domingo, 1 de outubro de 2023

CHARGE ESCOLHIDA À DEDO (199)


O DIA DA SINCERIDADE*

* Meu 127º artigo para o semanário DEBATE, de Santa Cruz do Rio Pardo:

O título deste escrito – seria crônica? – poderia ser considerada um plágio. Tento que não o seja. Na verdade, ele é totalmente inspirado em algo que li muitos tempo atrás, dessas inesquecíveis leituras. Trata-se de, essa sim, uma crônica, de Stanislaw Ponte Preta, criação da verve do jornalista Sergio Porto e num livro, que sempre consulto, como se fosse espécie de bíblia de traquinagens e mandamentos de como cutucar a onça com a vara curta. “Tia Zulmira e eu” saiu publicado pela primeira vez em 1961, portanto, este escriba tinha meros 1 ano de vida. O li, naquelas edições capa dura do Círculo do Livro e o tenho até hoje aqui na estante.

Neste livro, dentre tantos escritos para desopilar o fígado este com o mesmo título. Stanislaw sabia tocar o sujeito pela ironia e o fazia com primazia. Se bem me lembro, o que ele demonstrava era que, se um dia tivéssemos todos que, exercer, por um dia que fosse, o exercício da sinceridade nas 24h do dia, estaríamos todos, na verdade, num mato sem cachorro. Imaginem o que viria a ser este tal do Dia da Sinceridade? Galhofeiro, ele dá como exemplo o anúncio daquele sabonete, caro, mas que, ao ser anunciado, teria que ser revelado não fazer espuma nenhuma.

Este exemplo é fichinha perto de tudo o que imagino acontecendo aqui nas nossas hostes, ou seja, aqui no nosso dia, principalmente o político. Não seria hilário, mas seria trágico ver nossos políticos, que na verdade, podem até se defender, afirmando não mentir, mas omitir algumas pequenas coisinhas. Aqui em Bauru nessa semana, um ex-presidente da Cohab, militar aposentado, pressionado pela atual mandatária, Suéllen Rosim, inquerido numa Comissão de Inquérito, afirma ter sido proibido de falar o que de fato estava acontecendo em relação as dívidas da companhia.

Imaginem ele estivesse a depor exatamente no Dia da Sinceridade, ou mesmo fosse este dia naquele quando recebeu a recomendação de Suéllen. A verdade dói para alguns e muitas vezes não a conhecemos nem com o passar do tempo. Muita negociata seria desvendada desta forma e jeito. Uma maravilha que, infelizmente, permanece no campo dos sonhos irrealizáveis. Aí em Santa Cruz, como seria o dia a dia político na cidade se viesse à tona a verdade, nua a crua, sendo descrita em todas suas nuances. Aqui de Bauru, nem te conto, a casa cairia imediatamente. Estamos no meio de duas CEIs – Comissão Especial de Inquérito e numa delas, a prefeita comprou um projeto educacional, o Palavra Cantada, por um valor totalmente fora da casinha e nunca aplicado em escola nenhuma. Todos querem saber exatamente isso, a verdade dos fatos e ela é, pelo visto, a última pela qual tomaremos conhecimento.

A verdade é uma faca de dois gumes. Na maioria das vezes, quando seguida à risca, mais problemas, principalmente para os executores da coisa pública, hoje primando por decisões de bastidores, muitas vezes nebulosas. Lembram-se do pérfido Jair Bolsonaro quando tentou impor 100 anos de segredo para algumas de suas decisões? Um político propor algo assim é a certeza de ter feito algo errado, condenável e, já prevendo, problemas com a Justiça, se acerca de subterfúgios constitucionais. Na verdade, a intenção do escriba, décadas atrás, era burilar o caráter, elemento da personalidade de cada indivíduo. Fica a ideia. O que acham?
OBS.: as duas ilustrações são do Alcy.
Henrique Perazzi de Aquino, jornalista e professor de História (www.mafuadohpa.blogspot.com).

A INTOLERÂNCIA CONTINUA
Leio um artigo neste momento na revista Piauí sobre Vinicius Jr, a "construção de um jogador antirracista" e La Liga insistindo em afirmar que o espanhol não é racista e muito menos o público a assistir futebol nos estádios espanhóis, mesmo que tudo comprove o contrário. Começo o texto desta forma, pois continuo ouvindo aqui e ali que, Bauru deixou de ser bolsonarista, o que não condiz com a realidade das ruas. Bauru continua sendo muito bolsonarista e está ressentida com tudo o que aconteceu com seu líder. Eu tenho recordações inenarráveis do público da Zona Sul votando num colégio perto da USC e das reações de satisfação coletiva, todos muito bem uniformizados, com as vestes da seleção canarinha e dando urros, abraços e regozijo coletivo. Como perderam a eleição, depois de tudo o que foi tentado para reverter o resultado, sem sucesso, muitos tiveram que arrefecer os ânimos e se conter. Contidos, mas a imensa maioria continua pensando e agindo na surdina na defesa do que de pior temos. A Zona Sul bauruense é eminentemente bolsonarista, muito beirando a ultra-direita mais perigosa. Perguntando para estes todos, dirão não são também racistas, mas não conseguem deixar de apoiar aquele que estava a desgraçar com o país.

Escrevo este primeiro parágrafo, tudo para relatar algo ocorrido comigo na sexta, dentro do supermercado Tauste. Estava circulando pelos corredores, lista de comprinhas à mão, descuidado, quando um senhor se aproxima, olha de soslaio para o meu boné, me cutuca e diz: "Bolsonarista, né! Parabéns". De início não entendo, mas a ficha cai. Estava com um bone do Traditional Jazz Band e nas cores da bandeira, o verde-amerelo. Evidentemente, rejeitei de bate pronto ser taxado de bolsonarista, pela simples utilização das cores da bandeira, retruco: "Bolsonaro é a pior coisa que temos. Perversidade e bestialidade em pessoa, ele e todos os que, depois de tudo continuam acreditando nele". O senhor, mais velho que este HPA, primeiro demonstrou estupefação, depois tentou colocar o dedo na minha cara. Dei de costas e disse ter mais o que fazer, do que discutir com quem não consegue compreender dos males do que um genocída fez e faz ao país. O deixei falando sózinho, pois vi, dali em diante iríamos digladiar, sem nenhumn resultado positivo. Comcerteza, ele nunca ouviu falar em Traditional Jazz Band.

De tudo, a certeza é absoluta: eles estão por aí, um tanto encolhidos, mas prontinhos para botar as asinhas pra fora. A Zona Sul não mudou em nada seu conservadorismo e defesa do retrocesso brasileiro. Por sorte, caminhei pouco mais dentro do mercado e dou de cara, na seção de verduras, com nada menos que Shalimar Angerami e por uns 20 minutos, trocamos figurinhas, abraços e afagos. Se por uma lado é por demais triste se deparar com o lado mais perverso de Bauru pela aí, nada se compara com um encontro, muito do sem querer, com o que de melhor temos na cidade e com ele uma recarga imediata de energias. Sai da conversa totalmente recarregado. Shalimar, ela e Tuga Angerami, representam essa Bauru resistindo e, cientes de sermos minoria, porém, estamos aí, sem arredar pé de nossa convicta e ininterrupta luta por dias melhores, enfim, acreditamos que uma outra cidade, estado e país é possível.

OBS COMPLEMENTAR - "Oi Henrique,no semana anterior aconteceu comigo algo parecido ,eu conversava,dentro desse mesmo supermercado com uma amiga querida, Suzana Manso , tentamos aproveitar esse encontro e falamos sobre mtos assuntos.Eis que de repente, um homem aproximou-se, interrompeu a nossa conversa e me disse que eu iria morrer.Passado o momento de perplexidade ,eu lhe disse que todos nós morreriamos um dia .Só em seguida entendi o motivo da sua fala,ele me ouviu dizendo que eu tinha horror ao Bolsonaro!Falou mais um monte de asneiras até que nós nos afastamos dele .Como é triste tudo isso,sobrou muita gente cheia de ódio nesse nosso país", SHALIMAR ANGERAMI.

DANDO CONTINUIDADE AOS TRABALHOS: CÉU OU INFERNO

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