terça-feira, 29 de junho de 2021

PRECONCEITO AO SAPO BARBUDO (166)


CEI DA COVID DO BORGO NÃO É SÉRIA
Uma aberração atrás de outra. Essa CEI proposta e tocada pelo vereador Eduardo Borgo é excrescência explícita. Hoje o convite para depoimento é para que o ex-prefeito Clodoaldo Gazzetta II compareça. O normal seria que todo o questionamento a ele já estivesse todo pronto, perguntas, pontos a serem abordados, mas não, pelo contrário, o vereador pelas ondas da indefectível e repugnante rádio Jovem Pan, ops, digo, Velha Klan, diz algumas horas antes do evento ter início que, perguntas podem ser feitas pelos ouvintes e também pelo Alexandre Pittolli, segundo ele, todas serão feitas ao ex-prefeito. Pede no ar para que lhe enviem as perguntas até momentos antes. Que é isso? Que nome se pode dar a isso? No mínimo não estão levando a coisa a sério. O descrédito dessa CEI está evidenciado. Sem nenhum critério sério, sua condução parece palco para engrandecer alguns e massacrar outros. Fosse eu o Gazzetta, não só não iria como denunciaria a pouca vergonha. Enfim, aquilo é uma Comissão Especial de Inquérito ou extensão do programa inquisitório da Velha Klan para com seus declarados inimigos?

Nota do ex prefeito Gazzetta, se justificando pelo não comparecimento à CEI da Covid em Bauru: "Infelizmente esta CEI perdeu o seu foco, deixando transparecer, cada dia mais, se tratar de uma perseguição pessoal do relator contra o ex-prefeito, enquanto deveriam estar focados em investigar o fura fila da vacinação, a omissão nas medidas de controle epidemiológico, o colapso hospitalar ou mesmo eventos de aglomeração denominados de outra forma. Lamentável".

Pergunta para o presidente da CEI, vereador Manoel Losilla, diante dos fatos ocorridos nesta manhã, quando o vereador Eduardo Borgo, numa rádio da cidade anuncia que perguntas para o ex-prefeito poderiam ser feitas pelos ouvintes e todas seriam feitas ao convidado: "Caro vereador Manoel Lossilla, na qualidade de presidente da referida CEI, o questiono se é correto fazer uso da CEI, como o fez escancaradamente o vereador Borgo, para uso pessoal, numa clara demonstração de sua utilização para fins específicos e totalmente em desacordo com a responsabilidade que se teria que ter em algo de tão sério propósito? É isso mesmo que ocorre nesta CEI presidida por V.Sa? As perguntas feitas aos convidados podem mesmo ser formuladas por ouvintes de uma rádio, que todos sabem é insuflada por um locutor que incita as pessoas a se posicionar contrariamente contra o ex-prefeito? Não seria algo totalmente fora de propósito? Que atitude V.Sa tomará contra o citado vereador, pois o ocorrido denigre e muito a credibilidade da CEI, transformando-a num palco de extensão de programa da rádio onde Borgo deu entrevista nesta manhã? Com as consideração de sempre, Henrique Perazzi de Aquino".

E por fim diante de falas autoritárias deste, volto a inquerir o presidente da CEI: "Caro sr Losila, não aceite a forma acintosa e autoritária como o vereador Borgo quer tomar decisões e impor a vontade dele sob as demais diante da CEI. Assisti hoje e vi algo por demais autoritário por parte dele. Não permita isso, pelo bem da continuidade da CEI. Ela não pode ser palco para esse vereador fazer uso em conluio com o pessoal da Jovem Pan. Muito grato pela atenção".

MAFUÁ MUDANDO DE NOME PARA "IGREJA MAFUÁ DO HPA" E ASSIM, ADENTRANDO O MUNDO DO "TUDO LIBERADO"
"Igreja Rasgando os Céus 28/06/2021. Bauru.... Mais de 1000 óbitos! Taxa de ocupação de leitos acima de 110%! 87 Pessoas aguardando vaga em um leito! (Covid e outras enfermidades). Enquanto isso... Os Bares e alguns outros estabelecimentos fechados por causa de um decreto "meia boca"! A quem interessa tudo isso? Quem está verdadeiramente preocupado com a economia da cidade? Acordem pelo amor de Deus!!! Distanciamento? Protocolos sanitários? Respeito? Isso é revoltante", um dos tantos lamentos pelas redes sociais, aqui feito por Priscila Corrales. Assistam o vídeo da igreja bombando de gente e vírus na noite de ontem: 


Outros tanto estão circulando pela cidade, num grito coletivo contra a insanidade de algo propiciado pela atual alcaide municipal, a imPerfeita (sic) e também novíssima (sic) Suéllen Rosim, que decreta Lei Seca na cidade a partir das 18h e aos finais de semana, inviabilizando os bares e restaurantes - o que não deixa de ser correto, se a cidade num todo estivesse com a pisca alerta ligado e plugada no sério isolamento social. A legislação bauruense é dúbia, de duplo sentido e favorece uns apaniguados, no caso como sei viu pelo festão de ontem á noite, os evangélicos neopentecostais que, abrem as portas de seus templos e assim distribuem o vírus gratuitamente para tudo, todas e todos.

Num outro post pelas redes sociais, Ivo Fernandes, do grupo Coletivo Samba, em forma de pilhéria, gozação mais do que explícita, chega junto na vista grossa da imPerfeita: "Mudamos!!! Agora somos a Igreja Coletivo Samba!!! Dando seu testemunho Pastor Marcão e apóstolo Ed Florindo. Culto aos Domingos nas melhores casas do Ramo!!!". Sim, se os pastores se dizem filhos de deus, por que não os sambistas? Evidente que, Ivo é pessoa séria e brinca - assim como eu no título deste texto -, pois sabe muito bem da necessidade de levar o vírus a sério, algo que parcela significativa dos neopentecostais não o fazem e muito menos Suéllen. Fazer festa como se viu na igreja Rasgando os Céus é mais que um crime neste momento e algo de sério, que não virá pelas mãos da alcaide, já deveria ter sido barrada pela do Judiciário - cadê o promotor Ensilson Komono sempre tão preocupado com os destinos da cidade?

"Quanto tempo vocês estão sem ir a um show? Você que é músico e está passando fome. Você que é dono de bar e teve que fechar o seu negócio... otários! A igreja da prefeita está bombando! Vocês não entendem que pra eles a pandemia já acabou? Não entendem que eles são muito melhores que nós, meros mortais? E suas festas são abençoadas? É a aglomeração do bem de que fala a prefeita. É o gozo santo", esse o grito do professor Tauan Mateus e todos os sensatos desta cidade. Até quando seremos governados por gente totalmente no desvio e usando de dois pesos e duas medidas para tomada de suas decisões. Hoje pela manhã, o pastor da tal igreja se pronuncia e diz que os fiéis queriam o culto e que deus - o dele, claro - também quer que continue a fazer esses contatos celestiais. Enfim, ele deve estar cumprindo uma missão de diminuir na maior quantidade possível os terráqueos, espécie de controle da natalidade. Ele sabe o que faz, ou melhor, faz parte dos ungidos de Springfield!

OUTRA COISA
OS QUE JAMAIS SE VERGAM DIANTE DAS INJUSTIÇAS – PEDROSO POR JEFERSON
Recebo do professor Jeferson Barbosa da Silva, hoje exilado de Bauru em Natal RN, sentindo muito a perda do Antonio Pedroso Jr e de lá me envia este texto entre aspas, que público na íntegra:

1º - Desde sempre o público leitor, cada vez mais rarefeito, prefere ler a história contada por contadores de histórias, gente como o nosso Pedroso, o nosso Henrique do Mafuá, do que ter de encarar aquela seriedade de uma história carimbada pela Academia. A razão disso é o trabalho com as fontes. Um contador de histórias opera com as memórias, essencialmente, a dele e de seus parceiros, memórias lembradas, memórias ouvidas e mentalmente gravadas, memórias escritas nos jornais velhos. O historiador profissional não aceita essas fontes a não ser passando-as num raio-x de anos ou décadas.

2º - José Honório Rodrigues, historiador, em seu livro clássico, "Fontes da Historiografia Brasileira", escreve: "Deus não é dos mortos, mas dos vivos, pois, para Ele, todos são vivos. Assim também é a História". Quer dizer, mesmo uma pessoa, por exemplo, que já está esquecida há muito tempo, da qual ninguém lembra mais, nem fala nada, pesquisando-se a sua existência em boas fonte de consulta, a gente poderá trazê-la de volta para o que está acontecendo agora, neste tempo presente, pois, para a História, essa pessoa nunca morre, pode estar sendo sempre em parte, revivida.

3º - A esquerda brasileira, a bauruense, inclusive, começa a sentir algumas pulsões de mudança e renovação. Ótimo! Maravilha! Já demorava! Agora, se eu sempre soube nesse jogo, que não sou nenhum Neymar, nenhum craque conhecido, famoso, comentado, não posso concordar com os novos técnicos querendo me escalar para ser um gandula nas partidas do campeonato. Pedroso se despede com toda a qualidade pessoal de sua coragem política, batalhando, arrojo tenaz e voluntário, tantos livros arrancados dos interessados esquecimentos, sem querer se mostrar como o craque que sabia não ser. Mas, não aceitou, jamais, ser escalado como gandula. Lição que a nós outros suscita urgente reflexão...”.

NOTA DO HPA: Gente como Pedroso Jr, até mais que eu, escreve sentido, pulsando, com o coração latejando. Somos emotivos, até mais do que a precisão histórica. Nos move uma causa e dela não arredamos pé. Adoro isso de resgatar histórias esquecidas e fazê-las voltar a ser lembradas, rejuvenescê-las e assim, tornar possível a pessoa estar novamente nas paradas de sucesso. Agradeço por me colocar no rol de gente da estirpe de Pedroso Jr. Isso torna o que faço envolto numa aura de maior importância. E assim, aos trancos e barrancos, nem sempre escrevendo num português escorreito, sigo em frente, ao meu modo e jeito, sem me deixar desviar de uma rota. Sou assim, sempre serei. Pedroso era assim também, até mais sério que este mafuento.

"ADEUS, MEU CAMARADA
É O SEGUINTE, ANTONIO PEDROSO JÚNIOR
, 67 anos, foi-se embora na madrugada fria deste 28 de junho, em Bauru. Sem apelação ou aviso, quando seu imenso coração parou de repente. Infarto. Uma merda, uma merda, uma merda! Era um múltiplo, de voz poderosa, que volta e meia atropelava palavras, pronunciando os indefectíveis “brusa” e “bicicreta”, combinados com fina agudeza política e intelectual. Leitor e escritor voraz, dizia: “Meus amigos de bar falam ‘brusa’ e eu falo também”. E arrematava, gargalhando, “Qual o ‘pobrema’”?

Proprietário de um senso de humor inexpugnável, com o saudável costume de rir de si mesmo, era literalmente comunista desde criancinha. “Uma das lembranças mais remotas que guardo é a de acompanhar meu pai num comício da campanha do Lott, quando eu tinha de cinco para seis anos de idade”. O velho, apelidado pela polícia de Pedroso, o perigoso, era um valente líder comunista e ferroviário, capaz de se deitar nos trilhos para deter uma locomotiva durante uma greve. Bauru, na primeira metade do século XX, era a fronteira da exploração do Oeste paulista, propagada como “o maior entroncamento rodoferroviário da América Latina”. Ali se cruzavam as estradas de Ferro Noroeste do Brasil, Sorocabana e a Companhia Paulista. Conectávamos orgulhosamente Santos à Bolívia.

OS MELHORES PROFISSIONAIS da engenharia nacional e alguns franceses se mudaram para a cidade, entre 1900-30, seguidos por levas de operários negros e caipiras responsáveis pela abertura da mata e assentamento de trilhos, e por imigrantes portugueses, espanhóis e italianos, que cuidavam das oficinas e pilotavam as composições férreas. Todos eram submetidos a um regime de trabalho semiescravocrata, com indecentes preconceitos de classe e raça. Desenhou-se a partir dali uma cruel etapa da ocupação do território por latifúndios, através da matança impiedosa de indígenas. Somando tudo, um Vesúvio de tensões sociais sempre pronto a entrar em erupção.
É neste quadro que a cidade vê surgir, desde o final dos anos 1910, pequenos grupos comunistas, que ganham consistência após 1945. Essa é a escola de Pedroso, o perigoso, que mais tarde teria no filho um discípulo fiel.

O QUE MOLDOU A PERSONALIDADE do garoto e da irmã foi ver o pai preso no início de abril de 1964, e ser sumariamente demitido da ferrovia. A mãe, dona Alzira, se virou do avesso em serviços culinários e domésticos tentando fugir da fome. Juntou caraminguás e vários empréstimos para montar um bar. Era uma portinha ao lado da casa periférica, que foi tocado por ela e pelo marido, quando os gorilas o devolveram às ruas. O nome do boteco? “Carcará, como o da música, o que pega mata e come”, repetia o filho a vida inteira, em homenagem ao primeiro sucesso de Maria Betânia, um ano após o golpe.

Conheci Pedroso e seu jeito largo e sem cerimônias em 1976, candidato a vereador, numa sublegenda do MDB. O cabeça de chapa era outro perigoso agente vermelho, Milton Dota. Trata-se de um advogado encorpado, ex-líder estudantil egresso de 68, várias vezes vereador, e que segue se pegando com fascistas na rua até hoje, do alto de seus 81 anos.
Pedrosinho, como os mais velhos o chamam, não se elegeu. Mas puxou dos pais o inconformismo e a capacidade de juntar gente e botar todos em movimento.

PEDROSO, O PERIGOSO, MORREU EM 1978, aos 59 anos, em plena ditadura. Nunca foi anistiado ou reconduzido ao emprego. Nem ele e nem milhares de batalhadores anônimos perseguidos por alcaguetes, policiais e milicos de quinta categoria. A partir dali, o filho abraçou a causa de sua vida, a reparação aos perseguidos pelo arbítrio.

Montou o primeiro Comitê Brasileiro pela Anistia (CBA) fora das capitais, quando o vento político começou a virar em favor das causas populares. Eram tempos em que mobilizações de massa pipocavam pelo país.

Nosso herói – tenho de chamá-lo assim – decidiu, com a ajuda de outros, fazer um levantamento dos presos, cassados e assassinados na região. Redescobre num casebre um velho amigo de seu pai, Alberto de Souza, ex-policial, participante da Revolução Paulista de 1924 e militante da Coluna Prestes e do levante de 1935. Encontra a família de Darcy Rodrigues, lugar-tenente de Carlos Lamarca e exilado em Cuba. Chama, entre muitos, Pebá Batista, companheiro de Marighella que ciceroneou Che Guevara pela cidade em 1966 (sim, é verdade!), Arcôncio Pereira da Silva, veterano das lutas contra o Estado Novo, contata José Duarte, lendário líder sindical e dirigente nacional do PCB e do PCdoB, e muitos mais, quase todos enfrentando dramática pobreza. E resolve escrever “Subsídios para a história da repressão em Bauru”, livro que deu voz e rosto a dezenas de combatentes esquecidos.

PEDROSO, O JÚNIOR, FORMOU-SE ADVOGADO, depois de atuar no movimento estudantil, no início dos anos 1980. Mostrou-se um disciplinado militante comunista, montou duas livrarias, uma delas com o sugestivo nome de Palmares, escreveu mais cinco livros sobre a ditadura e as perseguições aos de baixo, passou a defender ex-presos políticos nos tribunais de São Paulo e Brasília e a atuar na comissão de Anistia. Tornou-se uma espécie de memória viva do movimento operário no interior paulista. Nunca foi um acadêmico, mas era fonte de inúmeras teses, biografias e livros sobre nossa história recente.

Há vinte anos casou-se com Ana Célia e mudou-se para Sorocaba. Pedroso tinha uma gota renitente, que se acentuava com inevitáveis rondas aos botecos de onde quer que estivesse. Passou a ter problemas nos pés, o que impedia o uso de sapatos. Fizesse frio ou calor, lá vinha ele arrastando um par de sandálias pelas ruas. Em sua última tentativa de se eleger vereador, em 2000, inventou o apelido e o símbolo pelo qual se tornou popular: “Chinelo neles!” Quando nasceu o filho, Pedro Antônio, hoje com 18 anos, logo apelidou o moleque de Chinelinho.

NOSSO CAMARADA MONTOU partidos, debates, controvérsias e homenagens a antigos militantes, que sempre foram sucesso de público. Mas nunca alguém – este que vos fala incluso – organizou uma homenagem a ele. Talvez por faltar outro Pedroso para fazer a tropa trabalhar e montar uma sessão pública na cidade em que nasceu e morreu.
Vamos fazer isso, quando essa pandemia acabar, com o insanável “pobrema” de homenagear um tipo inquieto, provocador e ótimo de conversa sem sua presença para nos fazer rir.

Porra, Pedroso, chorei pra caralho hoje. Que merda, cara, que merda! Adeus meu insubstituível amigo e camarada, adeus", professor e amigo Gilberto Maringoni.

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