segunda-feira, 18 de setembro de 2023

PALANQUE - USE SEU MEGAFONE (181)


HPA ENTREVISTADO NO "ALÉM DOS OUTDOORS"
O programa é algo a merecer escrita comprida, diria mesmo, alongada. Este "Além dos outdoors", cria do publicitário e homem de mídia, o mineirense - o danado é de Mineiros do Tietê -, Edi Rossetto, 36 anos e muita vontade de ser, ousar, fazer e acontecer. Quando tudo isso, junto e bem misturado, quase sempre gera coisas interessantes. O danado se prepara legal para entrevistar as pessoas e possui uma pegada interessante, onde deixa o oponente falar, expor suas ideias e assim, a coisa flui. Ele instiga e do outro lado, quando a provocação pega embalo - mesmo que seja no tranco -, ela vai adiante.
Conhecia pouco do progama. Fui convidado por um dos produtores, o Michael, da Pureza Filmes, uma produtora de áudios com sangue novo. Marcamos para hoje Às 10h30 lá no hall do Cine in'Fun, no subsolo do Alameda. Ele me envia alguns links de programas anteriormente feitos. Assisto alguns e gosto do que vejo, primeiro pelo primor da apresentação, tudo bem feito e depois, o cara não é nada preconceituoso, muito menos pedante. O Michael é gente fina e o Edi na mesma fita. Com gente assim, tudo tende a dar certo. E deu.

Chego lá com camiseta reverenciando o educador Paulo Freire e um boné do MST. Não choquei, aliás, creio eu criei um problema, pois tenho desde agora duas encomendas de presentes. Eles gravam dois programas juntos, sempre nas manhãs de segunda e depois, editam o necessário e jogam no ar. Disseram que a previsão é de aproximadamente umas três semanas e minha fala estará pipocando no ar, dentro do que Edi repete a todo instante: "o maior programa de entrevistas do Centro-Oeste paulista". Brinco com ele no ínicio do programa, dizendo que o "grande" também tem tudo a ver com o descomunal tamanho do apresentador, quase dois metros de altura. Ouço uma parte do entrevistado antes de mim, o tatuador Alex Prado (Alx Piercing e Tattoo), depois chega a minha vez.

Sento lá na poltroninha do Alameda e sou recepcionado com mimos, presentinhos dos patrocinadores, uma caneca com uma caricatura minha ali gravada - fiquei melhor na abordagem do artista -, uns bombons de outro patrocinador e a revista Atenção, que também está ao lado deles. Aproveito e explico algo do bloco carnavalesco Bauru Sem Tomate é Mixto e de termos antes do desfile anual, a entrega do Prêmio Desatenção. "Muitas coisas devem ser tratadas com a devida ironia, isso inerente à vida. O bloco é contra a sisudez e os que apunhalam a cidade, daí, enquanto a revista premia os considerados por ela como os resolutivos do ano, o Tomate faz o contrário e elege os que pisaram no tomate. Não existe provocação nenhuma, mas um jeito de movimentar e festar junto de alguma criticidade", expliquei.

O programa era para durar 40 minutos de gravação, mas passamos de uma hora, ou seja, devo ter falado mais do que devia. Edi abordou todos os temas possíveis e respondi a tudo, desde o PT, boné do MST, momento atual, Suéllen Rosim, esquerda em Bauru, boêmia, capitalismo, "comunismo", bolsonarismo, igrejas conservadoras e tudo o mais que lembramos de colocar na roda. Ele não me limitou e nem eu o fiz com falas desajustadas. Foi um pega elegante, destes com alguma emoção, onde pude me mostrar por inteiro. Brincamos até pelo fato dele produzir um talk show refinado, com todos os aparatos tecnológicos e eu, dentro de minhas limitações, fazer o Lado B - A Importância dos Desimportantes, só pelo meu facebook.

Edi se mostra interessado em abordar de tudo um pouco e corajosamente, produz algo arrojado, batendo um pouco com a mediocridade reinante na terra 'sem limites'. O gajo já tem bocado de vivência no microfone e sabe o que quer, daí faz e acontece. Busca a cada programa, como eu faço com o meu Lado B, encontrar pessoas interessantes, com algo pra contar e quando diante delas, sabe como ir manejando uma boa entrevista. Fui sem grandes expectativas, só tendo assistido os links recebidos e saio de lá, paparicado e com a certeza de que, dentro de tudo o que vejo rolando de programa de entrevistas e entrevistadores aqui pela Bauru, este Edi soube cavar seu espaço e conquistar um generoso pedaço da credibilidade sempre necessária para programas do gênero. No meu caso, a entrevista será colocada no ar em menos de um mês e quando sair pela TV, rádio e meios impressos disponíveis, posto algo mais e os links para acompamento dos interessados. Por enquanto, fica aquele gostinho de aguardar pra ver.

O LIVRO DA LUIZA, "PAREDE CAIADA" É A HISTÓRIA DE NOSSAS ENTRANHAS
Terminei ontem a leitura do livro da amiga Luiza Carvalho, o "Parede Caiada", onde a danada conta suas histórias de vida. Tudo vale muito a pena, principalmente porque o relato de vida dela é, mesmo por demais de sofrido, mas  pulsa algo encorajador, o como revê tudo, com os olhos de hoje, de quem conseguiu suplantar tudo e assim, olha para trás, não com dor e ressentimento, mas com esperança. Bate uma profunda tristeza em tomar conhecimento de como foi sofrido o percurso dela, para conseguir chegar até aqui, mas por outro lado, quem lê seus escritos, primeiro fica radiante, pois vê como ela escreve muito bem, depois tudo foi e continua sendo uma grande lição. Ela é contida, conta toda sua saga, mas não entrega o nome de ninguém. Teve muito algoz no seu percurso, gente a lhe fazer o mal, a ela e aos seus, mas ela não deixa transparecer seus nomes. Só mesmo quem já ouviu seus relatos pessoalmente sabe de quem se trata. Foi uma bela escolha. Ela não quiz estigmatizar ninguém e sim, só e tão somente, contar algo do que já passou. 

Eu sofri lendo seu livro. Todos que já leram as 149 páginas devem ter sentido o mesmo. Meu amigo Cláudio Dangió, que fez o prefácio, meio que incorporado do espírito de Lázaro Carneiro, amigo pessoal da autora, diz disso quando afirma ser essa Parede Caiada possuidora de Força e Resistência. Tudo no livro é saboroso. Já no começo antes de você adentrar o texto, uma mensagem do poeta José Brandão, pra te fazer cavucar a alma: "Eu faço poesia, porque vou morrer". Ainda bem, Luiza nos deixa seu relato e bem antes de fazê-lo. Creio eu, iremos ainda ler muita coisa dela, ainda mais agora que a porteira está aberta. O ocorrido com sua mãe, ela e sua prole perdida no mundo, sem eira nem beira e conseguindo encontrar um canto é comparar com tantas outras histórias, tão ou mais perversas. Quem nãose lembra da canção do Chico Buarque e do João Bosco, do fazendeiro colonial que cega o peão só porque ele viu sua esposa se banhar no rio. Os donos de tantas vidas fazem e acontecem até hoje, a maioria ainda acobertados pela simplicidade deste povo brasileiro, que não sabe nem se defender, quanto mais lutar por seus direitos.

Luiza vivenciou a dor, mas extraiu de sua história o lado bom. Não se deixa levar por mágoas e ressentimentos. Até do chão batido de terra, da casinha onde morava, do famoso fazendeiro aqui de nossa região, seu padrinho, ela não tece uma linha sequer para apunhalá-lo e sim, prefere passar por cima da dor e tocar sua vida, crendo que "eles" fizeram muito por ela e os seus. A maioria dos relatos que já li de histórias de vida assim, advindas do campo, onde ela afirma, "na roça ninguém passa fome" ou a belezura do "não havia solidão no campo", tudo demonstra o grande ser que habita dentro da agora escritora. Eu viajei com as crendices de Luiza, as mesmas que tive na infância, mesmo morando numa beirada de vila aqui em Bauru. Tudo muito parecido, guardada todas as proporções. Viajei mesmo quando no final, ela cita a encenação do balé Sertaneja, autoria e coregrafia da proprietária de um dos lugares onde morou, até lá pelos seus treze anos.Conheço a peça, a autora e muita coisa que cerca essa história, mas isso é também outra história. Eu, aqui confesso, não teria a mesma sensibilidade para evitar certos conflitos e já daria nomes aos bois. O escrito de Luiza vale muito mais exatasmente por causa disso. Ela não é contida, ela quer evitar problemas e quer continuar tocando sua vida sem percalços, sem contar todos os que já enfrentou ao longo da vida. Meu parabéns para ela. Seu livro conta uma saga, que não foi só a de sua família, mas de milhares e quando li, os enxerguei todos ali, diante de mim. O Brasil está loteado de histórias tão doídas como a dela e até para contar pisamos em ovos.

PS Final: Quando Lázaro Carneiro um dia tentou refazer seu caminho, indo com ela em busca de rever o lugar onde viveu, me passou um filme na cabeça, eu em busca do lugar onde me queimei aos 4 anos, Capim Fino, antiga estação de trem, na linha entre Dois Corregos e Barra Bonita, propriedade hoje da família Sbeghen e incorporada ao muncípio de Mineiros do Tietê. Tanto ela, como eu, pouco conseguimos encontrar em pé a reviver com os olhos o passado, mas tudo continua bem vivo dentro de mim, mesmo eu tendo somente 4 anos naquele fatídico 31 de março de 1964.

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