domingo, 10 de outubro de 2021

REGISTROS LADO B (66) e DICAS (213)


NO 66º LADO B, NADA MENOS QUE UBAIANO E O REINADO NAS BARRANCAS E BEIRADAS DA UNESP BAURU
Estive no campus da Unesp Bauru nesta semana e ainda sem aulas presenciais, tudo por lá ainda denotando aquele vazio humano difícil de ser preenchido. Do lado de fora, dois pontos comerciais, antes com boa movimentação, hoje nos escombros. Dois trailers resistem ao tempo e insistem em ali permanecer, num titânico esforço para quando tudo passar e a normalidade das aulas tiver seu recomeço. De tudo, um lugar sempre resistiu e pelo visto, segue firme e altaneiro, o bar do UBAIANO. Este é aroeira pura e desde os tempos da antiga Fundação Educacional de Bauru, na vila Falcão, antes com um antigo carrinho de lanche e desde que se mudou para os lados do novo campus, estabelecido num ilha, entre a avenida que chega e a que sai do portão central da universidade. Figura das mais conhecidas entre os estudantes, este personagem fez história e hoje, aos 81 anos, continua fazendo. De uns tempos para cá, decidiu para acompanhar melhor o desenrolar do seu negócio, se mudou para um pequeno cômodo junto ao bar e dali, não só observa, como toca sua vida. Quando o vi por ali na chegada, disse pra mim mesmo, “na volta paro para os cumprimentos”. Na saída, lá estava ele oferecendo a famosa e picante especialidade da casa, “pé queimado” para um freguês. O que seria um cumprimento, se transformou num convite para ser o 66º LADO B – A IMPORTÂNCIA DOS DESIMPORTANTES. Ele aceitou, já relembrou muitas histórias e eu fiquei mais do que emocionado, pois ele é além de tudo dotado de privilegiada memória. Lembra de tudo e em detalhes.

Ele, mais do que ninguém capta como poucos o espírito deste bate papo semanal, pois encarna isso de ser um eterno e salutar Lado B destas plagas. Ter o prazer de conviver com tudo o que representa para a Unesp Bauru, mesmo nunca tendo sentado em uma de suas aulas como aluno é salutar. O danado não foi aluno, mas conhece aquilo tudo como poucos. E conhece nos mínimos detalhes. Se rever alguém que já foi seu cliente, mesmo tendo ficado mais de uma década sem o ver, é bem capaz de lembrar de tudo assim num simples toque. As histórias brotam de sua memória e gravar algo com ele é a certeza de estar diante de uma dessas inesquecíveis histórias. Ele estava na minha lista fazia tempo, mas ia adiando, procurando o momento e nesta semana, meio que por acaso, sem nada previamente combinado, deu certo e amanhã, domingo, estarei lá ao seu lado, quando abrir a lanchonete (aos domingos de manhã circulam por lá os ciclistas, que em grupo saem pelas trilhas urbanas da cidade e tem o lugar como uma espécie de quartel general) e cavar uma daquelas memoráveis prosas para guardar no baú das histórias.

UBAIANO é o FELICIANO SOARES DE OLIVEIRA, espécie de monumento vivo do lugar, reverenciado por tudo e todos. Não existe estudante da Fundação e da Unesp sem lembranças dos tempos quando comiam seus lanches e provavam de suas bebidas, sempre do lado de fora dos portões. Está situado muito além de figura folclórica, pois é de carne e osso, baita figura humana e sensível com todos os que lhe deram o sustento nestes anos todos. Quando brinquei com ele perguntando se de todos os que por ali passaram e hoje famosos, lugares distantes, quantos ficaram lhe devendo, ele sem pestanejar me disse: “Eles não me devem nada. Não levo calote deles. Deles só tenho boas lembranças, de todos, nada de tristeza ou ressentimento, só alegria”. Ebaiano é isso e muito mais. Já foi carnavalesco, com famoso bloco de carnaval, sendo também, desde o início lugar de abrigo, quando muitos perdiam o último ônibus e ele sempre os abrigava em colchões, para ninguém dormir ao relento. Contar isso tudo e muito mais é de um prazer inenarrável. Tentarei me esforçar muito para conseguir abarcar a grandiosidade do personagem em uma hora de bate papo.

Abaixo relembro alguns dos textos onde o citei no blog Mafuá do HPA, com escritos diários desde 2007:

- Em 27/04/2015 publiquei: “QUEM NÃO CONHECE O BAR DO UBAIANO, LÁ DIANTE DA UNESP? - Semana passada revi um velho conhecido. Convidado por alguns estudantes de Jornalismo para uma entrevista sobre a famosa Casa da Eny e os desdobramentos em cima das questões do seu tombamento (era presidente do Codepac quando da época do quase tombamento da famosa Casa da Eny), escolhemos um lugar dos mais aprazíveis para gravar o que tinha para falar: o bar do Ubaiano, lá defronte a Unesp Bauru. Ele está localizado numa espécie de ilha, cercada de ruas por todos os lados, encravado no meio de umas árvores, muitas delas plantadas por ele mesmo. Baiano não se esquece das pessoas. Bateu os olhos de longe e nos vendo sentados lá num canto, chegou devagarinho e foi dizendo: "Esse eu conheço e lá dos meus tempos ainda de vila FAlcão. Tempos da Fundação". Retardamos pelo menos uma meia hora de entrevista, para ouvir o que Baiano tinha para dizer (e sempre tem). Ele é dessas pessoas merecedoras de um trabalho de TCC, Tese de Mestrado e Doutorado, pois conviveu com todas as gerações de estudantes por ali. Revive histórias de muitos assim de memória. Uma belezura. Indico desde já para muitos alunos que estão à procura de um belo de um tema, a história do Baiano e de sua instalação bem na frente da Unesp. Querem saber uma última dele? Morando ali mesmo, num caprichado quartinho ao lado do bar ("Assim estou sempre a postos e nem me deslocar preciso. Acordo e já estou trabalhando", diz). Não conto por aqui, mas é fato que o nosso querido Baiano continua um eterno romântico e com o coração cheio de amor pra dar”.

- Em 11/03/2017 publiquei: “ALGO DO MERCADO DE PEIXE NO CORETO DA PRAÇA RUI BARBOSA - O BAIANO DA UNESP CONHECE MUITO BEM A TODOS - O Mercado de Peixe começou lá nas hostes da Unesp Bauru, campus lá no final da avenida engenheiro Luiz Edmundo Carrijo Coube. Do outro lado da mesma, um oásis ainda fincado ali no seu canteiro central, bem defronte o portão principal de entrada do campus, o bar do Baiano. Ele, que começou com um pequeno quiosque lá na vila Falcão, tempos da FEB, levantou edificação depois da mudança e dali não mais arredou pé. Conhece muito bem a fisionomia da maioria dos estudantes que ali passaram alguns anos de suas vidas. Quando a pessoa teve uma tendência de gostar de bares e de uma cervejinha, daí ele se recorda de tudo, inclusive das histórias. Muitas delas se passaram em seu estabelecimento. Baiano foi lá hoje na praça Rui Barbosa, 12h para rever a rapaziada do Mercado de Peixe e por um outro bom motivo. "Primeiro que tudo começou lá pelo meu bar. Todos eles são por demais conhecidos dos bancos lá do Bar do Baiano. Cantarolaram muito debaixo daquelas telhas. E mais, veja essa camisa que visto agora, tem um número em destaque, 76. Pois é, hoje ainda tenho essa idade e amanhã já estarei completando 77. Vim para rever eles todos e comemorar meu aniversário ao lado deles. No final do show quero ver se no próximo disco deles não dá para fazer uma música reverenciado o Baiano", conta sem tirar os olhos do palco. Curti muito esse reencontro, Baiano do lado de baixo do coreto e o pessoal do Mercado ocupando maravilhosamente o coreto. Antes de começar o show um deles aproveitou a deixa e disse: "Antigamente nos coretos se tocava muita música e hoje viemos reviver um pouco disso". E reviveram maravilhosamente com o mais novo trabalho, o "Água da Faca", uma outra reverencia à Bauru, um córrego famoso nos cafundós mais maravilhosos da cidade. Rever o Mercado é sempre bom e ainda mais pelas pessoas conhecidas e queridas do lado de baixo do coreto, no ajuntamento criado nas sombras das árvores, diante de um sol de rachar mamona. Sol de meio dia não é fácil, mas com o Mercado tocando, suportável. Estive lá e conto tudo através das poucas fotos tiradas por mim. Rever Baiano e o que o move é mais do que interessante, diria uma motivação a mais. Essas junções bauruísticas são mais do que instigantes”.

- Em 09/07/2015, Thaís Deloroso publicou dele: “AMIGUINHOS E AMIGUINHAS! - Se você é aluno da Unesp, quer ser, passou por lá, trabalha no campus, faz cursinho, vende trufas, cones, salgados, e empadas, conhece alguém que está sempre por lá e faz visitas casuais, vai comer lanche no Tio Guerrero regularmente ou vai matar aula no Ubaiano com tanta frequência que acabou conhecendo nossa amada universidade por dentro, responde esse questionário?? É rapidinho e vai ajudar bastante a gente Emoticon grin Quem sabe o nosso projeto não vira realidade daqui um tempo e todo mundo vai poder aproveitar um monte de espaço legal de convívio?”. Quer dizer, ele está em todas...

- Em 12/09/2019 Mara de Santi escreve sobre sua formatura e o cita na homenagem: “Enfim, MESTRA! Receber esse título, neste momento em que a Educação é severamente atacada no Brasil, é uma honra e uma missão: a resistência vive e vai seguir! Neste momento, sou só agradecimentos a todas e todos que permitiram minha jornada, tanto na tolerância das ausências quanto na comemoração das pequenas vitórias diárias. Família e amigos, há um pedaço de vocês em cada linha da tese que defendi hoje! E minha gratidão eterna à mão sempre estendida da fortaleza que é minha orientadora, Maria Cristina Gobbi. E por falar em mão, obrigada, @oliveira.fer.21 e @luapng por estarem lá segurando a minha! Não foi fácil, não teve moleza, não sentei no sofá por meses, não teve noite bem dormida por semanas... Mas, como sempre diz a minha orientadora nos momentos difíceis, " se fosse fácil, alguém passava e pegava antes da gente".
P.S.: não tomei o Pé Queimado (pensa em pegar filha na escola depois?), mas ganhei abraço amigo de quem me calibra desde os idos dá graduação. Valeu pelo papo bom, Ubaiano!”.

- Em 01/08/2018, a ex-aluna Ana Carolina Moraes escreve: “10 coisas que todo mundo que estudou na UNESP Bauru já fez - Uma lista com as situações que qualquer ex-aluno pode se identificar (...)Foi ao Ubaiano - Seja na graduação ou na pós, é impossível não conhecer ou ouvir falar do Bar do Ubaiano. Por conta da proximidade, o bar pode ser considerado uma extensão do câmpus. Ou por conta do tempo também, já que faz 48 anos que o Ubaiano existe. O que começou com carrinho de lanche por Feliciano Soares de Oliveira antes mesmo da encampação da universidade, hoje é o bar mais popular da universidade — e tem até o “U” para fazer referência à UNESP. O dono do Ubaiano (que não é baiano, mas sim mineiro) recebeu placas de homenagens de estudantes, convites de formatura e já teve até um bloco de carnaval em Bauru, o Ubainesp, que misturava professores, servidores e estudantes na mesma festa no final dos anos de 1990”.

A conversa deve render e será amanhã, domingo. Vamos juntos?

EIS O 66º LADO B, HOJE COM UBAIANO O EMBAIXADOR DAS BEIRADAS DA UNESP BAURU, PROPAGADOR DO "PÉ QUEIMADO" E COM 51 ANOS DE RESISTÊNCIA
O papo foi ao vivo, durou pouco tempo, algo em torno de 40 minutos, conversa reveladora, sincera, do jeito que este mafuento gosta de fazer, com sentimento e pulsante. Quando a bateria do celular deu sinais de miar, tive que acelerar a conversa, mas o essencial foi gravado e fica registrado. Por outro lado, começavam chegar alguns clientes, ciclistas e os velocistas dominicais, os tantos que passeiam nas manhãs dominiciais pelas avenida defronte Unesp e ele sózinhio precisando atender a estes. Esse é daqueles possuidores de muitas originais e autênticas histórias, enfim, 81 anos de pura resistência. Não tem como deixar de amar um cidadão como este.

Eis o link da gravação de 0h48minutos, feita 9h30 da manhã de hoje: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/1583982691955652
HPA - abrindo o domingo com essa conversa de inolvidável importância dentro do cabedal do desimportantes bauruenses...


DOMINGO DE RUA, COM TODO CUIDADO, CONSPIRANDO SEMPRE
O domingo já começou, madrugando na padaria, todos doritando em casa e eu tomando café junto aos que acordam cedo. Logo mais 10h, mas creio que até antes, estarei fazendo o 66º Lado B, desta feita lá direto da lanconete do UBAIANO, defronte o portão principal da Unesp Bauru, contando suas histórias e peripécias, ele com 81 de idade e 51 de rua. Ele me pede para chegar antes e creio eu, devo começar lá pela 9h30, daí quem chegar atrasado, por favor, assista depois pelo meu facebook, pois tudo ficará ali gravado. De lá saio direto para o BAR DO BARBA, na boca entrada da Feira do Rolo, onde precisamos incrementar venda da rifa pela recuyparação da sanfona/acordeon do dono do estabelecimento, que a vendeu durante pandemia para pagar compromissos. A rifa tem valor de R$ 20, mas quem quiser ajudar paga R$ 50. Já vendemos uns R$ 700 e queríamos muito no próximo domingo fazer um furdunço de grande valia ali defronte para devolver a peça e vê-lo tocando no meio da feira. Vamos juntos? A partir das 10h30 a rifa vai estar lá disponível. Depois, 15h, eu e Ana Bia vamos pra feirinha/bazar comunitária no jd Redentor, a CRISÁLIDA Home, na rua Rafael Pereira Martini 13-7, a mesma do supermercado Panelão. Tudo revertido para as artesãs envolvidas no projeto e produtos incríveis. Depois, se sobrar algo ainda do HPA, tento conspirar no final da tarde, pois o capiroto ainda não caiu e sem rua e povo nela ele não nos deixará facilmente. Lutar e resistir é preciso. Vamos ruar, mas também com "sangue, suor e lágrimas", pois se o danado chegou lá e nos crava a estaca, reagir é mais que necessário. À luta, sem pedir licença.


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