quinta-feira, 22 de abril de 2021

MÚSICA (197)

TOCANDO LEVEMENTE NAS FERIDAS E COM TRILHA SONORA

CIDADE PEQUENA, EMPREGO SEM REGISTRO, SITUAÇÃO COMPLICADA E OLHOS PARA O PEQUININO CÃO NA CASA ABANDONADA


A história eu conto, sem revelar as identidades, nome da cidade, da pessoa, ou nada que possa facilitar localizações. Vale o escrito pela belezura do presenciado.

Uma pequena cidade na região de Bauru, onde muitos trabalham para um único empregador e este, mantém a maioria sem registro em carteira. Perguntado se consegue dormir à noite, não titubeou: “Sim, sem problemas, faço a minha parte e bem feita”. Faz mesmo, pois ciente de, na sua ausência, os que hoje estão sob suas asas estariam desempregados. Daí, tira proveitos, paga quanto quer, como quer e todos calados, contidos, cabisbaixos e resignados, enfim, fazer o que além disso naquele lugar. Este personagem que aqui retrato vive sob esse jugo e assim segue o jogo. Sem registro, como diarista, seu ganho é de no máximo R$ mil reais mês, mesmo tentando se esforçar ao máximo para aumentar a produção, bater metas, conquistar novas etapas, mas nada disso é suficiente, ou melhor, uma também computação que nunca bate, numa pode ser checada e muito menos contestada. Todos onde trabalha sofrem do mesmo mal, mas o empregador, como único, acha que sempre faz e muito. E já avisou, se reclamarem, além de perder o emprego, ela para e vai fazer outra coisa. E eles farão o que?

Conheci uma história de pessoa ali atuando, vivendo essa dura realidade e levando sua vida, ou ao menos tentando dentro da realidade de sua localidade. Cumpre seu horário, tenta ao máximo cumprir o estabelecido ou ao menos passar desapercebido, para não chamando a atenção, ir tocando a vida. Querer se mostrar é outro problema, pois o empregador pode achar a pessoa enxerida e cortar suas asas, nunca mais lhe abrindo as portas. Na pequena cidade é aceitar isso tudo ou se mudar, mas neste momento, ir para onde, fazer o que, como pensar em algo diferente com tudo parado e com problemas similares? A vida continua nas horas vagas e o que me faz contar isso, com essa apresentação é que, mesmo nas maiores adversidades, a personalidade da pessoa muda pouco. Tenho comigo e sei posso estar errado, o pobre é mais sensível para as pequenas coisas deste mundo do que os com bastante capital e condições de fazer algo concretamente.


Um destes trabalhadores, no caminho diário de seu trabalho uma casa abandonada e nele, ali todo dia um cão deitado diante dela, magrinho e clamando com aqueles olhos que todos conhecem, “ei, eu tô aqui, viu!”. Ele foi visto e com o passar dos dias, cada vez mais triste e sempre deitadinho numa grama defronte a casa. Começa a trazer uma pequena quantidade de ração e todo dia, num potinho trazido deixa num lugar específico. Vai e volta e o potinho vazio, ele arredio, desconfiado e notando a aproximação, sai para os fundos – a casa não tem muros. Fica intranquilo e perturbado quando não trabalha até mais tarde, consegue carona e deixa de passar diante da casa. Traz consigo um saquinho e nele ração. Não tem cão, conseguiu alguma até agora por intermédio de amiga, essa lhe deu porções, dividiram o valor, mas ultimamente essa se encheu, cansou e assim, conseguiu outra fonte. Seu dinheiro, mal dá para seu sustento e sabe, comprar ração seria neste momento algo feito com imenso sacrifício. Consegue um pouco ali, outro acolá e dias atrás, tarde da noite, consegue com vizinho que tem cão, uma pequena porção e leva. O bichinho estava lá deitadinho ao relento, todo enroladinho e ao vê-la, com o rabo entre as pernas, some para os fundos. A ração é deixada e do outro lado da rua observa quando ele se aproxima e come tudo, depois deita de novo.

A cena se repete dia após dia, cada um com novo roteiro de como conseguir a ração do dia, mas até hoje sem faltar. Já pensou em levar o cão para sua casa, mas lá já alguns gatos e todos também mantidos com muito amor e sacrifício. Não vê como fazer nada além do que já faz. Tentou falar com colegas e amigos, sendo a resposta, muitos sensíveis, mas de igual teor: “Não vai dar, mal consigo sobreviver” ou “Já tenho o meu e está difícil”. Não quer desistir e por lá não existem entidades para cuidar destes animais. Vê muitos por onde passe, os tais abandonados e de rua. Faz a sua parte e quando questionado sobre o motivo da insistência, mesmo diante de tantos problemas seus, as contas que não fecham nunca, continuar na dedicação para este ser mais desprotegido. Sua resposta: “Não faço isso pra ganhar nada em troca. Eu sei como é estar uma situação difícil, e procuro sempre ajudar quem precisa, seja uma pessoa ou um animalzinho, acho que fazer o bem não faz mal a ninguém”.


Eu cá do meu canto, quando li isso me ponho a matutar sobre o que vai de verdade na cabeça das pessoas, boas e más, ricas e pobres. Um que poderia dividir mais o bolo, continuar ganhando muito, mas proporcionando um bem estar de fato, porém prefere manter o seu lucro sempre em alta, pouco se importando para os demais. Ou até talvez crendo que, só consegue ser o que é por agir como age e se abrir a guarda, perde a força. E dentre todas as histórias destes vivendo com tão pouco, só uma das tantas histórias vividas quando fora do ambiente de trabalho e algo da sensibilidade que, acredito os mais simples possuem em maior escala que os mais abastados. Alguém me diz aqui no meu ouvido, que em ações comunitárias, os menos abastados ajudam muito mais do que os com condições de realmente transformar as coisas. Junto isso tudo nessa relação entre alguém que encontrou no ato junto a um cão, um algo mais, um motivo para se mostrar presente e mesmo sem resolver, faz e assim mostra seu lado mais belo. São histórias que poderiam passar batidas, mas quando juntei o origem da pessoa com o relato a mim passado, junto de algumas fotos, fiquei cá imaginando algo desse inexplicável modo como as pessoas tocam e levam suas vidas. É só. Nem sei se consegui me expressar bem, mas queria colocá-la no papel e ao sentar aqui diante do computador, foi o máximo que consegui. Todos estamos mais ou menos sensíveis. E toda e qualquer história se torna grandiosa.

"O MEU LUGAR É NÃO MUDAR DAQUI, SEI QUE MEU SONHO VAI VIVER POR MIM"
Comprei em 1984 um LP cheio de músicas homenageando alguém dito e visto como herói nacional, "Joaquim José da Silva Xavier - Tiradentes - Nosso Herói", pelo selo Barclay/Ariola. Em onze faixas, muito bem apresentadas, vozes conhecidas e algo bem lúcido sobre a História do Brasil. Escolho ouvir LIBERDADE, na voz de JOÃO BOSCO, letra dele e de Cacaso. E assim relembro a passagem do feriado em homenagem à Tiradentes e a essas liberdades que tanto almejamos e pouco a conquistamos de fato. Eis o link: https://www.youtube.com/watch?v=KLxyxMDnkq4

Eu todo sonho/ É sempre um céu azul/ Em todo sonho é sempre um mar sem fim/ Só mesmo um louco pra sonhar assim/ Sonha viver/ Em liberdade/ Meu canto é livre/ E a paixão sem fim/ O meu lugar é não mudar daqui/ Sei que meu sonho vai viver por mim/ Mesmo que tarde/ A liberdade/ Luz da Matriz/ Som a tocar/ Luz das Mercês/ Luz do Pilar/ Gente a passar/ Muitas cabeças.

HOJE FOI ALÍPIO FREIRE - A CADA DIA UM QUE SE VAI...
https://www.facebook.com/1952439404986933/videos/720298071745948

Documentário - Passeio pelo Memorial da Resistência.
Dando continuidade ao passeio pelo Memorial da Resistências-SP apresentamos uma entrevista com o jornalista, escritor, cineasta e artista plástico, Alípio Freire.
Freire, frise-se, foi preso político entre 1969 e 1974 tendo sido encarcerado e torturado nas dependências do antigo Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo – Deops/SP. Por ironia da história, Alípio Freire, foi um dos envolvidos na idealização do projeto do Memorial da Resistência.
Lembrando que o Memorial objetiva preservar a memória referente a esse importante período da história do Brasil.
Entrevistado: Alípio Freire
Entrevistador: Prof. Amarildo Vieira.

"ELE É A FORÇA QUE A FORCA NÃO PODE CALAR"
Feriado Nacional por Tiradentes, saco para ouvir lá dos cafundós da vitrolinha e de minha ainda útil memória a canção NOSSO HERÓI, da lavra de FERNANDO BRANT (1946-2015) e TAVINHO MOURA, dois mineiros que entendem bem disso de conspirações em terras montanhosas. Sua letra é um louvor ao construtor anônimo de todo processo histórico, o povo. Essa lindeza está no CD "Conspiração dos Poetas", dos dois, 1997 e a letra é dessas coisas a revolucionar mentes em busca da realização de alguns dos seus utópicos sonhos. Eis o link: https://www.youtube.com/watch?v=xN4R2J9mQjg

“Ah, quem será o herói/ dessa nossa história/ que vai tecer o amanhã?/ Quem será o herói/ quem será a força/ que a forca não pode calar?/ João e Maria que se dão bom dia?/ É dona Teresa que coloca a mesa?/ É o Valdemar que vai trabalhar?/ É dona Das Dores que nos manda flores/ É o amigo Pedro que já não tem medo/ seu José que é de boa fé./ Quem será o herói?/ É quem faz cimento, quem carrega areia/ Quem amassa o pão e ama a lua cheia/ Sabe que a chuva é pra molhar:/ João e Maria, Valdemar e Pedro/ João e Teresa que é nossa Das Dores/ Joaquim José da Silva Xavier/ Meu povo é meu herói.../ Ele é a força/ Que a forca não pode calar!".

DO GAROEIRO, CORRESPONDENTE MAFUENTO EM NATAL RN, ALGO DO SEBO VERMELHO
Fui duas vezes para Natal RN e nas duas, além das belas praias, algo me é inesquecível, um sebo no velho centro da cidade. Trata-se do SEBO VERMELHO, do livreiro e editor de livros Abimael, abnegado pequeno comerciante, resistente como aroeira que, além de manter o negócio a reunir gente de todas matizes para suas modestas instalações, produz livros com a temática sempre girando em torno de algo regional. Consegue colocar no mercado livros divinais contando alguma história dali, ou seja, tira leite de pedra. Não existe lugar que vá, que não procure lugares como este e assim, logo na primeira visita para a cidade, acabei conhecendo e me apaixonando por aquele lugar. Agora, meu baita amigo, o professor Jeferson, popular Garoeiro, exilado em terras nordestinas para sofrer menos nestes tempos, me envia link de matéria do jornal local, o Tribuna do Norte sobre algo mais a acontecer da lavra do Abimael e me cita: "Abimael falou que faz questão de sua ilustríssima presença". Eis o link da matéria: http://www.tribunadonorte.com.br/.../sebo-vermelho.../508280

Não sei se Garoeiro me pede - seria melhor exigir, pois assim iria mesmo - a presença por lá ou simplesmente quer que acompanhe o desenrolar dos acontecimentos por aqui mesmo, via virtual? Na dúvida, posto do texto e o consulto, primeiro para saber se as acomodações estariam preparadas e depois, infelizmente lhe informando algo a lamentar: fui consultar minhas parcas possibilidades no momento e a alma gêmea, companheira de todas as horas, não conseguindo nenhuma liberação para viagens neste periclitante momento. Daí, terei que acompanhar as folias do Abimael, com certeza contando com a presença do Garoeiro à distância.

Em 12/12/2014, quando da primeira visita, escrevi isso e postei no meu blog, o Mafuá do HPA, com fotos tiradas no lugar: https://mafuadohpa.blogspot.com/search?q=abimael. Quando voltei anos depois, comprei vários livros e no dia seguinte, depois de tanto propagandear do lugar, convenci minha sogra e fomos para lá, eu e ela. Na dificuldade de andar por longos trechos, a empurrava de cadeira de rodas, mas não esmoreceu e lá estivemos, com ela conferindo in loco tudo aquilo que havia lhe contado do lugar. Passamos bom tempo por ali e hoje confesso, gosto muito de praia, ainda mais naquela região, mas não consigo abrir mãos de um lugar como este, aconchegante, profano, magnetizante e livresco. Hoje, aqui confinado e sem vislumbrar ainda algo diferente, vivo de saudades, lembranças e de recontar velhas histórias, além, é claro, de estar louco para botar o bloco na rua e fazer o que ainda consiga para virar essa mesa e restabelecer a normalidade neste país hoje de pernas para o ar. Agora, estar lá com Abimael neste momento é dessas coisas que me fazer sonhar e ter ereção sem fazer uso das mãos.

"NA AMÉRICA, NUM CLARO INSTANTE, DEPOIS DE EXTERMINADA A ÚLTIMA NAÇÃO INDÍGENA"
Como todos sabemos muito bem, todo dia deveria ser o Dia do Índio, mas ontem, foi mais um dia determinado para relembrá-los e aqui revejo UM ÍNDIO, canção mais que linda do Caetano Veloso. Aqui a relembro na voz do Frejat, do BARÃO VERMELHO, interpretação mais roqueira, muito boa. Grande disco lançado pelo Barão Vermelho em 1996, @lbum é um disco de versões, aliás, de excelentes versões, com a pegada característica do grande Barão Vermelho. Essa versão do Barão ficou muito boa, principalmente a parte do solo no final, muito melódica. A letra é sensacional né? Não precisa dizer nada, Caetano genial! Eis o link: https://www.youtube.com/watch?v=9h1YnL1P8Fc

Um índio descerá de uma estrela colorida, brilhante/ De uma estrela que virá numa velocidade estonteante/ E pousará no coração do hemisfério sul/ Na América, num claro instante/ Depois de exterminada a última nação indígena/ E o espírito dos pássaros das fontes de água límpida/ Mais avançado que a mais avançada das mais avançadas das tecnologias/ Virá/ Impávido que nem Muhammad Ali/ Virá que eu vi/ Apaixonadamente como Peri/ Virá que eu vi/ Tranqüilo e infálivel como Bruce Lee/ Virá que eu vi/ O axé do afoxé Filhos de Gandhi/ Virá/ Um índio preservado em pleno corpo físico/ Em todo sólido, todo gás e todo líquido/ Em átomos, palavras, alma, cor/ Em gesto, em cheiro, em sombra, em luz, em som magnífico/ Num ponto equidistante entre o Atlântico e o Pacífico/ Do objeto-sim resplandecente descerá o índio/ E as coisas que eu sei que ele dirá, fará/ Não sei dizer assim de um modo explícito/ Virá/ Impávido que nem Muhammad Ali/ Virá que eu vi/ Apaixonadamente como Peri/ Virá que eu vi/ Tranqüilo e infálivel como Bruce Lee/ Virá que eu vi/ O axé do afoxé Filhos de Gandhi/ Virá/ E aquilo que nesse momento se revelará aos povos/ Surpreenderá a todos não por ser exótico/ Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto/ Quando terá sido o óbvio.

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