quarta-feira, 10 de agosto de 2022

AMIGOS DO PEITO (201)

TRÊS EM UM: JUAREZ XAVIER, MILTON DOTA E JOSÉ BRANDÃO

1.) BAURU PRESENTE
O professor da Unesp Bauru Juarez Xavier vai ler amanhã, quinta, 11/8, 11h na Central de Salas da Unesp a Carta em Defesa da Democracia e do Sistema Eleitoral. Será uma das tantas manifestações conscientes, realizadas neste dia, país afora, reafirmando a necessidade de estarmos atentos e posicionados contra todo tipo de retrocesso sendo urdido e tramado neste país. Eu vou estar lá, não só marcar presença, mas filmar a leitura, reproduzir e desta forma reafirmar um posicionamento, não só de minha parte, mas de todos em busca de dias muito melhores para nossa nação. Eu, que já seguia e pauto meus atos tendo como base a primeira Carta aos Brasileiros, junto ambas e sigo no mesmo caminho. Acredito no Brasil, este que não desiste, aliás, resiste, persiste e insiste. Unidos venceremos o caos.

2.) 82 ANOS DE MILTON DOTA E O RECEBIMENTO DO TÍTULO DE CIDADÃO BAURUENSE
Escrever sobre este velho bardo de tantas lutas aqui pelos lados da aldeia bauruense nas últimas décadas se faz impossível sem ter que citar este sobrenome, DOTA. Milton Dota é destes incansáveis lutadores de uma vida inteira, reconhecidos pelos seus por não abandonar um só instante da cancha de luta. Vereador por dez anos, atuou na legislatura municipal dentro do período militar e como vereador de oposição, sempre ao lado dos interesses populares. Comprou brigas e combateu o bom combate, com a cara e a coragem, junto a outros valorosos, destes sempre lembrados e reverenciados.

Hoje, ao completar 82 anos, por iniciativa da vereadora petista Estela Almagro tem seu nome sugerido para receber o título de Cidadão Bauruense e por aclamação é aprovado. Alguns hoje eleitos nem tinham nascido quando Dotão, como o chamamos já atuava na luta por uma cidade mais justa. Este velho bardo é do tipo incansável, pois mesmo fora do parlamento nunca deixou não só de se preocupar, como se interessar e atuar no lado escolhido de luta e labuta. Fez disso o modal de sua vida e dele não consegue se afastar. Brioso cidadão, sempre envolvido com as causas sociais e dos menos favorescidos, os trabalhadores e ações populares. Merecedor do título, ele é destes hoje em extinção, de uma cepa que, parece terem dado cabo na forma, pois diante do atual quadro composto dos vereadores atuais, alguém como ele, não só faz uma baita falta, como espécie de peça sem possibilidade de reposição. Ele foi um cidadão de um tempo que não volta mais, um bravo guerreiro a enfrentar a atroz ditadura militar que por longos 20 anos imperou no Brasil.

Dotão não se cansa e hoje, quem o acompanha, sabe que se nutre da luta, ou melhor da continuidade da luta. Estive com ele nessa semana por algumas vezes e tendo o prazer de acompanhá-la na redação que dá para o texto que irá ler quando da entrega, sou favorecido pela e agradeço por ter sido por ele contatado. Um baita privilégio e assim, sentei ao seu lado em seu local de trabalho, sua "organizada" escrivaninha, onde com uma luz bem forte, espécie de holofote ilumina seus papeis e ali passa a maior parte do dia. Acorda cedo, antes do café confere se a Folha de São Paulo já está no plástico e o aguardando na escrivaninha. Conferindo a chegada, daí vai tomar seu café, cheio de quitutes mineiros, trazidos de Belo Horizonte, onde reluarmente vai rever a filha ali residindo.

O homem é a própria história de Bauru em pessoa e para quem pouco sabe do que de fato se passou para escreve-la, muita coisa ainda não contada em textos e livros, ele a tem de memória. Sento ao seu lado e fico a ouví-lo, sem pressa e quando começa e revivar uma caixa cheia de fotos antigas, daí tinha a certaz, podia esquecer de tudo o mais, pois ele tem algo pra dizer de cada personagem. Numa dela, conta de quando foi para antiga URSS, junto do amigo Pebá, percorrendo os descaminhos da capital russa, onde foi em busca de conhecer alguns detalhes in loco da revolução russa.

Tudo é história diante daquela escrivaninha. Ela não é bagunçada, como quiz me dizer a esposa e lhe digo ver ali exatamente o contrário. Dota não só quer fazer, como faz muita coisa ao mesmo tempo e daí, impossível manter as coisas no lugar. Ele tem dia para tudo e até hoje, não deixa de ir semanalmente jogar carteado junto de amigos, a maioria deles pensando contrário a ele. "Eles me ouvem. Quando chegam com besteira contra Lula, por exemplo, começam, mas quando não possuem argumentos, são obrigados a me ouvir, pois eu tenho no que falo. Eu não falo besteira, falo com conhecimento de causa", me diz. Ele é isso tudo e muito mais.

Fui e voltei até sua casa nessa semana várias vezes e em todas, quase obrigação, a de sentar ao seu lado na famosa escrivaninha e ali poder saborear destes manjares dos deuses, a prosa destilada com alguém que foi dos grandes e, como possuidor de privilegiada memória, tem ganas de botar tudo pra fora. Nessa semana ele está que não se segura, pois está diante de mais um reconhecimento por tudo o que fez. Saboreia esses momentos com a sapiência de décadas, com os olhos que já viu quase de tudo.

Eu curti esses momentos como algo raro, único e na sexta, 12/08, estarei presente na Câmara Municipal de Bauru, presenciando a entrega do título. Ele não quer fazer do evento algo simples e prepara algo mais, um mimo para os amigos (as) que forem lhe prestigiar. Eu preciso me segurar para não contar o que vai aprontar, mas tenham certeza, ele sabe muito bem o que faz e daí, recebo mais uma lição de vida nestes momentos junto dele e dos seus. Sexta está logo ali, já dobrando a curva da esquina e quando chegar lhes contarei o que ele preparou para os presentes, so que forem lá pra presenciar a entrega do título. Sua fala está sendo urdida há semanas, bocadinho por dia, costura com o devido esmero. Escrevo isso tudo com muita emoção, pois além de gostar demais do danado, estar ao lado de uma das testemunhas oculares da história desta aldeia, na visão de quem sempre esteve ao lado do povo é para mim baita orgulho. Dotão merece tudo isso e muito mais.

OBS.: No mesmo dia outra entrega de título de Cidadão, este para o militante João Félix, petista de carteirinha, décadas de militância. Escrevo de Dota, relembro de seu João e reforço o convite para a ida dos militantes de esquerda para este ato mais do que político, diante de uma campanha presidencial que se inicia e tende a ferver. Dota e seu João sempre estiveram em campanha. Não desistem nunca.

3.) POETA BRANDÃO, SUA NOVA CRIA, "O PAÍS IMPOSSÍVEL" E O CONVITE PARA ELE E SÔNIA NUM PAPO NO PRÓXIMO "LADO B"

                                                        "Este país não tem povo, tem pobres".

Dias atrás recebo mensagem de Thiago Augusto Corrêa, da editora Canal 6: "Sou o Thiago, nós já conversamos brevemente em um atendimento da Canal 6 quando você queria publicar um livro sobre o lado B de Bauru. Henrique, estou lançando um livro do José Brandão e queria lhe dar um exemplar. Caso goste pediria gentilmente para dar uma força na divulgação. É um livro que o Brandão já colocou nas redes, mas agora sai de forma oficial pela editora. O lançamento será dia 17 desse mês. Portanto, se quiser um exemplar, faça a gentileza de me passar seu endereço que te encaminho um! Obrigado e um abraço".

Como conheço Brandão de longa data, poeta dos bons, ele e sua esposa Sônia, ambos poetas, pai do Aran, outro poeta, ou seja, família inteira de escrevinhadores de muita qualidade. Só pelo nome do livro, a certeza de ser produto mais do que bom, diria, boníssimo. Ele ainda complementa: "O livro está incrível, Henrique. è porrada poética total. E fico muito feliz com sua recepção. Vai ser muito bacana essa entrevista.

Segunda-feira encaminho o livro". O livro chega na terça, 09/08 e maravilhado fico. Quando começo a leitura, primeiro da contra-capa e depois das orelhas, já o maravilhamento. Quando comecei a ler os poemas, percebi que o Brandão pegou estes nossos tempos como se tivesse levado um baita de um soco no estômago e deu o troco, na medida, porrada certeira. Daí, não me contive e cometi o deslize. Hoje, ainda com o que estava lendo na cabeça ligo para o Brandão para fazer o convite para o próximo lado B. O telefone toca e ele nãoatende, insisto e tento de novo. Ele atende e só depois percebi, eram 8h10 da manhã e ele dormia. Só aí me dei conta. Brandão e Sônia dormem tarde e, consequentemente, acordam também tarde. Que furo. Me desculpei, mas ele, como sempre educado, ouviu o que lhe falei e combinamos de conversar depois.

Esse "país impossível" é um desses empurrões, diria mesmo, soco para que acordemos e façamos algo, pois na poesia do Brandão a mais pura representação do Brasil atual. Sim, este é o seu livro mais político e sai justamente no momento em que mais presisávamos de algo assim. Ele parecia saber disso e por isso caprichou. "José Brandão transforma o delicado momento em uma poética de resistência em que pulsam versos explicitando um país corroído pelos poderosos. (...) ...surge em uma momento efervescente de esperança no país, próximo das eleições presidenciais. (...) As mazelas do país cabem no poema por sua dor, pela impossibilidade de se viver em um país que, nas palavras de Brandão, não tem um jeito e nem remediado está", Thiago me envia no release preparado sobre a obra.

Essa é a Bauru que pulsa, os bauruenses mais que contagiantes, dos que realmente valem a pena, pois enxergam tudo o que de fato lhes acontece e não se omitem. Brandão e Sônia são assim, sempre foram e isso é o grande diferencial do casal - também do filho. Sou um privilegiado em ter nas mãos o livro desde já e dia 17 próximo o lançamento. Vou passar lá - onde vai ser mesmo? -, claro, para o autógrafo, talvez comprar mais um livro e prosear. Dele, o autor, enfim, conversamos hoje pelas ondas internéticas. Foi quando me reafirma algo do qual nunca mais me esquecerei: "Lembre de não ligar muito cedo. Durmo bem tarde. Poderia ser na hora do almoço? Para estar bem acordado. rsrs". Sou um vexame, mas acho que Brandão ainda vai acabar me perdoando.

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