quinta-feira, 15 de setembro de 2022

AMIGOS DO PEITO (203) e FRASES (224)

RODEADO DE AMIGOS - DIA DOIS

QUEM ESTÁ DO LADO DE FORA ENXERGA MARAVILHOSAMENTE BEM O QUE SE PASSA NO BRASIL

1 - AMANDA, O LIVRO DOS PERIFÉRICOS e O LEMA SEGUIDO POR MIM E POR ELA: "FUJA DE GENTE BOAZINHA".
Amanda Souza é minha poetisa preferida dos tempos atuais. Ele é assumida marginal, mais periférica impossível, dona de uma escrita cortante, dessas a verter "sangue, suor e lágrimas". Quanto mais a danada envelhece, como a cachaça - ou seria o vinho? -, fica melhor, mais aguçada, vibrante e sem rodeios. Semana passada comprei sua última cria, o "Palavras de Concreto Armado - Vozes Periféricas na Literutura", reunindo vezes iguais a dela, todos das rebarbas desta terra pouco varonil. O livro editado pela Mireveja está ótimo, destes que você pega nas mãos e não quer mais largar. Obra prima, leitura necessária para se entender de fato o que rola nas entranhas dessa terra.
Pois bem, viajei, comprei o livro, não tinha como pegá-lo no dia do lançamento e hoje fui lá no jardim Godoy, cada da Amanda, buscar o meu exemplar, reservado por ela, guardado com o mesmo carinho que cuida do seu time de gatos - deve ter uns onze em sua casa, todos dormindo com ela na mesma cama. O livro me chega às mãos sem o cheiro dos gatos. Não sei como conseguiu, mas o máximo que achei foi alguns pelinhos estranhos junto das páginas.

O gostoso de pegar livro na casa da Amanda é a conversa que flui no portão, mesmo garoando. Nós até gostamos dessa possibilidade de nos molharmos enquanto conversamos. Falamos de tudo, algo deste interminável papo fluindo dos reencontros. Pensamos até em fazer um podcast, um programa de rádio aletrnativo a ser transmitido pelas ondas subversivas ou independentes, diria mesmo, subterrâneas ou clandestinas. Se for assim eu topo, se for pelas vias legais, tô fora. Enfim, somos assim, desajustados assumidos. Ela me conta algo ineberiante, algo já fluindo, novos escritos, mas contando em forma de poesia e escritos malditos, parte de sua vida pregressa e até hoje oculta. Ele quer botar pra fora alguns podres e isso vai incomodar muitos, pois gente como ela já comeu o pão que o diabo amassou. A vantagem dela é relatar tudo com uma escrita refinada, debochada e escrachada, com a sua cara. Eu incentivo, pois sei que pode nascer daí uma escritora maldita, dessas pulsantes. Digo a ela sobre os escritos do Ferrez e ela me diz não ter lido nada dele. Nem precisa, pois mesmo sem conhecê-lo, cada um ao seu modo e jeito, possuerm na escrita algo em comum, o de ter vivido na própria pela algo do que sai escrito.
Do portão de sua casa, falamos sobre nosso modo de encarar a vida, de acreditar nas pessoas, de algumas vezes apoiar e não pegar devidamente pesado com alguns, fazer vista grossa e ir tocando o barco, mas em outras não segurar mais o rojão e botar a boca no trombone. Da conversa, num momento ela me diz: "eu fujo de gente certinha e boazinha". Eu também, os bonzinhos, sabemos, não são nada bons. Aliás, são os piores. Sai de lá com essa frase na cabeça e qualquer dia escrevo mais sobre seu real significado. Hoje, com o livro na algibeira, teria que escrever uma resenha, prometida a ela, mas não deu. Escrevi não do livro, mas de Amanda, minha dileta amiga, terrorista das boas. Do livro, pra provar que é mais do que bom, uma só frase resumindo tudo: "A periferia é o centro do mundo".

2 - FAUSTIN, DESENHA UM LIVRO POR ANO E AGORA FILETEOU ESTE LINDO "O CARTUNISTA E A POETISA"
Fausto Bergocce é meu dileto amigo reginopolense. Nasceu ali na beirada do rio Batalha, mas ganhou o mundo e hoje mora do lado do aeroporto de Guarulhos - não sei como consegue dormir com aquele ronco a noite inteira. Tenho um livro publicado com ele e temos outro no prelo, sobre o mesmo tema, Reginópolis, ele desenhando e eu escrevinhando. Um dia sai. O que saiu agora, fresquinho (ui!) é este 'O Cartunista e a Poetisa', ele desenhando e a poetisa paraibana Diléné Barrêto poetando. A capa do livro é linda, ao estilo do estilo buenarista dos fileteados. Esse meu amigo é danado, pois consegue a proeza de lançar um livro novo por ano. Muito criativo, ele se supera e criativo como só ele mesmo consegue, se renova, inova e provoca, pois tem de tudo a cada ano.

Essa sua nova cria eu ganhei dele de presente. Quando lançou já havia dito, "quero comprar", mas Fausto pegou o espírito da coisa e semana passada me deu o aviso final e definitivo: "vou te presentear". E assim o danado chega hoje aqui pelo Correios. O desenho do Fausto - ou qualquer outro -, a gente tem que ir vendo aos poucos, curtindo e entendendo. Um livro destes você pode ler de uma só sentada, mas assim perde a graça e prefiro ir descobrindo aos poucos, página por dia, devagar e sempre. Não conhecia a poetisa Diléné - isso mesmo, dois acentos no mesmo nome, algo raro -, mas já fiquei fã com a leitura dos primeiros versos. Senti o clima do entrosamento e assim segui. Hoje não li muito, mas gostei de cara da designação dada, a de "ourives do palavreado" - outro ourives é o imortal Aldir Blanc, designação dada a ele por nada menos que Dorival Caymmi.

Ganhar um livro desses é coisa pra sortudo. Melhor, ter um amigo como o Fausto é privilégio e dos bons. Na ligação que tivemos no começo da semana, antes dele me enviar o livro, disse algo que muito me interessou. Deve pintar por aqui no final da próxima semana e vai circular em Reginópolis com uma escritora amiga sua que quer conhecer sua cidade natal, pois está escrevendo sua biografia. Assuntei e cheirei que o negócio deve render boas conversas e rodadas de cervejas em algum botequim lá pelos lados de Regipa, daí já me prontifiquei a comparecer e presenciar parte da conversa. Ou seja, rever Reginópolis na semana que vem é algo que passa pelos meus planos. Faustin eu eu vendo como poderemos juntos arquitetar algo sólido e consistente para nosso próximo livro vingar. Que seja tão belo quanto este seu último.

BRITÂNICO DECENTE AGE DESTA FORMA E JEITO

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