sábado, 8 de maio de 2021

REGISTROS LADO B (44) e UM LUGAR POR AÍ (148)


POLIVALENTE PAULO BALDERRAMAS, FALA DE RÚBYA, TEATRO, SUA FÁBRICA DE BONECOS E MUITA POLÊMICA NO 44º LADO B, SEMPRE UMA BOA PROSA
As duas últimas escolhas do bate papo proporcionado pelo LADO B – A IMPORTÂNCIA DOS DESIMPORTANTES, conversa semanal deste mafuento HPA com ricos personagens do cenário que não estão na mídia, tem recaído sobre temas candentes no momento. Na semana passada a escolhida veio após tomar conhecimento do filme Nomadland e nada melhor, do que convidar uma nômade como a protagonista do filme. Para essa semana, após a triste notícia do falecimento por Covid do ator Paulo Gustavo, com apenas 42 anos, cujo personagem dona Hermínia nos traz tanta alegria, fui me lembrar de Rúbya, a também personagem que o ator PAULO BALDERRAMAS interpretou por longos anos de estrada e em 2015, decidiu por encerrar o ciclo, dando nova guinada em sua carreira e vida. Pensei cá comigo, este o momento mais do que exato para trazer o nosso Paulo, vivíssimo e alguém também reverenciando sempre muito a mãe, enfim, morando os dois juntos no Novo Jardim Pagani, ele com 49 anos e ela com 75. Juntei as duas histórias, criei coragem e fiz o convite, prontamente aceito. Paulo me confessa: “Estava esperando o convite desde o dia em que num comentário quando da entrevista com Mariza Basso, você ali disse que poderia ser um dos próximos”. Não foi tanto tempo assim, Mariza foi a 34ª entrevistada e Paulo é agora o 44º. A conversa vai render.

Todas as 43 até agora renderam e muito. De cada tenho boas recordações e aprendi a conhece-los melhor e também a gostar mais de todos os até aqui convidados. Creio estar traçando um belo perfil deste LADO B bauruense. PAULO BALDERRAMAS é personagem de difícil descrição, enfim, o danado já fez de tudo um pouco e das coisas que já tomei conhecimento, sempre o via quebrando barreiras e aprontando de um jeito maravilhoso, sendo, fazendo e acontecendo. É ator teatral, tendo viajado muito pela aí, foi um dos pioneiros do nosso teatro de bonecos - que nessa semana tem mais um Festival Internacional de Bonecos se iniciando -, performático com sua arrebatável Rúbya, performance de inestimável valor, comparável à Hermínia do Paulo Gustavo e depois de tudo, quando encerra o ciclo da imodesta e cheia de luz personagem, dá novo sentido para sua vida e junta do sócio Humberto, virou um fabricante de bonecos. Percorreu o trecho teatral e onde era convidado para atuar, levava suas peças e vendia tudo. Fez e aconteceu a vida inteira e se gaba de manter uma fisionomia sem sequer um “pé de galinha” no rosto.

Paulo é intenso em tudo o que faz e isso o dignifica demais da conta. Gostoso demais prosear com alguém tão iluminado. Ele já me adianta que na última entrevista que deu, o entrevistador lhe fez uma pergunta e quase não se ouviu mais sua voz, pois ele empunhou o microfone e daí por diante só deu ele. Ou seja, um sujeito decidido, ousado e falante, provocador, irreverente e senhor de si. Tem muito para contar e além de sua vida, falaremos, claro, desse momento cultural atual. Ontem mesmo, quando gravamos uma chamada para este Bate Papo, ao final, me envia um áudio com desculpas, dizendo que não pode compartilhar o vídeo feito por mim, pois ao tentar fazê-lo se descobriu bloqueado pelo facebook. O motivo foi que, havia postado em sua página um texto sobre a morte do ator Paulo Gustavo e uma senhora nada elegante comenta de forma acintosa, desrespeitosa aquela baboseira já conhecida, dos tais preceitos cristãos para justificar a morte. Paulo não se segura e a manda para aquele lugar, sem nenhum lastro, como também o faria e por causa do destempero, teve sua página bloqueada por um dia. Eu e ele somos assim, não nos seguramos nas calças e daí, algumas consequências.

Outra coisa. Quando o convidei ele, aceitou prontamente, mas me disse algo: “Creio não conseguir produzir um relato alegre, pois estou vivenciando um momento triste, cheio de preocupações, muita coisa junto e daí, talvez saia um depoimento amargo, ressentido”. Respondi a ele ser isso mesmo a melhor impressão que temos para dar ao mundo neste momento. Enfim, como repassar alegria, se todos os sensatos estamos mais que tristes e macambúzios com tudo o que vemos acontecendo e se repetindo fora de nossas janelas. Fizemos a tal chamada e por lá, conseguimos superar o momento e falar de algo alegre, mesmo com muita tristeza embutida dentro de cada um. A gente tenta e sei, pelas histórias de vida do Paulo e sua vivência, seu relato vai ser dos mais contundentes. Além de ter muita história para contar, tem a fluidez da fala, a desavergonhança no trato para com o oponente e tudo o mais que lhe apareça pela frente. Estar diante de pessoas assim, corajosas por natureza é mais do que bom. Teremos uma hora – que acredito será pouca – para tanta coisa. Teatro, os livros, as viagens, a interpretação, o público nas boates e as crianças, os bonecos, a confecção das peças, enfim, a intensidade de uma vida vivida de uma forma admirável.

Eis o link da gravação completa, hoje extrapolando qualquer expectativa, com 1h45 minutos: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/4517601914936449

COMENTÁRIO FINAL: 
Paulo Balderramas é ótimo por ser muito autêntico. Fala de tudo e não tem papas na língua. Ao fazer o relato de sua vida, conta detalhes instigantes e cita muitos nomes, muitos deles de gente ainda por aí. Não se importa nem um pouco com isso. A maioria dos citados, principalmente dos tempos quando atuava na área cultural, apresentando espetáculos de cidade em cidade. Fica ressaltado o pouco caso de muitos para o pessoal do teatro, da área cultural e mesmo os arrogantes que a gente está mais do que acostumado (sic) a trombar durante uma vida inteira. Depois de tantos anos de estrada e tendo conseguido atingir sair da eterna dependência de sobrevivência, tudo o que fala é sem medo de ali na frente ser prejudicado, tolhido, pois já passou deste período. e daí, fala de tudo e todos. Melhor parte ficou para a parte final, quando após discorrer sobre todas sua trajetória, inclusive a da drag Rubya Bitencourt, dos motivos de ter começado e de tê-la aposentado, ele começa a falar sobre os destinos da Cultura bauruense. Diz ter lutado muito, mas após o cancelamento pela atual administração, a da prefeita Suéllen e na pessoa da atual secretária, Tatiana Sá, sua amiga, do PEC - Programa de Estímulo à Cultura, se desencantou de vez e como vive em outra condição, arrumou outra coisa para lhe garantir o sustento, defende que os artistas devem lutar pelos seus direitos, mas ele mesmo não quer mais insistir, pois percebe que de nada adiantará. Fala muito da desunião da classe, predomínio do individualismo. Resvala em algo interessante, quando até na Lei Aldir Blanc, aparecerem muitos espertos se apropriando de valores considerados altos para a categoria, mas na verdade não chegaram a quem de direito, os que mais dele precisavam. Essa parte ele produz um depoimento contundente, quase sem intervenção de minha parte, tudo saindo dele próprio, como algo saindo de alguém necessitando dizer tudo o que disse. E assim o fez. Essa parte vale muito a pena, mais do que um registro de muita coisa que a gente sabe, toma conhecimento aqui e ali, mas poucos tem coragem de dizer abertamente. Paulo falou e foi contundente.

   
LISTA QUE VALE OURO*
* Texto deste mafuento HPA para edição saindo hoje do DEBATE, semanário de Santa Cruz do Rio Pardo.

Aqui em Bauru existem processos que dificilmente os culpados chegam a cumprir pena, a tal da cana dura. Durante muito tempo os tais poderosos da cidade foram chamados de “Forças Vivas”, denominação encontrada para designar os que, segundo eles próprios, ditavam e conduziam a cidade rumo ao progresso. Nada mais do que os existentes em todos as plagas, os Donos do Poder.
Em cada cidade eles são os que se acham os donos do pedaço, tudo pela força do capital. A régua destes é a da grana dentro do caixa forte dos bancos ou mesmo em verdinhas em alguma paraíso fiscal. Infelizmente, a maioria hoje opta por ser rentista e não tem nem mais indústria, comércio ou dá empregos. Mas mandam.

Quando um destes cai em desgraça, nem sempre algo de ruim acontece. Durante anos rolou um processo sigiloso, o verdadeiro mensalão bauruense, quando uns graúdos deram um golpe e lesavam a cidade todo mês. Grana destinada pra Saúde sendo desviada diretamente para seus bolsos. Tudo gente de sobrenome importante e que, bem poderiam ser considerados “quatrocentões” se morassem em São Paulo. Até hoje, os graúdos não pegaram cana dura, mesmo tudo sendo comprovado. Alguns poucos de pequena envergadura tiveram seus nomes expostos e como sempre se dá nesses casos, devem pagar tudo pelos mandarins. O capo, o mandante até hoje não teve seu nome divulgado e pelo visto, nunca terá.

Hoje, outro escândalo, este de maiores proporções segue seu destino e pelo visto, desdobramentos inacreditáveis pela frente. Durante uma década um mesmo presidente da COHAB – Companhia de Habitação Popular de Bauru, atravessou três mandatos de prefeitos sem que nenhum destes percebesse que ele desviava dos cofres, em dinheiro vivo, na boca do caixa, mês após mês, totalizando ao final da contenda, ou quando tudo foi descoberto, aproximadamente R$ 55 milhões de reais. Os desvios mesmo, ocorreram durante os mandatos dos dois últimos prefeitos, Rodrigo Agostinho e Clodoaldo Gazzetta. Hoje, o GAECO - Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado, criado pelo Ministério Público do Estado de São Paulo em 1995 é quem investiga e divulga os dados do rombo. Segundo eles, por volta de R$ 400 mil reais mês era sacado.

Até agora pouca gente está com o nome na boca do sapo, ou divulgado. O mentor, até o presente momento tem nome e sobrenome, Edison Bastos Gasparini Jr. Filho de um dos políticos mais nobre e impolutos de Bauru, Junior seguiu por outros caminhos. Até o presente momento ele assume sozinho a pinimba. Os nomes divulgados como envolvidos são de familiares e alguns diretores ligados ao presidente. Semana passada sua prisão não foi autorizada e segue em liberdade. Da grana, o que foi repatriado só mesmo alguns milhões, reais e dólares, encontrados em espécie da casa do presidente. É pouco, a cidade sabe muito bem disso e tenta desvendar o algo mais ainda não divulgado. Enfim, se ninguém ousou tirá-lo da presidência este tempo todo, teria agido isolado e sem contar com mais ninguém para dividir o butim?

Dizem às más línguas que muitos políticos estão se borrando do que ainda deve ser revelado, mas como nada sobre estes ainda foi divulgado, a lista vale ouro. Bauru hoje tenta desvendar quem seriam estes nomes. Enfim, quem mais se locupletou? Boatos circulam por todos os modos, jeitos e maneiras. Muitos políticos, antigos frequentadores regulares da sala de espera do ex-presidente são suspeitos e seus nomes circulam de um lado a outro. Muita especulação, mas por enquanto nada de concreto. Listas de apostas circulam com nomes dados como certos, outros mais ou menos, uns prováveis, outros ditos e vistos como quase certos. Enfim, se a demora não se der do mesmo jeito do outro escândalo, o da AHB, este da Cohab tem tudo para abalar as estruturas políticas bauruenses. A demora reduz esperanças e tem quem já diga que tudo acabará em pizza, outros confiam nas investigações em curso. Bauru navega neste mar revolto e a grana, essa já se perdeu com o vento.

A BAURU QUE NÃO FECHA NUNCA
Cidade toda flexibilizada, vacina sendo aplicada em conta gotas, mas tudo devidamente aberto e funcionando como se a pandemia já tivesse nos abandonado de vez, daí ontem à noite uma festa na rua, num dos bairros mais movimentados da cidade, Mary Dota e a repercussão é imediata dos dois lados, os que pra lá se dirigem em busca da festa e dos que protestam. Dizem que a PM colocou fim após muitas ligações pedindo providências, mas outras de igual teor continuam pipocando cidade afora, ontem, hoje e daqui por diante, enfim, Bauru está de portas abertas. Diria, escancaradas.

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