terça-feira, 13 de outubro de 2020

OS QUE FAZEM FALTA e OS QUE SOBRARAM (142)


RECOLHENDO HISTÓRIAS
1.) TAXISTA NA ZONA - HISTÓRIAS SABOROSAS DA VIDA URBANA
Isso me instiga e provoca. Adoro ouvir histórias de taxistas, destes com trabalho diário em lugares onde as histórias fluem de forma mais apimentada. Ser taxista já é uma aventura diária, por tudo o que ela sempre representou. Receber em seu espaço físico pessoas das mais diferentes especificidades é algo pra enlouquecer gente sã, um verdadeiro divã de loucuras mil. Recolho muitas destas e as especificamente dos que trabalharam em zonas do meretrício, algo além do normal como estamos acostumados a frequentar e conviver. Daí, o inusitado sempre causa mais e daí, as histórias dali provenientes, com aquela pitada do algo a mais, arrebatadoras.

Durante alguns anos cerquei aqui em Bauru em senhor que sabia havia trabalhado por décadas como taxista na antiga Zona do Meretrício, aquele famoso entroncamente humano que ficava além do Hipódromo, depois do Redentor, a caminho do Geisel, lá perto de onde fica hoje a Vila Tecnológica, por ali. O ponto mais conhecido por lá ficava na esquina principal e ali, alguns carros parados dia e noite. Este senhor, especificamente ele, tenho a imagem dele aqui comigo e quando a zona já tinha fechado, o reencontro nas ruas e o interpelo - frequentei o local em minha juventude. Ele se mostra solicito, mas estava junto da filha e ela foi taxativa: "A gente faz questão de esquecer esse período da história dele". Sai de fininho, mas percebi, ele queria falar, mas a família o impediria. Depois vim a saber que a filha dele se casou com um, naquela época amigo vindo de Bariri para aqui residir e se estabeler. Tentei junto a ele, mas não gostava nem de tocar no assunto, até para não criar problemas com a esposa. Esqueci deles, o taxista se foi, faleceu tempos atrás e suas "saborosas" histórias se perderam para sempre.

Ontem ao tomar conhecimento da história do senhor José Maria de Jesus, seu Zé do Boné - por causa do inseparável boné branco nos tempos de taxista -, soube que ele, além de outros pontos, também atuou na zona do meretrício. Seu Zé está internado, 91 anos e com aquele monte interminável de histórias ali bem guardadinhas em sua memória, hoje reclinado num leito hospitalar. Eu sou devoto dessa tal de Memória Oral, ou seja, recolher histórias das pessoas, principalmente as onde possam contar também as inusitadas, ousadas, fora do trivial. E daí, nada melhor do que ouvir as que taxistas de zonas guardaram por décadas em suas cacholas. Foram, sem o saber, sujeitos privilegiados e já viram e ouviram quase de tudo na vida. Não se faz necessário contar o nome do santo, mas relatar o ocorrido, algo necessário até para conseguir uma restituição bem próxima da realidade de como se deu de fato parte da história das entranhas de uma cidade.

Ando querendo conversar com taxistas, ouvir seus relatos. Hoje mesmo, meu amigo Marcão, o Comunista em Ação, me liga e diz de outro, seu Jonas, que ficava num ponto ali perto do Magazine Luiza - não sei se ele trabalhou na zona - e por ter lido o que escrevi ontem do seu Zé do Boné, passa a me contar relatos de quando pegava o táxi do Jonas para levá-lo à rodoviária no meio da noite. Nesse curto trajeto ouviu histórias e algumas me contou. Imagina o que alguém como o próprio Jonas teria para relatar. Se alguém conhecer taxistas que tenham trabalhado na zona, me avisem ou algum outro taxista das antigas, cheio de boas histórias, me contatem. Não sei se sabem, mas nestes tempos de pandemia, trancado há quase oito meses dentro do meu lar, acabo tendo bocadinho mais de tempo que antes, daí tento aproveitá-lo juntando histórias e as colocando no papel. Me ajudem...

2.) PAREM AS MÁQUINAS POR ALGUNS INSTANTES E PRESTEM ATENÇÃO NISSO AQUI
Recebo dias atrás, via reservado do facebook essa mensagem do ator José Francisco Gimenez Camilo:
"Através das vidas e memórias de seus antigos habitantes, novos moradores e eventuais visitantes, o longa busca criar um panorama das transformações vividas pelo bairro de Itatingui, onde o passado, o futuro e as tradições regionais e se unem para contar a história de um dos bairros mais icônicos da cidade de Pederneiras."

Veio com este link que fui conferir: https://twitter.com/ZCamilo1/status/1314887607323631616...
Disse ter ficado curioso e querendo conhecer algo mais. Ele me responde assim:
“Bom dia! Seo Gelindo, foi um dos comerciantes mais antigos e longevos de Pederneiras! Fomos vizinhos, e amigo da família. Sua esposa era tia de minha sogra, para o estreitamento de nossos sentimentos. Foram 104 anos, que perpassaram por todo Século XX, e adentrou os nossos tempos atuais! Quando fez 100 anos, decedi escrever ao JC. Agora, às voltas de mais uma primavera, chegou ao seu derradeiro destino! "Tem gente que vem e quer ficar..."

Na carta que o Camilo publicou na Tribuna do Leitor do JC, 06.10.2020, PIANÍSSIMO, o gostinho de querer mais, daí peço encarecidamente para o missivista e dileto neto, que publique algo mais, fotos e as histórias deste centenário senhor:
“Dose dupla! Passou-se um século!
O temível Bug do Milênio! Tsunames, furacões, "El Nino"... Aedes e outras endemias e pandemias...
Assim o "Vô Gelindo" suportou a todas adversidades! Combateu o bom combate! Desafiou e seguiu com passos firmes em sua rota histórica e determinada!
Nesse último agosto, em pleno outono, passou o bastão, após uma performance admirável. Miremos nesse fato, raro, em futuras gerações.
Às vésperas de mais uma primavera, como era de seu estilo, "deu adeus à francesa"! Sem alarde.
Vô Gelindo, permita-me a intimidade: brindemos por este 104 generosos e belos aniversários festejados!
A vida é bela!”

OBS.: A foto é do Camilo, mas aguardo mais do seu Gelindo, pois quero mais e mais saber de tão instigante e provocante centenária pessoa.

3.) AS HISTÓRIAS QUE PESCO DE TUDO O QUE SAI PUBLICADO - O MÉDICO RUDE COM SEU PACIENTE
Essa eu li num comentário de um post que fiz sobre dos motivos que tenho para não votar e passar longe do candidato a prefeito Raul, o que gosta de ser chamado de Dr. Recolho algo desta natureza e aqui publico, postado pelo ator e bonequeiro (arte dos bonecos de manipulados e a da fabricação dos mesmos) Paulo Balderramas:

"Esse Raul destratou minha mãe quando a secretaria dele disse que “ainda tem uma senhora pra atender, mas é convênio”.
RAUL: “Só me aparece essas bombas mesmo.”
Minha mãe jogou a receita no lixo. Não voto nesse homem nem se ele dar dois olhos novos pra minha mãe, bicho nojento...".

A gente deve juntar tudo isso na hora de sacramentar um voto, definir um candidato e a melhor percepção de quem seja de fato a pessoa humana por detrás do candidato, algo mais do que necessário, até para não se votar em lobo em pele de cordeiro. Vejo essa curta, rápida, grossa e reveladora historinha como esse algo a mais tão necessário para se ter de fato e de direito o conhecimento de quem são as pessoas por detrás das máscaras construidas para uma campanha e para se atingir os objetivos propostos. 

Isso para mim faz e tem muita importância. Ele, Raul tem aquela outra, aqui já contada de quando diante dos médicos cubanos chegando para atuar no país e em Bauru, se viu contrariado e não entendendo como eles podiam trabalhar praticamente com salários irrisórios, disse aquele algo mais, a demonstrar como agia e como age a imensa maioria dos médicos brasileiros: "Médico brasileiro não trabalha por mixaria". Junto as duas e com outras tantas, passo ao largo de ousar pensar em votar alguém agindo nessa linha de pensamento e ação. Outras histórias virão, pois na junção delas, unindo-as à pessoa por detrás delas, a gente conhece quem é quem de verdade.

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