domingo, 2 de outubro de 2022

ALFINETADA (220)


COMEÇO TUDO COM A LEMBRANÇA DO POETA, MAIS DO QUE NECESSÁRIO, SEMPRE*
* Sua publicação, logo após tomar conhecimento do resultado eleitoral, foi de Adham Marin, lá das cercanias de Buenos Aires, ainda tentando nos impulsionar com alguma esperança. Todas as fotos aqui publicadas são do envolvimento deste HPA no último dia de campanha, junto aos populares, pleno Calçadão da Batista.

Não estamos alegres,
é certo,
mas também por que razão
haveríamos de ficar tristes?
O mar da história
é agitado.
As ameaças
e as guerras
havemos de atravessá-las,
rompê-las ao meio,
cortando-as
como uma quilha corta
as ondas.
[Mayakovsky, 1893-1930]

RECADO DA FANECO, BEM SIGULAR DE PROCEDIMENTOS VISTOS PELA AÍ
"Senhores candidatos favor pagar as diárias de quem trabalhou para vcs antes da eleição, se não vou colocar o nome de todo mundo aqui", este o recado, curto e grosso da mais do que sensível Maria Inês Faneco, nossa eterna pipoqueira,sempre de plantão, com olhos bem abertos e ouvidos atentos para a insanidade dos mais abastados para com os desvalidos deste mundo. Prometer é uma coisa, cumprir com a palavra sem alterações é bem outra.

EU VI A ELITE BAURUENSE DE PERTO E TIVE NOJO, VOMITEI...
Permaneci boa parte do dia de hoje, domingo, 2/10 diante da escola estadual Silvério São João, localizada no que antes aqui em Bauru era denonimado como Altos da Cidade, local de moradia primordialmente dos pomposos nomes constituíndo o que se pode chamar de "quatrocentões" da vida política da cidade. Muitos dos nomes dos que residiam nas imediações, hoje são nomes de ruas e as famílias, os descendentes destes continuam gravitando por aqui, ou quando no mínimo ainda votando na região. Atuei como fiscal petista na escola e o que ali presenciei, durante o dia todo foi um desfile garboso e cheio de pompa de gente, a maioria oriundos dessas famílias tradicionais, com sua vestimenta verde-amarela, fazendo questão de expor de que lado se encontravam no pleito dominical, principalmente nas contendas entre Haddad e Tacísio ou Lula e Bolsonaro.

Eu vi com meus próprios olhos a expressão deles todos, sorrindo garbosamente e se confraternizando entre si, como se numa combinada festa. Estavam ali, para sacramentar algo odiento, o segmento que adoram e louvam, o bolsonarismo, a extrema-direita, que nada mais é do que a cara destes todos. Sim, sem tirar nem por, a Bauru da Zona Sul é digna representante da extrema-direita em ascensão e cada vez mais fortalecida. Vi ali votando gente famosa desta terra, muitos empresários, comerciantes, educadores, profissionais liberais e suas famílias, todos vestidos em conformidade com o momento.

Acreditava ter eles todos tido as melhores oportunidades da vida para uma boa educação e, no mínimo, bom entendimento do que realmente se passa com o país, mas não, vi exatamente o contrário. A dita elite bauruense, assim como a paulista e brasileira estão mesmo plugadas e ligadas umbilicalmente com o retrocesso, o conservadorismo e se bobear, atuam também apoiando o milicianismo em curso, adulam também os clubes de tiro e as perseguições para os adversários do que professam como ideal de vida a luta pelo bem estar social e político. Eu os achava com possibilidades de entender todo o mal feito até agora por Bolsonaro & Cia, mas vi exatamente o contrário, estes todos são da mesma laia, pensam e agem iguaizinhos ao bolsonarismo, ou seja, eles são o bolsonarismo. De nada adiantou terem estudado em boas escolas, se o entendimento é excludente, preservando somente os seus anéis e para o enriquecimento próprio, nunca compartilhar, repartir o pão. A luta de classes e tudo o que ela representa estava exposto ali na minhaca cara defronte a escola estadual.

Entendi tudo de uma vez por todas. Não dá para pegar leve com nenhum destes, nunca mais. Eles possuem um lado, o da perversidade e nunca arredarão pé dela, nunca terão olhos para buscar a solução do problema social brasileiro, até porque eles são o próprio problema, o causador da enorme diferença e desigualdade social. Lula prega o diálogo, a conversa, a paz entre todos nós, irmãos em algumas circustâncias, mas quando vejo explicitado ali nas vestes e nas conversas, a preferência por quem, praticamente deu um bom início para destruir tudo o que nos resta de dignidade, vejo que com estes não se deve ter mais diálogo, pois não mudarão um só centímetro do que pensam e na forma de agir. Representam o que de pior temos, os que se acham representantes divinos - talvez do deus mercado -, neoliberais até a medula e não se importando de estar junto de alguém já considerado genocida. Na verdade, pela defesa do que fazem, são todos genocidas e cada vez mais perigosos. Muito perigosos, pois estão a uma passo da perseguição política individualizada, que deverá acontecer se Bolsonaro conseguir sua reeleição.

Descrença em tudo, é essa a mensagem que recebo do que vi, até pela expressão das conversas ali travadas. Não existe mais nenhum receio de expor o que pensam e como pensam, pois agora contam com respaldo institucional presidencial. São todos abomináveis, eu sei disso e agora, tenho a mais absoluta certeza. Pior que tudo é ver que, nenhum surpresa dessa exposição, mas observar como conseguiram incutir nas camadas mais empobrecidas o mesmo ideal conservador. Ver um pobre defendendo o ideal do patrão é para verter lágrimas em praça pública. Eu o faço no momento, sem nenhuma esperança com os ditos da elite e agora, pela frente, diante de um trabalho incomensurável de reeducação popular, pois do contrário, veremos mais e mais pobres falando e usando o mesmo discurso do algoz, o que lhe crava nos costados uma espada, sem dó e piedade. Esse não enxergar do pobre é compreensível, pois foram anos de lavagem cerebral.

Eu nunca estarei plenamente cansado. Sei que Lula pode reverter algo disso tudo e ser eleito no segundo turno, mas as bancadas eleitas demonstram de como será difícil atuar com um parlamento cada vez mais conservador, de extrema-direita mesmo, tendo como inimigos os pregadores da justiça social. Tarcísio, se eleito em São Paulo, destruirá o que ainda resta de pé de instituições sérias, tornando a vida dos lutadores sociais um tormento. Esperem o pior se não conseguirmos eleger Haddad e Lula no segundo turno, mas o pior mesmo, pois estarão mais empoderados, mais cientes do serviço sujo a ser executado. Eu, ontem tive confirmado, não tenho só desprezo pela dita elite desta cidade, mas também nojo, por tudo o que representam. A história bauruense sempre demonstrou isso, mas assim mesmo, ainda tinha alguma esperança. Perdi totalmente a esperança com estes e sei, eles precisam ser combatidos, vergados de seus interesses vis, pois do contrário, nem direitos teremos mais daqui por diante. Esse gado verde-amarelo é o fascismo mais do que batendo na nossa porta. Hoje, tive certeza disso.
HPA, no começo da noite, domingo, 02 de outubro de 2022.

VERGONHA
"Bauru, cidade vergonha.
35 candidatos, pra que ?
Pra nada...
Não consegue eleger um sequer e ainda perder o que tinha.
Vergonha", escrito por minha mana, Helena Perazzi de Aquino e publicado em suas redes sociais, logo após tomar conhecimento do resultado eleitoral deste domingo.

DESCULPEM, MAS DÁ PARA GANHAR*
* Escrito pelo bauruense e professor, além de grande chargista, Gilberto Maringoni e aqui postado, pois deito cedo, cansado e com a cabeça em polvorosa. Creio, ele escreveu algo do qual concordo e será mola mestra para não perdermos tudo:

1. O RESULTADO DAS ELEIÇÕES deste 2 de outubro é impactante em vários aspectos. O primeiro e mais evidente é o da falha gritante das pesquisas: elas não captaram a força do bolsonarismo e de seus agregados na sociedade brasileira.

2. O BRASIL É MUITO MAIS CONSERVADOR do que supunha nossa vã filosofia. Para qualquer um, que se paute por um pensamento democrático e progressista, é chocante ver gente como Hamilton Mourão, Sérgio Moro, Deltan Dallagnol, Ricardo Salles, Mario Frias, Damares Alves, Magno Malta e semelhantes serem consagrados pelo voto popular. Temos aqui o enraizamento social da extrema-direita após os quase 700 mil mortos da pandemia, os 33 milhões com fome, a apologia das armas e de tudo o mais. O fascismo não nos é mais um corpo estranho; foi naturalizado. Ao mesmo tempo, esse é o país que gera o fenômeno Boulos, que trafega em sentido contrário, com um milhão de votos.

3. ENTENDER COMO e porque isso acontece é tarefa dura e longa. Interessa saber como essa brutalização da vida social se torna atraente para milhões de pessoas.
4. SOMOS UM PAÍS TREMENDAMENTE DESIGUAL, com a maioria dos trabalhadores fora do mercado formal, sem direitos trabalhistas (ou de cidadania), mal formados (pela exclusão educacional proporcionada pela precariedade da escola pública), mal informados (por redes sociais e por uma mídia que não está aí para isso), sem tempo para o lazer, brutalizada pela dura batalha do dia a dia e sem perspectiva de futuro. Somos, além disso, uma coletividade fragmentada, marcada por um individualismo atroz, na qual há raros incentivos para que se estabeleçam laços de solidariedade.
Eu e mana Helena, votando no ex-colégio La Salle.

5. SOMOS, ENFIM, UMA SOCIEDADE em que o lumpesinato tem enorme peso em sua composição e em que o favor, o compadrio e o ódio são manifestações usuais nas relações humanas. Esse estilhaçamento comunitário, potencializado pelo desmonte do mundo do trabalho ao longo de quatro décadas de neoliberalismo nos torna sensíveis a um tipo de liderança salvacionista e inorgânica – uma espécie de neopopulismo – , capaz de direcionar vontades e de transformar a raiva social em força política. Esse é o resumo do resumo do caldo de cultura que possibilita a ascensão do bolsonarismo. E isso nós – alinhados a um pensamento democrático e progressista – ainda não conhecemos totalmente.

6. QUE SOCIEDADE É ESSA cujas vontades não são captadas pelas sondagens de vários institutos? Ou melhor, que pesquisas são essas que não conseguem apreender e tabular preferências imediatas? Como é possível que siga se repetindo o fenômeno notado na eleição do Rio de Janeiro de 2018, que possibilitou a um desconhecido até a última semana de campanha se tornasse governador? A situação se generaliza, com o quadro paulista, que inverte a folgada dianteira aferida em favor de Fernando Haddad em sua disputa com Tarcísio de Freitas a poucos dias da votação.

7. O BOLSONARISMO OCULTO – ou envergonhado – é fenômeno que desafia as estatísticas. Ao lado da arrogância dos que exibem armas na cintura estão aqueles que sentem vergonha de se declararem eleitores de Bolsonaro fora da solidão da urna. Por que isso acontece?

8. EM SITUAÇÕES NORMAIS – ou seja, num estudo acadêmico e fora das eleições – tais constatações podem gerar copiosas teses de doutorado. Aqui se trata de avaliar resultados das urnas com um propósito definido: ganhar no segundo turno.

9. SE ERRARAM EM BOA PARTE das disputas estaduais, as pesquisas acertaram em cheio a votação nacional de Lula. Os prognósticos davam entre 47% e 51% de votos ao ex-presidente. Ele terminou o enfrentamento com 48,43% dos válidos. Faltou 1,57% dos sufrágios para uma vitória perfeitamente possível em primeiro turno! O equívoco das pesquisas ficou no segundo colocado. Segundo os institutos, Bolsonaro teria entre 37% e 41%. Ele terminou com 43,2%, ou 5,23% atrás do ex-presidente. Em números redondos, quase 6,2 milhões de votos atrás.

10. O SEGUNDO TURNO É UMA NOVA ELEIÇÃO. A vantagem aberta por Lula o coloca de saída em condição de vantagem. A soma do eleitorado de Ciro e de Simone Tebet totaliza 7,2%. É uma incógnita saber para onde penderão esses quase 7,6 milhões de eleitores, decisivos para o resultado final. Na hipótese – agora fluida – das pesquisas – todas - estarem corretas, Lula derrota Bolsonaro.

11. EXAMINANDO OS APOIOS ESTADUAIS, a vantagem se inverte. Apoiadores de Bolsonaro ganharam em 9 estados no primeiro turno (AC, DF, GO, MG, MT, PR, RJ, RO e TO), que somam 49.115.309 eleitores. Partidários de Lula levaram em 6 (AP, CE, MA, PA, PI, RN), onde vivem 23.592.589 eleitores. A comparação mostra que o bolsonarismo não é fenômeno dos grotões. Em 12 estados a contenda se resolverá na segunda volta (AL, AM, BA, ES, MS, PA, PE, SC, SE, SP, RO, e RS). Nesse último grupo haverá campanha acirrada dos presidenciáveis com os candidatos locais. Não se sabe como se comportarão os demais, onde o placar local está decidido.

12. A LUTA SERÁ DURÍSSIMA. É possível Lula ganhar no dia 30. Para isso, a campanha bem que poderia mudar de tom.

13. A PRIMEIRA COISA SERIA ABOLIR o passado e o salto alto nos discursos. Chega de “No meu governo o povo tinha isso e mais aquilo”. O que passou, passou e agora é hora de se dizer claramente o que será feito. Vai ter comida para todo mundo? Se tiver, vai ser barata? Vai ter emprego? Com salário de quanto? A gasolina ficará com o preço baixo? Minhas dívidas vão ser resolvidas? Vai ter saúde? Como resolver? Não é o eleitor quem tem de responder, mas a campanha.

14. TEREMOS UMA CAMPANHA COM COMÍCIOS que se parecem com shows do Rock in Rio, nos quais a plateia assiste, se deleita e vai para casa? Ou haverá um mínimo de chamamento à mobilização? Vai ter material? Anunciaram lá atrás um comitê voltado para essas coisas. Vai ter? A campanha de TV sairá do pieguismo brega do início, ou manterá o tom de combate dos últimos dias? Vão ficar repetindo feito matracas que Bolsonaro tem 51 imóveis comprados com dinheiro vivo ou uma equipe de reportagem irá atrás de pelo menos dois ou três e mostrará o valor, onde ficam, se são de luxo ou não? Ou seja, ficarão na conversa ou farão como a Globo agiu no caso do sítio de Atibaia, atribuído a Lula? Ali mostraram dos pedalinhos às torres dos cabos de internet, passando pelo laguinho doméstico. A campanha será concreta ou doutrinária?

15. ACIMA DE TUDO, é preciso termos uma jornada empolgante, que convoque as pessoas à luta por mais votos. Lambamos as feridas deste fim de semana para a batalha que se aproxima. Será dura, mas valerá a pena.

Um comentário:

  1. Caríssimo Henrique,

    Amei, de paixão, esse texto que você cravou no post de ontem, 2 de outubro, no Blog do Mafuá.
    Começando, que desse antológico "Professor Silvério São João", sou agradecido e saudoso egresso. Ah, que saudades!
    A partir de quando você, entretanto, descreve o seu verdadeiro e autêntico sentimento, ao observar toda essa gosmenta e lodosa pequena burguesia "lá, dos Altos", o texto vira obra prima!
    Por favor, desculpe esse Garoeiro!
    Que nem aqui nem nunca perde tempo em criticar o amigo.
    Mas, que insiste, insiste, e insiste mais um pouco, tentando espoucar para o amigo que é isso, que essa é a pauta do Blog do Mafuá!!! Não, nem um pouco, esse montão de coisinhas e picuinhas que avassalam a vida do mafuento todo santo dia, mas que nos dizem pouquíssimo ou nada, a nós, seus diletos e atenciosos amigos!
    Você não precisa explicar nada, muito menos tentando uma fake justificação, dessas dezenas que você digita todo santo dia! Meu coração saca a pauta e o lance!
    Agora, como não associar essas merdas que nos vieram do 2 de outubro com o bêbado modus faciendi dessa órfã esquerda bauruense?
    Para ficarmos em apenas dois grandes camaradas, cadê Roque Ferreira? Cadê Pedroso?
    Cansei de dizer, escrever e provar que, em Bauru e Região, o Blog do Mafuá é mais importante que o gelatinoso JC.
    Por isso, peço, rogo e imploro ao amigo o tratamento jornalístico/blogueiro que o nosso Blog merece.
    Encerrando, numa boa, poeticamente:

    "Contabilizo, à esquerda, a nossa perda,
    Direita eleita, assim de zero à esquerda ....

    Ou, não?

    Abraço,

    Garoeiro, Jeferson Barbosa da Silva, Natal RN

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