domingo, 15 de outubro de 2023

AMIGOS DO PEITO (216)


EM OUTUBRO, O DIA DO PROFESSOR*
* Eis meu 129º artigo para o semanário DEBATE, de Santa Cruz do Rio Pardo, circulando por estes dias pela aí:

Como deixar passar batido essa data tão importante dentro do nosso contexto? O professor é tudo, desde que o mundo é mundo, mesmo que, hoje, alguns o querem contrito, restrito e ensinando meio que desensinando, sendo repassados somente conteúdos que lhes dizem respeito, ou seja, ligados à sua linha de pensamento e ação. Educação é liberdade, acima de tudo e ela não pode ser castradora, pois se a castração já começa dentro do ambiente escolar, a tendência é a pessoa ser limitada e aceitando tudo que lhe é imposto por resto de sua vida.

Vi um vídeo por estes dias, debate envolvendo este tema da formação educacional, envolvendo a data magna, o Dia do Professor (a), com uma fala contundente do Mc Emicida, hoje uma das cabeças mais pensantes e pulsantes, muito bem posicionado e sabendo onde está situado. Disse ele: “Eu só existo porque tive uma professora teimosa que correu atrás de mim dentro do bueiro. Dona Rita de Cássia me deu o mundo, mesmo sem o perceber. Ela só não queria que eu continuasse dentro do bueiro. (...) Vocês sabem quanto um professor ganha, qual o tempo da preparação das aulas? Essa mulher pegou um tempo da vida dela pra transformar o conteúdo que eu precisava. A partir do meu encontro com ela, o mundo ganhou muitas outras possibilidades”.

Exemplos como o do Emicida ocorrem aos montes pela aí. Eu tenho os meus e todos que aqui me leem devem ter os seus. Eu devo muito a quem me incentivou a ser o que sou e isto veio não só da família – o ambiente familiar é tudo -, mas muito também de exemplos que tive dentro do ambiente escolar. Eu tive a minha dona Rita de Cássia, ou seja, alguém que enxergou em mim algumas outras possibilidades e me empurrou para elas. É inadmissível pensar em algum tipo de ensino castrador e promovendo a redução do conteúdo escolar, tudo por causa de preceitos religiosos. Castrador, neste caso, é a religião, que cerca a pessoa num lugar muito restrito, sem a possibilidade dele poder enxergar o mundão lá fora.

Não tenho como negar, mesmo não tendo recebido na infância ensino seguindo a teoria do maior educador do planeta, Paulo Freire, elevo ele aos píncaros da glória, pois de seu trabalho saíram mentes não conformadas e prontas para enfrentar as agruras do mundo, subvertendo-a, ou seja, não aceitando pacificamente tudo o que lhe enfiam goela abaixo. O que seria do mundo sem os contestadores, os que sacam o que estão lhe fazendo e, a partir daí, vão à luta e se propõe a mudar o estado de coisas? A verdadeira Educação possibilita isso, daí, quando surge algo advindo da mente nada brilhante de políticos conservadores, propondo um ensino reducionista, devemos todos lutar contra, pois ter nossos filhos em escolas que o façam pensar é tudo o que precisamos.

De Paulo Freire, relembrando a data comemorada nestes dias, reservo, dentre tantas, uma lapidar frase: “O professor é naturalmente um artista, mas ser um artista não significa que ele consiga formar o perfil, possa mudar os alunos. O que um educador faz no ensino é tornar possível que os estudantes se tornem eles mesmos”. O ocorrido com o Emicida e tantos outros é exatamente isso, aquele empurrão fatal, decisivo, transformador, que vai mudar a vida da pessoa dali por diante. O professor, quando quer, possui o dom de não permitir que a criança, o adolescente desista de seus sonhos. Conhecendo o dia-a-dia, o ambiente do estudante, ele faz algo que vai até além de sua própria condição. Isso não tem preço.

Eu tive um toque lá atrás e devo isso a uma professora. Ela via em minhas redações algo promissor e me fazia ler todas em voz alta na classe. Tudo aquilo, naquela época, ainda período de ditadura militar, gerava um debate dentro da sala de aula. Outros tantos tinham suas redações lidas e ampliada a discussão. Inesquecíveis momentos. Alguém pode até dizer representar pouco, mas pelo contrário, pois foram uma espécie de fio condutor para tudo o mais que tive daí por diante. Se hoje saio às ruas, com uma camiseta, dizeres criados pelo cantante nordestino Lenine, isso se deve a tudo o que vivenciei na caminhada até meus 63 anos. “Eu Paulo/Tu Freires/ Ele não”, três linhas determinantes e com as quais me posiciono na vida, ciente de que, a Educação é tudo e com ela pela metade, teremos homens e mulheres pela metade, não sabendo nem ao menos se defender do que lhe armam nos desvãos deste mundo. Viva o Dia do Professor!
Henrique Perazzi de Aquino, jornalista e professor de História (www.mafuadohoa.blogspot.com).

algo mais
REENCONTRO DE MEU FILHO E SEU CÃO CHARLES
Todos os que têm ou já tiveram um cão sabem do que escreverei. Eu tenho o meu, dentre tantos outros ao longo da vida. O do momento é o Charles, guardião do que ainda resta do meu antigo Mafuá. Ele resiste bravamente no lugar e eu, faço questão de estar por lá duas vezes ao dia, não só para lhe dar de comer, como para ficar com ele, passear e tudo o mais, o carinho necessário numa relação com mais de 13 anos de sua existência. Ele, agora adentrando a velhice, precisa muito mais de mim e de quem ele aprendeu estar ao lado dele ao longo de sua existência. Ter um cão é tudo, é disso que escrevo. Maravilhamento de igual teor é mais do que difícil. Eles descomplicam nossa existência. Dentro de tudo o que faço na vida, nas 24 do meu dia a dia, reservo uma atenção especial para o Charles.

Nestes dias de feriado ele reviu meu filho, o Henrique Aquino, hoje morando em Araraquara e pelo que me contaram, foi algo para endoidecer gente são o tal do reencontro. Mal ele chegou no portão, Charles foi até o portão e o reconheceu na hora. Ficou a rodopiar, aguardando o momento do portão ser aberto. é a tal fa felcidade estampada no ato. Tempos atrás, quando conviviam quase diariamente, Charles mal podia vê-lo e pulava em seu colo.Era uma loucura presenciar a cena, pois ele se atirava e era acolhido pelo filho. Charles envelheceu, como todos nesta vida e já não conseguiu pular no colo do filho, mas bem que tentou e por várias vezes. O filho, percebendo da impossibilidade, o abraçou e o trouxe para o seu colo.

Eu estava enrolado em outras atividades e não presenciei o reencontro, o que muito me deixa chateado. Tempos atrás, quando o filhão ainda morava por aqui, acompanhou bem de perto o crescimento do Charles. Foram companheiros de montão. O filho se foi e cada vez menos tem estado aqui por Bauru e, consequentemente, tem visto cada vez menos o cão. Creio eu, tem pelo menos uns cinco anos, antes da pandemia, a última vez. Eu fiquei por aqui e cuido dele a contento, algo que farei até seu último suspiro - se o último for dele. O filho me envia a foto e com ela escrevo este curto texto, mais uma reverência ao que representa e o papel de um cão na vida das pessoas. Nas nossas, as descritas no texto, são o tudo de bom. Charles continuará recebendo todo carinho deste mundo até quando tivermos forças.

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