domingo, 7 de novembro de 2021

REGISTROS LADO B (70)


NO 70º LADO B, ALGUÉM QUE NÃO ENTREGA NUNCA OS PONTOS, PADRE SEVERINO, DE PROMISSÃO, DO CPT, DO MST, DO PT, DA LUTA E DA ESPERANÇA
O bate papo semanal deste mafuento HPA chega hoje em mais uma data redonda. Nem acredito, mas desde o começo da pandemia, quando comecei com essas conversas semanais, a maioria virtual, sem o contato físico, hoje alcançam o número 70. Para mim é muito mais do que esperava – e não quero parar, pois tem tanta gente para ser abordada e contar aqui algo de sua história. E com o maior orgulho deste mundo, a cada semana trago pessoas de luta, fibra, garra, disposição de luta, cada qual numa trincheira própria ou coletiva, mas todos não abandonando o sonho de continuar lutando por dias melhores para este insano país, hoje governado por genocidas. Trazer aqui e estar ao lado do querido e destemido padre SEVERINO LEITE DINIZ é algo que faço com o maior orgulho e contentamento. Existem os que lutam, os que defendem causas, os que abrem a boca para dizer algo, os que enfrentam touros à unha, mas aqui um que verdadeiramente faz isso em cada passo de sua atribulada vida. Severino, esse intrépido padre é tudo isso e muito mais, pois como aroeira, verga mas não quebra e continua na lida, enfrentando adversidades e dragões, moinhos de vento e tudo o mais. Simboliza como poucos o espírito do que busco com este LADO B – A IMPORTÂNCIA DOS DESIMPORTANTES, pois saído das entranhas deste país, assim como o fez Marighella um dia, desde que começou sua luta não consegue mais interrompê-la e assim prossegue, altaneiro e soberano.

Conhecer algo dessa luta e de como se envolveu e faz disso o motivador para continuar lutando é algo como dar uma injeção de ânimo nos que param pelo caminho. Com SEVERINO não tem isso de parar pelo caminho, pois ele bem sabe, a luta sempre será árdua, pedregosa e cheia de obstáculos. Ciente disso, o danado arregaça as mangas de suas camisas e não só vai à luta, como com sua garra e fibra, incentiva outros tantos. Estamos num mundo onde igrejas desvirtuam mentes e as conduzem como rebanhos, ele continua firme e forte num reduto dentro da católica, numa região conhecida como terra de assentamentos rurais, Promissão SP. Certo dia, mais de uma década atrás, eu e Marcos Paulo Resende, o Marcão Comunista estivemos lá para conhecer seu reduto e os lugares por onde circula. Registrei por aqui numa longa Memória Oral, aqui hoje revivida num trecho, além de tantas outras andanças desde cara sem tréguas, pois pelo que se vê é destes que não para nunca. Eu sempre o acompanho à distância, maravilhado com o que vejo. Quando muitos tem medo de simplesmente se dizer simpatizantes do MST, eles simplesmente não tira o boné deles da cabeça e creio reza missa com o vermelho no cocorutcho. Uma hora sempre é pouco para conversar com quem produz tanto e tem tanto para contar. Eu tento, prometo dar o máximo de mim para passar algo de bom pra todos os predispostos a estar por aqui nos acompanhando.

Eis algo do que já escrevinhei dele aqui pelo meu blog pessoal, o Mafuá do HPA (www.mafuadohpa.blogspot.com):

- em 02/03/2011 publiquei: “Severino um padre diferente - Ano passado conheci um padre católico e quero falar um pouco dele. Seu nome Severino, um barbudo, de calça jeans e quase sempre de camisetas, dessas engajadas, com inscrições de sua ideologia, a da igreja aliada ao do movimento que decidiu acompanhar durante boa parte de sua vida, o MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra. Fui me lembrar dele nessa semana por dois motivos. Primeiro pelo imbróglio travado aqui e no meu blog com dona Alice Marlene, também colunista d’O Alfinete. Como não vejo o MST como um “covil de bandidos”, termo apregoado por ela, vejo em gente como Severino o lado que deve ser acentuado no movimento. Nas ruas de Bauru reencontro dois pirajuienses, Helder e Heloísa Leal Lopes e me param na rua com uma indagação: “Paramos o carro porque vimos padre Severino circulando por aqui. Você não viu?”. Paramos tudo e fomos ao seu encalço. Nada, ele escapuliu ou foi mera visão de gente em busca de pessoas diferenciadas e que fazem esse mundo ser realmente algo bom de se viver. Deu tempo de escutar uma história contada pela Heloísa sobre o padre: “Assisti uma missa dele no assentamento de Iaras, onde não tinha altar, nem templo, mas ele estendeu no chão uma bandeira do MST, colocou os paramentos sob o pano e rezou diante da multidão uma missa inesquecível”. Severino é revolucionário, um padre a acreditar que outro mundo é possível. Faz a sua parte e luta por isso. Ouvi também mais duas pessoas de Pirajuí, das que respeito e reverencio Cássio (o Cururu) e Rejane Cardozo de Mello, gente que gosta da terra e dos seus habitantes primeiros, os índios. Leram os dois textos, o de dona Alice e o meu e estavam revoltados com termos utilizados por ela, denotando preconceito e mais que isso, falácias recheadas de inverdades históricas. Remeteram à direção jurídica do movimento e fiquemos no aguardo do que virá na frente. Assim como eles prego algo bem simples, peixe morre pela boca e devemos estar mais do que prontos a responder por tudo o que apregoamos. (...)”

- em 29.08.2012 publiquei: “PADRE SEVERINO, CPT E ROMEIROS REUNIDOS NO ASSENTAMENTO DE AYMORÉS - No último domingo, 26/08/2012, algo me fez levantar cedo, preparar a matula e cair na estrada junto de amigos. Eu, Ana Bia, Roque Ferreira e Wellington Leite aportamos cedo no Assentamento Aymorés e presenciamos uma romaria católica. Não se espantem, nem se insurjam por esse desencaminhado andarilho estar à procura de novos caminhos. Os meus continuam sendo os velhos e bons caminhos. Desses não abro mão e foi o que fizemos adentrando a 14º ROMARIA DA TERRA E DAS ÁGUAS DO ESTADO DE SÃO PAULO. Não se tratava de uma romaria qualquer e sim, de uma organizada pela CPT – Comissão Pastoral da Terra, talvez o último bastião libertador (e propagador dela) dentro da hoje conservadora igreja católica. Saudades imensas de tempos onde a Teologia da Libertação era atuante e permitida. Esse resistente agrupamento de decididas pessoas, dessas realmente transformadoras tenta mover a igreja, voltando-a para atividades sociais, de cunho libertário e atendendo os anseios dos menos favorecidos, os explorados e renegados. Ouvir o clamor dos povos dos campos e florestas é coisa que poucos se habilitam a fazer, lutar pela defesa da terra como princípio elementar para sobrevivência do ser humano virou raridade. E lá fomos nós, unir a cidade com o campo, na ingrata luta travada pelo trabalhador em busca do direito de cuidar da terra e de possibilitar que ela lhe dê frutos para o seus sustento. Esse era o motivador de todos. O Assentamento, já legalizado, fica seguindo em frente o Mary Dota, por uma estrada de terra pra além do Chapadão. Uns dez quilômetros de terra e por fim um grande agrupamento de gente, carros e ônibus. Uma missa estava terminando e nela vi quase lado a lado, o marxista Roque e o bispo católico, d Caetano Ferrari, que lá aportou, afinal o evento tinha cunho aglutinador religioso. Essa parte eu perdi e o que veio a seguir foi uma longa caminhada pelas estradinhas rurais, com muito sol, cantoria e parada para muitas falas. Revi gente muito querida, tendo à frente o sempre presente padre Severino Leite, com paróquia em Promissão e atuação mais do que consolidada junto ao MST. Ouvi-lo é ainda um alento, pois prega tudo o que arrepia hoje seguimentos da atual cúpula religiosa. Nada de novo, só o respeito e reconhecimento do direito aos explorados. Vejo residir exatamente a acesa chama a assustar, a possibilidade do explorado cobrar e exigir seus direitos. Nas paradas, representantes de vários outros assentamentos expunham sua situação, seus problemas e o faziam diretamente ao presidente do Incra, ali presente. (...)”.

- em 13/12/2012 publiquei: “SEVERINO, O PADRE DO MST – ATUANDO NUM DOS ÚLTIMOS BASTIÕES LIBERTÁRIOS NA IGREJA CATÓLICA E ALGO DE NOVO SOBRE A MUDANÇA DE RUMO NAS OCUPAÇÕES DOS MOVIMENTOS SOCIAIS - A notícia corre de boca em boca. Em que a pequena Promissão no interior paulista, 35 mil habitantes, 480 km de distância da capital diferencia-se das demais? É que lá está reunida uma das maiores concentrações de acampados e assentados dos trabalhadores rurais sem-terra no país e sua coordenação é feita por um ativista dos mais atuantes no comando das atividades do MST. A questão da terra está no epicentro das discussões na cidade, pulsando no seu dia a dia (Reunidas e Dandara, seus assentamentos mais conhecidos). Até aí, nada de tão diferente de tantas outras. O diferencial está no fato desse aglutinador ser o padre católico Severino Leite Diniz, 58 anos, um dentre os três da paróquia local, a de Nossa Senhora da Aparecida, porém o único voltado na defesa dos problemas inerentes ao homem do campo. Para rebanhos distintos, padres idem, ou seja, cada um no seu quadrado. Na Casa Paroquial, dentro do espaço físico da paróquia a diferença já é notada na separação existente entre eles. A casa de Severino está apartada das demais e reflete como toca sua vida. Local cuidado por parentes próximos, muito simples, livros e revistas espalhadas pelos cantos, tudo rustico e com pouca iluminação. No quarto, mais parecendo um catre, cama, velho computador e papéis por todos os lados, nos espaços possíveis e também nos inimagináveis (até debaixo da cama). Na parede o destaque é um amarelado quadro a reverenciar padre Josino, um dos que tombaram na luta pela terra no país, cuja continuidade Severino toca para frente. (...).

Isso aqui é só um breve aperitivo para o que virá logo mais na conversa cheia de gás de hoje a tarde. Vamos juntos?

COMEÇA AGORA O 70º LADO B, HOJE COM PADRE SEVERINO DE ALGUM LUGAR ONDE, COM CERTEZA, A LUTA DE RESISTÊNCIA ESTÁ EM CURSO E ELE INSERIDO NELA

TÉRMINO DO 70º LADO B COM PADRE SEVERINO - 2ª PARTE - Eis o link: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/2036409143186712

ALGO SOBRE A MORTE DA CANTORA
Eu não me atrevo a escrever nada sobre a morte da cantora. Fico na minha. Confesso que gosto de outro genero musical, daí conheço nada da "sofrência". Li e vi coisas boas, algumas muito ruins sobre a morte de alguém tão jovem, uma tragédia. Fico com o texto do jornalista Rodrigo Ferrari, hoje morando em Catanduva e de forma bem retumbante, num só parágrafo resume algo sentido deste triste momento:

"Marília Mendonça, que faleceu nessa tragédia terrível, foi uma das maiores vítimas de censura no Brasil, nos últimos 50 anos. Em 2018, ela foi a única cantora sertaneja a aderir à campanha #elenão, posicionando-se de maneira contundente contra o então candidato Bolsonaro. Quem mora em cidade grande ou convive em meio universitário pensa que é moleza assumir uma posição de esquerda em cidades pequenas. Pura ilusão. Venham morar no Texas brasileiro, para ver como é bom! De leste a oeste, é a lei do mais forte. Em 2018, essa menina de 23 anos (menina mesmo!) foi ameaçada, xingada, ultrajada. Ela dependia de rodeio para dar uma vida digna à família. E os donos do rodeio queriam pagar R$ 7,00 no litro da gasolina, deixar 600 mil brasileiros morrerem de Covid-19, sem vacina, e 14 milhões de pais e mães de família penarem no desemprego. A menina Marília, que cantava feito mulher vivida, se calou. Foi sábia. Ao contrário das atrizes da Globo do eixo Rio-SP ou das divas empoderadas, Marília ganhava seu sustento do homem e da mulher do povo. Foi exceção em um meio caquético, que envergonha a verdadeira música de raiz, seja na estética, seja na ética. Uns lixos ostentadores, que tripudiam da miséria do povo. Vou lembrar da coragem dessa menina. Não gostava da música que ela fazia, mas aplaudo sua coragem efêmera, de alguém que pensou que era livre para dizer o que bem entendia, em pleno século 21. Vocês não imaginam o tamanho do passo que ela deu. Eu sei as consequências de você pregar justiça num lugar onde cultuam as desigualdades".
Compartilhar

4 comentários:

  1. Henrique, resolvi escrever um comentário pra ti por aqui, via email, porque provavelmente vai ficar grande e eu teria que picar muito se fizer no seu blog onde o google impõe limites de caracteres.

    Eu vi o comentário que você postou do Rodrigo Ferrari sobre a tal cantora, e vou te dizer meu caro, todos esse auê tem me irritado profundamente, esse mundo cada vez mais insano e digital só nos aborrece.

    As pessoas estão cada vez mais carentes, necessitadas de ídolos, de embustes, fragilizadas emocionalmente cada vez mais por algoritmos que determinam o que cada bolha das redes sociais vai receber como "informação".

    A morte da cantora foi uma fatalidade, lamentável, que tenha nossos pesares, porém, logo se tratou de elevar a cantora para um pedestal que nunca esteve, colocá-la como uma revolucionária, uma liderança que nunca foi, sequer era boa artista e muitos não tem a coragem de dizer isso, um estilo musical que soa sempre igual, monotemático, não sabem nem o que é cadência de acordes entre outras coisas. Falando da literatura então, que merda... cheguei a ler um colunista de jornal ter o disparate de compará-la com a Edith Piaf por causa da "sofrência" nas letras, muitos dizendo que ela era um ícone do feminismo nacional, que cantava a verdade da mulher brasileira... olha, Henrique, se aquilo era a verdade da mulher brasileira (talvez seja) estamos muito, mas muito mal mesmo.

    Fui atrás para procurar entrevistas dessa cantora, fui olhar o instagram dela em busca dessa postura revolucionária que dizem ela ter, não encontrei nada, nada além de papos que não sai dos lugares comuns da alienação cultural do mainstream, e no perfil dela só ostentação... então qual é essa verdade da mulher brasileira?? A mulher pequeno-burguesa?? Uma cantora bancada pela lavagem de dinheiro do agronegócio, sim, a cena do sertanejo universitário domina o mainstream nacional com o dinheiro do agro. Qualquer um que trabalha no meio sabe disso.

    Muitos gozam de pau mole porque em 2018 ao ser desafiada pela cantora Maria Gadú a se posicionar pelo #elenão, ela num curto vídeo de rede social doltou um #elenão, como se isso credenciasse alguém a ser subversivo, o Delfin Neto também já disse 'ele não', e daí?? Procure nas redes dela para encontrar constantes posicionamentos contra o genocida e seu genocídio, ou declarações subversivas, anti-sistema, como se fosse uma Elis Regina ou uma Simone Beauvoir... não vai encontrar nada além do senso comum das ostentações de pseudo-artistas, claro, ela jamais mijaria fora do penico da indústria musical bancada pelo agro.

    Tudo isso me lembrou do saudoso Ariano Suassuna ao falar sobre o Chimbinha e a banda Calypso, onde dizia que "se usar o adjetivo 'genial' para o Chimbinha, o que dizer do Beethoven??"... Suassuna seria "cancelado" hoje por essa "esquerda" lacradora, demente e totalmente tomada pelo ideário pequeno-burguês. O mundo digital que vem transformando o cérebro humano levando pra uma forma 'digital' de pensar onde a atenção de uma pessoa não passa de 8 segundos para cada vídeo ou frase como mostram vários estudos da neurociência, está nos levando para uma nova forma de nos relacionarmos com o mundo, percepções cada vez mais opacas, vazias, desprovidas da realidade e possibilidade de concentração para reflexões mais profundas.

    continua...

    ResponderExcluir
  2. continua...




    Espanta ver como toda essa comoção e logo elevação da cantora como o "maior fenômeno" artístico (sic) dos últimos tempos, veio rapidamente com os insuflados algoritmos das redes levando muitos que nem a conheciam, a chorarem e comprarem a ideia de um "fenômeno", na carência de grandes referências atuais, criaram um personagem que nunca existiu na cantora, e tem mais, uma cantora que cantava clichês de "sofrência" feminina cujo ponto de vista partia de uma visão da sociedade monogâmica que é o alimenta justamente o patriarcado. Se isso é 'feminismo', se isso é revolucionário, o que dizer então da Simone Beauvoir e o Sartre??

    Falaram que ela rompeu a estética da indústria musical por ser gordinha, que enfrentou tudo, mas veja só, ela mesma sucumbiu à essa indústria ao se adequar a estética determinada pela mesma indústria que dizem que combatia e ostentava o novo corpo como manda o figurino do mainstream.

    Vou deixar aqui o link da fala do velho Ariano Suassuna para lembrar de como éramos, de como já fomos mais culturais, mais ousados, mais pensantes e mais críticos sem medo de desafiar o senso comum... ser sermos levados pelas loucas ondas dos algoritmos das redes antissociais.

    Grande abraço pra ti
    Marcos Paulo Resende

    ResponderExcluir
  3. Muito Bom, vou postar lá como comentário. Abracitos e vamos nos falar mais, tô precisando de uns empurrões. HPA, direto do Mafuá

    ResponderExcluir
  4. E veja só o nível da situação, Henrique... ontem, um colunista da Folha de SP escreveu um texto usando o termo "gordinha" entre outras coisas sobre a cantora, mas era um texto favorável a cantora, as pessoas passaram a atacar o jornalista nas redes odiosamente, as pessoas não conseguem mais ter compreensão de texto, Henrique... ou nem chegam a ler o texto todo, pegam só um recorte de uma frase compartilhada aos montes nas redes e tiram conclusões fora de contexto.

    Revolucionar é provocar o público, é buscar subverter a ordem social, mijar fora do status quo, muitos grandes artistas e pensadores fizeram isso ao longo da história... quando vejo o público desse estilo musical formado basicamente de jovens retardadas chorando mágoas por amores sonhados com "príncipes encantados" que viraram sapos onde pensam ser o amor algo como uma novela das 8 do Manuel Carlos, não pode ser revolucionário.

    Estamos fodidos, Henrique. Parece que não há limites para o fundo do poço o qual a humanidade se meteu.
    Marcos Paulo Resende

    ResponderExcluir