, principalmente o emprego, pelo simples fato de serem sindicalizados e levantar a voz em defesa das leis trabalhistas. Terra arrasada, dos medrados e medrosos, desembocamos nessa nhaca e agora, a pergunta que não quer calar: Como reverter isso?
“Henrique, eu não tinha nenhuma estabilidade, não tinha quem me defender na hora que o cara me disse para escolher pedir demissão ou ser mandado embora por justa causa, só por ter pedido por meus direitos. Os direitos não mais existem e os empregos, a maioria deles só é mantido aos que se calam, quietos e conformados. Eu não aguento isso”, desabafa.

HISTORINHA QUATRO
noite de quinta, 08/10
SITUAÇÃO INSUSTENTÁVEL NO POSTO SAÚDE CENTRAL NA RUA QUINTINO BOCAIÚVA, CENTRO DE BAURU - SEM ÁGUA PARA ATENDER OS PACIENTES
"Em pandemia, situação de covid, sem água no Posto Saúde central. Banheiro sem poder dar descarga. É preciso que órgãos competentes visitem o Posto Saúde Central para documentar a caótica situação. É muito lamentável, é preciso que órgãos competentes tomem conhecimento disso através de um advogado e venham ver pessoalmente as condições do local de trabalho, pois funcionários vem sofrendo, punição por denunciar isso ou questionar as condições. Não podemos documentar a verdade.
Não vou desistir, é preciso ter muita coragem!", relata um funcionário.
Só mesmo com uma fiscalização para que medidas sérias sejam tomadas.

manhã de sexta, 09/10
Funcionários do Postão de Saúde da rua Quintino Bocaiúva, centro de Bauru, trabalhando em condições precárias.
Um deles me envia relatos da situação e se diz perseguido: “Tentam impedir que continue denunciando o que aqui acontece. Eu não tenho medo de ameaças e só paro quando tudo for resolvido. Podem me processar, vou até o fim. Isso aqui do jeito que está não pode continuar”.
Alguns dos seus relatos: “Peça para um jornalista vir documentar o banheiro interditado neste momento. Desde ontem sem água. São 8 horas e 16 minutos, eu já documentei o que pude, mas preciso de alguém dos usuários de fora para documentar isso ou um jornalista. Não posso fazer tudo sozinho”.
Escreve mais: “Quero entrar com ação no ministério, mas preciso que o povo também se mobilize, não posso aceitar pressão psicológica ou outras, estou fazendo a minha função de profissional da Saúde, querer um atendimento digno a população, condições para os funcionários trabalhar em pleno covid. Não peço nada além disso. Não tenho medo de nada, mas a população tem que mobilizar!! Tem que pedir uma auditoria no núcleo de saúde centro”.
O servidor municipal se expõe até mais do que podia. Quando age da forma como o faz, movido não por interesses eleitorais, pois também me diz: “Tem candidato aí que sei, será pior do que o vejo acontecendo hoje. Precisamos de gente que goste do serviço público, que o entenda, o incentive e melhore essas condições. Não precisamos de privatização. Precisamos de olhos voltados para a penúria onde nos encontramos. Por favor, mande alguém aqui para constatar o que lhe digo”.
Eu, conhecendo muito bem o servidor, sei que seu lamento é uma garrafa lançada ao mar com um pedido de socorro dentro e faço questão de espalhar, de divulgar, de passar adiante. Independente de estarmos no meio de uma campanha política, hoje falta água em muitos pontos da cidade, inclusive no posto de saúde aqui citado, também com banheiros entupidos. Passo a mensagem adiante para que possa causar o estardalhaço necessário, até que se consiga uma solução plausível para o que vem ocorrendo – e não de hoje, de muito tempo. Os corajosos, os que não param, os que enfrentam o touro à unha, esses são verdadeiramente os imprescindíveis.
OBS.: Fotos enviadas a mim por usuários do citado posto de saúde.

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