sábado, 27 de agosto de 2022

REGISTROS DO LADO B (100)


CHEGO AO 100º "LADO B" E NELE AS HISTÓRIAS DA JORNALISTA E FOTÓGRAFA GREGA (DO TATUAPÉ) SU STATHOPOULOS

PALAVRINHA INICIAL ANTES DE INICIAR O 100º: Isso tudo me emociona, pois algo começado de forma tão insipiente, ganhou corpo, consistência e hoje, mesmo quando me dizem que o modal LIVES está em decadência, confesso, não estou nem aí, quero mais é continuar, pois o que tento fazer são registrar histórias, conversas com pessoas que tem mais do que algo para dizer, pessoas que possuem coisdas para serem ditas, lembradas e registradas. Todos os 100 são o meu Lado B, este que, acredito ser o transformador deste país. Não me peçam para entrevistas um figurão, desses que estão a todo instante aparecendo nas colunas sociais, ou mesmo, membros das tais "forças vivas", que um amigo chama acertadamente de "areia movediça bauruense", pois deles quero distância. Quero mais são estes, os tais "desimportantes", os que carregam essa cidade nas costas. Gosto de prosear e aqui convido elas para prosear comigo, papo de pouco mais de uma hora, onde extraio o que já fizeram e onde estão metidas no momento. E já consegui juntar cem personagens, cem participações, todas muito importantes para traçar um perfil das entranhas bauruense. São os "desimportantes" mais "importantes" do meu mundo. Por favor, me deixem continuar...

Ufa! Consegui chegar ao 100º LADO B – A IMPORTÂNCIA DOS DESIMPORTANTES, algo começado lá atrás, mais precisamente em 28/06/2020 e inicialmente pensado para dar vazão, naquele momento de reclusão coletiva provocada pela pandemia, buscando encontrar algo para continuar nos encontrando, falando uns com os outros. Acabou por se transformar num grande perfil dessas pessoas de luta, que denomino de LADO B, que na verdade somos todos nós, os que resistem, insistem e persistem na lida e luta, verdadeiros defensores deste País. Chego neste número redondo e não quero mais parar, pois olho para frente e vejo tanta gente com quem ainda quero conversar e coletar seu perfil, possibilitar que mais pessoas a conheçam bocadinho mais. Eu nunca fui um entrevistador, mas gosto da prosa, da conversa e de todos os que aqui estiveram. Tentei ser o mais abrangente possível, trouxe para a roda pessoas dos mais diferentes segmentos e dentre todos, a certeza, nenhum deles é destes hoje jogando contra os verdadeiros interesses brasileiros. Tenho muito orgulho de todos, das boas conversas, algumas inesquecíveis e todas valorosas.

E agora, quem poderia chamar para ser o 100º? Teria que ser alguém com um algo a mais? Não, pois esse foi o critério escolhido para convidar a todos. Qualquer um dos que aqui conversei poderia muito bem ter sido o primeiro ou este 100º. E assim, seguindo alguns/algumas que tenho aqui numa lista, a entrevistada de hoje deveria ter sido a da semana passada, mas adiei para essa, pois surgiu um tema que só poderia ser tratado naquele momento e assim, hoje quem conversará comigo é alguém que, durante bom tempo conviveu aqui conosco, trabalhou na imprensa bauruense e depois bateu asas e foi fazer sucesso por aí, deixando aqui na cidade legião de amigos e admiradores. Falo da jornalista e fotógrafa SU STATHOPOULOS, uma grega do Tatuapé, mais brasileira impossível. Eu sempre a admirei à distância, tendo tido pouco contato com ela no seu período bauruense, mas sei de onde esteve metida, onde atuou e ao lado de quem, daí ela também fez história neste período bauruense.
 A conversa com ela deve render um papo desses prolongados, falando de tudo um pouco, desde algo que entende muito, a FOTOGRAFIA, depois as redações da imprensa, algo mais de seu país, a Grécia, enfim, uma europeia no Brasil e mais que isso, no sertão paulista.

Assunto não vai faltar. Su é pessoa envolvente, dedicada no que faz, vibrante nas relações pessoais, brava guerreira e com posicionamentos firmes, ou seja, tem história para contar, boas histórias e tenho a certeza, muita gente de Bauru, que dela não tem notícia faz tempo ou mesmo tendo, ficará tocado por tê-la aqui numa conversa franca, direta e reta, relembrando muito de situações e pessoas. Ano passado fui tocado por algo onde ela se posicionou e acabei repercutindo, postando e compartilhando um post, bem singular para exemplificar e determinar quem de fato é a Su. Ela viu uma moradora de rua tomando sol numa praça, se aproxima, pede para tirar fotos e conversa. Vejam no que deu:

Em 22/02/2021 publiquei: A "SU" TEM OLHO CLÍNICO PARA AS COISAS DA RUA... "Tem dias que são fotogênicos. Fui tomar um pouco de sol na praça, sem julgamentos, por favor. Ela estava num canto arrumando sua sobreposição de roupas, muito interessante, por sinal. Dei uma olhada, ela riu. Gosto da sensação antropológica que a fotografia permite. Primeiro se escuta, depois fotografa. Pedi para sentar próximo, ela me deixou. Perguntei seu nome, ela respondeu, Priscila. Ofereci a minha mini cerveja, ela aceitou. Não trocamos muitas ideias, mas quando fui me despedindo, ela me pediu um abraço, eu gostei da experiência, me vi desnuda de medos pandêmicos, ganhei um abraço honesto. #centrodesaopaulo#populacaoderua#existeamoremsp", Su Stathopoulos.

Su Stathopoulos é fotógrafa e com este sobrenome só pode ser grega, grega paulistana, um dia foi quase bauruense. Na verdade não sei se ela é bauruense ou se esteve de passagem um certo tempo por estas bandas. Sei é que voltou para sua São Paulo. Suas fotos são tão sensíveis como ela, assim como suas histórias. Eu adoro ler histórias. A dos outros parece mais saborosas que as nossas. Ela fotografa que é uma maravilha e escreve com a mesma perspicácia e também audácia. Inebriante tudo o que sai da lente e mente de pessoas sensíveis. Ela possui um olhar voltado para os invisíveis e nas andanças que faz nas saídas de seu refúgio pandêmico, surpreende. Hoje ela me arrebatou, mais uma vez. Sua história me envolve, enlaça e dela não consigo mais me desgrudar, feito aqueles chicletes que grudam no céu da boca ou mesmo nos dentes e para sair dali um parto. Veja as fotos, leia o que ela escreve. É esse tipo de coisa que me faz desviar os olhos e mente de tudo o que nos entorpece neste cruel momento. Encerro meu domingo pedindo para ela permissão para compartilhar o que fiquei maravilhado, ela permite e me faz um chamego: "É uma honra vc compartilhando essa história. As pessoas estão pelas ruas, elas existem e têm histórias". Eu só sei de uma coisinha mais, são essas pequenas coisas que ainda nos fazem ir tocando o barco adiante em tempos como estes, maré mais que brava. Valeu Su, eu estava pensando nestes dias em dar um breque de ficar focando meus escritos em pessoas como as retratadas por ti, pois diante de tanto amargor, achava que tinha que focar na perversidade e tascar pau. Mas não, creio farei as duas coisas, enfim, não podemos perder o gosto pelo belo, por tudo o que a gente tromba sem querer nas ruas. Beijos sinceros, cara Su.

A RESPOSTA DA SU: "Querido Henrique! Muito emocionante seu texto sobre minha identidade com a fotografia de rua. Sou cria dos jornais de Bauru, que trabalhei por 12 anos. Nasci aqui, em São Paulo, no bairro do Tatuapé, Zona Leste, mas fui muito bem acolhida por Bauru. Tenho profundo carinho pela cidade e fiz grandes amigos. A rua tem histórias incríveis, que não são retratadas, tesouros escondidos. Fotografar tem sido a minha maneira de sobreviver com sanidade mental. Sou completamente apaixonada pela fotografia, sei que ela provoca debates e transformações. Teimosia é a palavra da vez, precisamos dela, para lutarmos pela utopia. Ευχαριστώ πολλή! É muito obrigada em grego, meu segundo amor, a Grécia, terra do meu pai. Grande abraço, o mesmo que ganhei da Priscila, a menina que encontrei na Praça Roosevelt hoje".

Teve mais, creio que, no máximo, um ou dois meses atrás novamente a cena se repete. Ela vê uma jovem trans muito bela numa estação de metrô e com seu jeito singular se aproxima e pede se pode tirar uma foto. A sensibilidade dela é transparente e a partir daí rolam trabalhos maravilhosos. Espero poder contar e deixar registrado um bocadinho só deste universo que está dentro da cabeça de tão imponente criatura humana.

Vamos juntos? Não tenho comentários adicionais para essa conversa, pois ela foi inteira maravilhosa. Só mesmo assistindo, portanto, eis o link da gravação, com aproximadamente 1h20 de duração:
outra coisa
DAS PREOCUPAÇÕES COM O SEMELHANTE*
* Eis meu 74º artigo para o semanário DEBATE, de Santa Cruz do Rio Pardo, edição nas bancas hoje:

Eu cá do meu canto, escrevinhando textos semanais para este DEBATE, convidado que fui pela intrépida dupla, pai e filho, Sérgio e André, antes de tudo, a cada artigo enviado, toda sexta – algumas com o devido atraso -, pergunto pelo Sergião. Sergião é o comandante em chefe do semanário, o que idealizou o jornal, décadas de luta, embates variados e múltiplos pela frente, algumas boas vitórias no embornal, assim como derrotas e insucessos. Isso tudo faz parte da vida, dos embates que o cidadão empreende em sua trajetória. Tem os que escolhem vivência mais amena, sem turbulências e tem os que escolhem transformar o mundo, começando pelo seu mundo, o de sua aldeia. Estes padecem bocadinho mais.

A verdade dói e em alguns momentos também ajuda a adoecer. Muito comum neste Brasilzão os que, renegando o período que tivemos da cruel ditadura militar com dizeres do tipo: “Meu pai não sofreu nada, ele trabalhou e nunca foi perseguido”. Este deve ter optado por baixar a crista, se resignar e seguir em frente, olhos e ouvidos fechados. Nada viu, fingiu nada presenciar e assim escapou ileso. Muitos agem assim, enfim, vivemos num país onde muitos para evitar problemas preferem se omitir. São as tais escolhas. Prefiro os que colocam a cara para bater, enfrentam os tais dragões da maldade com o peito e a coragem. Diria mesmo, sãos os tais imprescindíveis.

Cito o amigo Sergião, pois sei que esteve com probleminhas de forno, traduzidos por percalços na saúde. Sei que, o danado deve ser difícil de ser contido. Imagino a cena de um doutor o avaliando e prescrevendo: “Terá que permanecer recolhido em absoluto repouso por três semanas”. O danado tem um bichinho dentro de si, o da inquietude, que aliado ao do fechamento semanal de sua cria, no caso o DEBATE, daí praticamente impossível mantê-lo longe de suas atividades corriqueiras. Talvez uma corrente, dessas grossas, com cadeado de grosso calibre junto da cama, do contrário, impossível. Eu também sou assim, mas padecemos e existem momentos em que, se faz necessário dar um breque.

Sergião é sujeito de sorte, pois conta com o filho, André, seu sucessor no negócio jornalístico. Cruzo algumas vezes por aqui com André, nos corredores da Unesp Bauru, onde cursa Jornalismo e como já exerce a profissão desde os cueiros, nada de braçada. É tão gostoso ver um filho seguindo os caminhos trilhados pelo pai, ainda mais, quando com a mesma garra e determinação. Orgulho, o Sergião deve assim se sentir, mas semana atrás de outra, vejo que seus textos continuam saindo. Ele pratica o jornalismo à moda antiga, o de estar in loco no local dos acontecimentos. Hoje viceja um jornalismo de bunda sentada na poltrona, sem ter que estar na rua. Nos textos do diretor presidente do DEBATE isso não vale nada. Ele não fica sem botar o bloco na rua. Daí, acredito que, tudo esteja caminhando bem pros lados da saúde do impagável amigo e já nem sei se o danado não adoeceria de verdade se obrigado a deixar de escrevinhar suas reportagens semanais. Vida longa pro Sergião e, é claro, pro DEBATE, referência no interior paulista de jornalismo com credibilidade. Orgulho fazer parte deste time de resistentes.
Henrique Perazzi de Aquino, jornalista e professor de História (www.mafuadohpa.blogspot.com).

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