sábado, 11 de março de 2023

OS QUE FAZEM FALTA e OS QUE SOBRARAM (173)


DEIXAMOS UM AMIGO NA CIDADE DO PORTO, ANTONIO SIMÕES
Foi nosso conselheiro durante os quatro dias passados na cidade. O conhecemos assim do nada, numa noite ao chegarmos no Porto, no bar do hotel, lá estava este simpático senhor a nos atender. Ana Bia, antes de mim, percebeu e o distinguiu de todos os demais, puxou conversa e foi bem recebida. Ele nos ouvia e confabulava, daí não saímos mais de seu balcão. Sua conversa sempre suave, em voz baixa, ouvindo e só opinando quando o inqueríamos sobre assuntos variados e múltiplos, nos fizeram nestes quatro dias, tornar-se a pessoa mais admirável por este lado do mundo. Como é bom, distante do teu mundo, dar de cara com alguém, mesmo que nunca o tenha visto antes, para conversar, confabular, ser ouvido e ouvir. Todos estamos à procura de algo assim e encontramos este porto seguro no sr Antonio. Um gentleman e mestre no ofício escolhido para dar continuidade em sua vida.

Trabalhou a vida quase inteira com desenho gráfico, um mestre no ofício e quando sentiu algo pervertido no que fazia, decidiu pular fora e se especializouem algo também singular, o ofício de barmen, mas com requinte. Pelo que o conhecemos, um detalhisdta, meticuloso, sem ser pedante e chato. Sabe, faz bem feito e não saberia fazê-lo de forma diferente. Vê-lo preparando nossos frinks e o dos demais cliente do hotel é como se fosse uma escola, pois ao sentarmos diante do balão onde exercita seu ofício, o mínimo foi o aprendizado dali recebido. Além disto, melhor que tudo, a conversa que fluia nos intervalos de seu trabalho. Creio termos até abusado nas consultas sobre assuntos aleatórios, pois nos respondeu de tudo, dando preciosas dicas, inclusive para nossos passeios. Só o encontrávamos à noite, no retorno ao hotel, quando nos aboletávamos no balcão onte atendia. Parece sempre queríamos mais e sempre tivemos. Daí, viciamos.

Passear por um lugar estranho é também se perder e a partir daí tentar tirar proveito e ir tocando os dias. Mas quando diante de algo auspicioso, o encontro sem programação com alguém como Antonio Simões, nada melhor do que sentar, esquecer de tudo o mais e tirar proveito, pois como tudo nessa vida são também, em grande parte, alegre pelos bons momentos disponíveis, faço aqui o reconhecimento público. Eu, como sabem, adoro esrcever de pessoas e em alguns casos até abuso, ainda mais me deparo com algumas extrapolando de boas histórias e momentos.

Neste caso, aprendi a fazer um drink novo, com vinho do Porto branco e tônica, mas isso foi café pequeno, pois o melhor de tudo foram as conversas, dessas feitas ao pé do ouvido, muito próximas, pois o danado tem o hábito de falar baixo e nada o separa disto. Contou histórias e pormenores de tudo o que acontece por aqui, desde os políticos, como o atual caso dos padres portugueses envolvidos em caso de assédio sexual. O melhor de tudo, um dos poucos, a entender tudo o que aconteceu com Dilma, o golpe sofrido em 2016 e depois com a prisão de Lula. Muito bem informado, creio também termos obtido a garantia para se abrir conosco. Num certo momento, disse algo precioso sobre os brasileiros que conheceu no hotel. Diz que, alguns são um tanto arrogantes, pedantes, se sentem superiores, exigentes por demais e perversos no trato com o semelhante. Rimos e lhe dissemos, "com certeza, são estes os dignos representantes do bolsonarismo, que conseguimos, a duras penas, tirar do poder".

Escrevendo dele e sem muito tempo para divagações outras, presto assim uma homenagem por tantas conversas travadas por aqui. Esbarro em alguém e já estou a ouví-lo, assuntando sobre possibilidades, mas neste caso, tudo foi superado. Creio que, nestes quase trinta dias de estrada - falta uma semana, tudo culminando em Lisboa -, Antonio representa muito bem o espírito do que aqui gosto de postar. Quando lhe falei que iria falar dele, assuntei sobre lhe identificar e me disse textualmente: "Portugal já vivenciou uma cruel ditadura, como o Brasil, onde uma mera denúncia de vizinho que não gostava de ti, podia lhe gerar problemas sérios, mas conseguimos virar essa página e hoje, ao menos falo e escrevo o que quero. Se o oponente não gosta, ao menos tem que me respeitar e tolerar, ele a mim e eu a ele. Dizer o que penso faz parte deste mínimo". Trago na algibeira não só os ensinamentos, como os gestos e algo do que considero, ser um típico português, este aqui na acepção da palavra. Eu e Ana Bia sentiremos saudade. Por fim me disse: "Aqui eu digo o que quero e não sou perseguido por causa disto. No seu país ainda se segura de dizer algo com receio de perseguição? Isso não é liberdade".

Eu em Guimarães, imediações do Porto.

DAS ESCREVINHAÇÕES POSSÍVEIS E DAS IMPOSSÍVEIS
Quase trinta dias longe das coisas de Bauru, Ana, a companheira de todas as horas, me pede para fazer algo quase impossível no meu caso, "você sai de Bauru, mas Bauru não sai de você". Levei a estocada e a ssimilei, enfim, por que deveria ficar acumulando algo de minha aldeia, quando dela distante. Ouço, leio, mas me seguro de escrevinhações de minha terrinha. Estou, momentaneamente, sem o sentimento da presença e daí, a melhor percepção dos acontecimentos. Trinta dias passam voando e no meu caso, faltam apenas uma semana para fechar este ciclo. Daí, prefiro me ater - quando posso e encontro tempo - a algo advindo daqui, sem maiores pretensões. Portanto, Bauru voltará a me ver somente a partir do dia 19, quando aportar na porta do apartamento e lá se deparar com o monte de jornais e de minha inseparável Carta Capital, mais os amigos (as), para me atualizarem de tudo. Não me contem nada, vi de tudo acontecendo por Bauru no período, desde um professor sendo agredido por pai de aluno até estudantes jovens se insurgindo contra colega de curso, uma com 40 anos, velha para as tais joven (sic). Fatos lamentáveis, dos quais adentro novamente o campo de jogo após o dia 20, se nenhuma nova intercorrência não ocorrer e ampliar a ausência. O fato é que estou gostando muito da viagem, mas também não escondo, sinto falta de minha terrinha, minhas coisas e tudo o mais. É o tal do Bauru não sair da gente, mas como pensar nas coisas de Bauru, quando o mundo gira e eu inserido nele, num moto contínuo de ritmo acelerado e em constante movimento?

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