quinta-feira, 11 de agosto de 2022

CARTAS (246) e FRASE DE LIVRO LIDO (180)


BAURU E A LEITURA DA CARTA AOS BRASILEIROS*
* Na versão bauruense da leitura da Carta, para lá fui com Cláudio Lago, Rose Barrenha e Maria Cristina Zanin, nos juntando aos presentes e fazendo o que tínhamos mesmo que fazer e exatamente o lugar onde precisávamos estar neste dia.Tentei gravar o ato todo, a leitura por inteiro, mas o sinal pela internet estava fraco e pipocou. Fica o registro que lá estive com essa intenção. Foi bonito demias, pois o professor Juarez Xavier lia um trecho e todos os presentes repetiam, ou seja, leitura coletiva. Não captei o momento, mas aqui a intenção é a que vale.

ÍNTEGRA DA CARTA
Manifesto feito em defesa do sistema democrático e a favor do Brasil.
Em agosto de 1977, em meio às comemorações do sesquicentenário de fundação dos cursos jurídicos no país, o professor Goffredo da Silva Telles Junior, mestre de todos nós, no território livre do Largo de São Francisco, leu a Carta aos Brasileiros, na qual denunciava a ilegitimidade do então governo militar e o estado de exceção em que vivíamos. Conclamava também o restabelecimento do estado de direito e a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte.

A semente plantada rendeu frutos. O Brasil superou a ditadura militar. A Assembleia Nacional Constituinte resgatou a legitimidade de nossas instituições, restabelecendo o estado democrático de direito com a prevalência do respeito aos direitos fundamentais.

Temos os poderes da República, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, todos independentes, autônomos e com o compromisso de respeitar e zelar pela observância do pacto maior, a Constituição Federal.

Sob o manto da Constituição Federal de 1988, prestes a completar seu 34º aniversário, passamos por eleições livres e periódicas, nas quais o debate político sobre os projetos para o país sempre foi democrático, cabendo a decisão final à soberania popular.
A lição de Goffredo está estampada em nossa Constituição “Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de seus representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.

Nossas eleições com o processo eletrônico de apuração têm servido de exemplo no mundo. Tivemos várias alternâncias de poder com respeito aos resultados das urnas e transição republicana de governo. As urnas eletrônicas revelaram-se seguras e confiáveis, assim como a Justiça Eleitoral.

Nossa democracia cresceu e amadureceu, mas muito ainda há de ser feito. Vivemos em país de profundas desigualdades sociais, com carências em serviços públicos essenciais, como saúde, educação, habitação e segurança pública. Temos muito a caminhar no desenvolvimento das nossas potencialidades econômicas de forma sustentável. O Estado apresenta-se ineficiente diante dos seus inúmeros desafios. Pleitos por maior respeito e igualdade de condições em matéria de raça, gênero e orientação sexual ainda estão longe de ser atendidos com a devida plenitude.
Nos próximos dias, em meio a estes desafios, teremos o início da campanha eleitoral para a renovação dos mandatos dos legislativos e executivos estaduais e federais. Neste momento, deveríamos ter o ápice da democracia com a disputa entre os vários projetos políticos visando convencer o eleitorado da melhor proposta para os rumos do país nos próximos anos.

Ao invés de uma festa cívica, estamos passando por momento de imenso perigo para a normalidade democrática, risco às instituições da República e insinuações de desacato ao resultado das eleições.

Ataques infundados e desacompanhados de provas questionam a lisura do processo eleitoral e o estado democrático de direito tão duramente conquistado pela sociedade brasileira. São intoleráveis as ameaças aos demais poderes e setores da sociedade civil e a incitação à violência e à ruptura da ordem constitucional.

Assistimos recentemente a desvarios autoritários que puseram em risco a secular democracia norte-americana. Lá as tentativas de desestabilizar a democracia e a confiança do povo na lisura das eleições não tiveram êxito, aqui também não terão.

Nossa consciência cívica é muito maior do que imaginam os adversários da democracia. Sabemos deixar ao lado divergências menores em prol de algo muito maior, a defesa da ordem democrática.

Imbuídos do espírito cívico que lastreou a Carta aos Brasileiros de 1977 e reunidos no mesmo território livre do Largo de São Francisco, independentemente da preferência eleitoral ou partidária de cada um, clamamos às brasileiras e brasileiros a ficarem alertas na defesa da democracia e do respeito ao resultado das eleições.

No Brasil atual não há mais espaço para retrocessos autoritários. Ditadura e tortura pertencem ao passado. A solução dos imensos desafios da sociedade brasileira passa necessariamente pelo respeito ao resultado das eleições.

Em vigília cívica contra as tentativas de rupturas, bradamos de forma uníssona:
Estado Democrático de Direito Sempre!!!!


ESCOLHAS - TARDE NOITE JUNTO DE VALOROSOS JORNALISTAS
A quinta, 11/8 foi contagiante e sem tempo para respirar direito, tal o envolvimento e agenda cheia. Logo pela manhã fui acompanhar a leitura da nova Carta aos Brasileiros, evento realizado no campus da Unesp Bauru e no mesmo espaço onde ocorre a Semana de Jornalismo. Impossível ir fazer uma coisa e não se interessar também pela outra, pois quando tudo junto e misturado, além dos interesses em comum, as coisas se fundem na cabeça da gente e o envolvimento é quase natural, espontâneo e vai fluindo com o vento. Mal sai de um, voei para casa, comi algo e logo no final da tarde já estava, eu e Maria Cristina Zanin - uma advogada que posso chamar também de minha -, estávamos adentrando novamente o mesmo salão para presenciar o debate "JORNALISMO, DIREITOS HUMANOS E EQUIDADE SOCIAL".

Prendi a respiração e fui fundo. Um dia, bem lá atrás, me formei em História, na antiga USC, hoje Unisagrado, mas sempre tive aquele desejo incontido pelo Jornalismo. Aliás, sempre me achei um pouco jornalista e o tento praticar, mesmo sem o diploma, com publicações variadas e múltiplas pela aí. Talvez isso se deva a essa também incontida e incontrolável necessidade de escrevinhação, da qual sou acometido a todo instante. E daí, quando me deparo com as Semanas de Jornalismo da Unesp, marco presença em quase todas e fico ali, na fila do gargarejo, ouvindo relatos de bravos guerreiros das letrinhas. Por ali já passaram gente do mal alto quilate e desta feita não é diferente. A programação é vasta, abrangente e atende bem o interesse para despertar na mente dos jovens da universidade o algo inebriante do que é a prática jornalística.

Nessa quinta, duas mesas dentro do evento, outra sobre Jornalismo na América Latina, além de outra rolando no Rosa de Luxemburgo sobre Racismo. Fiquei na Unesp, acompanhado da Zanin, me convencendo a conhecer dois de seus diletos amigos, Camilo Vanuchi e Eduardo Reina. Com estes ganhei o dia, mesmo já tendo passado pela inebriante presença e participação na leitura da Carta aos Brasileiros. Na mesa, além dos dois, mais dois, estes mais jovens jornalistas, Maria Teresa, do Quebrando o Tabu e Matheus de Moura, da editôra carioca Intrinseca. A coordenação da mesa esteve a cargo do professor Eli Vagner e a do evento da competente e atenciosa professora Angela Grossi.

Fui deixando me levar e, creio, ter aproveitado ao máximo do néctar ali produzido. Todos fizeram uma apresentação de quinze minutos e em cada fala, algo para nos pegar, embalar, desperar a curiosidade e, no meu caso, anotar e me referenciar. O envolvimento começou logo de cara com a fala do Vanuchi, que vindo de carro de São PAulo para Bauru, adentra o tema contando algo com o nome da rodovia que o trouxe até a cidade, a Castelo Branco e num posto de combustível, o Rodoserv, um tanque de guerra (sic) para quem quisesse tirar fotos. Daí, discorre sobre os nomes das rodovias paulistas, Castelo, Bandeirantes, Trabalhadores e Anhanguera e diante da morte do piloto Airton Sena, os cabeças pensantes paulistas (sic) quiseram homenageá-lo, mas enfim, que nome mudar. Claro, o fizeram a dos Trabalhadores e assim nasceu a Airton Sena. Pegou a todos e começa assim, sobre o processo de escolha dos temas a serem abordados por todos nós, em matérias escritos. Já gostei dele logo de cara, empatia a primeira vista.

Na sequência veio o Reina, que dentro so seu currículo dirigiu o jornal Comércio de Jahu por quase um ano e discorre sobre o Jornalismo Investigativo. Falou sobre o tema, mas o que me chama mesmo a atenção foi seu livro, "Cativeiro sem Fim - As histórias dos bebês, crianças e adolescentes sequestrados pela ditadura militar brasileira", algo que muitos pensavam só tivesse acontecido na Argentina e Uruguai. O livro nasceu de uma ficção publicada por editora de Jaú, contando uma suposta história de criança tirada de família de guerrilheiros, sequestrada entregue a outra família. Foi o necessário para os relatos de vida irem pipocando diante de si, daí nascendo toda a pesquisa, gerando seu mestrado e o livro. Reina me envolveu dos pés à cabeça com essa pegada investigativa, cada vez mais necessária dentro de tudo o que fazemos.

Maria Teresa é muito jovem e alcançou o sucesso com o "Quebrando o Tabu". Impetuosa e aguerrida, age com o lema "Direitos Humanos não é consenso, mas dissenso". Através do Podcast "Prove sua Inocência", deu uma aula de como as coisas ocorrem de fato, contando história do paulistano que foi preso por esbarrar numa viatura policial e quando olharam seu documento, um nome de procurado. Não era o cara, mas penou na prisão até provar que o sujeito do PCC não era ele. Lança uma questão que é a minha no que faço diariamente: Qual o perfil dos indesejáveis? Faz outra quando um policial lhe questiona: "Você é contra a polícvia, né?". Sua resposta: "Não, sou contra o policial no desvio de sua função, só isso". Coloca várias minhocas na cabeça dos atentos estudantes: As pessoas não estão mais escutando umas as outras e, enfim, qual o ponto de convergência no momento. Encerra com um clássico: "Não se conformem, continuem se indignando, tenham um propósito acima de tudo".

As falas foram encerradas com o catarinense Matheus de Moura, 4 anos de Rio de Janeiro e com experiências mil nas ditas comunidades e o entorno policial destas na grande cidade. Ele levanta algo instigante para quem escreve, o da responsabilidade que é mudar, alterar a vida das pessoas com o que sai escrito. DAí, ele afirma da enorme chance se ser feito besteira com a vida de pessoas simples, pois o impacto para quem escreve muitas vezes se encerra com a publicação de sua matéria, mas para o retratado aquilo permanece para toda uma vida. Enfim, juntei aquilo tudo e fui adquirindo mais conhecimento, experiência e com o debate a seguir, o envolvimento dos jovens, saio de lugares assim com a carga totalmente recarregada.

No meu caso teve mais, pois Zanin não se contentou com reencontrá-los, queria sair pra conversar. Abri mão do meu estado de saúde ontem, cansado de guerra e os acompanhei. O grupo foi dividido, Maria Teresa e Matheus sairam com os jovens pela noite bauruense, eu e Zanin arrastamos Vanuchi e Reina para o Templo Bar, onde Denise Amaral e Paulo Maia cantavam. A conversa se estendeu e foi ótima, pois os conheci melhor. Já de posse do livro do Reina, saio de lá também com um do Vanuchi, o "Vala de Perus - Uma biografia: Como um ossário clandestino foi utilizado para esconder os corpos de mais de mil vítimas da ditadura". Juntamos os temas dos dois livros e a conversa fluiu. Foi um dia e noite e tanto. Nem sei como consegui dormir diante de tanta coisa acumulada na cachola, à espera de serem condensadas, processadas, trituradas e colocadas em prática. Conhecer e estar ao lado de gente assim é sempre muito mais do que bom. Diria mesmo, ótimo.

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